CRRRRR!
A terra se moveu diante dos Movedores de Terra, e o solo ao redor deles se elevou até ficar cerca de um quilômetro acima do nível do mar. A água foi empurrada para os lados, inundando a paisagem. No entanto, para as bestas, essa enchente nem sequer atingia seus joelhos. Não era um obstáculo.
CRRRRK!
As bestas imediatamente recuaram para a margem depois que sua ponte desmoronou. Um Criador de Água havia destruído a fundação, fazendo a estrutura desabar. Ao ver isso, os olhos da víbora ficaram vermelhos de fúria.
— Precisamos ficar perto da água — disse ela, enchendo de medo as fileiras de seu exército. — Não temos outra escolha. Precisamos enfrentá-los diretamente. Se não conseguirmos chegar ao nosso Senhor, seremos presas desses camarões, e mesmo que sobrevivamos, as tribos vizinhas nos tratarão como presas. Este território é nosso, e se não o defendermos, morreremos!
Apesar do medo, a determinação surgiu nos olhos das bestas. Era agora ou nunca! Se não conseguissem defender-se dessa horda, morreriam. Não havia saída.
— Avancem! — gritou a víbora, e os Movedores de Terra levantaram o solo para deixá-lo alguns metros acima do nível do mar. As bestas avançaram e foram recebidas por um exército de bestas marinhas.
Peixes começaram a saltar de um lado a outro da ponte, mordendo o que encontravam e puxando suas presas para o rio. Caranguejos e camarões se posicionaram verticalmente, atacando com suas garras. Bestas com afinidade com a água lançavam jatos laterais para empurrar as bestas terrestres para o rio.
A resistência era feroz, e muitas bestas terrestres caíram na água. Porém, sendo Bestas Espirituais, não estavam indefesas ali. Eram fortes o suficiente para se defender mesmo submersas.
As bestas marinhas restantes aguardavam no rio, atacando tudo que caía na água. A batalha era brutal. Havia mais bestas terrestres do que marinhas, o que tornava a luta ainda mais difícil para os defensores aquáticos.
Os olhos da víbora brilharam com astúcia. — Não são tantos assim! — gritou. — Continuem avançando, mas devagar. Podemos esgotá-los!
As bestas rugiram e continuaram a avançar. Precisavam proteger seu lar. Suas vidas dependiam disso.
Depois de alguns minutos, o ataque das bestas marinhas começou a diminuir. Agora, elas só disparavam jatos de água ocasionalmente. Os caranguejos também recuaram para o rio.
A víbora chiou de frustração ao perceber isso. — Estão reunindo forças para matar nossos companheiros perdidos! Não podemos salvá-los, mas podemos usar essa oportunidade para atacar a linha de frente! Sigam-me! — gritou a víbora, abrindo caminho com sua cauda, arremessando as poucas bestas marinhas à sua frente.
Enquanto isso, nas profundezas da água, um par de olhos se estreitou. “Essa víbora é um problema”, pensou a dona dos olhos. “Ela motiva o exército e lidera bem. Se eu conseguir detê-la, posso garantir uma posição melhor na horda e demonstrar meu poder. Hora de agir!”
A víbora continuava avançando, afastando as bestas e já carregando vários ferimentos. Mesmo assim, seguia com coragem, inspirando todas as outras bestas.
Splash!
De repente, uma cauda de serpente disparou na direção da cabeça da víbora. Sem se desesperar, a víbora abriu a boca e expôs suas presas venenosas.
PSH! PSH!
Ela mordeu a cauda e injetou seu veneno, mas sentiu uma dor excruciante em sua própria cauda. Percebeu que havia mordido a cauda de outra serpente, e essa serpente, por sua vez, havia mordido a dela. Com o impulso do salto de Shira, ambas caíram da ponte e despencaram no rio.
PENG! PENG!
As duas serpentes imediatamente cortaram suas próprias caudas. Embora essa habilidade fosse mais comum em lagartos, ambas haviam adaptado seus corpos para isso. Quando atingiu a água, a víbora pôde finalmente ver o que estava acontecendo.
As bestas terrestres que haviam caído no rio estavam lutando com as marinhas. Mesmo que houvesse mais bestas marinhas na água, cada luta era um duelo direto. As bestas marinhas que não tinham adversários observavam a batalha com sede de sangue nos olhos.
Sempre que uma besta marinha morria, outra tomava seu lugar e atacava a terrestre, mas nunca de surpresa. O ataque sempre era frontal.
Os olhos da víbora se estreitaram mais. “Eles estão usando essa oportunidade para ganhar experiência de combate. Isso também resolve o problema da distribuição de comida. Mas por que estão se refinando agora, antes mesmo de vencerem a guerra?”
A víbora rapidamente voltou sua atenção para Shira. Ao ver que ela havia cortado sua própria cauda para se livrar do veneno, soube imediatamente que essa adversária não era tola. As serpentes eram criaturas astutas, e a víbora sabia bem disso. Esta luta não seria fácil.
