Gravis manteve um olhar atento sobre seus filhos em desenvolvimento enquanto os anos passavam. No começo, esses ovos não lhe pareciam diferentes de qualquer outra besta. Contudo, com o tempo, Gravis começou a construir uma conexão com eles.
No início, ele não sentia verdadeiramente que aqueles eram seus filhos, mas Gravis continuava dizendo para si mesmo: — Esses são meus filhos — repetidamente. Ele continuava a afirmar isso para si enquanto via o lento desenvolvimento deles através dos ovos transparentes.
Conforme o tempo passava, ele começou a sentir algo por eles. Uma sensação próxima de parentesco surgiu, e Gravis experimentou sentimentos que nunca havia sentido antes. Para ele, aquilo era quente e suave. Apenas observar o crescimento dessas pequenas criaturas era algo atraente e interessante para ele. Era como se não conseguisse prestar atenção em mais nada.
No quarto ano, eles começaram lentamente a desenvolver características semelhantes às de Gravis. Suas escamas ainda não haviam aparecido, mas o formato geral de seus corpos começou a refletir o de Gravis. Pequenos braços, pequenas pernas e pequenas caudas começaram a aparecer em seus corpos ao longo do tempo.
No sexto ano, essas pequenas criaturas começaram a se mover um pouco de tempos em tempos. A essa altura, Gravis já havia percebido que aquelas pequenas coisas eram três vidas frágeis que existiam apenas por causa dele e da Imperatriz. Ele havia criado esses pequenos bebês, assim como seu pai e sua mãe haviam criado ele.
— Será que estou realmente pronto para ser pai? — Gravis perguntou a si mesmo com incerteza. À medida que sua conexão com aquelas pequenas criaturas se fortalecia, ele começou a ficar nervoso. E se cometesse um erro? E se não fosse capaz de guiá-los corretamente? E se, sem querer, os machucasse?
Aquelas eram suas crianças, e crianças geralmente eram mais importantes do que a vida dos pais. A essa altura, Gravis começou a pensar que parar de cultivar para ter uma família talvez não fosse uma coisa tão ruim afinal.
Sim, Gravis ainda não havia atingido seu objetivo, e ele ainda queria alcançar a verdadeira liberdade, mas, se tivesse que fazer uma escolha, ele já não saberia mais o que escolher. Pensar em estar diante de tal escolha o machucava imensamente, e ele tentava se distrair sempre que sua mente vagava para esse pensamento.
“Eu só preciso ficar com eles até que possam se sustentar por conta própria. Quando lhes contar sobre meu problema no futuro, tenho certeza de que poderão entender meu ponto de vista. Não preciso escolher entre meus filhos e o cultivo. Com tempo suficiente, posso ter os dois”, Gravis pensou consigo mesmo.
A essa altura, Gravis já não observava o desenvolvimento de seus filhos com a intenção de compreender uma Lei da Vida. No momento, ele os observava apenas porque se sentia próximo deles. Ele simplesmente queria ver o crescimento de seus filhos. Gravis até prestava apenas atenção parcial ao OMC1, pois toda a sua mente estava ocupada observando seus bebês em desenvolvimento.
Quando Gravis percebeu sua mudança de mentalidade, suspirou e olhou para o céu. “Meu pai me disse que o Céu criou esses sentimentos de proximidade apenas para que eles nos impulsionem ao poder quando perdermos nossos entes queridos. Ainda assim, não estou eu considerando abandonar meu caminho exatamente por essa razão?”
“Talvez minha mãe estivesse certa. Talvez, quando o Céu inicialmente criou o Mundo Mais Alto, ele tivesse uma razão diferente. Talvez se sentisse sozinho em seu mundo e traído. Talvez só quisesse criar seres que genuinamente se importassem uns com os outros”, Gravis refletiu consigo mesmo.
As intenções do Céu mais elevado eram um mistério, e nem mesmo seu pai conseguira compreender todos eles. Só era possível discernir coisas sobre o Céu com base no que ele mostrara. Infelizmente, o Céu mais elevado se mantinha em silêncio a maior parte do tempo, tornando quase impossível aprender algo sobre ele.
Nem todo mundo era uma pessoa boa, e nem todo mundo era uma pessoa egoísta. Alguns humanos genuinamente estavam prontos para sacrificar suas vidas por pessoas em necessidade, mesmo que não as conhecessem, mas alguns humanos também matariam seu parente mais próximo por um pouco de ouro. Os humanos existiam em todas as formas, tamanhos e cores.
O Céu seria semelhante aos humanos? Só porque quase todos acreditavam na justiça do Céu, isso automaticamente significaria que ele era justo? Só porque seu pai acreditava que o Céu era um ser maligno e egoísta, isso automaticamente significaria que ele era egoísta e maligno?
