Gravis puxou a criatura e a encarou.
— CREEEEEE!
Ela soltou um grito enlouquecido e furioso, mas Gravis não se abalou. Era um longo verme negro com olhos cobrindo todo o corpo. Parecia uma abominação, algo que os pais inventariam para assustar os filhos a se comportarem.
Mais espirais dispararam em direção a Gravis, mas ele apenas apertou mais forte o verme. As espirais se desfizeram antes de alcançá-lo.
— Você é realmente nojento, Céu — disse Gravis calmamente. — Quem teria esperado que a coisa que me assombrou por seis anos inteiros fosse um verme tão asqueroso? Você teria imaginado que esse dia chegaria?
— Maldito inseto! — gritou a criatura com sua voz estridente. — Por que você não morre logo!? Se não fosse por seu pai, você já teria morrido há muito tempo!
— E se você não tivesse nascido do Céu, também já teria morrido muitas vezes. Ter um antecedente também faz parte da força — disse Gravis.
— CREEEEEE!
Ele gritou quando Gravis aumentou sua força. Era um grito de dor, e Gravis gostou de ouvir. Finalmente, o Céu sentia uma pequena parte do que ele havia sentido pelos últimos seis anos.
— É irritante ser suprimido, não é? Não é horrível quando alguém mais forte que você pode controlar sua vida? — perguntou Gravis.
— Você não vai se atrever a me matar! Se eu morrer, todo este mundo será destruído! — guinchou o verme.
Gravis olhou para o mundo enquanto os buracos negros o devoravam. Então, voltou seu olhar para o verme negro.
— Desculpe, mas este mundo é mais importante do que sua vida — ele disse.
O verme se animou, mas logo em seguida, o Sabre de Pedra do Vazio atravessou sua boca. Ele soltou outro grito agudo, e Gravis começou a girar o sabre lentamente dentro do corpo do Céu. Após cerca de um minuto, o verme ficou em silêncio.
BOOOOOOOM!
Uma enxurrada de Energia explodiu do verme quando toda sua Energia acumulada foi liberada no mundo. Felizmente, o corpo permaneceu inteiro. Sem alguém para guiar a Energia, ela apenas entrou nos buracos sem repará-los. Gravis permaneceu calmo enquanto o mundo ao seu redor estava prestes a acabar.
— Não brinque comigo. Você não vai deixar este mundo ir para o lixo — disse Gravis.
Whooosh!
Todos os buracos desapareceram instantaneamente. Os continentes destruídos também foram restaurados ao estado anterior à luta. No entanto, os mortos continuaram mortos. Tudo foi recuperado, exceto a vida.
Whoooosh!
A Energia reapareceu na atmosfera e, em pouco tempo, recuperou sua antiga densidade. Se não fossem tantas pessoas e bestas mortas, alguém poderia acreditar que tudo havia sido apenas um sonho.
Se Gravis não tivesse visto o Céu mais elevado reparar o mundo supremo antes, ele poderia ter acreditado nesse Céu inferior. Naquele momento, ele teria hesitado. Mas o que era um mundo inferior para o Céu mais elevado? Mesmo que restasse apenas um único grão de areia sem vida, o Céu mais elevado ainda seria capaz de recriar o mundo facilmente.
Os sobreviventes perceberam que tudo havia acabado e mal podiam acreditar que ainda estavam vivos. No entanto, a tristeza por seus entes queridos mortos os atingiu imediatamente. Eles estavam felizes por estarem vivos, mas tristes por tantos terem morrido.
No final, milhões haviam morrido. O Continente Intermediário e o Continente Exterior foram poupados do massacre. Eles apenas sentiram a Energia diminuir e os terremotos devastando a terra.
O Continente Central havia sido o campo de batalha, e a maioria das pessoas lá morreu. As Seitas conseguiram sobreviver porque foram rápidas o suficiente para escapar da destruição. Inicialmente, acreditavam que suas casas seriam destruídas, mas com a ajuda do Céu mais elevado, suas moradias foram reconstruídas.
