Gravis foi até a Montanha do Orgulho e parou diante da Imperatriz. — Estou pronto para ir — disse ele.
A Imperatriz assentiu. Então, virou-se para o Grande Ancião, que estava ao seu lado. — Deixo tudo sob sua responsabilidade — disse ela.
O Grande Ancião suspirou. — Eu abia que esse dia chegaria, mas ainda assim não estou ansioso por ele. Isso vai ser um fardo.
— Esse era o nosso acordo — disse a Imperatriz friamente.
O Grande Ancião suspirou novamente. — Eu sei, e vou cumprir minha palavra. Você me ajudou por séculos. Acho que agora é minha vez de ajudar você.
Gravis achou que o Grande Ancião estava fazendo tempestade em copo d’água. Ele só precisava supervisionar o Império por pouco mais de 50 anos.
— Vamos — disse a Imperatriz, virando-se para Gravis.
Então, pela primeira vez, a Imperatriz levantou-se de seu trono. Gravis nunca a tinha visto deixar o trono antes. Até parecia estranho vê-la flutuando.
Gravis também começou a flutuar, e então eles voaram em direção ao norte. A cauda da Imperatriz tinha mais de dez metros de comprimento, e movia-se graciosamente no ar atrás dela. Mesmo voando, ela emanava uma aura de realeza.
— Imperatriz, por que o Grande Ancião reagiu assim? São apenas pouco mais de 50 anos — disse ele.
— Não sou mais sua Imperatriz — disse ela.
Gravis ficou surpreso. — O quê? Por quê? — perguntou.
— Styr e eu nos conhecemos desde que éramos Reis, e nossas personalidades sempre foram compatíveis — disse a Imperatriz, iniciando uma longa explicação.
“Styr? Esse deve ser o nome do Grande Ancião”, pensou Gravis, mas ele não interrompeu a explicação da Imperatriz.
— Ambos tínhamos como meta alcançar o poder supremo e prometemos que o primeiro a se tornar Imperador fundaria um Império. O outro se tornaria o Grande Ancião desse Império.
— O Imperador assumiria a maior parte das tarefas administrativas e lideraria o Império, enquanto o Grande Ancião se concentraria principalmente em seu próprio poder. No entanto, assim que um de nós compreendesse uma Lei de nível três, trocaríamos de posição até que o outro também conseguisse compreender uma Lei de nível três ou morresse em batalha — explicou a Imperatriz.
— E você foi a primeira a se tornar uma Imperatriz? — perguntou Gravis.
Azure assentiu. — Poderia ter aumentado meu Reino mais devagar que ele, mas estava pensando no longo prazo. Esperava que ele entendesse uma Lei de nível três mais rápido que eu. Mesmo naquela época, ele já conhecia mais Leis do que eu. Eu simplesmente tinha Leis mais poderosas à disposição. Por isso achei que seria melhor se eu me tornasse a Imperatriz.
— Além disso, ter o poder para ascender mas não poder usá-lo seria pior do que ser uma Imperatriz e não ter os meios para ascender. Por todas essas razões, tornei-me voluntariamente a Imperatriz — disse Azure.
Mas então, ela franziu o cenho. — No entanto, parece que fui enganada — murmurou.
Pela primeira vez, Azure demonstrava frustração abertamente, sem esconder-se atrás de uma máscara de realeza. Ainda assim, Gravis gostava mais de vê-la agir de forma mais ‘humana’.
— O que quer dizer com enganada? — perguntou Gravis.
Azure bufou enquanto lançava um olhar de lado para Gravis. — Estou falando de você — disse ela com irritação.
— Eu? — Gravis perguntou, arregalando os olhos.
— Sim — disse Azure. — Sua perspectiva única sobre as Leis nos permitiu grandes avanços. É muito provável que eu aprenda o suficiente na Área de Compreensão de Leis dos Supremos para condensar minha primeira Lei de nível três após minha próxima luta.
— Fui Imperatriz por mais de um milênio, mas Styr provavelmente será Imperador do Império Orgulho Gélido por menos de um século. Parece que fui enganada — resmungou ela.
Gravis riu um pouco. — Então, eu não deveria ter aparecido? — perguntou.
Azure bufou novamente. — Você sabe o que eu quis dizer — disse ela.
De repente, ela se virou, esticando os braços e a cauda em um gesto de relaxamento. Gravis não estava acostumado a vê-la agindo assim.
— Mas hey, é bom finalmente voltar de verdade ao caminho do poder — disse ela com uma voz relaxada. — Esse fardo de ser uma Imperatriz finalmente se foi. Agora posso relaxar e me concentrar totalmente em mim mesma. Bem, exceto por algumas tarefas menores que ainda tenho que fazer.
— Você não imagina o quão estressante era manter essa máscara real o tempo todo — disse ela, exasperada. — Sempre agindo de forma fria e rígida. É entediante demais. Você acha que eu queria ficar naquele trono por tanto tempo?
Gravis nem conseguiu responder, pois Azure continuou desabafando.
— Dia após dia, eu tinha que revisar os relatórios das Áreas de Prole. Depois, checar o status da nossa força de elite. Em seguida, informar todos os Anciões sobre qualquer novo desenvolvimento. Então, preciso planejar nossa estratégia futura. E aí vêm todas essas outras bestas de outros Impérios querendo me conhecer.
— E depois há todos esses Imperadores insignificantes que querem acasalar comigo, mas eu não posso simplesmente mandá-los embora diretamente, já que isso prejudicaria nossas relações. Então, chega algum jovem promissor e irritante que se acha o maioral.
— O que eu não daria para que algum Imperador aleatório me desafiasse pelo trono. Seria uma mudança bem-vinda. Mas, todos os Imperadores de nível dois só queriam a posição de Grande Ancião, e Styr simplesmente os derrotava.
— Dia após dia, eu precisava ficar no Império para estar pronta para qualquer novo desenvolvimento. Aí veio toda essa questão dos espiões, que me irritou profundamente. E depois um Ancião vem pedir mais tempo na Área de Compreensão de Leis, e eu tenho que dizer que ele não fez o suficiente.
— Pelo menos, a cada 50 anos, eu ganhava um pouco de entretenimento com essa competição inútil de consortes. Claro, eu podia entender muito sobre a Vida, mas criei isso principalmente para me divertir. Há tão poucas lutas ao meu redor. Fiquei tão entediada que observei tudo à minha volta. Até sei o número de folhas nas árvores.
— No início, construí a Montanha do Orgulho para tentar entender a Lei do Orgulho, mas isso não durou mais de 200 anos. E então? Já compreendi praticamente tudo em meu Império que posso entender.
Azure resmungava enquanto se deixava levar pela frustração. Gravis apenas a observava com olhos arregalados. Azure estava realmente desabafando, e ele não estava acostumado a isso. Ele deveria dizer algo? Concordar com ela? Apenas deixá-la desabafar?
— Depois, com mais bestas, tive que reestruturar o espaço habitacional do Império e resolver disputas por territórios. Honestamente, deveria ter permitido que todos se matassem, mas isso não tornaria o Império estável. Sabe o quão irritante é quando algum novo…
Azure continuou desabafando, e Gravis apenas a escutava, ainda atônito com sua conduta frustrada e aberta. Isso era muito estranho para ele!
Eles viajaram por várias horas, e Azure não parou de falar sequer uma vez. Imperadores não precisavam respirar, e isso certamente era uma vantagem para falar.
Ao fim, Gravis apenas encarava o vazio, absorto.
Aquilo fora mais estressante que seus 23 anos de dor.