Gravis estava de volta ao seu mundo natal havia pouco mais de três dias. Isso significava que cerca de dez anos tinham se passado no mundo inferior. Ele realmente queria saber o que tinha acontecido por lá. O mundo ganharia um novo Céu? Estaria condenado à morte?
— Como eu disse — falou o Opositor — você pode ser o primeiro a matar um Céu sem ascender, mas já houve casos de pessoas que destruíram um Céu após retornar do Mundo Mais Alto. Todo mundo que tem seu Céu destruído acaba igualado.
— Igualado? — Gravis perguntou, com um tom de nervosismo na voz. — Isso soa sinistro.
— Não, não é nada ruim — disse o Opositor. — O mundo permanece sem Céu. Como não há mais um Céu para supervisionar, o mundo segue seu curso sozinho, sem interferências.
— Isso significa que toda a Sorte Cármica é distribuída igualmente entre todos os humanos. O Céu pai também mantém o processo de ascensão em andamento, mas é só isso. Essas são as únicas coisas de que o Céu se encarrega. O resto é com o mundo e seus habitantes.
Gravis coçou o queixo. — Então, teoricamente, qualquer coisa pode acontecer?
— Sim. Não há favoritismo nem uma força superior para impedir algo que possa ameaçar destruir o mundo. Em alguns mundos, desenvolveram técnicas para drenar a vida dos mortais e aumentar o próprio cultivo. Por ganância, em alguns desses mundos a população humana acabou extinta. Se um Céu estivesse supervisionando, algo assim nunca teria acontecido.
Gravis sentiu um pouco de culpa. O mundo inferior poderia ser destruído devido a sua inimizade com o Céu.
— Mas — continuou o Opositor — também houve mundos onde o poder geral dos cultivadores aumentou. Outros mundos viram o cultivo desaparecer por completo, porque todas as técnicas foram perdidas. Um mundo sem Céu pode se tornar um deserto, um paraíso para mortais, um paraíso para cultivadores ou qualquer outra coisa. Depende totalmente do mundo.
— Quando um dos filhos dele morre, o velho desgraçado simplesmente aceita e segue em frente. Querem um mundo sem Céu? Pois bem, ele deixa o mundo seguir qualquer caminho que quiser. O que acontecer, aconteceu.
Agora, Gravis não se sentia mais tão mal. Na verdade, ele havia dado mais liberdade ao mundo para fazer o que bem entendesse. O que o mundo fizesse com essa liberdade recém-descoberta era problema dele. Mais liberdade não significava necessariamente melhores resultados, mas Gravis preferia liberdade a ser controlado.
Dar mais liberdade a alguém era como criar uma arma poderosa. Alguns a usariam para proteger seus entes queridos, enquanto outros a usariam para cometer atrocidades. Não era a arma que matava, mas sim quem a usava.
— Meus amigos ainda estão vivos? — Gravis perguntou.
— Quem você considera como amigo? — o Opositor devolveu a pergunta.
— Skye, Nero, Joyce, Lasar, Velho Relâmpago, Manuel e Aion — disse Gravis.
O Opositor assentiu. — Todos ainda estão vivos — respondeu, fazendo Gravis soltar um suspiro de alívio — mas esse tal de Aion está passando por uns maus bocados agora.
Gravis ficou um pouco preocupado. — O que aconteceu com ele?
— Nada que você já não tenha enfrentado. O mundo inteiro basicamente o despreza por ter sido um Nascido do Céu. Estão caçando ele, e ele vive fugindo. Felizmente, o velho desgraçado deu a ele uma quantidade absurda de Sorte Cármica e, com seu aviso, ele conseguiu condensar uma Aura de Vontade antes que a Pressão Celestial desaparecesse.
Gravis suspirou mais uma vez. — Então, o Céu mais elevado realmente está preparando todos os meus amigos para se tornarem poderosos e usá-los como reféns se eu me tornar uma ameaça? — perguntou Gravis.
O Opositor assentiu. — Possível, mas não é certo — disse ele.
Gravis franziu as sobrancelhas. — O que você quer dizer?
— O velho desgraçado pode apenas estar tentando, de verdade, diminuir seu ódio por tudo o que ele fez no passado. Pode ter matado seu amigo mais próximo na infância, mas se ele conseguir fazer com que todos os outros próximos a você se tornem poderosos, talvez isso sirva como algum tipo de compensação. Sinceramente, não tenho certeza. Pode ser os dois, um ou nenhum deles — disse o Opositor.
Gravis suspirou mais uma vez. Nem mesmo seu pai sabia o que o Céu mais elevado estava planejando.
Whoop!
