Gravis estava sozinho, em pé sobre um dos muros da Seita Divina Celestial.
Ele permaneceu ali por horas, apenas olhando para o horizonte sem rumo.
Gravis ainda estava em choque, e era difícil para ele aceitar tudo o que havia acontecido.
Ele não esperava que tantos tivessem morrido.
A sensação de perder seus entes queridos não era estranha para Gravis, mas era dolorosa todas as vezes.
Especialmente desta vez.
— Você era o pai dela, certo? — uma voz disse atrás de Gravis.
Gravis olhou para a pessoa e leu seus fragmentos de Leis.
Então, apenas assentiu silenciosamente antes de voltar a olhar para o horizonte.
O homem se juntou a Gravis no muro.
Os dois nunca haviam se encontrado antes, mas, naquele momento, compartilhavam o mesmo sentimento.
Luto.
— Ela falava muito de você — disse o homem.
— Falava? — Gravis perguntou distraidamente.
— Sim — respondeu o homem. — Ela sempre dizia que não se arrependia de sua escolha, mas acho que, no fundo, se arrependia um pouco. Quando se tornou uma Deusa Estelar, ela adquiriu uma mentalidade humana e, com isso, sentimentos.
— No entanto, tanto tempo havia se passado, e ela nunca encontrou uma boa oportunidade.
— Acho que ela queria te ver novamente e enterrar o passado — explicou o homem. — Ela sempre falava sobre como odiava quando as pessoas fugiam de seus sentimentos, mas acho que isso era porque ela odiava sua versão do passado por suas decisões.
Silêncio.
— Sabe, eu sempre odiei você — disse o homem.
Gravis não respondeu.
— Sua existência colocava uma pressão impossível sobre ela. Ela sempre quis se empurrar para o topo. Sempre dizia que precisava te superar. Cada vez que conquistava algo, nunca era o suficiente. Ela sempre dizia que suas realizações não tinham valor. Afinal, você já a teria superado há muito tempo.
— Essa pressão que ela colocava sobre si mesma também se estendia a mim, seu marido — continuou o homem. — Eu sempre tinha que ouvir suas frustrações. Não importava o que eu fizesse, eu nunca era forte o suficiente. Eu só queria passar mais tempo com ela. Eu só queria estar com ela.
— Mas isso nunca aconteceu. Ela estava completamente focada em se tornar mais poderosa. Honestamente, nem sei por que me escolheu como marido.
O homem respirou fundo.
— Mas eu a amava. Eu a amava com todo o meu coração.
— E agora, ela está morta. Morta por causa de uma guerra que começou por sua causa — disse o homem.
— Eu sei onde estão minhas falhas — respondeu Gravis, neutro. — Sempre quis estar lá para ela, mas eu nem sequer sabia onde poderia encontrá-la. Além disso, queria dar espaço para que ela tomasse suas próprias decisões. Se ela não queria me ver, essa era a escolha dela. Eu não interferiria em sua liberdade nem forçaria minha existência sobre ela.
— É mesmo? — o homem perguntou com um riso seco. — Você não percebe que, às vezes, queremos que outra pessoa tome a iniciativa? Ela não queria admitir, mas eu sei que ela sentia sua falta. Mas você nunca veio.
O homem respirou fundo.
— E quando ela finalmente quis te ver de novo, não conseguiu te encontrar.
— Ninguém conseguiu te encontrar.
— Depois de milhões de anos sem poder te ver, essa guerra aconteceu, e ela decidiu se juntar ao grupo de contenção. Seu desprezo por seu antigo grupo de amigos no passado a enojava tanto que ela escolheu lutar em uma batalha que quase certamente resultaria em sua morte.
O homem riu com desprezo, mas aquele desprezo era dirigido a si mesmo.
— E olhe para mim agora. Eu ainda estou vivo. Por quê? Porque eu não era forte o suficiente para me juntar ao grupo de contenção.
— Sou apenas um Deus Divino de nível três. Ela era uma Deusa Divina de nível quatro.
Gravis não respondeu.
— De qualquer forma, era isso que eu queria te dizer — disse o homem, virando-se para partir. — Espero que tenha sido o que você queria.
Então, ele se foi.
Gravis apenas continuou olhando para o horizonte.
— Pelo menos você encontrou alguém que realmente te amava, Cera — Gravis disse para si mesmo.
Gravis não estava com raiva do marido de Cera. Afinal, ele também estava devastado pelo luto, provavelmente ainda mais do que Gravis.
