Gravis permaneceu ao lado de Stella por muito tempo. Havia muito para colocar em dia.
Ele também visitava Yersi na Cidade Opositora de tempos em tempos. Sabia que, no momento, Yersi provavelmente estava passando pelo período mais difícil, e fazia o possível para estar presente para ela.
Depois de alguns anos, Yersi finalmente encontrou algo que queria fazer.
Cozinhar.
Cozinhar não era uma profissão muito popular, principalmente por causa da clientela limitada. Afinal, quando alguém não precisava de comida, geralmente também não se interessava muito por comida.
Além disso, pessoas com grande poder tinham padrões altíssimos, pois essencialmente já haviam entrado em contato com tudo.
Havia também o problema dos ingredientes.
Deuses Estelares não se interessariam por algumas bestas do Reino Reunião de Energia.
No entanto, bestas do Reino Formação Espiritual ou superior eram tão inteligentes quanto os humanos, o que tornava a ideia um tanto estranha para a maioria das pessoas.
Curiosamente, era mais fácil para as bestas comerem outras bestas do que para os humanos fazerem o mesmo. Humanos nunca precisaram consumir bestas para crescerem mais poderosos, e, além disso, nem podiam.
Somente uma besta podia comer outra para se tornar mais forte, enquanto humanos precisavam confiar em tesouros naturais ou Pedras Divinas.
Por isso, pouquíssimos humanos se interessavam.
As bestas também não se interessavam tanto, pois cozinhar parecia um desperdício de esforço. Além disso, isso diminuía a Energia dentro do cadáver, o que elas consideravam um desperdício.
Mas Yersi gostava. Pegar algo e elevá-lo a um nível superior era algo que ela apreciava profundamente.
Inicialmente, ela só estava interessada em cozinhar para si mesma e para Jake, mas isso mudou quando um jovem mimado de uma Seita qualquer disse que queria experimentar sua comida.
Aquele garoto gostou tanto de sua comida que trouxe os amigos para experimentá-la.
Com o tempo, comer bestas de maneira tão refinada virou um hobby exótico. Os preços altos também não eram um problema, mas sim um atrativo. Afinal, se era tão caro, tinha que ser algo especial, certo?
Essas pessoas eram principalmente Imortais que haviam sido artificialmente elevados a seus Reinos.
Eles nunca haviam lutado na vida.
Yersi gostava de ver as pessoas apreciando sua comida, então expandiu seu repertório de pratos e ingredientes.
Infelizmente, seus clientes iniciais rapidamente abandonaram o restaurante em choque e indignação logo após a inauguração oficial.
Por quê?
Porque humano também estava no cardápio.
Bestas também comiam humanos, e isso era absolutamente normal.
Os humanos aceitavam esse fato sem problemas, pois era algo natural, mas ver restos humanos preparados de forma tão delicada fez um arrepio percorrer suas espinhas.
Parecia antinatural.
Por isso, quase todos os humanos passaram a evitar o restaurante de Yersi, deixando apenas as bestas como clientes.
Yersi não ganhava muito dinheiro com o restaurante, mas não se importava. Para ela, aquilo não era um negócio, mas um hobby.
Como uma Deusa Divina, ela tinha dinheiro suficiente para manter o restaurante até o fim de sua vida.
Era apenas algo para passar o tempo.
E quanto aos ingredientes?
Ela simplesmente os comprava.
A morte era abundante no mundo do Cultivo e, como os humanos não podiam consumir outros seres vivos para aumentar seu poder, normalmente deixavam ou destruíam os cadáveres.
No entanto, ao verem os preços que Yersi oferecia, os humanos simplesmente passaram a trazer os corpos de volta.
Era um dinheiro fácil, afinal.
Como alguém que se via como humano, Gravis também sentiu um leve arrepio percorrer sua espinha ao ver o trabalho de Yersi, mas sabia que não podia reclamar.
Ele próprio já havia consumido muitos humanos ao longo de sua vida—apenas de uma maneira diferente.
Ainda assim, era estranho ver Yersi cozinhando com seu ‘ingrediente’.
Mas, no fim, Gravis não se importava com nada disso. Apenas estava feliz que Yersi havia encontrado algo para fazer.
Yersi havia mudado bastante depois do que aconteceu da última vez. Ela sempre agira como uma garotinha feliz, mas agora, na maior parte do tempo, apenas sorria. Seu riso havia diminuído muito.
De certa forma, ver Yersi assim lembrava Gravis de Orpheus.
Orpheus ocasionalmente ria, mas não parecia um riso verdadeiro.
Era como se ele estivesse imitando a felicidade.
Depois de saber pelo que Orpheus passou, Gravis conseguia entender.
A família de Orpheus já havia morrido há muito tempo, e ele esperava pela morte antes que Gravis o convencesse a continuar cultivando.
De certa forma, a Yersi atual se assemelhava ao Orpheus do passado.
