A Imperatriz suspirou, algo que já havia feito algumas vezes nos últimos cinco minutos. Durante esse tempo, Gravis apenas olhou para o vazio. No início, a Imperatriz pensou que ele estava olhando para ela, mas seus olhos estavam desfocados, deixando claro que ele apenas fitava o espaço sem rumo.
A Imperatriz não era burra, e embora nunca tivesse sentido esse tal de amor antes, ainda conseguia se compadecer. Para Gravis, aceitar essa situação provavelmente era como ouvir que ele teria que abandonar seu caminho rumo ao poder. Por isso, a Imperatriz conseguia entender o que ele estava passando.
— Me desculpe, Imperatriz — Gravis disse após esses cinco minutos. Surpreendentemente, sua voz soava firme. — Preciso de um tempo para mim mesmo. Eu falo com você mais tarde, tudo bem?
A Imperatriz assentiu. — Tudo bem. Você agora faz parte do meu Império. Tire todo o tempo que precisar. Meus reprodutores podem visitar minha Montanha do Orgulho sempre que quiserem — ela explicou.
Gravis assentiu. — Obrigado.
Em seguida, ele deixou a Montanha do Orgulho, voando em uma direção aleatória. Depois de alguns quilômetros, Gravis parou. Quando parou, apenas franziu a testa enquanto olhava para o chão com os punhos cerrados. Então, ele ergueu o olhar para o céu, seus olhos queimando de raiva.
Quem decidiu essa regra?
Obviamente, foi o Céu, e o Céu era um ser consciente. Tinha um objetivo ao alcançar todas essas coisas, e as regras permitiam isso. Ainda assim, se houvesse um modo melhor de atingir seu objetivo, mudar suas próprias regras não seria um problema. O Céu estabeleceu as regras, e também poderia alterá-las.
O quê, só porque todos os outros também tinham que seguir essas regras isso tornava tudo justo? Não é assim que o mundo funciona! Regras sempre são decididas por uma parte mais poderosa e usadas para atingir algum objetivo.
Para os mortais, essas regras geralmente existem para permitir que vivam juntos, mas não é o caso dos cultivadores. O Céu tinha seu objetivo ao criar essas regras, e só porque era mais poderoso agora, Gravis deveria simplesmente aceitar essas regras? De jeito nenhum!
Regras podiam ser inerentemente injustas e desiguais, mesmo que todos tivessem que segui-las. Dizer que uma regra é justa só porque todos estão no mesmo barco apenas mostra a fraqueza de vontade da pessoa.
Gravis não era uma besta. Era um humano! Humanos tinham uma relação completamente diferente com seus filhos em comparação às bestas. Se Gravis não fosse humano, não teria problemas com essa regra. Afinal, toda a sua personalidade seria diferente.
No entanto, como Gravis era humano, essa regra se tornava um grande problema. O fato de essa regra ser um problema para ele já mostrava que algo estava errado.
Então, o fato de todas as outras bestas seguirem essa regra não significava que era justo impor isso a Gravis também! Ele estava certo de que conseguiria convencer o Céu a mudar essa regra em relação a ele.
Gravis tinha uma moeda de troca. Sua moeda era seu potencial e sua vantagem inata contra o Céu. O Céu podia ignorar todas essas outras bestas, já que elas nunca poderiam matá-lo, mas Gravis era diferente. Ele tinha o poder de matar o Céu! Afinal, já havia feito isso uma vez.
Gravis nunca aceitaria essa regra! Ele era um humano, não uma besta! Não se importava que todas as outras bestas tivessem que segui-la!
— Céu — Gravis disse, seus olhos cheios de fúria — eu sou humano, não uma besta. Você sabe disso. O Céu Supremo também observa, e também sabe que sou humano. Essa regra não deveria se aplicar a mim — Gravis disse.
— Claro — Gravis continuou — não serei hipócrita e exigirei as recompensas enquanto ignoro as consequências. Não me importo se você não me conceder essa Lei extra ou me der qualquer outra vantagem que as bestas têm sobre os humanos. Os humanos têm suas próprias regras, e estou disposto a segui-las.
— Pode tirar o controle sobre o tamanho do meu corpo. Isso é algo que só posso fazer porque estou dentro de um corpo de besta. Aceito que você tire todas essas coisas.