Além disso, Gravis não queria admitir, e se odiava por isso, mas a morte de Cera não o afetava tanto quanto as outras.
Sim, ela era sua filha. Sim, perder Cera o machucava profundamente.
Mas eles não se viam há muito tempo.
Gravis a viu uma vez no torneio, mas, naquela época, Cera não viu Gravis.
Quando foi a última vez que Cera viu Gravis?
Quando ela partiu para o mundo superior.
Naquele tempo, Gravis tinha pouco mais de mil anos.
Mil anos.
Agora, Gravis tinha 4,6 milhões de anos.
Depois de tanto tempo, era inevitável que houvesse um sentimento de desconexão entre eles.
E agora, ela se foi.
E ela nem sequer era a única.
Gravis continuou pensando nos amigos que havia perdido.
Um de seus amigos e antigo mentor morreu em sua tribulação no Reino Deus Ancestral. Seu oponente o matou.
O Reino Deus Ancestral Avançado foi o limite de Dorian.
Foi ali que sua jornada terminou.
Dorian foi empurrado aos extremos do poder com a ajuda de todos ao seu redor e sua própria criatividade. No entanto, cada oponente no Reino Deus Ancestral era um gênio inigualável.
Por muito tempo, Dorian lutou acima de seu talento. Conseguiu fechar a lacuna de poder com técnicas extremamente criativas, mas, em certo ponto, a diferença se tornou grande demais.
Pelo menos, Dorian teve uma grande vida.
Pelo que Gravis ouviu, Dorian já esperava morrer em sua tribulação.
No entanto, aparentemente, ele não levou isso a sério. Era como se já tivesse aceitado sua morte.
Nos últimos anos de sua vida, simplesmente fez o que queria.
Gravis ainda se lembrava de quando conheceu Dorian, o Velho Relâmpago.
Dorian uma vez salvou Gravis da morte certa e até lhe deu seu primeiro lar verdadeiro no mundo inferior.
Seu neto, Lasar, morreu no mundo intermediário, mas Dorian conseguiu chegar até o Reino Deus Ancestral Avançado.
Do mundo inferior ao Reino Deus Ancestral Avançado.
Quantos seres chegaram tão longe?
Quantos seres viveram por milhões de anos?
Ele foi longe, e poderia se orgulhar de suas conquistas.
Assim como Ferris.
Ferris alcançou o Reino Deus Ancestral no Pináculo. Infelizmente, sua tribulação também selou seu destino.
Ferris era muito talentoso em poucos aspectos. Mas, nesse nível de poder, todos eram basicamente talentosos em tudo.
Ferris simplesmente não conseguiu mais acompanhar.
No entanto, de todos os amigos de Gravis, Ferris provavelmente foi o que menos se importou com a própria morte.
Ferris viveu cada dia ao máximo e sempre passou tempo com todos.
Ele era uma presença agradável, e todos o amavam.
Infelizmente, seu tempo chegou ao fim.
Uma morte que não surpreendeu Gravis foi a de Exar.
Gravis ouviu que Exar havia se juntado à Seita do Pináculo do Raio, e, quando viu a Seita ser destruída, já antecipava que Exar havia morrido com ela.
Exar e Gravis nunca foram realmente próximos. Sua relação era mais de parceiros do que de amigos.
Depois de passar mais tempo no muro da Seita Divina Celestial, Gravis partiu.
Ele precisava estar presente para alguém.
Alguém estava passando por um luto muito pior que o dele.
Gravis se teleportou para um quarto e viu uma mulher de cabelos negros chorando.
Ela nem sequer percebeu Gravis.
Gravis caminhou até ela e pousou a mão gentilmente sobre seus ombros.
Ela olhou para cima e viu Gravis.
Então, se atirou nos braços dele, e seu choro se intensificou.
Gravis sentou-se em uma cadeira, puxando-a junto consigo.
Por um longo tempo, Gravis não disse nada.
Ele simplesmente a deixou chorar o quanto precisasse.
Gravis também queria chorar, mas, por ora, só queria estar ali para sua filha.
Mas ouvir sua filha chorar fazia o coração de Gravis doer ainda mais.
Era como se o próprio luto de Gravis estivesse sendo arrancado pelo choro de Yersi.
Por um longo tempo, os dois apenas se abraçaram.
Yersi havia perdido seu marido, Jake…
E havia perdido seu irmão.
E Gravis havia perdido seu filho.
Aris também estava no grupo de contenção.