— O que aconteceu? — Gravis perguntou.
— Acho que sei o que aconteceu — Orthar disse com uma expressão pensativa.
— Ilumine-me — disse o Opositor de maneira neutra.
— Você foi abandonado — Orthar afirmou.
O Opositor permaneceu em silêncio.
— A Morte queria uma vontade, mas, como uma Manifestação da Morte, você não tinha uma vontade. Portanto, você não poderia se tornar a vontade da Morte — Orthar acrescentou.
Os olhos de Gravis e Mortis se arregalaram em compreensão.
Certo!
Como alguém sem vontade poderia se tornar a vontade de outra coisa?
— Correto — disse o Opositor, com a voz neutra. — Depois de tentar me tornar sua vontade, a Morte simplesmente recuou.
— Nós éramos incompatíveis.
— Depois de perceber que éramos incompatíveis, ela simplesmente me assimilou. Eu perderia minha estrutura e me tornaria mais Morte. Como uma gota de água fresca jogada em um oceano, eu me dissolveria até me tornar parte do oceano.
— Mas então, como você está vivo? — Gravis perguntou.
A expressão do Opositor se tornou complexa.
— A Energia interferiu — disse o Opositor.
Os olhos de Orthar se arregalaram com intensidade ao ouvir isso.
Ele sabia exatamente o que isso significava!
— Ela me notou e, por alguma razão, decidiu me preencher com Energia. Minha antiga mente, de antes de entrar no Portão da Morte, se fundiu com as memórias que adquiri enquanto fui a Manifestação da Morte.
— As emoções retornaram ao meu ser. Os sonhos retornaram. Minha vontade retornou. Uma nova personalidade foi formada.
— Eu essencialmente nasci de novo.
— Assim que recuperei minha vontade, a Morte retornou. Ela queria que eu me tornasse sua vontade novamente. Essa ação não foi fruto de uma decisão, mas sim de instinto. Como um inseto que age apenas por instinto, ela viu algo compatível e tentou alcançá-lo.
— No entanto, como agora eu tinha uma vontade, sonhos e um objetivo novamente, eu recusei a Morte.
— Eu não estava disposto a pagar o preço.
Orthar olhou para o Opositor com os olhos semicerrados.
— Está me dizendo que a Morte não tem uma vontade, mas a Energia tem?
Os olhos de Gravis e Mortis se arregalaram.
— Sim — respondeu o Opositor. — A Morte não tem uma vontade, mas alguém já se tornou a vontade da Energia. Esse alguém provavelmente notou o que aconteceu e decidiu me reviver. Não sei se foi por pena ou por outro motivo, mas essa entidade decidiu recriar meu antigo eu e fundi-lo com meu novo eu.
Os olhos de Orthar se moveram rapidamente enquanto ele calculava em velocidades aterrorizantes.
Por um momento, toda a administração do Cosmos pausou.
Por apenas um instante, nenhuma nova tribulação ocorreu e nenhuma Sorte Cármica foi alterada.
— Isso explica muita coisa — Orthar disse. — Em minhas jornadas, vi inúmeros Cosmos feitos de Energia, mas apenas uma raridade incrível tinha algo relacionado à Morte neles. Além disso, nunca vi um Cosmos que tivesse uma proporção de Morte para Energia superior a 5%, exceto pelo seu Cosmos.
— Além disso, a Morte não pode formar vida sem que alguém a direcione. Alguém tem que criar a vida na Morte manualmente.
— Mas e o primeiro Cosmos feito de Energia? E a primeira forma de vida? Quem as criou?
— Eu não sei tanto sobre a Morte quanto você, mas sei que a natureza destrutiva inerente da Morte não permite que ela crie vida por conta própria. A Energia é diferente nesse aspecto. Se você comprimir Energia o suficiente, em algum momento, a vida se formará.
— Pode ser que a primeira forma de vida tenha se tornado a vontade da Energia, já que, em algum momento, foi a única vontade existente.
— Possível — disse o Opositor. — No entanto, não falarei mais sobre esse assunto.
Um leve traço de frustração surgiu nos olhos de Orthar, mas ele se conteve.
Ele não respondeu.
— De qualquer forma — disse o Opositor, voltando-se para Gravis e Mortis. — Depois que recuperei uma personalidade e uma vontade, todas as emoções que eu deveria ter sentido enquanto era a Manifestação da Morte irromperam de uma vez.
— Meu objetivo também retornou, e meu antigo objetivo, de antes de me tornar a Manifestação da Morte, não havia mudado. Eu queria poder. Eu queria nunca mais ser mais fraco do que ninguém.
— Movido por convicção e raiva, criei meu Cosmos. Primeiro, tentei torná-lo inteiramente de Morte, mas era impossível. Se fizesse isso, deixaria de existir novamente. Meu Cosmos e eu simplesmente nos anularíamos.
— Então, criei meu Cosmos com 50% de Energia e 50% de Morte.
