Gravis ficou um pouco surpreso com o comentário da Imperatriz. Como ele era esquisito? As coisas que ele dizia eram óbvias, e alguém tão poderoso quanto ela deveria ser capaz de ver a lógica por trás de suas decisões. Uma escolha inteligente, bem pensada e fundamentada não poderia ser considerada esquisita!
— Como sou esquisito? — Gravis perguntou, genuinamente confuso.
— Sua personalidade continua mudando! — a Imperatriz transmitiu com frustração. Nenhuma das outras bestas deveria ouvi-la falar assim; afinal, ela ainda precisava manter sua imagem diante dos súditos.
— Primeiro, você chegou com arrogância ao grupo de Lordes que disseram que podiam derrotar um Meio-Passo de Rei.
— Depois, pareceu dominador e impressionante ao matar aquele Lorde de nível quatro.
— Então, agiu como se não se importasse após a sua ‘luta’ com o falcão vermelho.
— Aí, parecia uma criança envergonhada após vencer aquele mamute.
— Depois, se mostrou um conspirador cheio de desconfiança.
— E agora, parece que você mudou completamente sua personalidade só porque eu disse algumas palavras. E o pior é que tudo indica que você foi genuíno! Como é possível uma besta mudar tão fácil e rapidamente assim!? — a Imperatriz quase divagou.
— Eu não consigo entender sua personalidade porque parece toda embaralhada! E você tem esses poderes estranhos que são tão esquisitos que nem eu, uma Imperadora de nível três, consigo entender como funcionam!
— Sua personalidade é esquisita! Seus poderes são esquisitos! Você é esquisito! — concluiu a Imperatriz ao terminar seu desabafo.
Somente Gravis e o macaco branco ouviram o que a Imperatriz disse. Esse tipo de divagação mostraria um lado indeciso da Imperatriz, algo que os outros não deveriam ouvir.
O macaco branco apenas suspirou ao escutar a Imperatriz. Ele não gostou de como ela falou casualmente, mas concordava plenamente: Gravis era esquisito!
Gravis sentiu-se um pouco envergonhado ao ouvir o desabafo dela. Contudo, também compreendeu que seu comportamento parecia esquisito aos olhos de bestas que não o conheciam. Na verdade, sua personalidade era até mesmo um pouco estranha quando comparada a humanos.
Todas essas mudanças rápidas de humor e conduta tinham razões por trás, mas seria impossível explicar todas para a Imperatriz. Além disso, ela provavelmente nem se interessaria por uma explicação tão longa.
Ainda assim, as palavras da Imperatriz trouxeram alívio para Gravis. Até então, ela parecia distante e intocável. A maneira como matava todos aqueles Lordes e Reis a fazia parecer fria, arrogante e cruel. Além disso, sua aura de orgulho a tornava ainda mais distante.
Mas, com todas essas palavras e frases casuais, ela pareceu a Gravis como qualquer outra besta. Claro, todos sabiam que as bestas mais poderosas ainda eram apenas bestas. Porém, muitas vezes, esse fato era esquecido ao se deparar com um poder supremo e uma conduta tão orgulhosa.
Agora, a Imperatriz parecia muito mais acessível. Um Deus sem coração reclamaria assim de alguém ser estranho? Provavelmente não.
Gravis balançou a cabeça. — Certo — respondeu. Então, virou-se para o macaco branco. — Então, você não vai me matar, certo? — perguntou, voltando ao tema original.
Tanto o macaco branco quanto a Imperatriz ficaram surpresos pelo fato de Gravis simplesmente descartar o desabafo da Imperatriz com um simples ‘certo’. No entanto, o macaco branco ficou satisfeito por retornar ao assunto inicial.
— Não, estamos na mesma posição. Não podemos matar um ao outro sem que a Imperatriz nos mate depois disso, e não pretendo desperdiçar minha vida para matar um Lorde — respondeu o macaco branco.
— Ei, não ignore esse assunto e desvie para outra conversa! — a Imperatriz interrompeu com irritação.
— Foi você quem mudou de assunto ao me chamar de esquisito, Imperatriz — Gravis respondeu.
A Imperatriz ficou um pouco irritada ao ouvir isso, mas decidiu não dignificar a resposta com uma réplica, principalmente porque Gravis estava certo.
Então, Gravis se voltou novamente para o macaco branco. — Então, você pode vigiar o minério? Se eu tiver acesso a ele, não conseguirei me refinar de verdade. Afinal, sempre terei uma opção de fuga com o minério, o que não colocará pressão suficiente na minha mente.
— Entendo — o macaco branco interrompeu antes que Gravis pudesse continuar. — Sei como o Refinamento funciona e, sim, posso prometer que, se você estiver em uma luta, não conseguirá tocar nesse minério sem morrer.
— Ótimo, obrigado — Gravis respondeu. Então, esperou um pouco. — E desculpe por pensar que você iria me matar. Atribuí meu padrão de pensamento a você, e esse foi meu erro.
O macaco branco suspirou.
— Eu disse, pare de ser esquisito! — a Imperatriz transmitiu novamente.
— Ah, qual é! — Gravis transmitiu, frustrado. — Como isso foi esquisito?
— Desculpas são desnecessárias. Palavras são vazias. Deixe suas ações falarem por você! Nenhuma besta se importa com desculpas — disse a Imperatriz.