Quase ninguém no Reino da Formação do Espírito morreu, enquanto apenas alguns no Reino da Reunião de Energia pereceram. Os que mais sofreram foram os discípulos do Reino de Refinamento Corporal e os mortais. Os cultivadores do Reino de Refinamento Corporal agora se tornaram ainda mais raros do que os cultivadores do Reino de Formação do Espírito no Continente Central.
Whoop!
Gravis enviou seu sabre e o corpo do Céu para seu Espaço Espiritual. Ele talvez tivesse algum uso para o corpo do Céu, então o guardou.
Lentamente, Gravis soltou um suspiro. O Céu estava morto, e sua inimizade havia sido vingada. Olhando para o mundo restaurado, Gravis sentiu um vazio. — Valeu a pena? — ele se perguntou.
Ele viu as pessoas enlutadas por todo o mundo. Sabia que sua luta contra o Céu criaria danos colaterais, mas não imaginava que seria tanto. Contudo, o que ele poderia fazer? Seu raio exigia justiça, e se não matasse o Céu, acabaria perdendo seu raio. A inimizade havia sido grande demais para ser esquecida.
— Lasar, você acha que eu sou um monstro? — Gravis perguntou a Lasar.
Lasar tinha uma expressão complicada no rosto, mas então suspirou. — Não posso te culpar pelo que você fez. Eu conheço o raio, e ele exige justiça.
Gravis suspirou novamente. Ele percebeu que Lasar havia desviado da pergunta.
Gravis olhou para o Clã Freya e viu Joyce chorando. Ela havia ficado animada com a luta de Gravis contra o Céu, mas não esperava que o mundo sofresse tanto. Ela era uma pessoa empática e emocional, então se compadecia das pessoas, mesmo que não as conhecesse.
“Se nos encontrarmos novamente, você pode me dizer honestamente o que pensa de mim”, Gravis queria dizer a ela, mas não conseguiu. Ele não queria ouvir a resposta.
Gravis disparou para longe. Havia uma última coisa que ele precisava fazer.
Após alguns minutos, ele chegou à beira do Continente Intermediário. Gravis parou ao olhar para algo que estava flutuando bem diante dele.
Era um falcão furacão verde, de 90 metros de comprimento. Era uma Besta Espiritual de grau médio.
Skye olhou de volta para Gravis e quase não pôde acreditar no que via. Não reconhecia aquele humano, mas a aura do humano parecia incrivelmente familiar. Logo, reconheceu Gravis.
Snort!
Skye bufou e então voou embora. Quando Gravis viu isso, suspirou novamente, enquanto um nó de culpa se formava em sua garganta. Skye também o considerava um monstro.
Percebendo que Gravis não o seguiu, o pássaro ficou irritado, virou-se e disparou em sua direção.
PACK!
Skye deu um tapa em Gravis com sua poderosa asa. O corpo de Gravis não estava totalmente sem força enquanto voava. Tendo um corpo no Estágio da Semente, era leve o suficiente para voar. Caso contrário, sua própria velocidade o mataria. Ainda assim, o tapa doeu, e ele foi arremessado para longe.
Plop!
E pousou nas costas de Skye.
— Isso é o que você merece por me deixar assim! — Skye transmitiu para Gravis com uma voz zangada. Como uma Besta Espiritual, Skye tinha a capacidade de transmitir seus pensamentos. Além disso, sempre foi muito inteligente para uma besta. O fato de transmitir uma frase completa demonstrava sua inteligência.
Gravis ficou chocado por um segundo, mas então sorriu calorosamente. Skye não estava brava pelo que ele tinha feito, mas por ele deixá-la para trás.
— Desculpa, Skye — disse Gravis, abraçando o pássaro gigante.
— Está tudo bem. Eu entendo — respondeu Skye. — Eu estava muito dependente de você. Obrigada — transmitiu.
Eles conversaram por muitas horas, como se nunca tivessem se separado. Skye contou sua história a Gravis, e Gravis fez o mesmo. Skye não sabia que tinha sido Gravis quem quase destruiu o mundo. Afinal, a voz de Gravis tinha sido transmitida apenas para os humanos.