Os humanos muitas vezes agiam de maneira diferente do que acreditavam ser. Havia pessoas no mundo que se consideravam bondosas e boas, mas estariam dispostas a matar alguém apenas se olhasse em sua direção.
Ainda assim, alguns humanos se viam como maus, mas, ao se depararem com uma oportunidade de matar alguém por riqueza, encontrariam uma justificativa para não pegar a riqueza. Talvez dissessem que não precisavam da riqueza de alguém tão fraco? Talvez dissessem que era indigno matar alguém assim?
O Céu seria semelhante? Talvez o Céu realmente acreditasse que só queria a maior quantidade de Energia possível e agisse dessa forma. Talvez o Céu realmente tivesse o poder de matar seu pai, mas decidiu não matá-lo devido à sua atração por Energia. Pelo menos, talvez fosse isso que ele acreditava sobre si mesmo.
Talvez, na verdade, o Céu não quisesse matar seu pai, pois ele era o único ser que estava em seu nível. Havia uma chance real de que o Céu simplesmente não quisesse ficar sozinho, assim como muitos outros humanos. Talvez ele tivesse criado os humanos dessa forma porque se sentia sozinho?
Gravis suspirou novamente e balançou a cabeça. “Pensar nisso é inútil. Talvez eu esteja simplesmente projetando minha própria maneira de pensar sobre um ser que não posso entender.”
No sétimo ano, Gravis só prestava atenção aos seus filhos. No momento, ele não se importava com seu iminente avanço para o Reino de Nutrição Nascente nem com seu progresso na compreensão de mais Leis. Enquanto o caminho de seus filhos não estivesse seguro e claro, Gravis não se importaria com mais nada.
“Será que é realmente ruim construir laços?” Gravis perguntou a si mesmo. “Meu progresso estagnou, mas meus dias têm sido tão coloridos e alegres como nunca antes. Toda vez que os vejo se mover, sinto essa vontade de observar, abraçar e protegê-los.”
Gravis continuava olhando para os ovos. Agora, as três pequenas vidas lá dentro pareciam quase idênticas a ele. A única coisa que faltava eram suas escamas, que ainda não haviam aparecido completamente. No entanto, pequenas coisas começaram a crescer por toda a pele deles. Gravis tinha certeza de que essas pequenas coisas se tornariam suas escamas no futuro.
Gravis se via como humano, e seus filhos não pareciam humanos de forma alguma, mas isso não impedia o amor de Gravis por eles. A essa altura, ele já havia percebido que seus filhos eram puramente bestas. Não havia o menor sinal de uma vontade ou Espírito desenvolvido dentro deles.
Sentir um Espírito ou vontade não era nada difícil para alguém tão poderoso quanto Gravis. Isso mostrava a ele que seus filhos não tinham nada de humano neles. Ainda assim, isso era algo ruim? Não, não era. Em termos de personalidade, Gravis concordava mais com as bestas do que com os humanos. Importava se seus filhos eram bestas e não humanos?
Gravis não acreditava que isso importava. Não importa como eles se parecessem ou como agissem, eles seriam seus filhos. Ao pensar nisso, Gravis também percebeu por que seu pai ainda mantinha contato com seus irmãos mais mimados e arrogantes.
Para Gravis, não importava se esses irmãos morressem ou não, mas isso não era verdade para seus pais. Assim como Gravis havia observado seus filhos, seus pais haviam observado seus filhos. Na mente de Gravis, mesmo que seus filhos se revelassem bestas que ele não gostasse nem um pouco, ele ainda os amaria e os consideraria como seu próprio sangue.
“Ainda assim, isso é bom?” Gravis pensou com incerteza. “Se um deles se tornar alguém que oprime os outros e se apoia em meu amor e boa vontade para suprimir boas bestas, será que é realmente certo eu apoiá-los então?”
Normalmente, Gravis teria dito imediatamente que fazer isso só corromperia as crianças e que seria hipócrita. Contudo, no momento, Gravis só queria que seus filhos fossem felizes. Seria realmente tão errado favorecer aqueles que eram os seres mais próximos de sua vida?
BZZZZ!
Seu Raio não gostou nem um pouco desses pensamentos. Gravis sentiu-se ficando cada vez mais irritado consigo mesmo à medida que continuava a pensar. O Raio desejava justiça e honestidade, e esses pensamentos não eram nem justos, nem honestos.
Depois de alguns minutos, Gravis se acalmou novamente e soltou mais um suspiro. — Talvez seja melhor assim. Acho que meu amor pode ter me cegado. Se eles estiverem determinados a se tornarem realmente poderosos, agirei de acordo com meu Raio. Mimar eles só prejudicaria o caminho deles no futuro.
— Mas, se quiserem viver em paz, os levarei a um lugar onde não precisem se preocupar com lutas — disse Gravis para si mesmo.
Seu Raio concordava com essa resposta.
Nota:
[1] Organismo de Mutação Constante.