— É um equilíbrio delicado, mas meu Cosmos me concede poderes incríveis.
— Um número desconhecido de anos depois, voltei a este Cosmos para me vingar — disse ele, olhando para Orthar com olhos frios. — Talvez ele queira contar o que aconteceu?
Gravis e Mortis olharam para Orthar.
Orthar apenas olhou calmamente para o Opositor.
— O sujeito que eu falhei em matar voltou e liberou todo o seu poder. Achei que tinha tido sorte, pois o erro que não consegui corrigir me deu outra oportunidade de consertá-lo, mas eu estava enganado.
— Apenas um tempo relativamente curto havia se passado, mas ele já era muito mais poderoso do que eu.
— Temi por minha vida, então fiz a única coisa que poderia me salvar.
— Usei uma enorme parte do meu armazenamento de Energia para puxá-lo para dentro do meu Cosmos.
— Depois disso, lutamos, e a batalha basicamente terminou com ambos os nossos Cosmos à beira da destruição. Mais um ataque e nós dois morreríamos.
— Foi então que chegamos a um acordo não declarado para não atacarmos um ao outro, e voltamos a recuperar nossos poderes. E foi assim que chegamos até aqui. Estamos em uma corrida armamentista, e nenhum de nós tem confiança suficiente para eliminar o outro sem morrer no processo — Orthar explicou.
Gravis e Mortis olharam para o pai, e ele assentiu, confirmando que Orthar dizia a verdade.
No entanto, Gravis ainda tinha uma última pergunta.
— Orthar, quero lhe perguntar algo — disse Gravis.
Orthar olhou para Gravis.
— O que é? — perguntou.
— Por que você criou minha mãe?
Silêncio.
O Opositor também não sabia a resposta e olhou para Orthar.
Mortis também olhou para Orthar.
A Economista passou pelas mentes de todos, e todos queriam saber por que Orthar a havia criado.
Orthar olhou para os três e focou-se em Gravis.
— Não foi apenas um motivo. Na verdade, foram cinco.
— Cinco? — Gravis perguntou.
Isso era mais do que ele imaginava.
— O primeiro motivo foi mudar os objetivos dele — Orthar explicou. — Se ele aprendesse a amar, talvez não buscasse o poder com tanta intensidade. Desde que ele focasse em outra coisa, eu eventualmente o ultrapassaria.
— O segundo motivo foi uma distração. Eu sabia como o Cosmos dele deveria ser para lhe conceder tanto poder. Quanto mais distraído ele estivesse, maior a chance de cometer um erro.
— O terceiro motivo foi retardar seu progresso. Desde que ele não pudesse se concentrar totalmente em seu Cosmos e na absorção de Energia, eu ganharia vantagem na nossa corrida.
— O quarto motivo foi uma aposta no escuro. Eu não acreditava que aconteceria, mas, para estar preparado para qualquer eventualidade, decidi fazer algo para ficar do lado dele. Se algo acontecesse no futuro que pudesse levá-lo a partir pacificamente, essa ação me ajudaria.
— O último motivo pode surpreendê-los, mas eu senti pena dele.
As sobrancelhas de Gravis e Mortis se franziram em uma expressão cética.
— Você sentiu pena dele? — Gravis perguntou com uma voz duvidosa.
Orthar assentiu.
— Vocês viram como criei as emoções. Há tristeza e raiva, mas também há felicidade e amor. Se eu apenas desejasse poder, teria simplesmente dado a todos um desejo incontrolável por batalha.
— Quando criei meu Cosmos pela primeira vez, eu era diferente de como sou agora. Eu era jovem e ingênuo. De certa forma, meu objetivo era semelhante ao do seu pai. Passei por certas coisas que me fizeram odiar o Cosmos no qual nasci e, quando obtive poder, quis criar algo muito diferente daquele Cosmos.
— No Cosmos em que nasci, havia apenas inteligência sem emoções. Todos apenas queriam se tornar poderosos da forma mais eficiente possível. No entanto, alguns poucos de nós conseguiram evoluir nossos instintos para algo mais complexo, e esse algo eram as emoções.
— Inicialmente, acreditei que esses instintos evoluídos poderiam servir como um grande poder, e desenvolvi esse conceito enquanto criava meu Cosmos. As emoções tomaram forma e, como posso aproveitar o poder do meu Cosmos, as emoções também entraram em meu ser.
— Pela primeira vez, senti coisas, e percebi o quão cinza minha vida anterior havia sido. Eu queria mais cores, então criei mais cores.
— Quando vi seu pai retornar e vi sua vida, isso me lembrou da minha vida anterior.
— Então, mesmo que os outros quatro motivos tenham sido de longe a prioridade, o quinto motivo ainda fazia parte da razão pela qual criei sua mãe.
— De certo modo, eu me sentia sozinho, e não queria que meu maior inimigo sentisse esse vazio.
— Foi por isso que criei sua mãe.