— Notamos movimento de terra na costa — transmitiu um besouro rola-bosta de 80 metros de altura para as bestas reunidas. No entanto, sua altura imponente não intimidava ninguém, pois ele se curvava diante das outras bestas ali presentes.
Tudo o que podia ser visto ao redor das bestas era um pouco de pedra e o céu claro. As nuvens estavam muito abaixo, dando a impressão de que as bestas estavam no topo do mundo, longe da vida mundana dos mortais.
— Isso pode ser uma invasão do mar — disse uma víbora vermelha de 200 metros de comprimento, enrolada como uma cobra, pronta para atacar. Espinhos intimidadoras em sua cabeça a faziam parecer extremamente perigosa.
— Um incidente humilhante, sem dúvida — comentou um pangolim gigantesco ao lado. Ele ocupava quase metade do pico da Torre, com um comprimento intimidante de cerca de 800 metros, contando com a cauda. Se Gravis o encontrasse, ficaria impressionado com seu tamanho incrível, a maior Besta Espiritual que ele já teria visto. A pergunta que restaria seria: como ele havia conseguido subir até aquela Torre tão alta?
BANG!
— Insolência! — gritou a menor das bestas presentes, fazendo as pedras ao redor racharem. Ela era a menor de todas, mas estava no centro, em uma posição elevada.
Era um escorpião marrom, com apenas cerca de dez metros de comprimento. No entanto, irradiava uma aura que forçaria qualquer Besta Espiritual a se ajoelhar diante dele. Ele era o Líder da Tribo Areia, Crilas, o Senhor da Areia.
— Desde que meus ancestrais foram mortos, fomos obrigados a nos deslocar repetidamente — disse Crilas. — Caímos em desgraça, e agora, até mesmo as bestas mais desprezíveis do mar ousam cobiçar nossas terras!
— Todos os inimigos nos desprezam, mas conseguimos perseverar. Mostraremos a eles que, embora tenhamos caído em desgraça, ainda não somos algo que alguns camarões do mar podem atacar!
Crilas se levantou e caminhou para o centro da Torre, e as outras bestas baixaram as cabeças. — Depois de repelirmos este ataque, ganharemos novas terras e mais poder. Usaremos esse novo poder para recuperar os territórios dos nossos ancestrais. Preparem-se imediatamente para a batalha! — ordenou Crilas.
As outras bestas abaixaram as cabeças ainda mais. — Sim, meu senhor — disseram em uníssono. A víbora deslizou rapidamente para longe, e o besouro rola-bosta também se retirou. Depois de um tempo, restaram apenas o pangolim e Crilas.
— Não subestime uma invasão do mar — disse o pangolim. — Nossa tribo não é muito boa em lutar contra bestas marinhas. Precisamos tomar cuidado nesta batalha.
Se qualquer outra besta ousasse falar com Crilas daquela maneira, teria sido morta e devorada. Mas o pangolim era especial.
— Você me conhece, professor — respondeu Crilas. — Não subestimo nenhum inimigo.
— Muito bem, meu senhor — disse o pangolim. Estranhamente, ele não saiu de onde estava. Permaneceu no topo da Torre enquanto toda a Tribo Areia se agitava ao seu redor.
Várias bestas começaram a sair das cavernas na Torre e a se preparar para a batalha. Em poucos minutos, toda a tribo estava reunida diante da enorme Torre, olhando para cima.
Alguns segundos depois, a víbora apareceu a vários quilômetros de altura na Torre.
— Para a costa! — gritou, com um chiado poderoso.
— Costa! — responderam todas as bestas. Em seguida, começaram a avançar na direção da costa. Em poucos minutos, chegariam à costa, a 200 quilômetros de distância. Uma guerra estava prestes a estourar.
As bestas chegaram, mas não viram sinal de invasão. Aos poucos, começaram a ficar confusas. Onde estava o inimigo?
A víbora, que as havia seguido, estreitou os olhos ao observar a costa silenciosa. A inteligência estava errada?
