Depois de muito tempo, Gravis finalmente terminou de ajustar as Leis. Aquela última parte havia levado tempo demais, mas era necessária.
Então, Gravis focou no embrião de seu pequeno mundo.
Ele desejou que a vida existisse.
E a vida começou a existir.
Gravis determinou as formas que a vida assumiria no início.
Ele havia escolhido as formas de vida que aumentariam seu poder.
No entanto, faria a vida em seu Cosmos diferente da vida no Cosmos de Orthar.
Qual era a forma de vida escolhida por Gravis?
Demônios Negros.
Os Demônios Negros se tornariam as formas de vida dotadas de Espíritos e seriam as que mais impactariam seu poder no futuro.
Gravis não criou humanos.
Os Demônios Negros seriam os únicos seres sencientes dentro do Cosmos de Gravis.
Então, Gravis criou as bestas.
No entanto, ao contrário das bestas no Cosmos de Orthar, Gravis não permitiu que essas bestas atingissem um estado consciente.
Essas bestas teriam apenas uma habilidade rudimentar de comunicação e não possuiriam a inteligência necessária para compreender nem as Leis mais simples.
Na mente de Gravis, Orthar havia sido indulgente demais com as bestas. Ao conceder-lhes senciência posteriormente, Orthar estava desperdiçando Energia enquanto reduzia a separação entre humanos e bestas.
Isso não aconteceria no Cosmos de Gravis.
Neste Cosmos, bestas e Demônios Negros seriam separados por um abismo intransponível de senciência e autoconsciência.
No entanto, em troca, Gravis concedeu às bestas corpos físicos muito mais poderosos e um sistema de compreensão de Leis baseado em linhagem sanguínea.
As bestas poderiam consumir outros seres vivos para aprimorar sua própria compreensão das Leis.
Sua compreensão das Leis e suas habilidades viriam inteiramente de seu próprio sangue. Quanto mais Leis seu sangue contivesse e quanto mais poderoso se tornasse, mais as bestas poderiam controlar as Leis ao seu redor.
As bestas não saberiam como as Leis funcionavam, mas ainda assim seriam capazes de utilizá-las.
Com isso, as bestas não precisariam de tempo para se tornarem poderosas.
Só precisariam de batalha.
Não precisavam de compreensão.
Apenas de batalha.
Além disso, Gravis concedeu às bestas uma incrível capacidade de reprodução. Bestas poderosas se multiplicariam como baratas e rapidamente se tornariam adultas.
É claro que o preço por tudo isso era que Gravis não poderia utilizar as Leis e as Auras de Vontade das bestas em seu Cosmos.
Qual era o propósito delas?
Elas tinham três propósitos.
Primeiro, atrairiam uma enorme quantidade de Energia, pois se tornariam extremamente poderosas muito rapidamente.
Segundo, serviriam como o principal meio de fortalecimento para os Demônios Negros.
Terceiro, defenderiam os Demônios Negros.
Defender os Demônios Negros?
Isso não fazia sentido.
Pelo que parecia, as bestas seriam o principal perigo à sobrevivência dos Demônios Negros.
Então, de quem as bestas defenderiam os Demônios Negros?
Gravis criou as bestas e os Demônios Negros nos arredores do mundo. Em comparação com os mundos de Orthar, a densidade de Energia nos mundos de Gravis se concentraria nas bordas. Quanto mais perto da borda de um mundo, mais densa a Energia.
E no centro do mundo?
Gravis focou em sua Lei recém-criada de formas de vida baseadas na Morte.
Ele tinha que dar tudo de si.
Se não tentasse com todas as forças, não conseguiria evitar seu destino.
Então, Gravis decidiu criar sua própria versão do Cosmos de seu pai.
Gravis criaria um mundo repleto de Energia e Morte.
Era incrivelmente perigoso.
Era insanamente cruel.
Se Gravis administrasse mal seu Cosmos, ele se tornaria pura Morte e essencialmente desapareceria, pois a Morte não podia manter um estado permanente com facilidade.
Se Gravis tivesse escolha, ele não faria isso.
Ele não queria criar um Cosmos de sofrimento.
Mas ele precisava.
Isso poderia ser o fator decisivo entre sua sobrevivência e sua morte.
