Gravis esperou pela chegada dos mais fortes. O número de pessoas no nono nível poderia ser pequeno, mas provavelmente haveria pessoas no oitavo nível com uma Aura de Vontade. Esses sabiam como lutar, pois haviam passado por muitas experiências de vida ou morte para obter sua Aura. A empolgação de Gravis aumentava conforme o tempo passava.
— Eu gostaria de lutar com você! — gritou um discípulo no oitavo nível de Reunião de Energia. — Não quero uma batalha de vida ou morte.
Os outros o olharam e pensaram que essa era uma ideia realmente boa. Se pagassem a Gravis com as pílulas, ele certamente aceitaria alguns combates amistosos. Afinal, ele não tinha nada a perder.
— Eu não luto por treino — disse Gravis sem olhar para a pessoa. Os outros discípulos ficaram surpresos com o que Gravis havia dito. O que ele queria dizer com ‘não luto por treino’? Por que alguém não treinaria? Através dos treinos, poderiam descobrir suas próprias fraquezas e corrigi-las. Ao retificar suas fraquezas, sua força aumentaria. Não lutar por treino soava simplesmente estúpido em suas mentes.
— O que você quer dizer com ‘não treino’? — gritou outro discípulo, ecoando o pensamento dos outros.
— Ainda não perceberam? — perguntou Gravis, franzindo a testa para os discípulos. Vendo que nenhum respondeu, Gravis bufou. — Treinar pode, teoricamente, te fazer perceber suas fraquezas, mas também cria novas fraquezas.
Os discípulos também franziram a testa. Isso era semelhante ao que alguns de seus veteranos já lhes haviam dito, mas quando viam suas próprias fraquezas em um treino, ignoravam os veteranos. Todos viam suas melhorias com seus próprios olhos. Se tivessem que escolher, os discípulos prefeririam acreditar no que viam do que no que os outros diziam.
Gravis viu a hesitação em seus olhos e suspirou. “Estou usando a Guilda do Fogo para refinar, então devo pagar-lhes de alguma forma”, ele pensou.
— Lembrem-se das três lutas anteriores — disse Gravis. — Cada um deles sabia que essa luta seria de vida ou morte. Ainda assim, o primeiro quis me testar com um ataque medíocre. Isso pode até ser possível em um treino, mas em uma verdadeira luta de vida ou morte, o oponente usaria esse ataque fraco para dar um golpe fatal. O primeiro morreu porque basicamente estava treinando comigo enquanto eu tentava matá-lo.
Antes que os discípulos pudessem dizer algo, Gravis continuou. — O segundo adversário lutou corretamente e tentou me matar. Infelizmente, seu reino era muito fraco. Como vocês já perceberam, meu corpo é igual à Magia de alguém no sétimo nível de Reunião Mágica. Então, sem me atingir fisicamente, ele não tinha como me ferir. Imagino que esse cara provavelmente tinha uma Aura de Vontade há algum tempo e não encontrou muitos inimigos poderosos recentemente, o que inflou seu ego e o fez superestimar sua força.
— O terceiro fechou os olhos durante a luta. Não há nada mais estúpido do que fechar os olhos na frente de um inimigo. Se seu inimigo quiser te matar, ele vai esperar você se preparar? Você poderia muito bem fazer alguns alongamentos durante a luta se acreditasse nisso. O terceiro estava obviamente acostumado a treinar, onde podia se safar fazendo algo assim, e, portanto, não conseguiu se adaptar a uma luta real. Ele morreu porque treinou demais.
Gravis terminou sua explicação, e muitos discípulos ficaram pensativos. A maioria deles provavelmente teria agido de maneira semelhante ao primeiro e ao terceiro. Com a explicação de Gravis, eles sabiam que fazer essas coisas era estúpido. Na verdade, já sabiam disso antes de Gravis falar, mas ainda teriam feito?
Alguns discípulos estremeceram. Eles estavam acostumados a treinar, o que os fazia negligenciar o perigo. Eles podiam reconhecer o perigo racionalmente, mas suas emoções estavam tão acostumadas a lutar que não reagiam de maneira diferente quando uma verdadeira batalha de vida ou morte estava prestes a começar. Eles ainda ficariam calmos, como em um treino, o que os faria ignorar o perigo.
