Cynthia olhou para o regenerado Gravis com a boca ligeiramente aberta, parecendo chocada com o que via. — Você parece incrível — ela comentou.
Gravis piscou algumas vezes, confuso. Então, apontou para si mesmo com uma expressão interrogativa. — Eu? Como assim incrível? — ele perguntou genuinamente confuso. De onde tinha vindo esse comentário?
Cynthia olhou de volta para Gravis com uma expressão irritada. — Não finja que não sabe — ela disse.
Gravis balançou a cabeça novamente, surpreso. — Mas eu realmente não sei. Nunca ninguém disse algo assim para mim — Gravis falou.
Cynthia ficou um pouco surpresa. — Ninguém? — ela perguntou.
Gravis assentiu. — Sim, ninguém. Eu realmente não entendo. Você é uma espécie de gato, e eu sou uma espécie de lagarto. Meu corpo nem mesmo segue o padrão de aparência de outras bestas. Como algo assim poderia ser incrível ou atraente? — ele perguntou.
Cynthia ergueu uma sobrancelha, confusa. — Então, você realmente não sabe?
Gravis suspirou. — Não, não sei — ele disse.
Cynthia olhou novamente para Gravis, escaneando todo o seu corpo. — Quanto mais poderosas nos tornamos, mais percebemos o potencial de combate dos diferentes corpos. No começo, nos interessamos principalmente por bestas que se parecem conosco, mas, em algum momento, só vemos as deficiências dos outros corpos. Isso muda completamente nossos gostos para um parceiro — explicou Cynthia.
Gravis ainda estava confuso. — Mas você tem pelos, enquanto eu tenho escamas. Você anda sobre quatro patas, enquanto eu ando sobre duas. Você tem patas, enquanto eu tenho mãos. Somos quase tão diferentes quanto possível em termos de aparência.
— E é por isso que você é incrível — Cynthia respondeu. — Quando você estava sem braços e pernas, parecia fraco e vulnerável, algo que bestas poderosas desprezam. Afinal, todos queremos alcançar um poder supremo, e acasalar com alguém assim resultaria em descendência fraca.
— Mas assim que seus membros se regeneraram, todas essas fraquezas desapareceram. Sim, você é totalmente diferente de mim, mas é isso que o torna tão atraente, e eu definitivamente não sou a única a pensar assim — Cynthia explicou.
Gravis fechou os olhos um pouco para afastar a imagem mental de acasalar com um gato. Ele era um humano e realmente não sentia atração por um gato. Ele nunca havia sentido atração por nenhuma besta, o que lhe parecia repulsivo.
— Você poderia explicar isso em mais detalhes? Ainda não entendi — Gravis pediu.
Cynthia bufou. — Se eu não tivesse certeza de que você não está mentindo, eu acharia que está pescando elogios — ela disse, suspirando em seguida.
— É como se, ao olhar para você, eu pudesse ver as fraquezas no meu próprio corpo — Cynthia disse lentamente, enquanto escaneava Gravis, o que o deixou bastante desconfortável. — Suas escamas são superiores aos meus pelos, o que significa que sua defesa é melhor que a minha.
— Sua cauda é mais longa e mais poderosa, e posso ver que, mesmo se você perdesse a cauda, ainda não teria problemas com equilíbrio. Você pode usá-la de forma mais eficaz do que eu uso a minha. Suas pernas têm garras e uma forma que proporciona aceleração ideal.
— Sua cintura é fina e flexível, mas a fraqueza defensiva da cintura só existe na teoria. Suas garras, peito e posição inclinada para a frente mantém sua cintura protegida. Assim, sua cintura não apresenta desvantagens, ao mesmo tempo em que proporciona grande flexibilidade.
— Seu peito é largo, permitindo que você use mais força com os braços. Seus braços são longos, poderosos e permitem agarrar coisas. Além disso, podem ferir o inimigo. Sua boca tem dentes fortes e uma mandíbula poderosa, mas sua cabeça não é grande o suficiente para se tornar um alvo óbvio para o inimigo.
Cynthia suspirou novamente. — Resumindo, você tem o corpo mais eficaz para combate que já vi. Não vejo fraquezas. A única coisa que eu poderia criticar é que você só tem dois braços. Um segundo par de braços poderia torná-lo ainda mais poderoso — disse Cynthia.
Gravis coçou o queixo com sua garra direita. — Hm, então tudo se resume ao poder dos possíveis descendentes, certo? — ele perguntou.
