As emoções de Silva não estavam mais calmas. Muitas das coisas que Gravis disse ecoavam em sua mente. Além disso, ele sabia que, em um cenário hipotético como aquele, tentaria refletir sobre seus erros e o que poderia ter feito melhor. Lentamente, começou a se abrir para as palavras de Gravis.
— O que posso fazer para aproveitar minha força? — Silva perguntou.
Gravis sorriu e riu um pouco. — Você já fez isso sem perceber — disse ele.
Essa não era a resposta que Silva esperava. — O que você quer dizer? — ele perguntou.
Gravis riu um pouco mais. — Você fez algo que vai ajudá-lo a se tornar mais forte, algo que Shira nunca fará — disse Gravis, enquanto caminhava até a estátua de Silva e se apoiava nela. — Você pediu ajuda.
Silva não ficou satisfeito com essa afirmação. — Eu pedi orientação, não ajuda — disse ele.
— Exatamente aí que está o ponto — disse Gravis. — Quando nos referimos a ajuda, não falamos apenas do aspecto de combate. Orientação também é uma forma de ajuda. Depender da força de outra pessoa pode ser prejudicial, mas pedir orientação é aprender, e aprender é crescer. Desde que você lute suas próprias batalhas, esse tipo de ajuda será apenas benéfico para você.
— Diga-me — Gravis perguntou. — É proibido para Shira pedir orientação?
— Não — Silva respondeu.
— Você acha que, se ela pedisse orientação, nós não a ajudaríamos? — Gravis perguntou.
— Não. Tenho certeza de que vocês também responderiam às perguntas dela — Silva respondeu.
— Então, por que ela não pede orientação? — Gravis perguntou.
— Porque ela é orgulhosa demais. Pedir ajuda pareceria uma derrota para ela — Silva respondeu.
— E essa é a fraqueza dela — Gravis respondeu. — Ela pode crescer pedindo orientação, mas não o faz. Você poderia sacrificar alguns dos seus recursos para eliminar alguns dos dela, mas também não o faz. Essas são as fraquezas de vocês dois.
— Agora — Gravis disse enquanto se movia para o centro da sala. — Se não fosse pela pressão de Shira, você teria percebido essas verdades? Se não estivesse encurralado, teria aprendido tudo isso?
Silva permaneceu em silêncio por um tempo enquanto lutava com suas emoções. Sempre é difícil admitir que outra pessoa estava certa enquanto você estava errado. Isso sempre parece uma derrota. Depois de um tempo, Silva suspirou. — Não, não teria.
Gravis sorriu. — E essa é a verdade do mundo — disse Gravis. — Você pode ter toda a moral, métodos, recursos, técnicas ou qualquer outra coisa que quiser. No entanto, o objetivo final é o mesmo para todos. Todos queremos nos tornar mais poderosos, e quando seu método não funciona, não é errado modificá-lo.
CRRRR!
Várias novas estátuas apareceram. Todas tinham a aparência de diferentes bestas, mas tinham o mesmo tamanho. — Todos temos alguns próximos e uma quantidade incontável de inimigos. Não há recursos infinitos neste mundo. Olhe para estas dez estátuas. Imagine que elas representam todas as bestas do mundo.
Silva assentiu.
— Todos têm o mesmo objetivo: poder supremo. Mas há recursos suficientes apenas para duas delas. O que aconteceria? — Gravis perguntou.
— Elas se tornariam inimigas, enquanto algumas formariam duplas — Silva respondeu.
Gravis assentiu. — Isso seria verdade se esses lugares fossem permanentes. No entanto, assim que alguém conquista um desses lugares, ascende ao próximo mundo. Nesse ponto, um novo lugar se abre.
— Então, teríamos uma mistura complexa de lados. Alguns se afastariam e ficariam à margem, esperando sua chance. Outros formariam equipes maiores e definiriam uma ordem fixa de ascensão. Algumas facções mais fracas mirariam nas que estão fora da luta. Afinal, se vencerem as facções mais fortes, as facções à margem podem se envolver e matá-las quando estiverem exaustas após a luta — explicou Gravis.
— Sua abordagem é semelhante à das pessoas que ficam à margem. Você não quer arriscar morrer e tenta adotar uma abordagem segura. No entanto, os fortes nunca lhe darão uma chance, enquanto os fracos tratarão de você primeiro. Ao não arriscar nada, você já aceitou que nunca alcançará seu objetivo.
— Agora — Gravis disse enquanto as estátuas se moviam para o mesmo lado. Então, outra estátua apareceu, maior que todas as outras. Outras três estátuas menores surgiram atrás da maior.
— Esses dois grupos representam Tribos. Um grupo tem um Lorde e três Bestas Espirituais de grau alto. O outro grupo tem dez Bestas Espirituais de grau alto, mas sem Lorde. O que o segundo grupo precisa para vencer o primeiro? — Gravis perguntou.
Silva pensou por um momento. Não era que a solução fosse complexa, mas ele não gostava da resposta. — O segundo grupo precisa criar um Lorde — Silva disse.
Gravis assentiu. — E se não houver recursos externos?
Silva suspirou. — Então, eles precisam lutar entre si até que um se torne um Lorde.