A maioria dos discípulos agora sentia uma sensação de medo. Eles haviam visto como os outros morreram, mas, em suas mentes, sempre sobreviveram a todas as lutas que enfrentaram. Suas emoções ainda não haviam reagido, mesmo após verem três de seus irmãos morrerem. Só agora perceberam o perigo real presente. Agora, olhavam para Gravis de forma diferente.
Eles não o encaravam mais com desprezo ou arrogância. Suas emoções finalmente perceberam que havia uma chance muito real de eles morrerem ali. Ironicamente, a lógica e as emoções haviam trocado de lugar. Antes, suas cabeças lhes diziam que poderiam morrer, enquanto suas emoções não se importavam. Agora, suas emoções sentiam medo, enquanto suas cabeças lhes diziam que Gravis não os atacaria sem motivo.
Gravis viu como os discípulos reagiram e assentiu. “Isso deve ser pagamento suficiente por usar a Guilda do Fogo.” Gravis olhou para o céu. Ele sentia o Espírito de três pessoas observando tudo aquilo. A área de luta estava exatamente dentro do raio de dez quilômetros dos recém-ascendidos especialistas em Formação do Espírito. Eles estavam observando desde o início, e Gravis transmitiu seus pensamentos com os olhos.
Dentro da torre central da Guilda do Fogo.
O Mestre da Guilda e os dois Vice-Mestres da Guilda estavam sentados em seus respectivos tronos. Normalmente, eles conversariam de maneira descontraída, mas, desta vez, o clima era sombrio. Todos se observavam com os olhos semicerrados.
— Ele conseguiu sentir nossos Espíritos. Isso é incomum — disse o primeiro Vice-Mestre da Guilda, enquanto os outros dois assentiram. — Seu corpo é equivalente à Magia de alguém no sétimo nível de Reunião Mágica. Ele obviamente tem uma tremenda experiência de combate. Pelo que vi, seus raios também não são comuns e por fim, ele notou nossos espíritos. — O primeiro Vice-Mestre respirou fundo. — O talento dele é absolutamente aterrorizante, muito mais do que o de um Nascido do Céu comum.
— Eu me pergunto — disse o Mestre da Guilda, recostando-se em seu trono. — É isso que acontece quando um Nascido do Céu realmente treina sua vontade? — perguntou a si mesmo e aos outros.
Todos franziram a testa ao mesmo tempo. O Mestre da Guilda já lhes havia contado muito sobre os Nascido do Céu, e eles sabiam que esses sempre tinham vontades fracas. — Na verdade — começou o Mestre da Guilda novamente — vocês esqueceram de dois aspectos adicionais. Ele já é tão forte, mas ainda pretende se refinar em verdadeiras lutas de vida ou morte. E ainda quer aumentar sua força física ainda mais.
O Mestre da Guilda estreitou os olhos. — Se ele quisesse apenas refinar seu corpo, teria se mostrado fraco para atrair mais pessoas no sétimo nível de Reunião Mágica. Ele poderia conseguir uma montanha de pílulas dessa forma. No entanto, ele venceu as lutas com o máximo de intimidação possível. Ele até ajudou nossos discípulos a perceberem o perigo real. É evidente que ele só quer lutar contra os mais poderosos. Sua força de batalha no mesmo nível já poderia ser considerada incomparável, mas isso não é suficiente para ele. Que fome infinita por poder.
Os Vice-Mestres também respiraram fundo. Em suas mentes, surgiu a ideia de que talvez estivessem diante do futuro Sumo Sacerdote da Seita Celestial. Qual outro motivo o Céu teria para criar um Nascido do Céu tão poderoso, se não para substituir o atual Sumo Sacerdote?
— Não o ofendam — disse o Mestre da Guilda, e os outros dois assentiram severamente. Eles poderiam ser maníacos por batalha, mas isso estava além de suas capacidades. Pela primeira vez, tiveram que pensar na sobrevivência de toda a sua guilda, ou talvez até de toda a seita. Permaneceram em silêncio por um minuto inteiro.
— Imagine se esse garoto não fosse um Nascido do Céu — disse o segundo Vice-Mestre da Guilda com uma risada, tentando aliviar a atmosfera.
Os outros dois olharam para ele e, então, também riram levemente.
— Isso seria ainda mais aterrorizante!