— Assim?
— Não, não assim. Cortei parte do meu fêmur para fazer uma lâmina. Você sabe como uma lâmina deve parecer.
— Sim, mas nunca fiz isso antes.
— Apenas imagine.
— Então, assim?
— Corte errado. É mais na diagonal.
O Opositor franziu a testa.
Ele estava apenas recriando a realidade para incluir Gravis novamente.
Gravis havia contado sua história ao pai, e o Opositor rapidamente percebeu que ele estava falando a verdade.
Primeiro, o Opositor conhecia o preço definitivo que se devia pagar para se tornar a Vontade da Morte.
Segundo, depois que Gravis apontou partes estranhas em sua memória, o Opositor percebeu que algumas partes de suas lembranças não faziam muito sentido.
Claro, para ele, pareciam naturais.
No entanto, o Opositor pôde ver que a explicação de Gravis fazia mais sentido.
O Opositor ainda não estava acostumado a ter outro filho, mas tentou ao máximo aceitar Gravis.
— Por que nosso sobrenome é Bauer, afinal? — Gravis perguntou.
— O que tem essa pergunta? — o Opositor retrucou.
— Bem, eu simplesmente pensei nisso — Gravis respondeu.
— No velho mundo, falávamos um idioma diferente. Bauer significa fazendeiro naquele idioma. Acho que aquele velho desgraçado mudou a língua para que ninguém jamais pensasse em criar a palavra Bauer novamente.
— Espera, então meu nome é literalmente Gravis Fazendeiro? Passei todo esse tempo sem saber meu sobrenome e, no fim, é só fazendeiro mesmo? — Gravis perguntou.
— O que você esperava? Você viu meu passado. Eu nasci em uma família de fazendeiros, e mortais costumam ter sobrenomes bem diretos — o Opositor respondeu sem rodeios.
— Ó grande Vontade da Morte, senhor Bauer — Gravis zombou.
— Você pode mudar, se quiser. Quem vai te impedir? — o Opositor perguntou.
— Nah, não quero — Gravis respondeu. — É o meu nome, e eu só tenho que lidar com isso. Além disso, essa coisa de nome já nem importa mais. Afinal, eu não tenho um Cosmos.
Então, Gravis franziu a testa. — Isso pode ser algo positivo. A única vez que criei um Cosmos, fiz uma terra de sofrimento.
— Você teve boas intenções — o Opositor disse.
— E daí? Você deveria ter visto. Acho que fiquei ainda mais louco do que você.
— Duvido disso — o Opositor respondeu.
Enquanto Gravis e seu pai continuavam a discutir de forma descontraída, o Opositor estava focado em adaptar a realidade de seu Cosmos para incluir Gravis.
Era um trabalho árduo, já que Gravis não podia criar imagens diretamente sem acesso à Energia, mas, no fim, eles conseguiram encaixar tudo de alguma forma.
Alguns detalhes menores estavam diferentes, mas tudo o que importava estava lá.
E então, quando finalmente terminaram, o Opositor apenas esperava pelo sinal de aprovação.
— Espere aqui. Quero testar algo — Gravis disse antes de desaparecer.
O Opositor ergueu uma sobrancelha, mas logo viu o que Gravis queria fazer.
Dentro de um quarto, uma sombra cinza apareceu.
Cinza?
Gravis não era uma sombra preta?
Bem, o Opositor havia criado uma camada de Equilíbrio ao redor de Gravis. Com isso, Gravis podia interagir com a Energia sem precisar do filtro do Cosmos.
Gravis apenas precisava arrastar a camada de Equilíbrio junto com sua sombra.
O quarto em que Gravis entrou não estava vazio.
Alguém já estava ali.
Stella abriu os olhos em choque ao ver uma sombra cinza aparecer diante dela.
Por um momento, ficou extremamente confusa.
Ela não sabia o que era aquilo, mas também não sentia que fosse perigoso.
Além disso, sendo a mais poderosa Deusa Divina no Pináculo junto com Arc, era a existência mais poderosa desse Cosmos abaixo do Opositor.
Então, quem poderia sequer fazer algo assim?
Por isso, Stella não atacou imediatamente.
Por um tempo, a sombra apenas pairou diante dela.
Então, lentamente, foi até a porta.
Creeeak.
A porta se abriu rangendo.
BANG!
Então, a porta se fechou com um estrondo.
Depois, rangeu e se abriu novamente.
— O que você está fazendo? — Stella perguntou.
— Sou um fantasma assustador — Gravis respondeu.
— Um… fantasma assustador? — Stella perguntou.
— Sim, está com medo? — Gravis perguntou. — Que tal eu fazer alguns móveis flutuarem? Isso funcionaria?
Stella apenas olhava chocada para a sombra cinza.
Sua percepção se estendeu até o Opositor. Ao contrário de Orthar, o Opositor não mantinha seu paradeiro em segredo.
— Isso é coisa sua? — ela perguntou.
— Não, isso é um fantasma assustador — o Opositor respondeu com uma voz neutra.
Stella não conseguiu reagir direito às palavras do Opositor.
— Você está brincando comigo? — ela perguntou nervosa.
— Eu pareço estar brincando? — o Opositor respondeu, ainda neutro.
Isso fez a mente de Stella entrar em colapso.
Ele… estava?
Clank, clank!
Stella olhou quando ouviu um som, e seus olhos se arregalaram.
A sombra cinza agora usava uma armadura e estava usando espadas como pernas e braços.