— Eu sou um humano! — Gravis gritou. — Apenas habito o corpo de uma besta, e você sabe disso! Em comparação ao Céu inferior que matei, você não demonstrou má conduta até agora. Você se manteve fora da minha vida, e não tenho motivo para ir contra você.
— Sei que nem todos os Céus são iguais. Assim como as pessoas, diferentes Céus têm personalidades diferentes. Não vou simplesmente me voltar contra você por algo que um de seus colegas fez comigo. Mantenha suas regras e recompensas para bestas longe de mim, e deixarei este mundo sem fazer nada contra você ou seu mundo no futuro — Gravis disse.
— Mas — Gravis disse, sua voz se transformando em uma raiva profunda — se você me obrigar a passar por essa provação, não deixarei este mundo até que você esteja morto!
Gravis esperou um minuto, mas não obteve resposta.
Então, ele soltou um suspiro. — Espero que você não cometa o mesmo erro de seu colega. Não sou uma besta, e essas regras ou recompensas não deveriam me considerar de qualquer maneira. Sou apenas um humano cultivando em seu mundo, então me trate como tal.
Após essa última frase, Gravis olhou ao redor até encontrar uma montanha desabitada. O Império era gigantesco, e Gravis poderia provavelmente habitar o que quisesse com seu status. No entanto, ele resolveria essa questão de seu status em breve.
Gravis odiava a hipocrisia, e se aproveitasse de seu status como reprodutor sem cumprir suas obrigações, sentiria vergonha de si mesmo. Mas, agora, ele simplesmente não se importava. Toda essa situação o enfurecera demais. Ele precisava de um tempo para si mesmo para colocar suas emoções em ordem.
Após cavar um buraco na montanha, Gravis sentou-se e fechou os olhos. Respirou fundo para se acalmar. Não precisava respirar com seu poder, mas respirar profundamente ainda ajudava a acalmar sua mente.
“Não seguirei essas regras!” Gravis pensou. “Mesmo se eu perder a capacidade de controlar meu tamanho e tudo mais que uma besta pode fazer, não vou me importar. Mesmo se eu me tornar uma anomalia neste mundo e precisar lutar contra todos, ainda assim não aceitarei essas regras!”
“O Céu tem um objetivo, e vejo a eficácia de suas regras. Sem essa regra, não haveria nem de longe tantas bestas. Ainda assim, não sou uma besta. Estou disposto a abrir mão de todas as vantagens. O Céu não é burro e sabe que seria uma decisão horrível colocar sua própria vida e mundo em risco por meros três filhotes de Bestas Divinas.”
Dois dias se passaram enquanto Gravis tentava colocar suas emoções em ordem. No entanto, mesmo estando absolutamente certo de que o Céu não imporia suas regras sobre ele, ainda havia uma inquietação profunda dentro dele. Sempre havia a chance de que esse Céu fosse outro idiota como o Céu Inferior.
Exercer poder supremo sobre um mundo inteiro por sabe-se lá quantos anos às vezes tornava pessoas e bestas cegas para o perigo e a razão. Além disso, esse poder supremo podia também distorcer suas crenças até acharem que eram infalíveis, e tudo que faziam era justo e correto. Gravis esperava que esse Céu não tivesse perdido sua cabeça cheia de olhos enquanto tentava enfiá-la o mais fundo possível em seu próprio rabo.
Ainda assim, mesmo pensando tudo isso, ele ainda sentia uma profunda sensação de opressão. Ele havia sentido isso quando o Rei Vermelho apareceu e durante seu tempo no Reino Vermelho. Surpreendentemente, embora Gravis fosse praticamente forçado a seguir as regras do Império, não sentia uma sensação de opressão vinda da Imperatriz.
As regras do Império faziam sentido, e Gravis não tinha problemas em segui-las. Além disso, ele sempre poderia partir se decidisse. No entanto, a sensação de ter essa regra horrível pairando sobre sua cabeça o fazia sentir-se tão oprimido quanto quase nunca antes.
A única vez que ele se sentira tão oprimido foi quando chegou ao mundo inferior. Naquela época, o Céu Inferior fez de tudo para matá-lo enquanto ele estava quase indefeso. Agora, pelo menos, ele tinha o poder de negociar com o Céu.
Infelizmente, isso não tornava a situação mais fácil de aceitar. Gravis ainda sentia como se um poder mais forte estivesse forçando-o a passar por algo que não queria.
Gravis odiava essa sensação de ser oprimido!
Ele odiava isso demais!