Se ele conseguisse superar isso, sempre poderia erradicar a Morte dentro de seu Cosmos. Sim, isso também erradicaria todo o seu progresso, mas ele poderia recomeçar.
Enquanto Gravis estivesse seguro, ele poderia criar outro.
Mas, por agora, ele precisava de poder.
No centro do único mundo de Gravis, monstros da Morte surgiram.
Assombrações.
Fantasmas.
Amálgamas de partes do corpo.
Parasitas.
Monstros feitos apenas de tentáculos.
Rodas repletas de olhos.
Olhos com asas.
Línguas com dentes crescendo delas.
Bocas flutuantes.
Gravis usou formas abstratas e monstruosas para essas criaturas a fim de criar uma sensação de anormalidade e medo tanto nas bestas quanto nos Demônios Negros.
Eles precisavam saber que essas coisas eram inimigas.
Eles precisavam saber que as formas de vida baseadas na Morte eram a maior ameaça à sua sobrevivência.
Eles tinham que erradicá-las!
Eles tinham que se tornar poderosos para sobreviver!
Então, Gravis lhes deu existência.
Assim que as formas de vida baseadas na Morte apareceram, elas transformaram os arredores em um breu absoluto.
Um odor repulsivo de decomposição e estagnação permeava o ambiente.
As formas de vida baseadas na Morte adoravam aquele cheiro, mas as formas de vida normais o odiavam e temiam.
A guerra começou imediatamente.
As formas de vida baseadas na Morte começaram a lutar e devorar umas às outras, tornando-se cada vez mais poderosas no processo.
Elas não podiam compreender Leis.
Elas só podiam se tornar mais fortes.
Suas mentes eram preenchidas por violência absoluta, ódio e dor.
Sua existência era dor.
Seu comportamento era violência.
Sua percepção do mundo era ódio.
A pior coisa que já havia acontecido a elas era existir.
Ainda assim, elas não possuíam a capacidade mental para compreender isso.
Elas eram incapazes de imaginar a morte.
Elas precisavam sobreviver!
Elas precisavam comer!
Elas precisavam crescer!
Elas precisavam destruir!
Tudo era inimigo!
As bestas e os Demônios Negros começaram a lutar rapidamente, e as bestas também logo começaram a enfrentar as formas de vida baseadas na Morte.
Com o passar dos anos, a maioria das bestas se focou nos inimigos da Morte. Os Demônios Negros estavam na borda do mundo, e as bestas os separavam das formas de vida baseadas na Morte.
Os Demônios Negros tentaram sobreviver à maré interminável de bestas.
No entanto, falharam.
Os Demônios Negros foram erradicados.
Simplesmente havia sido demais.
Gravis já esperava algo assim. Encontrar o equilíbrio perfeito na primeira tentativa era impossível. Ele precisaria ajustar tudo repetidamente até que os Demônios Negros pudessem, por um fio, sobreviver—desde que cada membro dedicasse sua vida inteira a lutar por sua sobrevivência.
Ano após ano, Gravis recriou os Demônios Negros e até mesmo as bestas várias vezes.
Eventualmente, os Demônios Negros conseguiram sobreviver, mas apenas por um fio.
Cada membro tinha que lutar.
Crianças eram jogadas em batalhas de vida ou morte.
A guerra era constante.
A felicidade não existia.
A liberdade não existia.
Tudo pelo que Gravis lutava não existia em seu Cosmos.
Os olhos de Gravis ficaram injetados de sangue, repletos de raiva e ódio, enquanto observava seu Cosmos ser consumido apenas por ódio e violência.
Ainda assim, era necessário!
Ele precisava fazer isso!
Ele se odiava por tudo isso, mas não havia outra opção!
Ele precisava fazer uma quantidade infinita de seres viverem uma existência semelhante à tortura para evitar seu destino!
Havia uma palavra no Cosmos de Orthar, desconhecida para essas terras dilaceradas pela guerra.
Paz.
Esse conceito não existia.
No Cosmos de Orthar, Gravis abriu os olhos e sorriu.
— Estou pronto para o próximo passo — disse, aparentemente animado.
Orthar não podia ver o Cosmos de Gravis, e Gravis precisava parecer como se não tivesse acabado de criar a antítese da felicidade e da liberdade.
Mortis também já havia terminado.
Orthar olhou para os dois e assentiu.
— Então, vamos para o processo de fortalecimento.