Gravis nunca tinha ouvido falar do baluarte antes. Por definição, um baluarte era uma parede defensiva ou uma posição fortificada. Parecia mais que baluarte se referiria a uma linha de defesa, mas aparentemente não era isso.
— É uma linha de defesa feita de plantas — respondeu Ferris.
Gravis piscou algumas vezes. — Eu estava me perguntando por que vi tão poucas plantas poderosas. Elas estão todas nesse baluarte? — perguntou.
— A maioria, sim — respondeu Ferris. — As plantas não podem realmente se mover, o que torna difícil para elas sobreviverem em muitas áreas. As bestas que lutam contra uma planta e sentem que vão perder simplesmente fogem, e a planta não pode fazer nada. Isso torna difícil para as plantas conseguirem alimento e se tornarem mais poderosas.
— Então, como esse baluarte se formou? — perguntou Gravis.
— Nossos ancestrais o criaram — respondeu Ferris com sua empolgação habitual. — Estamos lutando contra as bestas marinhas desde sempre, e manter as linhas defensivas exige muuuuuitas bestas. Então, decidiram criar uma linha defensiva composta apenas por plantas. Assim, podemos enviar mais bestas para outros lugares.
Gravis assentiu. — Faz sentido. Onde fica esse baluarte? — perguntou.
— No centro do mundo — respondeu Ferris. — Um terço de nossa área perto do Grande Lago é protegido pelo baluarte, e nós cuidamos do restante.
— Grande Lago? O que é isso? — perguntou Gravis.
Ferris ficou um pouco surpreso. — Você não sabe o que é o Grande Lago? Que estranho! Todo mundo sabe — disse Ferris.
Gravis suspirou. — Apenas me conte, Ferris — disse ele, desamparado.
— Claro — respondeu Ferris com um sorriso. — O Grande Lago é o próprio centro do mundo. Tem cerca de 200 mil quilômetros de largura, abrangendo todo o núcleo do mundo.
Gravis franziu a testa. — Achei que nós, bestas terrestres, fôssemos mais poderosas que as bestas marinhas. Como o território mais importante é completamente submerso? Não deveria ser 75% terra e 25% mar? — perguntou Gravis.
— Depois que você deixa o Grande Lago, a terra e o mar são distribuídos assim, sim, mas o Grande Lago em si não conta — respondeu Ferris.
— Por que simplesmente não transformamos esse território em terra, se somos mais poderosos? — perguntou Gravis.
— Os Errantes vivem lá — respondeu Ferris simplesmente. — Eles gostam de água.
Agora, tudo fazia sentido. Gravis lembrou-se das imponentes e incrivelmente poderosas ‘vacas’ que tinha visto da Montanha do Orgulho. Na verdade, ao olhar para o norte, ele ainda podia vê-las daqui. Esses Errantes eram tão gigantescos que só um Imperador de nível cinco com uma Lei de nível três conseguiria matar um deles, e havia dez!
Gravis estava muito mais distante do centro do continente do que quando estava na Montanha do Orgulho. Ainda assim, os Errantes eram grandes demais. Essa distância só os fazia parecer um pouco menores.
Obviamente, se as bestas terrestres tentassem fazer algo contra o Grande Lago, um Errante poderia se ofender e simplesmente matá-los.
— Bestas marinhas vivem no Grande Lago? — perguntou Gravis.
— Está cheio delas! — respondeu Ferris. — É a sede deles, e seus Supremos também vivem lá.
— Os Errantes não se importam? — perguntou Gravis.
— Nah, eles não ligam para nada disso. Desde que você não seja uma ameaça para eles, não toque na água deles ou não os ataque, eles simplesmente ignoram você. Teoricamente, você poderia até sentar em um deles, mas ninguém tem coragem de brincar com a própria vida assim — explicou Ferris.
“Os Errantes parecem bastante passivos”, pensou Gravis. “Embora faça sentido. Afinal, os Errantes não estão lá para matar bestas, mas para serem mortos por elas. Se fossem agressivos, isso contrariaria todo o propósito.”