Enquanto isso, as bestas terrestres pararam ao ver que sua comandante havia caído na água. O que deveriam fazer agora?
— Continuem avançando! — um rugido poderoso ecoou pelo céu. As bestas olharam para a Torre e viram o pangolim erguido com imponência. — Matem essas bestas e absorvam seu poder! — rugiu aos céus.
As bestas rugiram em resposta e continuaram sua investida. O Ancião havia dado a ordem, e até o Senhor da Areia obedecia ao Ancião. Enquanto confiassem no Ancião, sobreviveriam.
A batalha se intensificou, e a carnificina aumentou. Bestas marinhas e terrestres morreram aos montes. No entanto, devido à vantagem do terreno, as bestas marinhas sofreram menos perdas. Algumas que já haviam vencido seus duelos partiram para outro adversário.
O número de criaturas terrestres diminuiu até restarem apenas os dez Movedores de Terra. Todos os seus guardiões estavam mortos.
Mas, surpreendentemente, nenhuma besta marinha os atacou. Algumas bestas marinhas que já haviam vencido apenas observaram os Movedores sem fazer nada. Confusos, eles continuaram sua investida.
Sem oposição, chegaram ao outro lado do rio e subiram à Torre. Precisavam proteger seu Senhor! Ele era poderoso, mas poderia ser sobrecarregado por números. Além disso, toda invasão era liderada por outro Senhor. Se o inimigo usasse as outras bestas para desgastar seu Senhor, o inimigo teria a vantagem.
Os Movedores de Terra rapidamente alcançaram o topo da Torre. — Senhor! — transmitiram com preocupação e espírito de luta. Mas…
Tudo o que viram foi uma criatura estranha, parecida com uma serpente negra com braços enormes, sentada sobre o cadáver do Senhor deles. A criatura segurava um pedaço de carne nas mãos e mordia tranquilamente.
— Quantos restam? — perguntou Gravis, sem olhar para os recém-chegados.
O pangolim gigante estava humildemente ao lado. — Instruí nossos guerreiros a continuar lutando. Os defensores na fronteira já perceberam a confusão e entraram na batalha. Pouco mais da metade da tribo morreu — explicou calmamente.
Os Movedores de Terra ficaram chocados, incapazes de entender o que estava acontecendo. Seu Senhor estava morto, e o Ancião falava com aquela criatura como se ela fosse o novo Senhor. Parecia um pesadelo. Sabiam que suas vidas haviam acabado.
Gravis assentiu. — Isso deve ser suficiente. Cumprirei minha promessa a você. Não se preocupe — disse ele, deslizando para a frente. Passou pelos Movedores chocados e olhou para baixo, da Torre.
— Todos que não estiverem lutando, venham imediatamente para a base da Torre! — gritou Gravis.
— Bestas livres, para a base da Torre! — repetiu o pangolim.
As bestas terrestres que não estavam lutando ficaram chocadas. O Ancião estava ao lado daquela criatura estranha? O que estava acontecendo?
Em comparação, as bestas marinhas nadaram imediatamente até a Torre e saltaram para a terra firme. Enquanto tudo isso acontecia, os duelos restantes continuavam.
Depois de um tempo, dois grupos se formaram diante da Torre. Um era composto pelas bestas terrestres, e o outro, pelas bestas marinhas.
Nos minutos seguintes, a luta foi diminuindo. Agora, o rio estava cheio de manchas vermelhas visíveis por toda parte.
Gravis observou os grupos, mas ainda sentia duas bestas lutando. Também notou a ausência de Shira. Ele coçou o queixo enquanto pensava. “Shira é muito inteligente e, por isso, também é forte em combate. O fato de ela ainda estar lutando mostra que o oponente é poderoso. Acho que seria um desperdício perder um talento assim”, ele refletiu.
Whooom!
Gravis saltou da Torre e usou seu Espírito para acelerar sua queda. Claro, também o usou para se proteger do impacto.
BANG!
Uma explosão trovejou ao redor quando Gravis atingiu o chão. Infelizmente, ele era pesado demais para voar. Em seguida, disparou em direção ao rio, que logo atravessou. Em pouco tempo, os dois combatentes entraram no alcance do seu Espírito. “Outra serpente. Quem diria…”
Shira e a víbora estavam entrelaçadas em um nó, enquanto suas cabeças duelavam. O nó se movia constantemente, impedindo que uma mordesse o corpo da outra.
Whooom!
De repente, ambas ficaram incapazes de se mover.
— A guerra já acabou — Gravis transmitiu para elas.
Shira parecia descontente, enquanto a víbora exibia uma expressão de horror.
— Não se preocupem. Todos que ainda estão vivos irão sobreviver — Gravis disse.
— Sobreviver? — a víbora perguntou, incrédula.
— Sim — respondeu Gravis. — Não vamos anexar este território para o mar. Vou criar uma tribo com bestas tanto do mar quanto da terra.
— O nome da tribo será a Tribo Rio.