— Exploradores do Mar, entrem na água e investiguem! — ordenou a víbora.
Quatro lagartos relativamente pequenos avançaram. O maior deles tinha apenas cerca de dois metros de comprimento, incrivelmente pequeno para uma Besta Espiritual. Os quatro se lançaram ao mar. Com a habilidade de se camuflar e cavar no solo, eram os exploradores perfeitos.
A víbora esperou por alguns minutos, e, quando começava a perder a paciência, os lagartos retornaram.
— Relatem — ordenou a víbora.
— 52 comprimentos de víbora, nada de especial — disse um dos lagartos. — 53 comprimentos de víbora, profundidade imediata. Mais de 100 comprimentos. Não conseguimos ir mais fundo.
A víbora estreitou os olhos. Havia ensinado aos exploradores como transmitir medidas corretamente, dizendo-lhes para informar quantos comprimentos de víbora a distância tinha. Um comprimento de víbora equivalia ao tamanho da própria víbora, cerca de 200 metros.
— Há bestas marinhas? — perguntou a víbora.
— Nenhuma. Nenhuma besta. Mas encontramos uma grande caverna — explicou um dos lagartos.
— Qual o tamanho da caverna e onde está? — a víbora perguntou, estreitando os olhos.
— A 70 comprimentos de víbora de profundidade. A caverna tem o tamanho de cinco comprimentos — relatou o lagarto.
A víbora estreitou os olhos, olhando para o mar e, em seguida, para o solo. — Besouros rola-bosta, há movimento de terra? — perguntou.
Os besouros se abaixaram e permaneceram imóveis por alguns segundos. Então, um deles se levantou. — Movimento fraco — disse. — Vindo da direção da Torre.
— Inicialmente, houve relatos de pequenos terremotos na costa — murmurou a víbora — mas agora não há bestas à vista.
A víbora voltou a olhar para o mar. — Mesmo assim, criaram um abismo bem diante da nossa costa. Há uma invasão acontecendo, com certeza. Mas não há bestas por aqui. Isso só pode significar que elas estão em outro lugar. Uma única caverna não poderia abrigar uma invasão inteira de bestas marinhas.
De repente, os olhos da víbora se arregalaram. — A menos que não seja uma caverna, mas um túnel! — gritou.
— De volta à Torre! — ordenou, com urgência. Todas as bestas ouviram o tom urgente e correram com tudo o que tinham.
A víbora sabia que haviam sido enganados. Deixaram a Torre com cerca de 80% das forças. Se o inimigo emboscasse sua casa, seria difícil defender. Precisavam voltar à Torre o mais rápido possível.
Mas, após correrem 150 quilômetros, encontraram sua casa completamente transformada. Um rio imenso, com cerca de 30 quilômetros de largura, bloqueava o caminho. E isso não era o pior.
Splash! Splash! Splash!
Diversas bestas marinhas nadavam no rio. O inimigo havia chegado, e agora estava entre eles e seu lar.
A víbora estreitou os olhos de raiva. — Contornem! — gritou.
O exército tentou contornar o rio, mas logo perceberam que ele cercava toda a Torre. Seu lar estava agora isolado por um abismo de água, pronto para engolir tudo.
A víbora ficou mais nervosa. Precisavam voltar para o Senhor da Areia! Sem ele, seriam apenas presas para as tribos vizinhas. Não podiam permitir que ele morresse.
— Não temos outra opção — disse a víbora. — Preparem-se para o combate! — ordenou.
As bestas ficaram tensas. Não sabiam lutar bem na água.
— Movedores de Terra, criem um caminho até a Torre. Todos os outros, defendam os Movedores! — ordenou a víbora.
As bestas se acalmaram. Os besouros rola-bosta e outras bestas com afinidade com a terra avançaram em direção à água, enquanto o restante formava uma linha defensiva ao redor deles.
— Avancem! — gritou a víbora.
Com isso, todas as bestas avançaram em direção ao abismo de água.