Gravis se perguntava o que aconteceria a seguir. Um Rei de nível três obviamente estava muito além da capacidade de Orthar de lidar com ele. No momento, Orthar era um Rei de nível cinco, mas naquela época, era apenas um Lorde de nível cinco.
— O Rei assimilou minha antiga Tribo e ouviu falar de mim. As estratégias que empreguei chamaram sua atenção, e ele me capturou vivo. Ele pretendia me usar como estrategista, e eu não tinha escolha — explicou Orthar.
— Assim que cheguei ao seu Reino, fui colocado sob supervisão constante. Ele também não me permitiu me tornar um Rei, pois sabia que eu havia conseguido matar um Rei sendo apenas um Lorde. Claro, eu já tinha criado um novo plano naquela época.
— Dei ao Rei o que ele queria e o deixei vencer várias guerras. Em apenas dois anos, ele se tornou um Rei de nível quatro devido às suas vitórias. Quando ganhei sua confiança, o enviei contra um inimigo aparentemente mais fraco que tinha conexões ocultas com Reinos mais poderosos. Eu sabia que ele não retornaria vivo, então aproveitei a oportunidade.
— Naquela altura, eu já sabia por que não podia me tornar um Rei. Assim que ele partiu, coloquei meu plano em prática. Durante esses anos, consegui reunir um bom número de seguidores poderosos entre os Reis, que estavam dispostos a me seguir. Aos olhos deles, eu poderia lhes dar benefícios intermináveis sem ser uma ameaça para suas vidas. Benefícios cegam bestas para o perigo.
— Não apenas bestas — Gravis comentou com um suspiro.
— Possível — respondeu Orthar. — Assim que o Rei partiu, minhas forças esmagaram os lealistas. Cada Rei disposto a me seguir tornou-se mais poderoso devido àquela luta. Além disso, um harém de parceiras já me aguardava, algo que eu havia preparado para aquele dia.
— Como previsto, o Rei não retornou. Em vez disso, um Rei de nível cinco veio e assimilou meu novo Reino ao seu. Claro, isso também fazia parte dos meus cálculos. Meus seguidores tiveram um gostinho dos benefícios que eu poderia lhes proporcionar, o que me deu um grupo fiel dentro do novo Reino.
— Meus seguidores ficaram em silêncio sobre meu poder e sabedoria, e eu entrei no Reino como um Lorde normal. Após um ano, meus filhos nasceram, e imediatamente me tornei um Rei. Foi quando adquiri minha arma mais valiosa.
— A Lei que todo Rei aprende automaticamente? — perguntou Gravis.
— Correto — Orthar respondeu. — Compreendi uma Lei relacionada ao cérebro que me permitia manipular as emoções dos outros.
Gravis respirou fundo. Uma Lei como essa era devastadoramente poderosa nas mãos de Orthar.
— Depois de me tornar Rei, agi de forma chamativa e espalhei minha sabedoria por toda parte. Quanto mais bestas soubessem disso, melhor. Alguns anos depois, ganhei um grupo de seguidores ainda maior, sem esconder isso. O Rei líder viu minha influência e minha sabedoria e decidiu me tornar um Comandante de uma linha de defesa, uma posição para a qual eu normalmente seria fraco demais.
— Contactei as bestas terrestres e lhes ofereci benefícios incríveis. Esses benefícios valiam muito mais do que os serviços delas como espiãs, mas isso era irrelevante. A maioria morreria de qualquer forma. Se uma delas viesse reclamar os benefícios, eu mandava meus seguidores matá-las. Se alguém de poder adequado aparecesse, eu também o usava para me refinar.
— Em dez anos, consegui criar um grande número de espiões, o que me dava informações sobre todos os campos de batalha futuros. Lutei muitas batalhas e me tornei um Rei de nível três. Foi então que o Rei líder começou a ficar cauteloso comigo, mas já era tarde demais.
— Eu estava preparado e consumi minha coleção oculta de cadáveres para me tornar um Rei de nível quatro. Em seguida, organizei uma revolta e o matei. Com isso, tornei-me o líder de um Reino de nível cinco.
