“Ótimo, alguém da Guilda do Vento. Chegar até a Muralha de Vento ficou bem mais difícil. Será que o Céu planejou tão à frente assim, a ponto de saber que eu fugiria para a Muralha de Vento? Se eu estiver certo, este deve ser o pai da Wendy. Tudo isso aconteceu meses atrás. Será que o Céu foi capaz de planejar tanto tempo assim? Honestamente, não tenho certeza”, Gravis pensou consigo mesmo.
— Se eu estiver certo — disse Gravis — você deve ser o pai da Wendy, correto? Acho que seu Mestre da Guilda mencionou seu nome antes. Saron, não é?
Quando Gravis disse ‘Wendy’, um brilho frio apareceu nos olhos de Saron, mas foi substituído por surpresa. Ele não esperava que Gravis soubesse seu nome. Ele riu levemente. — Sim, meu nome é Saron. Estou surpreso que você saiba — disse casualmente.
— Na verdade, estou mais surpreso por você aparecer — disse Gravis. — Eu tinha certeza de que a carta de despedida da Wendy teria te impedido de vir atrás de mim. Esse era o objetivo dela, afinal. Ela não queria que nos tornássemos inimigos.
Saron ficou um pouco confuso com o que Gravis disse e estreitou os olhos. — Não houve nenhuma carta de despedida — ele disse.
Agora foi a vez de Gravis ficar surpreso. Não houve carta de despedida? Mas ele tinha visto Wendy pregá-la numa árvore. Como Saron não saberia dessa carta? De repente, os olhos de Gravis se arregalaram, e depois se estreitaram com fúria. — Foi você de novo, Céu?! — Gravis gritou agressivamente para o céu.
O céu não reagiu. Em vez disso, foi Saron quem reagiu, olhando para Gravis com choque. Gravis acabou de gritar agressivamente com o Céu? Ele era suicida? Enquanto continuavam correndo, Saron olhou para o céu, mas nada parecia acontecer. Isso o surpreendeu ainda mais. O que estava acontecendo? Por que Gravis ainda estava vivo?
— Do que você está falando? — perguntou Saron. Seu objetivo era matar Gravis, e ele o tinha na palma da mão. Gravis não podia mais escapar, então Saron não estava com pressa de matá-lo.
Gravis cerrou os dentes, furioso. — Esse maldito Céu sempre tenta me matar com suas armadilhas. Wendy pregou uma carta de despedida numa árvore próxima, explicando tudo sobre sua vida e suas decisões. Você não viu o corpo dela? Parece que nós lutamos? — Gravis perguntou.
Saron estreitou ainda mais os olhos, mas também se lembrou de que o corpo de Wendy estava completamente intacto quando o encontraram. Não havia sinais de luta. Quanto mais ele pensava, mais estranho tudo parecia. — Então, do que se trata tudo isso? Você disse que minha filha tinha uma razão para todas as suas ações?
Gravis bufou, ainda irritado com as manipulações do Céu. — Sim. Por que você acha que ela me mirou especificamente? Se ela apenas tivesse uma inimizade com a Seita do Céu, poderia ter matado outras pessoas. Em vez disso, ela me insultou diretamente. Houve uma razão para ela querer me encontrar, e ela me contou tudo o que guardava dentro de si. Ela nunca quis me matar. Ela queria morrer pelas minhas mãos!
Os olhos de Saron brilharam violentamente. — Mentira! — ele gritou, e o vento soprou os cabelos de Gravis, mas nada além disso aconteceu. — Eu sou o pai dela! Eu saberia!
— Foi porque você era o pai dela que ela não te contou. Ela não queria te magoar com tudo o que aconteceu com ela. Você provavelmente sabe sobre o marido dela do Continente Externo, não?
Saron ficou surpreso ao ouvir Gravis falar sobre o marido de Wendy. Como Gravis sabia disso? Eles realmente conversaram? Saron suprimiu sua raiva e apenas assentiu.
— Certo, deixe-me te contar tudo o que aconteceu com ela e os pensamentos que a atormentaram durante sua vida — disse Gravis.
Gravis narrou todas as experiências de Wendy com o máximo de detalhes possível, ganhando mais tempo enquanto corriam. Ele não confiava que isso iria deter Saron completamente, então precisava prolongar a história o máximo que pudesse.
Demorou mais de 40 minutos até que Gravis terminasse. Nesse ponto, Saron olhava abatido para o chão que passava rapidamente abaixo dele. Tudo isso o feriu profundamente. Ele havia pensado que Wendy tinha se recuperado de sua perda. Havia também muitas coisas das quais ele não sabia.
Ele não sabia que a Seita do Céu havia matado o marido de Wendy. Também não sabia que Wendy queria se vingar do Céu. Quando ela saiu para se refinar, ele pensou que ela tinha percebido que a força era o mais importante. Ele não havia percebido que tudo isso era para que ela pudesse se vingar do Céu.
Lá no fundo, Saron sentia uma culpa imensa. Sentia que tinha falhado como pai. Em sua mente, era seu dever proteger sua filha de qualquer mal. Que tipo de pai fracassaria tanto a ponto de sua filha querer morrer?
O fato de que Wendy não sentiu nada quando ele a abraçou o atingiu especialmente. A vida dela era tão miserável que nada poderia tê-la ajudado? Sim, seu amor havia morrido, mas isso acontece com muitas pessoas. Era o golpe emocional mais devastador quando o parceiro de alguém morria, mas a maioria conseguia se recuperar. Além disso, Wendy havia condensado sua Aura de Vontade. Ela deveria ter sido capaz de superar isso.
