— Feliz aniversário, Gravis! — exclamou sua mãe, abraçando-o.
Eles estavam na sala de seu pai. O espaço era grande e vazio, perfeito para uma pequena reunião.
— Feliz aniversário! — disse Orfeu, dando-lhe um tapa no ombro com força. Gravis sentiu uma pontada de dor, mas apenas sorriu.
— Feliz aniversário — disse seu pai em seu tom habitual, sem emoção. Pela primeira vez, ele não estava sentado no centro da sala, mas de pé.
— Obrigado a todos — disse Gravis com um sorriso largo.
Esse era o motivo pelo qual ele queria comemorar o aniversário antes de partir para o mundo médio. Quem sabia quanto tempo levaria até que visse sua família novamente? Ele queria guardar essa última lembrança deles juntos antes de retomar sua jornada.
— 23 anos e já no Reino Unidade, seguindo o Caminho da Forja de Vontade! Isso é realmente impressionante, Gravis — comentou Orfeu, batendo novamente no ombro dele. — O mais cedo que alguém alcança o Reino Unidade nesse caminho é aos 26 anos, e isso é incrivelmente raro.
— 26 anos? — Gravis perguntou. — Como eles chegam ao Reino Unidade tão rápido?
— A maioria com experiências artificiais de refinamento e muitas pílulas — explicou Orfeu. — É como o exame prático para Assistentes de Pesquisa, só que mais longo e com adversários mais poderosos.
Gravis assentiu. — Mas essas pessoas não vivenciam situações em que são completamente superadas, mesmo passando por perigos de vida e morte, certo? — perguntou com a testa franzida.
— Exato! — confirmou Orfeu. — E é aí que você leva vantagem. Você passou por um verdadeiro refinamento. É por isso que tenho tanto orgulho de você!
Gravis sorriu. — Valeu, irmão.
— Ainda me lembro quando nos conhecemos, pouco mais de um ano atrás — disse Orfeu, pensativo. — Você tinha acabado de concluir seu primeiro exame prático. Naquela época, você nem tinha uma Aura de Vontade. Para ser honesto, não achei que você voltaria do mundo inferior — confessou ele, com uma voz melancólica.
— Mas, não, você me provou terrivelmente errado — riu Orfeu. — Você não só voltou, mas conseguiu matar um Céu inferior. Superou todas as minhas expectativas.
— Obrigado — respondeu Gravis, um pouco envergonhado com o elogio.
Todos estavam ao redor de uma mesa alta com comidas e bebidas. Embora cultivadores não precisassem comer, beber ou respirar, ainda podiam apreciar essas pequenas indulgências.
— Eu realmente senti falta do seu café, pai — disse Orfeu, sorrindo enquanto tomava um gole de sua xícara.
— Tem que ser raro para ser especial — respondeu seu pai no tom impassível de sempre.
— Verdade — concordou Orfeu, entre goles.
A conversa fluiu naturalmente enquanto falavam sobre várias coisas. Orfeu contou sobre seu trabalho e sua família, revelando que tinha apenas oito filhos. Não era por falta de vontade de ter mais, mas porque sua esposa queria esperar para ver como os atuais filhos se desenvolveriam.
Orfeu sabia que Gravis não estava no momento para conhecer novas pessoas, então não trouxe sua família para a reunião. A festa podia parecer um pouco vazia com apenas quatro pessoas, mas, para Gravis, ali estava toda a sua família.
Após algumas horas conversando, sua mãe bateu palmas animadamente. — Hora dos presentes! — anunciou com um sorriso radiante.
Gravis sorriu ao ver a animação dela. Era inspirador como sua mãe conseguia encontrar felicidade e significado mesmo após tantos anos de vida. Não era isso que todos desejavam?
Whoop!
Pequenos objetos retangulares apareceram na mesa. Gravis olhou para eles e sentiu uma onda de calor percorrer seu peito.
— Como você conseguiu isso? — perguntou surpreso, quase chocado, enquanto olhava para sua mãe.
Ela apenas sorriu, satisfeita. Sabia que esse seria o presente perfeito para Gravis.
— Eu obriguei seu pai a fazê-los — disse ela, apontando para o marido.
Gravis olhou para o pai, que apenas deu de ombros. — Eu também achei que era uma boa ideia.
— Sim, mas fui eu que tive a ideia! — interrompeu sua mãe com um sorriso vitorioso.
— Sim, foi sua ideia — concordou seu pai com um tom que soava levemente resignado.
Gravis e Orfeu riram. Até mesmo o Opositor tinha alguém que conseguia fazê-lo seguir ordens.
Gravis pegou um dos objetos e o observou. Eram fotografias. Mas não eram fotos quaisquer — eram imagens de seus amigos.
Uma mostrava Skye no topo de uma árvore gigantesca, observando uma multidão de bestas ajoelhadas. Parecia que Skye havia finalmente encontrado um círculo de aliados ou subordinados. Gravis ficou feliz por ela. Após tanto tempo sozinha, agora fazia parte de uma organização e, provavelmente, era sua líder.