— Naquela época, eu só precisava manter o controle sobre algumas linhas de defesa e enviar algumas bestas aos Impérios. Os Impérios não se importavam com quem liderava um Reino. Eles só se importavam com nossos serviços.
— A essa altura, meu conhecimento já havia se espalhado por quase todo o oceano. Até os Impérios estavam empregando minhas estratégias, e as bestas marinhas começaram a vencer mais batalhas. Cerca de 50 anos depois, meu plano finalmente mostrou resultados.
— Qual era seu plano? — Gravis perguntou.
— A razão pela qual espalhei minha sabedoria para o maior número possível de bestas marinhas era para chamar atenção. Em algum momento, um Imperador iria querer encontrar a fonte dessa sabedoria para ganhar uma recompensa de um Imperador ainda mais poderoso.
— Um Imperador de nível dois chegou e me levou com ele. Isso era o que eu queria. Sabia que minha sabedoria era preciosa demais, o que forçaria qualquer Imperador poderoso interessado em minha sabedoria a me proteger de inimigos muito poderosos. Só quando posso garantir minha sobrevivência é que posso pensar em refinamento.
— Esse Imperador me entregou ao Supremo da Força. Conversei com ele, e ele percebeu que seria melhor matar as bestas terrestres em vez de continuar como estava. Ele temia o momento em que as bestas terrestres descobrissem que tínhamos cinco Supremos em vez de três. Ele sabia que haveria uma grande chance de morrer quando isso acontecesse.
— No começo, com o apoio dele, não encontrei oposição. Meu comando se estendeu por todos os territórios das bestas marinhas. Nossas vitórias nas batalhas aumentaram substancialmente, mas ganhamos menos Reis e Imperadores poderosos. Foi quando a Supremo da Luz começou a interferir e tentou me eliminar.
— A Supremo da Luz não podia me matar diretamente, pois o estilo de luta do meu protetor era perfeito contra o dela, mas ela usou um grande número de Imperadores e Reis para tentar me assassinar. Eu usei os Reis para me refinar enquanto lidava com os Imperadores empregando outros Imperadores.
Orthar contou sua história de maneira direta e sem grandes descrições, mas Gravis podia imaginar que Orthar provavelmente passou por inúmeras situações intensas de vida ou morte. Saber que alguém muito mais poderoso que ele queria matá-lo provavelmente o colocou sob uma quantidade considerável de estresse e pressão.
Ainda assim, Gravis conhecia Orthar. Orthar provavelmente queria que essa situação ocorresse para se tornar mais poderoso. A pressão fazia maravilhas para se tornar mais forte. Em vez de se refinar contra as bestas terrestres, Orthar se refinou contra as bestas marinhas. Ele estava usando o conflito interno no campo das bestas marinhas a seu favor.
“Isso não é exatamente o que eu fiz com Shira na Tribo do Rio?” Gravis pensou com um sorriso.
— Foi assim que se passaram os próximos 100 anos — disse Orthar. — Tive acesso livre a qualquer Área de Compreensão de Leis, e meu refinamento vinha até mim voluntariamente. Eu só precisava esperar para me tornar um Ascendente.
— Então, a Supremo da Vida atacou — disse Orthar.
Gravis sorriu, um pouco envergonhado, pois havia sido ele quem fez a Supremo da Vida decidir atacar. — Imagino que aquele robalo que carregava armas humanas era seu protetor? — perguntou.
— Correto. Eu dei a ele muito conhecimento sobre o uso de armas, e ele percebeu que isso combinava perfeitamente com seu estilo de luta — Orthar disse.
— Desculpe por matar seu protetor — Gravis disse, meio sem graça.
— Irrelevante — disse Orthar. — É apenas mais uma ferramenta destruída. A Supremo da Luz compreendeu uma Lei de nível três, e ela deixará o mundo em 50 anos. Com minha reputação, não será difícil recuperar meu status.
— Isso é bom — comentou Gravis.
— Conte-me sua história — Orthar disse. — Eu tinha certeza de que, quando nos separamos, você iria morrer.
Gravis riu um pouco. Então, ele contou sua história a Orthar.