A raiva de Gravis cresceu ao perceber o que havia acontecido. Ele não tinha pensado nisso antes, mas não era estranho que um vendedor, com um Reino maior do que o dele, tivesse respondido pacientemente a todas as suas perguntas? Inicialmente, ele acreditara que o vendedor apenas queria parecer amigável para que Gravis continuasse comprando, mas essa suposição havia sido claramente errada.
Gravis suspirou. — Desculpe. Meu emblema de Adepto Pesquisador foi roubado por alguém — disse.
— Eu sei — respondeu o guarda. — Eu vi. Ele o roubou no momento em que guardou seus recursos.
Gravis ficou frustrado novamente. Se o guarda viu, ele provavelmente poderia ter impedido. Infelizmente, não era contra as regras roubar coisas de outras pessoas na Comunidade do Céu, e Gravis não tinha nenhuma relação com o guarda. Ele não podia esperar que o guarda o ajudasse. Afinal, ele próprio provavelmente não se importaria se visse isso acontecendo com outra pessoa.
Gravis pensou: “Eu apenas pensaria que seria uma boa experiência de aprendizado para a vítima.” Mas agora, ele era a vítima. Ele suspirou de novo. “Talvez eu deva realmente encarar isso como uma experiência de aprendizado”, pensou, derrotado. “A força é tudo, e se eu não consigo proteger minhas coisas, provavelmente não mereço mantê-las.”
Essa perspectiva era cruel, mas, nesse mundo, era a dura realidade. Pode ser uma visão equivocada para mortais, mas, para cultivadores, mostrava a fria verdade: se ele não tinha poder para proteger sua vida ou seus pertences, ele os perderia — ou pior.
— Enfim, já que você viu que o emblema era meu, pode me deixar entrar? Você sabe que sou um Adepto Pesquisador — disse Gravis.
O guarda balançou a cabeça. — Desculpe, é contra as regras — ele disse.
Gravis franziu a testa. — O que você quer dizer com ‘contra as regras’? Você sabe que sou um Adepto Pesquisador, e Adeptos Pesquisadores têm permissão para entrar na cidade, certo?
O guarda balançou a cabeça novamente. — Errado. Pessoas com um emblema de Adepto Pesquisador podem entrar na cidade, não necessariamente Adeptos Pesquisadores. Existe uma diferença.
A frustração de Gravis aumentou. — Isso é um absurdo! Isso não significa que nossa cidade vai perder Adeptos Pesquisadores e ganhar pessoas que nem estão interessadas em ir para os Mundos Médios? Parece incrivelmente estúpido! — gritou Gravis.
O guarda suspirou. — Eu sei — ele disse, surpreendendo Gravis. — Na minha opinião, também é uma regra de merda, mas eu preciso aplicá-la se não quiser perder meu emprego. Você tem alguma conexão poderosa na cidade que possa ajudá-lo a entrar? Pessoas no Reino Rei Imortal podem trazer outros para a cidade.
Gravis assentiu. — Meu pai deve ser suficiente. Meu pai é o Opositor — disse.
O guarda o olhou com ceticismo. — Não vejo o Anel de Obsidiana com você — disse.
Gravis cerrou o punho, frustrado. Ele realmente não queria dizer aquilo, mas não tinha escolha. — Eu o perdi — admitiu.
O guarda parecia já esperar essa resposta. — Mhm, bem inconveniente, não é? Primeiro você perde seu emblema de Adepto Pesquisador, e agora perde o Anel de Obsidiana? Isso também foi roubado? — perguntou com sarcasmo.
Gravis suspirou. — Não — ele respondeu com os dentes cerrados. — Eu o perdi no mundo inferior.
— Mhm, claro — disse o guarda sarcasticamente. — E aposto que todas as suas outras conexões poderosas estão indisponíveis no momento, certo?
— Orpheus é meu irmão. Ele tem uma posição alta no departamento de pesquisa. Ele pode garantir minha entrada — disse Gravis.
O guarda assentiu algumas vezes com entusiasmo fingido. — Ótimo! Então entre em contato com ele. Afinal, quase todo mundo tem um Talismã de Telepatia. Não deveria ser um problema, não é? — perguntou com um tom zombeteiro.
Gravis cerrou os dentes, a frustração crescendo. — Eu não tenho um desses — admitiu.
O guarda fez uma expressão de choque falso. — Oh, não! O que aconteceu? Seu emblema foi roubado, você perdeu seu Anel de Obsidiana, e agora não tem um Talismã de Telepatia? Você o vendeu ou ele também foi roubado? — perguntou com preocupação fingida.
Gravis estreitou os olhos. — Eu nunca tive um para começo de conversa.
O guarda olhou para o céu com um olhar derrotado e sarcástico. — Que azar, hein? Tudo o que poderia provar que você tem permissão para entrar na cidade foi perdido ou roubado. Você realmente tem uma sorte de merda, hein?
Gravis bufou. — Pode chamar de azar se quiser.
O guarda também bufou. — Enfim. Chega de brincadeira. Você não pode entrar na cidade. — Em seguida, os olhos do guarda se estreitaram. — Além disso, você tentou se passar por um dos príncipes, o que é crime.
Gravis estreitou os olhos de volta. — E qual é a punição para isso? — perguntou, nada animado.
