Se ela tivesse reagido assim algumas horas atrás, Gravis ficaria surpreso. Mas, a essa altura, ele já tinha uma boa compreensão da personalidade dela. O jeito direto de falar não era com intenção de agressão. Gravis imaginava que ela provavelmente falava essas coisas, metade como piada e metade a sério.
Ele também deduzia que a Planta Suprema provavelmente estava entediada de ver todas as bestas rastejando à sua volta. Todos a procuravam com reverência, e ver esse comportamento o tempo todo provavelmente a entediava até a morte. Gravis conseguia simpatizar com esse sentimento.
— Certo — disse a Planta Suprema, agora mais calma. — Pode compreender o quanto quiser, mas eu quero mais experiência de combate com uma arma antes.
Gravis sorriu e assentiu. — Isso parece bom, mas antes de começarmos, preciso te mostrar todas as armas que os humanos usam.
A Planta Suprema queria saber como Gravis sabia de todas essas coisas, mas se ele não queria contar, ela não perguntaria. Gravis havia provado seu poder, e ela podia respeitar isso.
Ao longo do dia seguinte, Gravis mostrou a ela vários tipos de armas e como usá-las. Ele tinha mais experiência com o sabre, mas também aprendera a usar outras armas em seu mundo natal. Além disso, ele já havia visto todos os tipos de armas ao lutar contra outros humanos.
Durante esse tempo, Gravis também aprendeu o nome da Planta Suprema. O nome dela era Meadow, e ela preferia que Gravis a chamasse assim. ‘Planta Suprema’ soava distante e formal demais para ela.
Meadow se sentia mais confortável com uma lança e um escudo. Plantas estavam muito sintonizadas com a terra, e talvez fosse por isso que ela também se sentia mais à vontade com a combinação de armas usada por cultivadores da terra.
Então, Meadow e Gravis lutaram por várias horas. No começo, Gravis vencia as batalhas rapidamente, mas, assim como nas lutas anteriores, a experiência de combate de Meadow com as armas crescia numa velocidade surpreendente.
No final, as lutas duravam mais do que os combates puramente físicos, mas Gravis ainda saía vitorioso. Mesmo com armas, não se podia esquecer das outras “armas” de Gravis. Em um combate entre usuários de armas, não se tratava apenas das armas; chutes, socos, empurrões e ataques semelhantes também eram relevantes, e quando se tratava desses ataques, Gravis podia contar com suas garras.
Quando Meadow perguntou por que simplesmente não conseguia vencê-lo, Gravis decidiu contar sua história. Meadow se mostrara bastante direta e honesta. Além disso, Ferris tinha talento para encontrar seres confiáveis. Ferris havia dito que Meadow era uma boa pessoa, e isso se mostrou verdadeiro, mesmo que o jeito dela de ser ‘boa’ não fosse o convencional.
Ao ouvir uma versão resumida da história de Gravis, ela entendeu por que não podia vencer. Gravis basicamente havia criado uma versão aprimorada do corpo humano. Seu corpo tinha as mesmas forças de um corpo humano, mas eliminava todas as desvantagens. Seu corpo era simplesmente melhor.
Se eles usassem apenas combate físico, não havia como ela vencer com um corpo igualmente poderoso. Foi então que as Leis entraram em cena. Todo ser alcançaria seu máximo potencial com o corpo em algum ponto, e não era possível ultrapassar 100% da capacidade do corpo. Foi por isso que as Leis se tornaram tão importantes.
Meadow não precisava de experiência de combate com suas Leis. Por isso, eles não começaram a lutar usando-as. Mesmo assim, Meadow estava bem satisfeita com tudo que ganhou.
Se ainda fossem Bestas Espirituais ou mais fracas, um período tão prolongado de sparring poderia ter enfraquecido seu senso de perigo. Porém, tanto Gravis quanto Meadow haviam lutado tantas vezes com suas vidas em risco no passado que essa sessão de sparring não teve efeito adverso neles. Quando alguém fazia algo por um longo tempo, nunca perdia seu ‘fio da navalha’.
— Pronto, acho que isso cobre tudo — disse Meadow. — Você foi de grande ajuda e não é um zé buceta como todas as outras bestas. Gosto disso! Pode aprender o quanto quiser sobre plantas e madeira.
Gravis assentiu. — Valeu — disse ele.
Então, uma discussão surgiu sobre o porquê de Gravis ter agradecido, e terminou com Gravis dizendo que gostava de agradecer aos outros. Meadow apenas respondeu — Eca, não me infecte com essa merda de covardes — e voltou ao seu lugar habitual. Seu enorme corpo afundou no solo, deixando visível apenas a flor acima do chão.
Gravis apenas sorriu e se virou para Ferris. — Certo, podemos começar agora.
— Ei ei ei, você tá surdo ou algo assim? — perguntou Meadow de repente. — Eu disse que você pode compreender as Leis, mas o seu brinquedinho aí não.