— Mas se eu não me desculpar primeiro, como o Grande Ancião saberá quais são minhas intenções? Ele pode pensar que ainda guardo algum tipo de rancor contra el…
— Eu disse, pare de ser esquisito! — a Imperatriz interrompeu Gravis novamente. — O que é todo esse raciocínio convoluto e desnecessário!? Apenas siga sua personalidade e aja como quiser. O que acontecer, aconteceu!
Agora foi a vez de Gravis ficar frustrado. Ele conhecia todos esses conceitos de psicologia e sabia o método mais eficaz para eliminar qualquer dúvida que pudesse restar. Ainda assim, a Imperatriz disse que tudo isso era desnecessário.
Para Gravis, essa situação parecia a de um pai explicando para seu filho sobre dois Clãs em guerra, enquanto a criança respondia apenas com: “mas brigar não ajuda ninguém! Por que eles simplesmente não param?”. Havia muitos motivos complexos e interligados por trás da situação para que tivesse uma solução tão fácil.
No entanto, de repente, os olhos de Gravis se arregalaram em realização. “Eu esqueci, essas são bestas, não humanos. Elas agem de forma muito mais simples. Claro que elas também não guardariam rancor escondido sem deixar transparecer. Algo tão sorrateiro e avesso ao confronto é coisa de humanos. Talvez, eu esteja mesmo errado ao complicar uma situação simples?”, Gravis pensou consigo mesmo, coçando o queixo metálico.
A Imperatriz e o macaco branco ficaram confusos com o súbito silêncio de Gravis e sua expressão pensativa. Pelo menos, eles achavam que era uma expressão pensativa; na verdade, seu rosto parecia mais o de alguém com uma súbita necessidade de ir ao banheiro.
— Você está certa — Gravis transmitiu para os dois. — Eu compliquei demais a situação e a tornei mais complexa do que necessário. Vou mostrar como sou através das minhas ações.
O macaco branco ficou confuso novamente, enquanto a Imperatriz olhou para Gravis com os olhos semicerrados.
— O que eu acabei de dizer? — a Imperatriz perguntou seriamente.
— Que eu devo deixar minhas ações falarem em vez de ficar me desculpando. É por isso que não pedi desculpas agora — Gravis respondeu.
— Não, não foi isso que eu disse — a Imperatriz transmitiu de volta, com um pouco de irritação.
— Eu disse, pare de ser esquisito! — ela transmitiu novamente, frustrada.
Gravis rangeu os dentes. — Como isso foi esquisito!? Eu fiz exatamente o que você disse! — ele transmitiu de volta, irritado.
— Sim, isso é estranho! Sua personalidade e comportamento continuam mudando o tempo todo! Isso é esquisito! — respondeu a Imperatriz, com raiva.
— Bom, bestas podem errar — Gravis respondeu, cruzando os braços. — Eu apenas vi o erro nos meus caminhos e me adaptei. Qual é o problema com isso? — Gravis perguntou.
Agora foi a vez da Imperatriz ranger os dentes. — O problema é que mudar sua personalidade e princípios não é assim tão fácil! Você não pode simplesmente ouvir algumas palavras e mudar imediatamente como pensa! — ela transmitiu de volta.
— Posso, sim — Gravis respondeu secamente.
A Imperatriz esperou que Gravis dissesse mais alguma coisa, mas isso não aconteceu, o que a irritou ainda mais. — Não, não pode! — ela transmitiu de volta, levantando-se de seu trono.
— Bom, eu acabei de fazer isso — respondeu Gravis.
A Imperatriz ficou remoendo sua irritação por um tempo. O macaco branco observava a situação e suspirou. Fazia tempo que não via a Imperatriz agir de forma tão impulsiva. De alguma forma, aquele mero Lorde conseguia provocar uma reação tão intensa na Imperatriz, mesmo que ela pudesse matá-lo com um mero pensamento.
Após algum tempo, a Imperatriz se sentou novamente e suspirou, sem esconder desta vez. Simplesmente não conseguia mais se incomodar com aquilo. — Sabe — ela transmitiu para Gravis. — Nunca encontrei uma besta tão irritante e frustrante como você.
Gravis fez uma careta como se tivesse acabado de ouvir algo absurdo. — Como sou irritante? Só estou aprendendo e me adaptando. Você não deveria ficar feliz com a minha disposição para mudar?
A Imperatriz gemeu ao ouvir isso. Só queria que toda essa situação terminasse.
Ou, pelo menos, era o que ela pensava. Na realidade, sentia-se bem por dentro. O comportamento incomum de Gravis havia dissipado as nuvens cinzentas da monotonia aparentemente infinita de sua vida. Ela estava sempre ali, na montanha, apenas tentando compreender Leis. Após tanto tempo, finalmente conseguia liberar e extravasar algumas de suas emoções.
Claro, ela não queria admitir isso para si mesma. Admitir que gostava de ser incomodada a faria se sentir ainda mais estranha do que Gravis. Essa era uma das grandes razões pelas quais não o matava. Achava que queria que aquilo terminasse, mas, na verdade, não queria que a conversa acabasse.
— Então — Gravis transmitiu lentamente após vários segundos de silêncio. — Sobre aquele quarto oponente…
A Imperatriz inspirou profundamente, fechando os olhos enquanto tentava se acalmar.