Quando Gravis percebeu que Skye não sabia, ele ficou nervoso novamente. Não queria que sua melhor amiga o visse como um monstro.
— Muito bem! — gritou Skye, empolgada, quando Gravis terminou sua história. — Tenho orgulho de chamá-lo de irmão!
Gravis suspirou. — Você não se importa que eu tenha matado milhões de mortais e bestas? — ele perguntou.
— O que tem de tão ruim nisso? — Skye respondeu, genuinamente confusa. — Ficamos mais fortes, e isso automaticamente faz os seres mais fracos sofrerem. É assim que o mundo funciona. Por que você deveria se sentir culpado por isso? — perguntou Skye.
Ao ouvir isso, os olhos de Gravis se arregalaram. A lógica era simples, mas verdadeira. Gravis não havia pensado a mesma coisa quando percebeu as mudanças que trouxe ao mundo após destruir a Seita da Escuridão? Como ele havia esquecido disso?
— Obrigado, Skye — disse Gravis com calor.
— Por quê? — perguntou Skye.
— Talvez você não entenda, mas suas palavras me ajudaram muito — Gravis respondeu. Então, percebeu algo. — Você disse que sou seu irmão, certo?
— Sim, não é? — Skye respondeu.
— Claro, sou. Mas o que você é? Minha irmã ou meu irmão? — ele perguntou.
Skye riu um pouco. — Pode me chamar de irmã mais velha! — ela respondeu.
Agora, Gravis sabia o gênero de Skye. Aparentemente, ela era fêmea. Gravis não se importou com o fato de Skye querer ser chamada de irmã mais velha. — Certo, irmã mais velha — disse Gravis, com uma risada na voz.
— Ei! Eu ouvi essa risada! — Skye transmitiu de volta. — Você não está mais me levando a sério após ter ficado tão poderoso?
Gravis balançou a cabeça, rindo. — Não, não é isso!
Gravis e Skye brincaram um pouco e depois caíram no silêncio.
— Skye, você quer ascender para um mundo superior? — Gravis perguntou.
Os olhos de Skye se arregalaram de empolgação. — Isso é possível? — ela perguntou.
Gravis sorriu. — Sim, é, mas você tem que deixar este mundo comigo — ele respondeu.
Gravis já havia contado a Skye sobre a morte de seu pai, mas ela lidou com isso surpreendentemente bem. Ela via o cultivo de forma semelhante a Gravis. Foi uma luta justa, e a morte era normal. Skye não lamentou muito por seu pai. As bestas eram realmente diferentes dos humanos.
— Com certeza! Nada me prende neste mundo. Eu aproveitaria qualquer chance de ascender — disse ela sem hesitação.
— Ótimo! Embora, teremos que nos separar novamente. Não leve isso a mal, mas eu prefiro que fiquemos em mundos diferentes — disse Gravis.
— Eu entendo — disse Skye. — Você cultiva muito mais rápido do que eu, e se ficarmos juntos, acabarei dependendo de você de novo, involuntariamente. Preciso trilhar meu próprio caminho!
Gravis assentiu. — Obrigado. Não se preocupe, enquanto você continuar ascendendo, nós nos encontraremos de novo. E então, poderemos ficar juntos.
Skye assentiu de volta.
— Por favor, espere um momento — disse Gravis, enquanto Skye começava a flutuar no ar.
Com sua nova felicidade, Gravis contatou Joyce. — Eu vou deixar este mundo agora. Você pode me esquecer se quiser. Estou bem com isso, mas se ainda estiver interessada no nosso acordo, vou te esperar no mundo mais alto.
Joyce não respondeu a Gravis. Ela continuou chorando e agiu como se não o tivesse ouvido. Quando Gravis viu isso, suspirou mais uma vez. Não havia nada que ele pudesse fazer.
— Pai, nos leve para casa — disse Gravis.
Whooooom!
Um portal gigantesco apareceu diante deles, surpreendendo Skye. — Voe para ele. Este portal leva para o meu mundo natal.
Com um grito alto, Skye disparou em direção ao portal.
E assim, Gravis deixou o mundo inferior onde havia vivido por seis anos inteiros.
Era hora de voltar para casa.