Gravis percebeu que ela havia compreendido a Lei Verdadeira do Controle e sorriu.
Definitivamente, não era fácil compreender a Lei Verdadeira do Controle, mas a mente da Mestra da Seita já estava bastante predisposta a essa Lei.
Claro, a Lei da Liberdade era uma história diferente.
A mente de Manuel também era muito suscetível à Lei do Controle, mas ele ainda não havia compreendido a Lei da Liberdade, mesmo já conhecendo todas as outras Leis.
Compreender uma das duas, a Lei do Controle ou a Lei da Liberdade, era relativamente fácil.
Compreender ambas era praticamente impossível.
Afinal, eram opostas em essência.
Uma se tratava de avaliar todas as variáveis e possibilidades, compreender toda a complexidade da situação, o que concedia a alguém um entendimento sobre as opções disponíveis e os possíveis cursos de ação.
A Lei do Controle era o ápice da complexidade.
Enquanto isso, a Lei da Liberdade se resumia a ignorar tudo e simplesmente fazer o que se queria. Nada mais. Apenas isso.
A Lei da Liberdade era o ápice da simplicidade.
Ainda assim, compreender a Lei Verdadeira do Controle era uma conquista notável.
— Surpresa? — Gravis perguntou à Mestra da Seita com um sorriso.
A Mestra da Seita ficou surpresa ao ouvir as palavras de Gravis.
Demorou um momento para entender o que ele queria dizer.
— Você já conhece essa Lei? — ela perguntou.
Gravis assentiu.
— Sim. Como mais eu poderia estar no controle da situação?
A Mestra da Seita respirou fundo.
Não era de se admirar que ela tivesse sentido que não tinha controle sobre sua interação com Gravis.
Sua falta de controle não era uma ilusão, mas sim a realidade.
Agora, ela compreendia isso ainda mais do que antes.
Ela havia compreendido o controle em sua totalidade, o que permitiu que visse, de fato, que não estava no controle.
Seria de se esperar que entender mais sobre controle permitisse que alguém tivesse mais controle, mas isso nem sempre era verdade.
Às vezes, entender mais sobre controle apenas fazia alguém perceber que não havia como controlar determinada situação.
A Mestra da Seita também percebeu que Gravis lhe havia dado a oportunidade de compreender a Lei.
Porém, isso era exatamente o que estava a deixando confusa.
Ela sabia que Gravis era irmão de Orpheus e que sua relação com ele era bastante instável.
Além disso, ela quis punir Gravis.
E mais, ela quase o matou no passado, e Gravis sabia disso.
Mesmo agora, ela havia debatido consigo mesma se deveria matá-lo.
Em essência, Gravis deveria vê-la como inimiga.
Então, por que ele a estava ajudando?
Ela não conseguia entender.
Não fazia sentido algum em sua mente.
Parecia completamente aleatório.
Pensamentos disparavam por sua cabeça, e mesmo agora que ela conhecia tudo sobre controle, não fazia ideia de como lidar com essa situação.
Aparentemente, não havia nada lógico nisso.
Ao ver sua expressão desconfortável, Gravis apenas riu baixo.
Ele sabia exatamente o que ela estava pensando.
— Você quer perguntar por quê, mas não está perguntando. Por que não? — Gravis perguntou.
Essas palavras a deixaram ainda mais confusa.
Gravis sabia no que ela estava pensando?
Como?
Ele sabia de algo que ela não sabia?
— Eu… — a Mestra da Seita hesitou.
Ela não fazia ideia do que deveria fazer.
Sua mente tentava combinar todas as possibilidades e realidades para compreender a situação, mas não chegava a nenhuma conclusão razoável.
Era como se Gravis simplesmente não agisse como um humano.
Gravis apenas reprimiu uma risada enquanto a observava.
Ele achava hilário que pudesse deixar alguém que conhecia a Lei Verdadeira do Controle completamente perdida apenas com algumas palavras.
No entanto, Gravis também percebeu que ela provavelmente nunca compreenderia a Lei da Liberdade em sua vida.
Os conceitos de controle envolviam completamente sua mente, sem deixar sequer o menor espaço para a liberdade.