Era a postura de alguém que simplesmente esperava pelo fim.
Isso doía em Gravis, mas ele sabia que não havia nada que pudesse fazer. Além disso, muitas coisas poderiam acontecer nos próximos dez milhões de anos.
Era bem possível que Yersi encontrasse alguém que trouxesse luz à sua vida novamente.
Falando em Orpheus, depois de alguns anos, ele apareceu para visitar Gravis, e sua chegada chocou Gravis.
Por quê?
Porque Lina estava ao lado dele.
Lina, a antiga Mestre da Seita Fogo Eterno.
Gravis tinha certeza de que Orpheus havia matado todos na Seita do Fogo Eterno, e foi por isso que ficou tão surpreso ao ver Lina.
Com um sorriso sem graça, Orpheus disse que Lina era o motivo pelo qual evitara procurar Gravis por tanto tempo. Afinal, ele sabia que Gravis eventualmente apareceria na casa do Opositor, e Orpheus poderia ir até lá sem atrair suspeitas.
Orpheus explicou que realmente havia matado todos, mas quando chegou até Lina, hesitou.
Orpheus não entrou em detalhes, mas aparentemente, algo em Lina o lembrou de sua falecida esposa.
No passado, quando Orpheus teve contato com Lina, ele obviamente não tinha interesse nela. Na verdade, queria matá-la há muito tempo.
No entanto, depois que Lina conversou com Gravis, ela mudou bastante, e seus maneirismos passaram a se assemelhar aos da esposa falecida de Orpheus.
Aparentemente, Lina não fazia ideia de por que Orpheus erradicou toda a Seita do Fogo Eterno, e ficou ainda mais confusa quando ele simplesmente a poupou e partiu.
O que se seguiu foram muitos anos em que os dois se encontravam repetidamente em situações desconfortáveis.
Lina queria matar Orpheus, enquanto Orpheus era inexplicavelmente atraído por ela. Ele queria entender por que Lina parecia tão semelhante à sua esposa morta.
Os anos seguintes basicamente se resumiram a uma pessoa tentando matar alguém que estava romanticamente interessado nela.
O clima entre eles sempre fora extremamente desconfortável.
Eventualmente, com Lina focada totalmente em seu poder e Orpheus distraído, ela conseguiu reduzir a diferença de força entre os dois.
Orpheus teria vencido a luta, mas hesitou vezes demais, e seu coração nunca esteve realmente na batalha.
Lina teve a oportunidade de finalmente matar Orpheus.
Ela tinha que fazer isso!
Ele havia matado toda a sua Seita!
Mas então, Lina compreendeu a Lei da Liberdade.
Por quê?
Porque, no fundo, ela não queria matar Orpheus.
Tudo ao seu redor dizia que ela tinha que fazer isso.
Ela essencialmente se forçou a tomar essa decisão.
Mas, no fim, decidiu não fazê-lo.
Por quê?
Porque simplesmente não queria.
Foi então que começaram a conversar.
E, eventualmente, acabaram juntos.
Ainda assim, Orpheus nunca decepcionou Gravis durante esse tempo. Um dos motivos pelos quais ele sempre ficou próximo de Lina foi porque não queria que ela revelasse informações sobre Gravis.
Além disso, ele sempre manteve em segredo sua verdadeira razão para destruir a Seita do Fogo Eterno, mesmo depois que os dois ficaram juntos.
Somente recentemente ele revelou os verdadeiros motivos por trás de suas ações.
A partir desse momento, Lina passou a odiar Gravis.
No entanto, ela sabia que Gravis era poderoso demais para ela. Havia uma chance de superar Orpheus, mas ela sabia que nunca superaria Gravis.
Então, eventualmente, desistiu.
Ainda assim, ela odiava Gravis e não queria entrar em contato com ele nunca mais.
Gravis apenas ficou feliz por Orpheus estar feliz.
No fim, tudo deu certo, e Orpheus ainda fez um favor gigantesco para Gravis.
Não importava com quem Orpheus estivesse. O mais importante era que Orpheus estava feliz.
E, sem dúvida, Orpheus estava rindo muito mais do que no passado.
Os dois irmãos passaram muito tempo juntos, mas Orpheus teve que partir antes do que gostaria, pois sua nova esposa estava ficando impaciente.
Depois que Orpheus foi embora, Gravis sentiu mais esperança por Yersi.
Orpheus conseguiu superar tudo, e Yersi também poderia.
Ela só precisava de tempo.
Então, seguiu-se um longo período de paz.
Gravis passou todo o seu tempo com aqueles ao seu redor. Estes eram os últimos amigos que lhe restavam, e ele apreciava estar com eles.
Claro, na maior parte do tempo, Gravis estava com Stella.
E então, 400.000 anos depois, Mortis entrou em contato com Gravis.
Tempo suficiente havia se passado.
Era hora do último esforço.
Hora de se concentrar na Lei Verdadeira do Mundo Morto.