Eles voaram em silêncio por mais cinco minutos até que Saron recuperou parte de sua compostura. — Então, Wendy viu em você a oportunidade de se vingar do Céu? É por isso que ela confiou tudo a você?
Gravis assentiu. — Sim, ela notou que eu insultava o Céu e ainda assim continuava vivo. Você também me viu insultar o Céu há pouco tempo. Acha que, se eu fosse qualquer outra pessoa, ainda estaria vivo agora?
Para Saron, seria difícil acreditar numa afirmação tão absurda. No entanto, ele viu com seus próprios olhos Gravis insultar o Céu. Outra coisa era que Gravis sabia demais sobre Wendy. A essa altura, Saron acreditava que havia uma carta de despedida. Tudo fazia sentido. A única pergunta restante era como Gravis conseguia insultar o Céu sem morrer. Gravis ainda não havia contado isso a ele.
Saron soltou um suspiro profundo e emocionado. — Você se importaria de me contar como consegue insultar o Céu assim? Pode ajudar outros a fazer o mesmo? — perguntou. Ele tentava controlar as emoções em sua voz, mas seus olhos o traíam. No fundo, ele começava a odiar o Céu, assim como Wendy. Não era justo o que havia acontecido com ela. O marido dela havia sobrevivido contra todas as probabilidades, mas o Céu o executou.
Se algo assim acontecesse com outra pessoa, não se importaria tanto com a injustiça do Céu. Era assim que as coisas funcionavam. Mas, se acontecesse consigo mesmo, a história mudava completamente. O Céu não havia tratado Wendy com justiça, e Saron não perdoaria o Céu por essa injustiça!
Gravis estava prestes a responder, mas parou quando olhou para Saron. O Céu havia percebido o que estava acontecendo, e toda a sorte cármica de Saron desapareceu naquele instante. O Céu percebeu que Saron se tornara seu inimigo. Se essa inimizade tivesse surgido por conta própria ou por meio de outra conversa, o Céu talvez não tivesse notado. Mas, infelizmente, toda a atenção do Céu estava voltada para Gravis, e, por extensão, para Saron.
Gravis só pôde suspirar ao notar isso. — O Céu percebeu seu ódio e acabou de roubar toda a sua sorte cármica — Gravis disse, sem emoção.
Os olhos de Saron se arregalaram de incredulidade. Ele havia perdido sua sorte cármica? Como isso era possível? Como isso funcionaria?
Gravis não esperou por uma resposta de Saron e continuou. — Posso ver a sorte cármica dos outros porque sou o único humano sem ela. Sem sorte cármica, você enfrentará uma calamidade após a outra, mas isso não é uma sentença de morte. Se você conseguir sobreviver a todas essas calamidades, poderá se tornar mais forte do que jamais imaginou, já que sua vida estará sempre em perigo. Todas essas calamidades, embora perigosas e frustrantes, aumentaram minha força até o nível atual.
Saron olhou sério, mas depois de um tempo, apenas riu amargamente. — Que piada. Servi o Céu por mais de 200 anos e cultivei muitos discípulos talentosos, mas ele me descartou assim. Sabe, se qualquer outra pessoa me dissesse isso, eu não acreditaria, mas você provou que é especial.
Saron riu amargamente novamente. — Calamidades e refino? Já tenho mais de 200 anos. Há muito tempo desisti do caminho para o poder. Quem diria que minha vida terminaria assim?
Gravis realmente se sentiu um pouco culpado por dentro. Sim, Saron queria matá-lo, mas ele também era o pai da pessoa que mais o ajudou, exceto por Gorn. Tudo isso estava destinado a ser uma tragédia. Se Gravis não contasse a verdade, Saron o mataria.
Se Gravis contasse, Saron morreria. Eles não precisavam lutar desde o início. Se Saron soubesse dos pensamentos de Wendy, nada disso teria acontecido. O Céu havia movido duas peças para se enfrentarem, forçando-os a lutar. Nunca houve uma saída certa dessa situação.
— Sabe — disse Gravis — se eu não tivesse te contado tudo isso, você ainda teria sua sorte cármica, e poderia viver sua vida em paz.
Saron olhou para Gravis com pena e suspirou. — Tudo bem. Se você não tivesse me contado o que aconteceu, eu nunca entenderia o motivo da morte de Wendy. E, se não tivesse me contado, você já estaria morto. Não precisa se arrepender de ter me dito. Eu amava minha filha profundamente, e estou feliz em morrer com esse novo conhecimento. Minha vida restante teria sido amarga de qualquer forma. Acho que sou apenas dano colateral em sua guerra contra o Céu.
Gravis ainda se sentia um pouco mal por condenar Saron. Tudo isso não era necessário. Toda essa situação reafirmou a necessidade de Gravis por poder. O Céu só podia manipulá-los dessa forma porque era mais forte do que todos os outros. Se Gravis fosse tão poderoso quanto o Céu, essa tragédia não teria acontecido.
Gravis parou de correr. Estava incrivelmente perto da Muralha de Vento e só precisaria correr por mais um minuto para alcançá-la. No entanto, a luta havia terminado antes mesmo de começar. Não havia necessidade de entrar na Muralha de Vento.
De repente, Gravis teve uma ideia.
— Está disposto a fazer uma troca?