Cynthia olhou para Gravis como se ele tivesse feito uma pergunta tola. — Claro. O poder é tudo. Nenhuma besta poderosa quer descendentes fracos. Quanto mais poderosos forem nossos filhos, melhor. Você não sente isso? — ela perguntou cética.
Gravis ainda estava desconfortável com todo esse tópico. Falar sobre a atratividade sexual de seu corpo de lagarto com um gato realmente não era algo que ele esperava fazer um dia. Toda a situação parecia bizarra.
Gravis balançou a cabeça com força para se recompor. — Como você pode me considerar um parceiro? Somos tão diferentes. Duvido que conseguiríamos sequer gerar descendentes. Como eles seriam? — Gravis perguntou.
Cynthia parecia novamente como se Gravis tivesse feito uma pergunta boba. — Claro que podemos acasalar — ela disse. — Assim que nos tornamos Lordes, não há mais restrições de espécies. Nossos corpos são poderosos o suficiente para forçar a concepção de uma nova vida.
Gravis ficou surpreso. — O quê? — ele perguntou simplesmente.
Cynthia bufou. — Agora você está brincando comigo. Toda besta sabe disso. Afinal, todos sentimos a mudança de atração. É instinto. Você é uma besta, então também deveria sentir isso — ela disse, irritada.
Enquanto isso, Gravis permaneceu em silêncio. Após alguns segundos, sua garra direita voltou ao rosto para coçar o queixo. “Nunca ouvi falar disso antes. Será que isso é algum tipo de regra ou Lei imposta pelo Céu mais elevado? Faz sentido, pois aumentaria a qualidade das bestas sem aumentar o consumo de energia delas. Isso obrigaria os humanos a se tornarem mais poderosos.”
Gravis continuou pensando com os olhos semicerrados. “Algo assim faria sentido. As bestas também se tornariam um desafio mais poderoso para o refinamento. Mas, se cada besta pode acasalar com qualquer outra, como é que eu nunca vi uma besta realmente estranha antes? Todas as bestas que vi até agora se encaixavam em uma categoria específica.”
— Se isso é verdade, como nunca vi uma besta esquisita? Se as bestas podem acasalar com qualquer coisa, elas acabariam ficando estranhas com o tempo — Gravis perguntou a Cynthia.
Agora, Cynthia percebeu que Gravis honestamente não sabia dessas coisas, o que parecia surreal para ela. — Porque a prole se parece com o pai ou a mãe com maior potencial de combate — ela disse, como se fosse algo óbvio.
Os olhos de Gravis se arregalaram. “Então é isso”, ele pensou. “Isso explica por que nunca vi combinações bizarras de carne andando por aí. Ao contrário dos humanos, a prole das bestas não é uma mistura da aparência dos pais, mas copia um deles.”
Gravis olhou para o horizonte. “E como cada besta pode modificar seu corpo como quiser, suas aparências ainda fazem sentido. Afinal, as bestas não fariam seus corpos pela metade.”
Gravis ficou pensando por um bom tempo, enquanto Cynthia apenas o olhava, confusa. Por que ele não dizia nada? Ele apenas tinha essa expressão estranha e desconfortável enquanto olhava para o horizonte.
De repente, Gravis balançou a cabeça com força. Então, ele se virou para Cynthia. — Obrigado por me contar essas coisas. Honestamente, eu não sabia sobre elas.
Cynthia ficou um pouco surpresa com o movimento repentino de Gravis, mas deu uma risadinha. — Você é estranho — ela disse. — Mas, de nada. Pode me perguntar qualquer coisa — completou ela.
Gravis assentiu. — Perguntarei. De qualquer forma, devo começar. Está na hora de procurar algum minério e forjar algumas armaduras e armas.
Agora, Cynthia parecia confusa novamente. — Como você pode forjar armaduras e armas? Seu corpo já está cheio de armas, e suas escamas são uma armadura poderosa. E o que é minério? — ela perguntou.
Gravis suspirou. — Já que você compartilhou conhecimento comigo, não vejo problema em compartilhar algo com você. Afinal, é o seu Rei que está me forçando a ficar aqui, não você — Gravis disse. — Vou te contar no caminho.
Cynthia assentiu com interesse.
Então, Gravis e Cynthia começaram a levitar. Após um segundo, Gravis voou em uma direção aleatória, e Cynthia o seguiu.
Era hora de procurar algum minério.