— Certo — Gravis disse. Então, cinco estátuas no segundo grupo foram destruídas, enquanto uma crescia até o mesmo tamanho do Lorde inimigo. — Se a força de combate dos níveis fosse igual, qual seria o resultado desta luta?
— O primeiro grupo seria aniquilado, enquanto o segundo grupo teria uma única Besta Espiritual restante — Silva respondeu.
Gravis assentiu. — Assim, no final, o segundo grupo teria um sobrevivente. Agora, se não tivéssemos sacrificado as bestas para criar um Lorde, quantos sobreviventes o segundo grupo teria?
Silva suspirou novamente. — Nenhum.
Gravis sorriu. — Essa abordagem parece cruel para você, mas isso é apenas porque você ignorou um fato.
Silva olhou para Gravis com interesse. — Qual seria?
— Não decidimos quem seria o Lorde. Apenas permitimos que o grupo lutasse até que a besta mais poderosa das dez se tornasse um Lorde. Isso não é semelhante ao cenário anterior, onde havia apenas duas vagas de poder supremo?
Silva rapidamente encontrou as semelhanças entre a Tribo Rio, o mundo e esses cenários. Começou a entender por que Orthar e Morn gostavam tanto do conceito da Tribo Rio. Era basicamente uma versão ligeiramente mais justa do mundo mais amplo, mas ainda assim a mais próxima do mundo real que uma Tribo poderia ser.
— Demos a eles a liberdade de ascender ao poder — Gravis disse. — Todo o resto depende deles.
Então, Gravis se aproximou de Silva. — Você não é o pai do seu acampamento. Seu acampamento não é sua prole que precisa de proteção. Assim como você decidiu buscar o poder supremo, eles tomaram a mesma decisão.
— Você deve respeitar essa escolha e permitir que eles a sigam. Muitos morrerão, mas muitos outros se tornarão mais poderosos. Se você não permitir que eles sigam esse caminho, temendo que morram, nunca serão capazes de alcançar seus objetivos. Para muitos, não ter a chance de atingir seu objetivo é pior do que a morte.
— Ao protegê-los, você restringiu o crescimento deles. No entanto, a maioria das bestas não tem inteligência para perceber isso. Você não precisa ser tão cruel e egoísta quanto Shira, mas precisa entender que, quando eles morrem por suas próprias escolhas, a culpa não é sua.
Silva olhou para o chão enquanto pensava em muitas coisas. Para ele, seu acampamento era sua responsabilidade. Mas a sobrevivência deles não era? Isso parecia contraditório. No entanto, o que Gravis havia dito também fazia muito sentido.
Vendo que Silva ainda estava em conflito, Gravis suspirou. — Vou ajudá-lo desta vez, mas isso não se repetirá. Para ser justo, se Shira pedir orientação, também estenderei minha ajuda a ela uma vez. Preste atenção, e vou lhe contar como sair da sua crise atual.
Silva olhou para Gravis. A esse ponto, já estava exausto. Essa conversa havia desafiado toda a sua ideologia. Isso não era algo que ele poderia aceitar apenas com alguns minutos de conversa, mesmo que tudo fizesse sentido agora. No final, ele apenas acenou com a cabeça.
— Não restrinja as lutas do seu acampamento — disse Gravis. — Deixe-os à vontade. Permita que desafiem qualquer besta que quiserem. Em pouco tempo, a besta mais poderosa do seu acampamento alcançará o poder de um Lorde. Nesse ponto, não importa quantas Bestas Espirituais o Acampamento do Mar tenha. Um Lorde vale mais do que cem Bestas Espirituais.
— Claro, você também deve participar disso. Se Shira se tornar um Lorde enquanto você não, isso se tornará problemático de novo. Fazer isso o tirará da crise atual. No entanto, se não continuar lutando, você voltará a essa posição no futuro.
Então, Gravis estreitou os olhos para Silva. — Naquele momento, ninguém vai ajudá-lo, e você morrerá. Nunca baixe a guarda. Todas as batalhas futuras dependerão inteiramente de você.
Silva olhou indeciso para o chão, mas depois de alguns segundos, suspirou em aceitação. Seu antigo caminho não funcionou. Talvez fosse melhor tentar o método de Gravis.
— Claro — Gravis acrescentou — Isso é só depois que você tomar o território das hienas. Tente ganhar o maior número possível de novos membros. Depois, deixe todos livres para lutar. Shira pode manipular algumas lutas, mas não todas. Ao tornar a situação o mais caótica possível, nenhum de vocês conseguirá manipulá-la.
Então, Gravis sorriu. — E somente você tem o poder de acabar com esse caos. Naquele momento, tudo voltará ao status quo.
Silva pensou sobre isso, respirou fundo e assentiu com convicção. Ele decidiu seguir esse plano, e quando se comprometia com algo, usava toda a sua força para ter sucesso. — Vou fazer isso.
Gravis sorriu e assentiu. — Ótimo! Então vá tomar o território das hienas!
— Sim, eu vou. Obrigado, Líder — disse Silva com respeito e convicção.
Então, ele saiu.
Gravis apenas coçou o queixo com um sorriso.
— Líder, é? Isso não soa tão mal — disse ele.
Em seguida, voltou para o centro da sala e fechou os olhos.
Ninguém, exceto Orthar, sabia o que ele fazia o dia todo.