Outra foto mostrava Manuel levitando no meio de uma tempestade violenta, com os olhos fechados, em posição de lótus. A tempestade destrutiva ao redor dele parecia não afetá-lo. Gravis imaginou que Manuel estava ganhando clareza e conhecimentos sobre uma Lei.
Uma imagem mostrava Aion tropeçando em um tesouro e gemendo. Gravis não pôde evitar rir. Aion provavelmente era o único humano que reclamava ao encontrar tesouros, graças à sua sorte e preguiça.
Outra foto exibia Nero sentado em círculo com várias pessoas sob uma árvore magnífica. Cada pessoa parecia ter um elemento diferente, mas todos usavam as mesmas vestes. Gravis supôs que Nero havia encontrado uma organização diversificada e, julgando pelas expressões serenas, também amigos.
A próxima fotografia mostrava o Velho Relâmpago chutando alguém na virilha, com um sorriso maroto. Gravis riu novamente, lembrando-se da luta entre o Velho Relâmpago e o sacerdote. Era exatamente o tipo de coisa que ele faria.
A última imagem mostrava Joyce lutando contra um golem colossal, coberta de sangue, mas com uma expressão de determinação ardente.
— Ela venceu, certo? — perguntou Gravis.
— Sim, venceu — respondeu seu pai. — Foi provavelmente a batalha mais difícil da vida dela.
Gravis sorriu. — Eles ficaram fortes, não é?
Seu pai assentiu. — Agora, você é o mais fraco entre seus amigos.
Em vez de sentir inveja, Gravis se sentiu feliz por eles. Seus amigos estavam avançando em seus caminhos.
— Em breve, estarei no mesmo nível deles — disse ele. Então, guardou as fotos em seu Espaço Espiritual. — Obrigado, mãe, pai — disse, abraçando a mãe.
— Ah, deixe disso! — exclamou sua mãe em um tom falsamente zangado. — Eu sou sua mãe! É meu dever!
Gravis valorizou profundamente aquele presente. Sempre que se sentisse sozinho no futuro, poderia olhar para as fotos e lembrar dos amigos que já haviam avançado. Se eles tinham conseguido, o que o impediria de fazer o mesmo?
— Agora, acho que é minha vez — disse Orfeu, dando um passo à frente.
Whoop! Plop!
Uma bola verde de gosma apareceu sobre a mesa. Gravis a olhou com surpresa. — O que é isso? Posso tocar? — perguntou.
— Vá em frente, mas cuidado para não destruí-la — respondeu Orfeu.
Enquanto Gravis estendia a mão para a gosma, seu pai lançou um olhar severo para Orfeu, que respondeu com um sorriso e um revirar de olhos. Em seguida, seu pai apenas fechou os olhos e deu de ombros, aparentemente aceitando o presente.
Gravis não percebeu essa troca de olhares, já que seus familiares eram muito mais poderosos do que ele. Ele pegou a gosma e começou a manipulá-la nas mãos. Como esperado, a sensação era mole e elástica.
— O que é isso? — perguntou Gravis.
— Isso é um Organismo de Mutação Constante, ou OMC para abreviar — explicou Orfeu. — Ele fica mais forte e mais fraco a cada segundo. Está sempre mudando de forma. Às vezes, cria apêndices, mas eles logo morrem. É a forma de vida mais instável que existe.
Gravis resmungou, intrigado, enquanto mexia na gosma. — E para que serve?
Orfeu riu um pouco. — Estou surpreso que você ainda não tenha adivinhado. Ao observar esse organismo, você pode entender como os seres vivos mudam. Você pode vê-lo se ferir e se curar. Pode vê-lo desenvolver uma fraqueza para algo que, no minuto seguinte, se torna sua principal característica.
Orfeu apontou para o OMC. — Assistindo a essas mudanças, você pode aprender sobre a vida.
Os olhos de Gravis se arregalaram ao ouvir isso. Ele olhou para o OMC com uma expressão de surpresa. — Então isso pode me ajudar a entender Leis relacionadas à vida? — perguntou, chocado.
Orfeu riu e bateu no ombro de Gravis de novo, quase fazendo-o derrubar o OMC. — Exatamente! Essa coisa não foi barata, nem mesmo para mim. Mas se isso te ajudar a aprender uma Lei, valeu a pena!
— Obrigado, irmão — disse Gravis, impressionado. — Isso é incrivelmente útil!
— De nada! — respondeu Orfeu com uma risada. — Você pode guardá-lo no seu Anel da Vida, mas mantenha-o separado de qualquer outra coisa viva. OMCs são frágeis e muito sensíveis.
Gravis rapidamente guardou o presente. Aquilo seria uma ajuda tremenda para aprender sobre a vida. Uma Lei desse tipo certamente não seria fraca.
— Agora, meu presente — anunciou o Opositor.
Whoop! Clank!
Uma escama negra apareceu sobre a mesa. Ela era pequena, com apenas alguns centímetros, mas Gravis podia sentir a dureza impressionante que emanava dela.
Quando Orfeu viu a escama, seus olhos quase saltaram da cabeça.
— Claro, o pai sempre tem as melhores coisas! — exclamou Orfeu, impressionado.