Dormir parecia estranho para Gravis. Levou um bom tempo até que ele finalmente pegasse no sono, já que não estava mais acostumado com isso. Felizmente, ele não sonhou. O cérebro de seu novo corpo de enguia provavelmente não era desenvolvido o suficiente para gerar sonhos.
Após sabe-se lá quanto tempo, Gravis acordou novamente. Aparentemente, ele havia dormido por bastante tempo. Ele se espreguiçou de forma desajeitada, refletindo sobre o quão esquisito era voltar a dormir. Também percebeu o linguado patrulhando ao seu redor, observando tudo. Pelo menos estava cumprindo seu papel.
— Mestre — o linguado transmitiu ao notar que Gravis havia despertado.
— Continue patrulhando — Gravis ordenou.
— Sim — respondeu o linguado.
Whoop! CRRR!
Gravis invocou vários camarões e os despedaçou com seu Espírito. Em seguida, separou as partes comestíveis das não comestíveis e empurrou as partes comestíveis para o estômago. Ele nem sentiu o gosto. Era a mesma quantidade de carne de antes, mas Gravis não se sentiu tão empanturrado.
“Parece que meu corpo ficou mais forte”, ele pensou. “Provavelmente não vai demorar muito para alcançar minha primeira evolução.”
Agora, porém, ele não tinha ideia do que fazer. A digestão não podia ser acelerada, e ele não estava mais cansado. Alguns minutos depois, o tédio se instalou e Gravis decidiu observar o OMC novamente. Ver aquela forma mudar constantemente era quase hipnotizante.
Naturalmente, apenas seu Sentido Espiritual estava dentro do Anel da Vida, enquanto o restante do corpo permanecia do lado de fora, deitado na areia. Durante o sono de Gravis, várias outras bestas surgiram por perto, mas nenhuma ousou se aproximar demais do imponente linguado.
De vez em quando, algumas bestas demoníacas também apareciam, embora isso fosse raro. Elas sabiam, por instinto, que o fundo do mar não era seguro. Esse medo não era resultado de inteligência, mas de um instinto profundamente enraizado, adquirido ao longo de gerações.
Whoom!
O corpo de Gravis começou a tremer de repente. “Ah, estou me tornando uma besta demoníaca”, ele pensou com certa empolgação. “Vamos ver como funciona esse processo de evolução.”
Enquanto seu corpo tremia, Gravis sentiu a energia dentro de seu corpo se mover, mas não era a energia que ele usava para se curar. Era a energia que compunha o corpo inteiro. Isso era algo fundamental e completamente diferente, energia na forma de matéria. Algo com que Gravis não tinha nenhuma experiência real.
Ele sentiu seu corpo se alongar e crescer. Uma imagem de uma enguia maior começou a surgir em sua mente, movida por seus instintos. “Não! Mude!” Gravis ordenou mentalmente, e lentamente a imagem em sua mente começou a se alterar.
Em vez de apenas crescer, ele começou a imaginar a forma que desejava. Seu pai havia lhe dito que não poderia mudar muito de uma vez, então precisava ser gradual. Assim que viu seu corpo pela primeira vez, Gravis já havia planejado as mudanças que faria.
Isso não foi difícil nem levou muito tempo. Durante sua pausa em seu mundo natal, ele havia planejado a evolução para vários tipos de corpos. Um corpo longo e serpenteante estava entre suas considerações. Ele até pensou no que faria caso acabasse no corpo de um verme.
As evoluções de um verme eram semelhantes às de uma enguia, então Gravis já tinha um plano sólido em mente.
Porém, depois de receber a escama de seu pai e saber que poderia se transformar em humano ao se tornar um Imortal, ele ajustou um pouco seus planos. Não queria mais criar uma réplica perfeita de um humano.
“Por que desperdiçar uma oportunidade incrível para criar um corpo perfeito para o combate?” pensou Gravis, com um sorriso enquanto seu corpo tremia. “Quanto mais armas eu tiver, melhor!”
À medida que a imagem em sua mente mudava, Gravis sentiu uma leve desconexão. Parecia que seu corpo deixaria de ser ele mesmo se continuasse mudando. “Então, esse é o limite. Contanto que eu não ultrapasse essa barreira, tudo ficará bem.”
Gravis ajustou mais alguns detalhes na imagem mental enquanto seu corpo físico começava a se moldar de acordo. Depois de alguns segundos, ele finalizou a imagem e ordenou que seu corpo se tornasse igual ao que havia imaginado.
Seu corpo se transformou rapidamente, e, após um minuto, o processo foi concluído.
Gravis respirou pelas brânquias com satisfação ao observar sua nova forma.
O que ele mudou?
Foram apenas duas mudanças. Uma delas não era visível externamente: a estrutura de seus ossos. Ele alterou sua coluna para que se parecesse mais com a de um mamífero, algo importante para futuras evoluções.
Ele decidiu modificar a coluna depois de perceber que ainda podia fazer pequenas mudanças após finalizar a principal.