Manuel tinha uma possibilidade de compreender a Lei da Liberdade no futuro, mas ela?
Para ela, era simplesmente impossível.
— O motivo pelo qual lhe dei essa oportunidade foi porque eu quis — Gravis disse. — Esse é o motivo inteiro. Fiquei impressionado com sua grande mudança e quis ver se você conseguiria compreender a Lei Verdadeira do Controle.
— E só isso.
Após alguns segundos pensando, a Mestra da Seita olhou para Gravis.
— O que você ganhou com isso? — ela perguntou.
Gravis deu de ombros.
— Nada.
A Mestra da Seita pensou por mais um segundo.
— Foi por uma razão altruísta ou empática?
— Não — Gravis respondeu. — Eu simplesmente queria ver se você conseguiria compreender a Lei. Só isso.
A Mestra da Seita refletiu sobre as palavras de Gravis.
— Você fez isso para que eu me sentisse em dívida com você, o que lhe daria várias opções para expandir seu próprio poder?
— Quero dizer, isso é só uma consequência natural de fazer um favor a alguém — Gravis disse, dando de ombros. — Não era realmente meu objetivo. Se quiser, pode me dever algo, mas honestamente, não precisa. Se você simplesmente não fizesse nada, eu não me importaria. Eu só queria ver se você conseguiria. Não fiz isso por você, mas por minha própria curiosidade.
A Mestra da Seita franziu a testa.
— Por que você disse isso? Poderia ter conseguido muito mais apenas ficando em silêncio.
Gravis coçou a nuca, parecendo desconfortável.
Era tão difícil assim de entender?
Ele só quis fazer algo, e ela estava tentando atribuir todo tipo de significado e objetivo às suas ações.
— Por que eu precisaria mentir? — Gravis perguntou. — Não leve para o lado pessoal, mas sua ajuda teria um efeito minúsculo no meu crescimento. Tenho meus próprios meios de compreender praticamente todas as Leis que quiser.
— De certa forma, pode-se dizer que o que você poderia me oferecer não vale o esforço de mentir para você.
— Além disso, não gosto de mentir.
De certa forma, as palavras de Gravis pareceram um pouco humilhantes para a Mestra da Seita.
Mas ela também percebeu que ele estava dizendo a verdade.
Pode ser desconfortável de ouvir, mas era a verdade.
Além disso, ela havia perguntado repetidamente. Não ser honesto após tantas perguntas seria ainda mais desrespeitoso.
A Mestra da Seita refletiu mais um pouco sobre as palavras de Gravis e sentiu uma dor de cabeça se aproximando.
Eventualmente, desistiu.
Ela simplesmente não conseguia compreender a mentalidade de Gravis.
Então, decidiu deixar isso de lado.
— Meu nome é Lina — disse ela de repente.
Gravis inclinou a cabeça para o lado, confuso. — Ok?
— Eu não me apresentei antes — Lina disse. — Acho que posso aprender muito com você, e me parece apropriado me apresentar primeiro. Como eu poderia aprender mais se você nem souber meu nome?
Gravis coçou a lateral da cabeça.
“Faz sentido, mas foi meio repentino.”
“Bom, tanto faz.”
— Esse é seu nome verdadeiro? — Gravis perguntou.
— É meu primeiro nome. Mas minha família vem deste mundo e conhece os efeitos dos nomes verdadeiros. Por isso, todos os membros da família recebem nomes extremamente longos e complexos, tornando impossível para qualquer um adivinhá-los.
— Meu nome verdadeiro tem mais de 100 palavras. Dizer meu primeiro nome não representa um perigo para mim — explicou Lina.
Esse é um nome bem longo, pensou Gravis, surpreso.
— Certo. Sou Gravis — disse ele. — Não se preocupe, o resto do meu nome é impossível de adivinhar, já que nem eu mesmo o conheço.
Isso pegou Lina de surpresa.
— Você não sabe seu próprio nome? — ela perguntou, surpresa.
— Não. Acho que essa foi a forma que minha família encontrou para proteger meu nome.
— Sua família também vem deste mundo?
Gravis assentiu.
— Sim.
Os planos de Gravis de visitar Orpheus foram adiados mais uma vez.
Conversar com Lina era bastante interessante.