— O baluarte deve ser poderoso se pode defender um território tão forte, certo? — perguntou Gravis.
— Super poderoso — respondeu Ferris, acenando freneticamente. — Um dos nossos Supremos é uma planta e vive lá.
— Um dos nossos Supremos é uma planta? — perguntou Gravis, chocado.
— Sim, mas como as plantas estão do nosso lado, esse Supremo conta como um dos nossos. O Baluarte é o Império dela! — disse Ferris.
“Ela? Plantas têm gênero?” pensou Gravis. “Talvez se atribuam gêneros assim que se tornam Lordes ou algo assim? Não sei. Sei quase nada sobre plantas.”
— Falando nisso, como as plantas aprendem Leis? — perguntou Gravis. Se a Imperatriz Planta era uma Suprema, isso significava que ela ainda não conhecia uma Lei de nível três. As plantas também precisavam compreender Leis?
— Elas meio que aprendem, e meio que não — disse Ferris, com uma voz incerta enquanto coçava a orelha novamente.
— Pode explicar melhor? — perguntou Gravis.
— Bem — disse Ferris — as plantas não saem por aí compreendendo Leis. Elas meio que aprendem suas Leis automaticamente com a idade e nutrição suficientes. Vem automaticamente.
— Isso é interessante — disse Gravis enquanto coçava o queixo. — Quanto tempo viveu a Imperatriz Planta para se tornar tão poderosa? — perguntou.
— Uns 50 mil anos ou mais — respondeu Ferris.
Os olhos de Gravis se arregalaram. — Mas Imperadores só têm uma longevidade de 10 mil anos! — disse ele, chocado.
Agora, foi a vez de Ferris se surpreender. — Temos!? Eu não sabia disso! — exclamou.
Que besta poderia viver 10 mil anos em um Mundo Natural? Por causa disso, quase nenhuma besta sabia a longevidade dos Imperadores. Gravis só sabia disso porque Orfeu lhe dissera.
— A Imperatriz Planta é mesmo tão velha? — perguntou Gravis.
Ferris esqueceu seus pensamentos sobre sua própria longevidade enquanto era distraído pela pergunta de Gravis. — Sim, mas não fale assim. A Imperatriz não gosta de ser chamada de velha.
— Mas ela é literalmente o ser mais antigo do mundo! — disse Gravis. — Como não é velha!?
— Ela é, mas não gosta de ouvir isso — disse Ferris. — É melhor ter cuidado com as palavras quando chegarmos ao baluarte.
Gravis gemeu diante da situação. Isso não fazia sentido. O ser mais antigo do mundo não gostava de ser chamado de velho. — Certo, Ferris — disse ele, sem ânimo.
— Ótimo! — disse Ferris animado. — Primeiro, vamos voltar ao Império Orgulho Gélido. O baluarte não conta como nossa Área de Compreensão de Leis, então devemos pedir à Imperatriz primeiro.
Gravis sorriu, mas não pelo motivo que se poderia imaginar. Gravis sorriu por causa de Ferris. Ferris havia compreendido uma Lei de nível dois e uma de nível três nos últimos quatro anos. Isso significava que seu poder real provavelmente era ainda maior que o do Grande Ancião. Ele poderia até lutar contra a Imperatriz.
No entanto, nem sequer passava pela cabeça de Ferris se tornar arrogante ou agressivo com nenhum deles. Ele simplesmente aceitava que devia pedir à Imperatriz primeiro. Isso dizia muito sobre a personalidade de Ferris.
— Combinado — disse Gravis. — Vamos!
E com isso, Gravis se despediu da Área de Compreensão de Leis onde havia passado os últimos quatro anos. Ele aprendeu muito sobre materiais aqui e também conseguiu descobrir a categorização para uma poderosa Lei de nível quatro.
Esta foi a primeira Área de Compreensão de Leis onde Gravis realmente focou em entender mais Leis. Na Área de Compreensão de Leis para o Raio de Punição, Gravis não focou nas Leis. Estava ocupado fortalecendo sua Aura de Vontade.
Ainda assim, este foi apenas o primeiro destino de Gravis.
Próxima parada: o baluarte!