Algo apareceu subitamente em um dos dedos de Gravis. Era o Anel de Obsidiana que ele havia perdido no mundo inferior. — Não perca desta vez. Caso contrário, você não poderá entrar na cidade — disse o Opositor. — No Mundo Médio, você pode mantê-lo dentro do seu Espaço Espiritual.
Gravis ficou um pouco envergonhado por ter perdido o anel. — Desculpe por ter perdido — disse ele.
— Sem problema. Afinal, você mesmo já sentiu as consequências de não o ter — o Opositor respondeu com um sorriso.
Gravis se lembrou de suas ‘férias’ de três dias fora das fronteiras da cidade, mas então se recordou de outra coisa.
— E os Nascidos do Céu do mundo inferior? — perguntou Gravis.
— Todos mortos, exceto Aion e alguns espiões escondidos — respondeu o Opositor. — As Seitas Elementais ficaram bem irritadas por terem sido suprimidas por tanto tempo. Caçaram quase todos eles. Como não há mais Pressão Celestial, a maioria dos Nascidos do Céu ficou completamente indefesa.
Gravis assentiu. Ele já esperava que algo assim tivesse acontecido.
— E o Jaimy? — Gravis perguntou.
— Quem? — perguntou seu pai.
— O cara que me esfaqueou na Guilda Proxy do Relâmpago — respondeu Gravis.
— Ah, esse aí — disse seu pai. — Também morto. Logo após terminar com você, ele fugiu da Guilda com seu irmão mais novo. O Céu inferior viu o refino supremo que ele lhe deu, ficou irritado e os aniquilou.
Gravis assentiu novamente. Era exatamente o que ele imaginava antes de ir ao Continente Central. Isso se encaixava perfeitamente no comportamento do Céu inferior.
— E quanto ao meu emblema de Adepto Pesquisador? — Gravis perguntou.
— O que tem ele? — o Opositor devolveu a pergunta.
— Eu não preciso dele para ir para um Mundo Médio? — perguntou Gravis.
— Normalmente, sim — disse o Opositor — mas você é meu filho. Eu mesmo o enviarei para lá. Considere a perda do emblema como se tivesse sido demitido. Você não terá as credenciais, nem perspectivas de um bom emprego ou pagamento futuro, mas essas coisas não são o seu objetivo, de qualquer forma.
Gravis assentiu. — Eu só quero poder para ser livre. Com força suficiente, eu posso ter todas essas coisas.
O Opositor esboçou um sorriso. — Esse é o pensamento certo.
Whoop!
O café desapareceu. — Acho que isso cobre todos os assuntos que não estão relacionados ao seu cultivo, certo? — ele perguntou.
Gravis pensou por um momento e assentiu. — Sim. Todas as outras perguntas que tenho são sobre minha futura jornada de cultivo.
O Opositor também assentiu. — Então você deveria falar com sua mãe primeiro, antes de conversarmos sobre isso. Afinal, emoções reprimidas podem ser uma distração no cultivo. Eu não sou bom com emoções, então não posso te ajudar nisso. Sua mãe está mais conectada com as emoções dela. Falar com ela vai te ajudar — disse ele.
O interior de Gravis estremeceu um pouco. Ele sabia que não poderia fugir das emoções para sempre. Era decidido e frio quando necessário, mas não era uma máquina sem sentimentos.
Embora não quisesse admitir, Gravis sabia que muitas coisas não passavam despercebidas por ele. A preocupação com a vida de seus amigos e companheiros, o choro desesperado de Joyce, os muitos mortais enlutados que ele havia causado, a morte de alguns companheiros e outras coisas pesavam em sua mente.
Ele sempre empurrava essas preocupações para o lado e se focava em ficar mais forte. Mas essa era a decisão certa a longo prazo? Pode estar funcionando por agora, mas se algum Reino superior exigisse algo como estar em sintonia consigo mesmo, isso poderia se tornar um problema.
Seu pai também havia dito que isso poderia ser uma distração. Ele precisaria enfrentar suas emoções em algum momento se quisesse construir uma fundação estável.
Gravis se levantou e olhou para o pai com um sorriso melancólico. — Obrigado, pai. Vou falar com a mãe agora — disse ele.
Seu pai assentiu. — Vá com calma. Você esteve sob muita pressão por muito tempo. Algumas semanas ou meses de descanso não vão te prejudicar.
Gravis assentiu e deixou o cômodo. O Opositor apenas fechou os olhos e se concentrou em outra coisa. Ninguém sabia o que ele fazia o dia todo.
Ao sair da sala ampla, Gravis suspirou mais uma vez. “Eu queria ter visitado a mãe primeiro. Mesmo que meu pai tenha me apoiado, sinto-me mais próximo dela. Eu realmente senti falta dela no mundo inferior”, pensou Gravis enquanto caminhava em direção ao quarto da mãe.
Sem hesitação, Gravis abriu a porta do quarto da mãe.