E qual foi sua principal mudança?
Sua cabeça.
Ela havia mudado completamente de forma. Agora, era maior e se parecia muito com a cabeça de um jacaré. Seu focinho se projetava para fora, com dentes visíveis mesmo com a boca fechada.
Gravis havia imaginado a cabeça de um jacaré porque eles têm uma mordida poderosa, mas sem o tamanho desajeitado de um crocodilo. Isso era mais do que suficiente para ele, já que sua boca não seria sua arma principal, apenas uma ferramenta auxiliar ou de reserva.
Além disso, ele adicionou músculos extras à cabeça para conseguir expressar emoções. Não poder expressar emoções parecia estranho para ele. Agora, finalmente poderia suspirar, sorrir, zombar e, o mais importante, cerrar os olhos.
No entanto, sua aparência atual podia ser descrita como… estranha. Ele não havia alterado sua pele viscosa, então sua cabeça de jacaré não tinha escamas, apenas uma superfície carnuda e lisa. E ele ainda não tinha braços nem pernas.
Uma cabeça de jacaré em um corpo de enguia de seis metros parecia bizarra, mas Gravis não se importava. “Não importa como eu pareço agora. Isso é só temporário. Logo alcançarei a forma que visualizei.”
— O que aconteceu, mestre? — perguntou o linguado. — Diferente… parece.
— Seguir seus instintos nem sempre é o melhor caminho para o poder — Gravis transmitiu de volta.
Infelizmente, o linguado não tinha capacidade para entender esse conceito. Mesmo como Besta Espiritual, sua inteligência era bastante limitada.
Vendo que o linguado não o compreendia, Gravis decidiu não se dar ao trabalho de explicar mais. Ele poderia ter paciência para ensinar Skye, mas o linguado não era seu amigo. Afinal, tinha tentado matá-lo antes. O fato de ainda estar vivo já era compaixão suficiente por parte de Gravis.
Gravis experimentou algumas expressões e percebeu que podia realizar quase todas. Ele havia modificado seus ossos e músculos para sorrir e franzir a testa com sua cabeça grande. Em vez de sobrancelhas, ele fez com que os músculos acima dos olhos fossem móveis. Isso seria suficiente.
“Vamos ver como está a digestão. Afinal, agora sou uma besta demoníaca de grau baixo”, pensou com um sorriso.
Whoop!
Outro caranguejo apareceu, e Gravis repetiu o processo de costume. Seu corpo não havia aumentado de tamanho, então ele não conseguia comer mais carne de uma vez, mas isso não seria um problema.
Gravis observou seu estômago em ação e, como esperado, a digestão estava mais rápida do que antes. “Ótimo! Em vez de levar várias horas, devo conseguir digerir uma refeição em apenas uma hora”, ele pensou com satisfação.
Após mais alguns minutos, Gravis percebeu algo diferente. “Interessante. Minha fome sumiu por alguns minutos, mas agora voltou. Acho que os corpos de bestas ferozes não são mais suficientes. Preciso de algumas Bestas Demoníacas.”
Gravis olhou para dentro do seu Anel da Vida e fez um inventário de todas as bestas ferozes que guardava lá.
Whoop!
Todas as bestas ferozes que estavam dentro do anel foram liberadas. Gravis também as libertou da restrição imposta pelo Anel da Vida, devolvendo sua vontade própria. “Elas não me atacaram, e eu não vou comê-las. Mantê-las é inútil.”
As bestas ficaram confusas por um momento, mas rapidamente fugiram ao notar o gigantesco linguado. Assim, elas logo se dispersaram para longe.
— Onde posso encontrar Bestas Demoníacas? — Gravis perguntou ao linguado.
— O que isso? — ele perguntou de volta.
— Bestas mais fortes do que essas fracas, mas mais fracas que você — Gravis respondeu.
— Bestas fracas na superfície — o linguado transmitiu para ele.
Gravis assentiu. — E aqui embaixo? — ele perguntou.
— Aqui, só bestas muito fracas ou muito fortes — o linguado respondeu.
Gravis tentou coçar o queixo, sem sucesso. “Interessante”, ele pensou. “Exatamente como eu esperava. Porém, acho que o linguado está enganado. Acho que ele está falando das Bestas de Energia. Embora essas bestas não consigam transmitir pensamentos, são inteligentes o suficiente para ficar longe das Bestas Espirituais.”
Gravis olhou para cima, mas não conseguiu ver muita coisa. O fundo do oceano era completamente escuro, já que nenhuma luz chegava ali. “Se as Bestas Espirituais estão no fundo do oceano, as Bestas de Energia provavelmente estão na superfície, já que é o lugar mais distante do fundo. As Bestas Demoníacas não podem ir para a superfície nem para o fundo, então devem estar presas entre os dois.”
“Elas devem habitar o espaço entre a superfície e o fundo. Além disso, foi nessa área que encontrei aquele peixe antes”, Gravis pensou.
“Falando nisso, é melhor ver se agora consigo digerir aquele peixe.”