Alguns segundos se passaram em silêncio.
— É isso que quero dizer — continuou sua mãe. — Quando você se tornar o cultivador mais poderoso, não terá mais inimigos nem objetivos. Ninguém poderá ameaçá-lo. Então, o que vem depois? Qual é o propósito de continuar ficando mais forte?
Gravis soltou uma respiração trêmula. — Parece solitário — ele disse.
Sua mãe assentiu. — É solitário — respondeu, franzindo as sobrancelhas. — Gravis, vou te contar algumas coisas sobre seu pai e eu. Seu pai não vai gostar, mas ele vai ter que aceitar.
Gravis também franziu as sobrancelhas. — Isso não é ruim? — perguntou ele.
Sua mãe deu uma risada leve. — E daí? Ele é o mais forte e está aí causando caos no mundo todo, mas e daí? A vida não é um caminho fácil em que você nunca se machuca e sempre consegue o que quer. Seu pai sabe disso. Ele vai ter que aguentar dessa vez — disse ela, com um sorriso malicioso.
Gravis ficou surpreso por um momento, mas apósu uma risadinha. — Acho que nem mesmo meu pai está seguro de você — ele comentou.
— Não mesmo — respondeu ela com um sorriso. — As pessoas têm visões e prioridades diferentes. Seu pai enxerga o mundo de uma forma distinta da minha, mas e daí? Eu devo seguir cada palavra dele? Afinal, eu sou uma pessoa independente.
Gravis fechou os olhos. — Tudo bem, pode falar.
— Seu pai teve uma vida difícil. Assim como você, ele colocou a força acima de tudo e não permitiu que ninguém se aproximasse dele — começou ela. — Após muitos, muitos anos, ele finalmente se tornou o mais forte e conseguiu resistir ao Céu. Mas e depois? O Céu foi o primeiro inimigo que ele não conseguiu derrotar, por mais forte que ficasse ou quanto tempo passasse.
Gravis permaneceu em silêncio enquanto ouvia a história do pai.
— Pode-se dizer que seu pai já tem liberdade. Ele pode fazer praticamente o que quiser. O Céu não é contra a maioria das coisas. Ele só quer que os cultivadores continuem cultivando e, apesar do que dizem, seu pai não é um assassino sem coração. Ele não mata sem motivo. Portanto, o Céu não é um obstáculo para ele.
— O Céu até fica feliz com o crescimento da nossa família e com o surgimento de cultivadores mais poderosos. Seu pai pode fazer o que quiser, mas e agora? O que ele pode fazer após chegar ao topo? Ele ainda quer vencer seu último inimigo, mas, quando conseguir, não terá mais nenhum objetivo.
— Imagine viver bilhões de anos sem um propósito. Apenas continuar existindo sem sonhos ou desejos. Qual é o sentido de uma vida assim? Os milhões de anos passam como se fossem um instante. Nada mais empolga e nada permanece na memória, pois nada mais tem impacto.
Gravis suspirou. — Essa é uma vida triste. Felizmente, meu pai tem a gente — ele disse.
A mão da mãe parou de acariciar sua cabeça, e Gravis abriu os olhos para olhá-la. Ela tinha agora uma expressão preocupada. — O que foi? — ele perguntou.
— Sim, ele tem a gente, mas isso importa se ele não sente nada por nós? — ela perguntou.
O nervosismo de Gravis aumentou. — Mas ele sente — insistiu ele.
Sua mãe suspirou. — Lembra quando eu disse que você poderia esquecer como amar? Eu não estava falando por falar. Seu pai esqueceu como amar por muito tempo.
Gravis se levantou e se sentou, olhando para a mãe em estado de choque. — Você poderia explicar melhor? — Gravis perguntou. Essa explicação lenta o deixava ansioso.
Sua mãe balançou a cabeça. — Seu pai e eu não nos conhecíamos antes dele se tornar tão poderoso quanto o Céu— suspirou sua mãe. — Na verdade, eu nem existia naquela época.
—Então, você nasceu depois? — Gravis perguntou.
Sua mãe suspirou de novo. — Eu nasci algum tempo depois que seu pai e o Céu concluíram sua batalha. Essa foi a luta mais trágica da história. Para suprimir seu pai, o Céu precisava de toda a Energia que pudesse obter, então ele converteu tudo no mundo em Energia — ela disse.
Os olhos de Gravis se arregalaram. Ele sabia o que isso significava. — Tudo?
Sua mãe assentiu. — Tudo. Cada planta, animal, ser humano, cultivador, terra, mar… tudo foi convertido em Energia. Depois da luta, o mundo era apenas uma carcaça vazia e sem vida do que já foi um dia.
Gravis olhou para o chão. Isso soava tão irreal. — Então, pai e o Céu foram as últimas coisas que restaram? — ele perguntou.
Sua mãe assentiu. — Sim, eles eram os únicos dois seres que sobraram. Seu pai e o Céu estavam exaustos da batalha, e restava apenas uma pequena parte de sua Energia. Naquele ponto, ou ambos morreriam, ou nenhum deles. Após conversarem, decidiram encerrar a luta.
— Mesmo assim, seu pai ficou feliz por alcançar seu objetivo. Ele não seria mais suprimido pelo Céu, mas, ao ver o vazio sem vida, ele sentiu que seu objetivo havia se tornado vazio. Nada havia restado. E agora? — sua mãe continuou explicando, e Gravis também sentiu tristeza por seu pai.
Uma situação assim parecia apenas trágica. O objetivo de toda uma vida que ele havia perseguido deixou apenas um sentimento de vazio.
— Então, seu pai deixou o mundo para buscar, no Caos do Vazio, qualquer forma de vida. Ele procurou por cerca de 50 milhões de anos, mas nunca encontrou nada. Não havia nada. Então, ele voltou para o nosso mundo — ela disse.
— Quando voltou, ele viu um mundo cheio de vida novamente, mas era diferente. Os humanos pareciam diferentes e mais fracos. Afinal, eles nem tinham descoberto o cultivo naquela época. Após ver o mundo inteiro ser destruído e renascer, ele começou a se sentir desconectado da vida. Será que a vida tinha algum propósito, se podia ser destruída e renascer como se nada tivesse acontecido?
— Eu não sei o motivo, mas depois que seu pai retornou, o Céu fez algo — ela disse, mas então parou.
Gravis percebeu seus olhos se voltarem para o quarto de seu pai. Além disso, ela franziu o cenho, como se estivesse irritada. Estava claro que ela estava falando com seu pai. Mas, após alguns segundos, sua expressão mudou para um sorriso vitorioso. Então, ela olhou novamente para Gravis. — Onde eu estava?
Gravis se sentiu ansioso com a interrupção de seu pai. Isso não parecia combinar em nada com o comportamento dele. Normalmente, ele deixava as coisas acontecerem, mas desta vez, ele havia se envolvido ativamente. O que o Céu tinha feito naquela época para provocar essa intervenção de seu pai?
— Você disse que o Céu fez algo depois que meu pai voltou — disse Gravis, engolindo em seco involuntariamente.
—Ah, certo — disse sua mãe. —Eu não sei o motivo, mas o Céu decidiu acomodar seu pai. Então, para dar significado à vida dele, criou uma pessoa perfeitamente compatível e poderosa para ficar ao seu lado — ela disse.
Os olhos de Gravis se arregalaram.
— Essa pessoa sou eu — ela disse.