Gravis ainda estava meio confuso, mas ao ver a expressão de seu pai ficando cada vez mais irritada e entediada, seus olhos se arregalaram em compreensão.
— Espera, você vai me ensinar!? — Gravis perguntou, incrédulo.
— Isso é tão estranho assim? — seu pai respondeu.
Gravis coçou a nuca, nervoso. — Bom, não me leve a mal, mas na verdade, você nunca me ensinou muita coisa sobre cultivo. Nunca passou pela minha cabeça que você fosse me ensinar algo pessoalmente — disse Gravis.
— Isso porque eu quero que você forje seu próprio caminho — seu pai explicou — mas você não pode forjar seu caminho se não souber como forjar.
Gravis piscou algumas vezes. — Isso foi uma piada? — ele perguntou.
— Sim — o Opositor respondeu com os olhos semicerrados.
— Ah, tá… — Gravis respondeu.
O silêncio reinou por alguns segundos, até que seu pai suspirou.
— Eu sou seu pai. Ensinar você não deveria ser tão estranho assim — ele disse.
— Desculpe, pai. Eu só não tinha pensado nisso — disse Gravis, um tanto desamparado.
— Tudo bem — seu pai respondeu — eu realmente não te ensinei muita coisa, então essa reação é compreensível. De qualquer forma, é melhor começarmos logo.
Gravis assentiu e se levantou.
— Aonde você vai? Não quer aprender a forjar? — seu pai perguntou com sua voz habitual e tranquila.
Gravis ficou confuso de novo. — Estamos no seu quarto. Não acho que dá para forjar aqui — ele disse.
— Por que não? — seu pai perguntou.
Gravis bagunçou o cabelo, ainda mais confuso. — Bom, não tem forno, nem fundidor, ou seja, lá como se chama. Não tem água para resfriar os produtos nem nada. Não tem equipamento nenhum.
— Você terá esse tipo de equipamento no mundo médio? — seu pai perguntou.
— Eh… não — Gravis respondeu.
— Então, por que eu deveria te ensinar uma técnica de forja que precisa de equipamento?
Gravis franziu a testa. — Eu não preciso de equipamento para forjar?
— Não, pelo menos não com a sua técnica. Você só precisa de algo para resfriar o produto, nada mais.
Whoop!
Uma pequena garrafa apareceu diante de Gravis.
— Esta garrafa contém água suficiente para um oceano inteiro. Você não vai precisar de mais do que isso no mundo médio — disse seu pai.
Gravis pegou a garrafa e a examinou. Ela não era mais pesada do que uma garrafa comum, mas quando ele enviou seu Espírito para dentro, seus olhos se arregalaram.
— É… muita água — ele disse, chocado.
Gravis nem conseguia estimar quanta água havia lá dentro. Parecia interminável. Seriam milhões de toneladas? Bilhões? Trilhões? Ele não tinha ideia. Era simplesmente demais. Além disso… havia peixes e plantas lá dentro?
— Isso é um oceano? — Gravis perguntou.
O Opositor assentiu. — Você nunca viu um oceano, certo?
Gravis balançou a cabeça. — Não, só ouvi falar. O mundo inferior também não tinha nada parecido com um oceano… pelo menos, acho que não.
— Isso porque não era um Mundo Natural — explicou seu pai. — Não há necessidade de oceanos em mundos assim. Muitas bestas viveriam no oceano se houvesse um, e poucos humanos se aventurariam nele. Seria apenas um desperdício de Energia e espaço.
— No Mundo Mais Alto, é diferente. Temos alguns oceanos enormes aqui, e os humanos são poderosos o suficiente para não se importarem com a água do oceano. Para eles, não seria diferente do ar.
— Faz sentido — disse Gravis. — E os Mundos Naturais?
— O Mundo Mais Alto precisa de bestas marinhas. Então, os Mundos Naturais têm oceanos. Ah, e você não pode retirar nada da garrafa. Se pudesse, acabaria usando-a como arma ou moeda de troca. Com isso, você poderia inundar facilmente um mundo médio inteiro — disse seu pai.
Gravis piscou algumas vezes. — Então, como eu vou resfriar as armas finalizadas?
— Você só precisa usar a garrafa como se fosse um balde. Coloque a arma dentro dela, e ela vai esfriar. Acostume-se com essa garrafa, porque você vai usá-la bastante no futuro — seu pai disse.
— É sério que isso é tudo o que eu preciso de equipamento? — Gravis perguntou.
— Sim, não precisa de mais nada. Quando tiver os materiais, só vai precisar usar seu raio para deixar o material maleável. Depois, você deve refiná-lo para que ele se transforme em uma arma dura. Então, é só desenhar as Formações de Matrizes na arma. O resfriamento é o último passo. Isso é tudo sobre forja. — seu pai falou.