O guarda percebeu que Gravis não estava nem um pouco nervoso, o que o fez hesitar. E se Gravis fosse realmente um dos príncipes? — Normalmente, você seria condenado a trabalhar por 20% da expectativa de vida do seu Reino, mas como eu vi seu emblema sendo roubado, vou ignorar isso desta vez. No entanto, não posso deixar você ir sem alguma consequência — explicou o guarda.
Gravis ergueu uma sobrancelha, nada impressionado. — E qual seria?
— Você será transportado para fora da cidade. O que acontecer a partir daí dependerá de sua força e sorte.
Gravis quis perguntar o que o guarda queria dizer, mas sentiu seu corpo paralisar. Em seguida, uma enorme quantidade de Energia começou a se reunir ao redor dele e, cerca de um segundo depois, Gravis desapareceu.
Whooop!
E reapareceu em outro lugar. Essa foi a primeira vez que Gravis foi teleportado por outra pessoa. Ele já havia sido teleportado para mundos inferiores para seus exames práticos e jornada, mas aquilo era feito por Formações de Matrizes. Nunca havia sido movido diretamente por uma pessoa. Ele nem sabia se isso era possível.
Gravis olhou para seus novos arredores e ficou chocado. Atrás dele havia uma muralha colossal. Era tão imensa que parecia dividir o mundo ao meio. Ele não conseguia ver o topo e a parede se estendia até o infinito.
A muralha era completamente negra e parecia ser um objeto sólido e único, sem nenhuma fresta. Seu tamanho era tão esmagador que Gravis se sentia como uma formiga.
Metade de seu mundo parecia ser composta pela muralha, enquanto a outra metade era a parte externa da cidade. Gravis nunca havia saído da cidade, então não fazia ideia de como o exterior do mundo mais alto era. Agora, ele tinha a chance de ver pela primeira vez.
Contudo, tudo parecia bastante simples. Ele viu grama e árvores. Havia, no entanto, uma ausência suspeita de bestas ou até mesmo insetos. Além disso, as árvores e a grama pareciam comuns demais. Não havia árvores imensas ou plantas agressivas, como ele esperava. Também não havia humanos ou assentamentos por perto. Era apenas natureza pura, até onde a vista alcançava.
“Não é o mundo mais alto o mais forte? Por que tudo parece tão tranquilo e pacífico?” Gravis pensou, desconfiado.
O ambiente era silencioso, e o único som que Gravis conseguia ouvir com sua audição aguçada era o do vento.
Ele não ouvia pássaros, insetos ou sequer o farfalhar das árvores. Apenas um vento suave soprava, mas a grama e as árvores permaneciam completamente imóveis, como se o vento simplesmente não existisse para elas.
Ao ver aquilo, os olhos de Gravis se estreitaram. “Se o vento nem sequer afeta a grama, provavelmente significa que essa grama não é simples. Pode não parecer, mas ela deve ser tão densa e dura que o vento não tem força suficiente para movê-la. Melhor não tocar nela por enquanto”, ele pensou.
Ele estava voando antes de ser teleportado e agora havia reaparecido a alguns quilômetros no ar, longe do solo, o que foi um alívio. As plantas e a grama definitivamente não eram comuns. Afinal, crescerem aqui, tão próximas ao centro do mundo, só podia significar que eram extraordinárias.
Gravis se lembrou do que seu pai havia lhe dito: até as bestas mais fracas dessa região eram mais fortes do que a pessoa mais poderosa em um mundo inferior. Se criaturas tão poderosas lutassem, provavelmente devastariam grandes territórios. O simples fato de a grama estar crescendo intacta mostrava que ela não era normal.
Rsh, rshh.
Gravis viu, à distância, as árvores e a grama balançando. Parecia que um vento soprava para fora, fazendo as folhas e a grama ondularem suavemente. Ao ver isso, Gravis estreitou os olhos e começou a voar para cima o mais rápido que podia. Seu Espírito não alcançava tão longe, mas ele sabia o que era aquilo.
O movimento da grama estava se aproximando em uma velocidade incrível. Parecia apenas uma brisa leve, mas Gravis tinha certeza de que não era um vento comum.
Era uma onda de choque!
Gravis subia cada vez mais rápido, mas a onda de choque era ainda mais rápida. O balanço suave da grama escondia seu verdadeiro poder. À medida que ele ganhava altura, sua ansiedade aumentava.
Em poucos segundos, Gravis sentiu um leve tremor percorrer a imensa muralha. O tremor era tão pequeno que nenhum mortal o perceberia, mas Gravis foi capaz de senti-lo com dificuldade por meio de seu Espírito. “Quão poderosa é essa onda de choque para conseguir afetar a muralha?” ele pensou, alarmado.
Imediatamente, Gravis transferiu toda a energia que pôde para endurecer seu corpo.
Então, a onda de choque chegou.
BANG! BANG!
Gravis foi atingido e cuspiu uma grande quantidade de sangue enquanto era jogado violentamente contra a muralha. Vários de seus ossos se quebraram, mas ele continuava vivo. Usando cerca de metade de seu Raio da Vida, ele se curou rapidamente e voltou a voar para cima.
Ou pelo menos, ele teria feito isso, se não tivesse notado que, ao longe, a grama continuava a se agitar cada vez mais violentamente.
Gravis percebeu, com um nó na garganta, que aquela não era a única onda de choque.
Era apenas a primeira de muitas!