Gravis suspirou e se voltou novamente para Meadow. — Sério? Você realmente vai ser suja assim comigo? — perguntou, seu jeito de falar obviamente influenciado por Meadow.
— Sim, vou fazer exatamente isso. O que você vai fazer a respeito? — respondeu Meadow com um sorriso presunçoso.
Gravis coçou o queixo, pensativo.
— Gravis, tá tudo bem — disse Ferris. — Eu não preciso compreender plantas.
— Ferris! — Gravis disse com leve agressão — Você está gastando seu tempo me acompanhando! Não posso deixar você desperdiçar seu tempo assim! Precisa ao menos compreender algo!
Ferris coçou a orelha desconfortável, mas decidiu permanecer em silêncio.
— Ei, Meadow — disse Gravis.
— Fala aí — ela respondeu.
— Tenho algo que pode te interessar — disse Gravis com um sorriso.
— Ah é? O que você poderia ter que me interesse? Você é só um Rei de Nível Três fraco pra cacete — disse ela.
— Que tal uma Planta Lorde que você nunca viu antes? — ele perguntou.
— Cara, eu não conheço todas as plantas deste mundo. Isso não é difícil de fazer — respondeu Meadow.
— Não me refiro a uma planta específica — disse Gravis com um sorriso. — Estou falando de uma espécie, uma espécie de planta que você nunca viu antes.
— Pfft — bufou Meadow. — Como se você tivesse algo assim. Porra, eu não sou rápida, mas já rodei o mundo inteiro. Vi todos os tipos de plantas que existem. Vá vender sua porcaria em outro lugar.
Gravis continuou sorrindo. — Essa planta não é deste mundo — disse ele.
— Espera, o quê? — perguntou Meadow. — Isso significa que essa planta é do seu mundo natal? — ela perguntou.
— Exatamente — confirmou Gravis.
— Huh — murmurou Meadow, neutra. — Certo, se eu realmente não tiver visto a planta antes, seu brinquedinho peludo também pode observar minhas coisas.
BOOOOOOM!
As nuvens se abriram enquanto algo verdadeiramente gigantesco aparecia. Aquilo tinha quase mil quilômetros de largura, muito maior do que qualquer besta que Gravis já havia visto, exceto os Errantes. O que seria aquilo?
Este era o Fungo Comum!
Desde que Gravis dissolveu a Tribo do Rio, o Fungo Comum se tornara irrelevante. Gravis não podia alimentá-lo, pois precisava de toda a comida para si mesmo, e também não precisava cavar mais rios. Por isso, o Fungo Comum simplesmente crescia descontroladamente dentro de seu Anel da Vida.
Gravis manteve o Fungo Comum flutuando acima da floresta, já que ele não conseguia voar por si só. Plantas eram diferentes de bestas e humanos. Elas só podiam voar ao atingir o Reino Imortal. Afinal, era nesse estágio que podiam criar corpos humanos.
CRRRR!
Raízes gigantescas emergiram da floresta, agarrando o Fungo Comum. Em seguida, puxaram-no para o solo, enterrando-o completamente. — Isso é maneiro! — disse Meadow.
Gravis apenas sorriu. — Ele se chama Fungo Comum, pois é o fungo mais comum no meu mundo natal. Nome bem direto. Atualmente, ele está sob o controle do meu Artefato. Vou liberar esse controle, então ele pode decidir me atacar por vingança. Se não quiser que ele morra, não o deixe me tocar.
Whooop!
Gravis soltou o controle, mas nada aconteceu. Ele piscou algumas vezes. — Ele não quer me atacar? — perguntou Gravis.
— Ah, ele está se esforçando ao máximo para te atacar — disse Meadow. — Só que eu não estou deixando. Não quero que você quebre meu novo brinquedo!
— De qualquer forma — continuou Meadow — seu amiguinho também pode compreender plantas e madeira.
CRRRRR!
Um quarto da floresta desapareceu, mas foi rapidamente substituído por outra floresta. Havia todos os tipos de árvores, flores e plantas naquela área. Além disso, todas pareciam bem mais fracas do que antes.
— Substituí aquele quarto da floresta com todas as plantas e madeira que conheço. Você pode fazer o que diabos quiser com essa parte. Aproveite, mas não espere que eu fique corada como uma donzela se continuar me encarando com esses olhos lascivos — disse Meadow.
— Pfft, vai sonhando! — respondeu Gravis. — Acha que estou interessado em ter farpas no meu pau?
— Seu idiota! Depois de tudo o que fiz por você — retrucou Meadow, fingindo raiva.
Gravis apenas sorriu e fez sinal para Ferris segui-lo. A cauda de Ferris balançava animadamente enquanto ele seguia Gravis até a floresta recém-criada.
— Hora de entender algumas plantas — disse Gravis.