— Parece simples — Gravis comentou.
— E é — seu pai respondeu.
Gravis ficou em silêncio por alguns segundos. — É isso mesmo?
— Sim — respondeu seu pai. — O que você esperava? Achou que eu ia te ensinar alguma técnica mística de como balançar um martelo para imbuir materiais com leis ou significados? O mundo real não é tão místico assim. Forjar é um trabalho. Uma profissão. É trabalho.
Gravis suspirou. — Sabe, você realmente tira toda a diversão do cultivo… — disse Gravis, desamparado.
— É assim que o mundo funciona. Enfim, vamos começar — disse seu pai enquanto invocava um livrinho fino. — Isso tem todos os materiais importantes de um mundo médio anotados. A primeira coisa na forja é tratar o mineral corretamente. Se você não conseguir torná-lo maleável, não vai conseguir fazer o resto. Por isso, precisa conhecer os materiais.
Pack!
Ele jogou o livreto para Gravis, que o pegou. — Esse livrinho é bem pequeno. Existem tão poucos materiais assim? — ele perguntou, erguendo a sobrancelha.
— Abra e veja por si mesmo — disse seu pai.
Gravis abriu o livreto na primeira página, que estava completamente preta. Ele franziu a testa e olhou para o pai. — Isso é uma piada?
— O quê?
— Não tem nada aqui. É só uma página preta.
— Não é uma página preta — disse o pai.
Gravis abriu o livreto e mostrou a página preta. — É uma página preta!
— Não, é uma página branca com escrita preta. — respondeu seu pai.
Gravis ficou surpreso. Ele tinha bastante controle sobre seu Espírito. Afinal, conseguia ler as descrições minúsculas dos itens nas lojas. Mesmo assim, ele não conseguia ver nada além de preto naquela página.
Ele olhou novamente para a página e se concentrou. Aos poucos, sentiu sua visão se aprofundar na página. Em sua mente, a página se transformou em uma vasta ilha negra. No entanto, ainda não havia nada além de escuridão. Gravis começou a suar ao perceber que, mesmo com todo o esforço, não conseguia ver mais nada além do preto absoluto.
Ele se concentrou cada vez mais. Após alguns segundos, seus olhos começaram a ficar vermelhos de tanto esforço.
— Ali! — Gravis gritou de repente. — Eu vejo algo branco!
— Acredita agora? — seu pai perguntou.
— Bom, acho que sim, mas ainda não consigo distinguir uma única palavra — respondeu Gravis.
— Isso é problema seu, não o meu — disse o pai.
Gravis revirou os olhos, mas então teve uma ideia. Com um sorriso malicioso, ele colocou o livreto dentro do seu Espaço Espiritual. Em seguida, reduziu seu próprio Eu dentro do Espaço Espiritual. Seu Eu era feito de puro raio, e ele tinha total controle sobre o raio. Talvez não pudesse comprimir ainda mais, mas poderia separar parte do raio de si mesmo.
Mais de 99% do raio foi direcionado para o lado, enquanto seu Eu se tornava cada vez menor. Após alguns segundos, Gravis ficou invisível para olhos humanos. Então, ele moveu o raio abandonado para iluminar o livreto.
Era como se Gravis estivesse de pé sobre um continente plano. Tudo ao seu redor estava coberto por palavras, tão longe quanto ele podia enxergar. Gravis sorriu ao ver as palavras claramente. Se seu Espírito não estava funcionando, por que não usar os olhos? Ele talvez não conseguisse ler no tamanho normal, mas isso não era problema agora que estava tão pequeno.
— Alguém já te disse que você é um espertalhão? — Gravis ouviu à sua frente e viu seu pai em pé sobre o livreto, dentro do Espaço Espiritual. Seu pai era tão pequeno quanto Gravis agora, ou melhor, tão minúsculo quanto ele.
— Isso é um elogio? — Gravis perguntou com um sorriso.
— É neutro — seu pai respondeu. — Pode te ajudar em situações perigosas, mas você também pode acabar achando atalhos no cultivo. E isso seria ruim.
Whoop!
Gravis abriu os olhos físicos involuntariamente e viu o livreto e seu pai diante dele. Seu pai o havia expulsado do seu próprio Espaço Espiritual.
— Leia com seu Espírito. Você precisa aprender a concentrar todo o seu Espírito em algo se quiser forjar corretamente — disse seu pai.
— Por que não disse isso desde o começo? — Gravis perguntou.
— Porque eu não quis — respondeu o pai com um tom severo.
— Mhm — Gravis murmurou, seco.