Todos olharam para a escama negra com expressões diferentes. A mãe de Gravis apenas sorriu. Orpheus a encarava com choque, e Gravis parecia confuso.
— O que é isso? — ele perguntou enquanto a pegava. Era surpreendentemente pesada, mas nada que Gravis não pudesse levantar com facilidade. Pesava talvez algumas toneladas. Isso seria difícil de erguer no Reino Reunião de Energia, mas não no Reino Unidade. Porém, era apenas uma escama. Quanto pesaria a besta inteira?
— É uma escama de um dragão negro — disse seu pai. — Dei algumas coisas ao dragão em troca dessa escama.
Gravis continuou observando a escama. — O que eu posso fazer com isso?
— Bestas Imortais podem mudar sua aparência externa como quiserem. Isso significa que você poderá se transformar em humano sem problemas assim que alcançar esse Reino. Acho que você já pode imaginar o resto — disse seu pai.
Gravis franziu a testa, mas seus olhos brilhavam. — Então eu deveria usar essa escama para criar minhas próprias escamas — disse ele. — Está dizendo que eu não devo buscar um corpo humano perfeito, mas sim um corpo que seja o melhor para combate.
Seu pai assentiu. — Exatamente. Você tem a chance de criar um corpo poderoso. Não conseguirá replicar totalmente a escama, mas pode copiar partes dela com sua Energia da Vida. Quando sentir que seu corpo está prestes a alcançar o nível de uma Besta Espiritual, deve comer a escama e usá-la como modelo para as suas próprias.
Gravis assentiu e sorriu. — Obrigado, pai — disse enquanto guardava a escama em seu Espaço Espiritual. — Isso me lembra de outra coisa que eu queria te perguntar.
— Pergunte — disse seu pai.
— Posso usar o corpo do Céu de maneira parecida? — Gravis perguntou.
Seu pai assentiu. — Sim. Eu sugeriria comê-lo quando seu corpo estiver prestes a evoluir para uma Besta-Unidade. A proximidade do Céu com as leis e seu domínio sobre o mundo lhe dará uma bela surpresa. Quando comê-lo, você poderá escolher um caminho para si. Outros hesitariam, mas eu sei qual escolha você fará — disse seu pai.
Gravis olhou para o corpo do Céu em seu Espaço Espiritual com ambição. — Mal posso esperar — ele disse.
Os presentes foram muito melhores do que Gravis esperava. Inicialmente, ele acreditava que apenas seu irmão lhe daria algo. Afinal, dar presentes a outras pessoas parecia algo rotineiro para Gravis. Ele esperava que seus pais pensassem da mesma forma, mas aparentemente não era o caso. Gravis não exigia presentes de aniversário, mas era bom quando ganhava alguns.
O presente de sua mãe foi útil para seu bem-estar emocional. O presente de seu irmão o ajudaria a entender mais sobre a vida, e o de seu pai o ajudaria a criar uma defesa poderosa para seu corpo.
Gravis não recebeu nenhum tipo de carta na manga que pudesse salvar sua vida. Muitos se sentiriam mal por isso, mas não Gravis. Ter uma carta na manga faria com que grande parte do refinamento perdesse o sentido. Afinal, enquanto ele tivesse uma, nunca estaria realmente em perigo.
Os presentes o ajudaram a seguir seu caminho sem interferir em seu processo de refinamento. Nenhum deles acelerou seu progresso. Todos estavam lá apenas para lhe dar uma base mais sólida e aumentar sua Força de Batalha. Aos olhos de Gravis, os presentes tinham sido perfeitos.
Depois disso, eles continuaram conversando. Todos estavam aproveitando o momento juntos.
— Ei, essa escama é do Magnata Negro? — Orpheus perguntou ao pai dele, discretamente.
— Sim — respondeu o pai.
Orpheus apenas suspirou ao ouvir isso. — Eu nem conseguiria encontrá-lo. Acho que poder é realmente tudo.
— Não precisa se lamentar — disse o Opositor. — Você fez sua escolha, e é uma escolha válida. O OMC1 é algo que até mesmo Imortais desejam. É mais do que suficiente para seu irmão.
Orpheus suspirou novamente. — Acho que você tem razão.
Gravis não percebeu essa troca e apenas continuou conversando com sua família. Aquele era seu último dia com eles por sabe-se lá quantos anos. Poderia até ser sua última conversa com eles, ponto final. Naquele dia, ele se divertiria ao máximo, porque amanhã sua jornada continuaria.
Depois de ver as fotos de seus amigos, toda a ansiedade de Gravis desapareceu. Agora, ele sentia apenas motivação e empolgação pelo mundo intermediário. Ele se lembrava da regra oculta de que seu pai falara, mas tinha certeza de que seria capaz de lidar com ela. Nada o impediria em seu caminho rumo ao poder!
A festa continuou até o dia seguinte, e quando Gravis não encontrou mais nada para conversar, respirou fundo e se levantou.
— Está na hora — disse Gravis.
Sua mãe suspirou e parecia um pouco triste. Seu irmão deu outro soco em seu ombro enquanto seu pai assentia.
— Escolhi um mundo adequado para você, Gravis — disse seu pai.
— Heh, se você escolheu meu mundo, talvez ele seja ainda pior do que se o Céu o tivesse escolhido — disse Gravis com um sorriso — mas eu gosto de desafios.
Seu pai assentiu. — Ótimo! Aqui está uma visão geral da estrutura do mundo — disse seu pai enquanto um diagrama começava a brilhar no ar.