— Olha! Tenho espadas no lugar das pernas! — o fantasma de armadura disse, maravilhado.
Depois desse ataque de situações confusas, Stella só pôde fazer uma coisa.
Ela só pôde rir.
Gravis sorriu ao ouvir a risada de Stella.
Oh, como ele sentiu falta disso.
…
O tempo passou.
…
Gravis conheceu Stella novamente, e seu amor reacendeu. Mesmo que Stella não tivesse memória de Gravis, era como se sempre tivessem estado juntos.
Então, Gravis contou a ela o que realmente havia acontecido e que sua mente havia sido alterada.
Quando Gravis chegou à realidade modificada que o Opositor havia criado, ela aceitou imediatamente.
Ela queria se lembrar de sua vida com Gravis.
Depois disso, Gravis foi até todos os seus outros amigos e até Yersi.
Todos também quiseram se lembrar dele.
Felizmente, todos os seus amigos eram Deuses Divinos, o que significava que sobreviveram à primeira e à segunda seleção natural.
A primeira havia sido a absorção dos Magnatas Celestiais.
A segunda havia sido o ataque ao Cosmos do Opositor.
Todos estavam no nível de poder perfeito para sobreviver a ambos os eventos perigosos.
No fim, o Opositor substituiu a realidade atual pela realidade alterada.
A existência de Gravis foi recriada e adicionada à realidade novamente.
Todos se lembravam dele e ficaram incrivelmente felizes ao saber que ele ainda estava vivo.
Infelizmente, nem todos sobreviveram.
A morte de Mortis atingiu Azure com força, mas Gravis sabia que ela se recuperaria com o tempo.
Cultivadores no nível deles raramente eram impedidos pela morte de um ente querido. Todos já haviam passado por sofrimento suficiente em suas vidas.
Eles sabiam como lidar com isso.
E a sobrevivência?
Isso já não importava mais.
O Opositor criou espaços separados.
Aqueles que queriam cultivar podiam viver no mundo com as regras antigas.
Longevidade, refino, Compreensão das Leis, tudo isso.
No entanto, se decidissem fazer uma pausa ou se aposentar, poderiam ir para uma parte separada do Cosmos.
Lá, poderiam viver pelo tempo que quisessem, e combates eram proibidos.
No entanto, não havia quase nenhuma Energia nesse mundo, e as Leis não podiam ser percebidas.
Depois de governar um Cosmos de sofrimento por 50 bilhões de anos, o Opositor criou o oposto: um Cosmos onde as pessoas podiam viver felizes.
Claro, ainda era uma escolha delas.
Além disso, o Opositor não impediria ninguém de ascender.
Se conseguissem se tornar Quebradores do Céu, poderiam partir.
O caminho estava aberto.
A prisão não existia mais.
E se um Quebrador do Céu tentasse matar o Opositor?
Bem, o poder do Opositor havia caído vários níveis após a luta. Afinal, ele não tinha mais acesso à Morte dentro de seu Cosmos.
No entanto, ele podia simplesmente contar ao seu filho.
Ele poderia lidar com isso.
…
Muito tempo se passou.
…
— Ei, quero ter filhos. Pode fazer algo a respeito?
A Morte no Caos Primordial contatou o Equilíbrio, que contatou a Energia.
— Sim — a Vontade da Energia respondeu.
— Ok, legal. Então, poderia? — Gravis perguntou.
— Não vou.
— Por quê? — Gravis perguntou em choque.
— Porque é chato — a Vontade da Energia respondeu com diversão.
— Chato?
— Sim, chato.
— Certo, o que tenho que fazer para que não seja chato? — Gravis perguntou com irritação.
— Que tal me encontrar no primeiro Cosmos? Claro, sem trapaças! Você tem que chegar lá do jeito antigo, passando por todos os Cosmos um por um — a Vontade da Energia respondeu.
— Você está falando sério? Sabe quanto tempo isso vai levar? — Gravis retrucou, frustrado.
— Sim, mas essa é a graça. Vamos lá, você tem uma eternidade pela frente. Por que não usar um bom pedaço disso em uma viagem por todos os Cosmos?
No fim, Gravis só pôde suspirar.
— Provavelmente você está certo. Você está nessa situação há muito mais tempo do que eu.
— Oh, você não faz ideia — a Vontade da Energia respondeu com exasperação. — Estou feliz por finalmente ter alguém com quem conversar no meu nível.
Depois de conversar um pouco mais, Gravis se voltou para Stella.
— Quer fazer um passeio turístico?
— Claro — Stella respondeu com um sorriso radiante.
Era um pouco estranho não poder tocar o corpo do marido nem vê-lo, mas ela já tinha se acostumado.
Além disso, isso não seria para sempre. Afinal, a Vontade da Energia havia dito que poderia fazer algo a respeito.
Então, Gravis perguntou ao pai se ele queria se juntar a eles.
— Claro — o Opositor respondeu.
Como dono do Cosmos, ele não precisava estar presente o tempo todo. Seu corpo humano podia simplesmente seguir através dos Cosmos.
Se quisesse, poderia mandar Gravis e Stella de volta ao Cosmos sempre que quisesse.
Era, essencialmente, uma casa móvel.
E assim começou a jornada de Gravis, Stella e do Opositor por todos os Cosmos.
Isso levaria muuuuuuuito tempo.
Mas eles estavam felizes.
E livres.
E no fim, isso era tudo o que importava, certo?
>> FIM <<