Gravis olhou para o diagrama e seus olhos brilharam. — Interessante — ele disse.
O mundo inteiro tinha apenas uma única massa de terra, mas havia uma diferença significativa em relação ao mundo inferior. A massa circular parecia como se um crocodilo gigantesco tivesse arrancado uma mordida dela. Três quartos do mapa eram terra, enquanto o quarto restante era água. A água ainda se estendia até o centro, dividindo o meio do mundo em duas metades.
— Escolhi esse mundo porque o continente é cercado por um vasto oceano — disse seu pai. — O mapa mostra apenas o continente, mas há um oceano ainda maior ao redor dele. O centro do mundo é onde a terra e o oceano se encontram. Isso divide as áreas centrais em metade terra e metade oceano.
— O oceano ao redor da terra não tem importância para você — disse seu pai. — É onde vivem as bestas marinhas abaixo do Reino Unidade. E não subestime o tamanho desse mundo.
— Ah é? — perguntou Gravis. — Quão grande ele é?
— Só o continente é cerca de três vezes maior do que um mundo intermediário comum, e um mundo intermediário já é muitas vezes maior que um mundo inferior. Quanto maior o mundo, mais oportunidades e mais inimigos. Minha única preocupação ao escolher um mundo era que você não encontrasse inimigos poderosos o suficiente. Por isso escolhi este — explicou seu pai.
— Além disso, as bestas desse mundo estão entre os 10% mais fortes em termos de poder e civilização. Não faz sentido jogá-lo em um mundo fraco apenas para você ser morto em um mundo superior mais poderoso.
Os olhos de Gravis brilharam um pouco. — Civilização? — ele perguntou.
Seu pai assentiu. — Bestas Espirituais já possuem alguma inteligência e consciência. Isso, é claro, aumentará à medida que se tornarem mais poderosas. Pode não ser a mesma coisa que uma civilização humana, por conta da natureza direta das bestas, mas ainda assim é uma civilização. Você pode comparar essas civilizações a alcateias de lobos com seus territórios.
— Interessante — disse Gravis, esfregando o queixo com um sorriso — e estou supondo que o Céu não vai mais diminuir a Sorte Cármica dos meus companheiros? — ele perguntou.
— Não, não vai — respondeu seu pai. — Você sabe o motivo.
Gravis assentiu. — Ou é uma forma de pagamento ou ele pretende usá-los como reféns no futuro.
Seu pai concordou com a cabeça. — Lembre-se, não há um único humano lá. Algumas bestas podem se parecer com humanos, mas não são.
Gravis assentiu e estalou o pescoço. — Tem algo que eu deva saber antes de entrar nesse mundo? Como vai funcionar esse processo de entrar em uma besta?
— Assim que você entrar no mundo, sentirá seu corpo se desmanchar e se dissolver. Não haverá dor. Não transfira seu poder físico para o raio ou para seu Espírito. Deixe todo o seu poder físico ser dissolvido. Mover seu poder físico para outros centros de poder enquanto ele é dissolvido vai desequilibrar seus centros de poder novamente.
Gravis assentiu.
— Depois disso, você precisará esperar até que uma besta morra com um corpo quase completo e que tenha afinidade com seu elemento. Seu Espírito e raio entrarão nesse corpo, e ele será completamente curado pelas Leis. A partir desse momento, você estará por conta própria.
— Lembre-se de que seu novo corpo não conseguirá lidar com seu Raio de Punição de imediato. Primeiro, você precisará alcançar a Unidade novamente. No entanto, seu Espírito não tem essa restrição. Você terá total acesso ao seu Espírito no Reino Unidade, junto com a pressão correspondente da sua Aura de Vontade.
— Nenhuma Besta-Unidade de grau básico ou inferior será capaz de resistir à sua Aura de Vontade. Bestas de Unidade de grau médio podem matá-lo, mas isso aconteceria mesmo que você ainda tivesse seu corpo atual. Então, pode-se dizer que sua força, na prática, não diminui. Você só estará mais limitado na forma de lutar.
— Alcançar a Unidade novamente não vai demorar mais do que alguns dias. Quando isso acontecer, você será ainda mais poderoso do que é agora. Além disso, vou limitar o alcance dos seus sentidos espirituais para se igualar ao de uma besta no seu Reino atual. Se você pudesse ver todos os perigos com antecedência, poderia evitá-los — concluiu seu pai com a longa explicação.
Gravis assentiu. — Faz sentido. — Então, ele se virou para Orpheus. — Até breve, irmão.
— Até breve, irmão — respondeu Orpheus.
— Adeus, mãe. Sentirei sua falta — disse Gravis, voltando-se para a mãe.
Sua mãe sorriu. — Eu desejo tudo de melhor para sua jornada, Gravis. Volte logo, certo?
Gravis assentiu. — Voltarei.
Então, ele se virou para seu pai. — Estou pronto — disse com convicção.
Seu pai assentiu. — Ótimo! — Em seguida, ele invocou um portal, que surgiu bem à frente de Gravis. — Estarei de olho em você.
— Obrigado, pai — disse Gravis.
— Adeus — Gravis disse pela última vez para sua família, acenando antes de atravessar o portal.
O portal se desfez, e Gravis desapareceu.
Ele havia ficado em casa por um ano inteiro, o que era mais do que suficiente para ele.
Agora era hora de continuar seu caminho rumo ao poder!
Nota:
[1] Organismo de Mutação Constante.