Os Supremos se entreolharam por mais alguns segundos, pensando no que deveriam fazer. No entanto, no fim, nada aconteceu. Depois de um tempo, os Supremos do mar começaram a retornar aos seus territórios.
— Esperem — disse Gravis de repente, interrompendo-os.
Os dois Supremos do mar já haviam visto Gravis algumas vezes, mas não o conheciam. Já era surpreendente que ele estivesse presente em meio a tudo isso. Obviamente, como um Rei, Gravis não tinha direito de participar de discussões entre Supremos.
Ainda assim, mesmo estando presente sem permissão, ele ousou interrompê-los.
— Tenho algo que pode interessar a vocês — disse Gravis com um sorriso confiante.
Os dois Supremos zombaram. O que um Rei poderia ter que fosse de interesse para eles?
Whoop!
Seus olhos rapidamente se arregalaram de choque.
— Supremo da Água, Supremo do Metal — saudou Orthar.
— Oráculo, você ainda está vivo? — perguntou o Supremo da Água, surpreso. — Achei que já estaria morto.
— Lógico — respondeu Orthar. — A Supremo da Luz discordava da minha filosofia e quis me matar. No entanto, seu processo de pensamento era óbvio demais, e consegui me refugiar em um lugar onde ela não poderia me encontrar.
Os dois Supremos olharam para Gravis com curiosidade. Como Gravis havia conseguido invocar uma besta do nada? O Oráculo havia encontrado refúgio com esse mero Rei? E como ele conseguiu esconder o Oráculo da Supremo da Luz?
Gravis apenas sorriu. — Surpresos? Como eu disse, tenho algo que pode interessar a vocês. Não decepcionei, não é? — perguntou ele.
O Supremo do Metal caiu em reflexão enquanto o Supremo da Água relaxou. Sua raiva por ser interrompido por um Rei se transformou em gratidão. — Sua surpresa não nos decepcionou — disse ele. — Não esqueceremos o que fez. Se precisar de algo, pode me visitar.
— Pode deixar — respondeu Gravis com um sorriso.
Orthar estava atualizado sobre os acontecimentos do mundo exterior. Gravis o informava constantemente sobre os assuntos em discussão e os eventos recentes. Por isso, Orthar entendia a nova dinâmica de poder deste mundo e viu uma oportunidade.
O Supremo da Água virou-se para Orthar. — Estamos felizes por tê-lo de volta entre nós, Oráculo. Dada a situação atual, você é nossa melhor chance de conquistar mais território. Claro, suas contribuições serão devidamente recompensadas.
— Retomarei minha posição como Oráculo agora e liderarei as bestas marinhas — disse Orthar, surpreendendo Meadow e o Supremo do Raio. Esse mero Rei estava prestes a assumir o comando de toda a facção das bestas marinhas?
— Esperamos seu sucesso — respondeu o Supremo da Água, surpreendendo-os ainda mais. Um Supremo acabara de declarar que seguiria um Rei? O que estava acontecendo!?
— Oráculo — disse o Supremo do Metal após um tempo em silêncio. — No passado, fui contra suas estratégias de guerra, mas, diante desta nova situação, mudei de ideia. Esta é a melhor oportunidade que teremos para dominar este mundo. Por isso, agora estou ao seu lado.
Orthar assentiu. — Há um ditado que ouvi de uma besta sábia certa vez — disse Orthar, obviamente referindo-se a Gravis sem revelar. — Inimigos e amigos são temporários. Apenas os benefícios são permanentes. Não guardo rancor pelas suas ações passadas.
Gravis havia dito essa frase a Orthar, mas não de forma positiva. Na verdade, Gravis não era um grande fã dessa ideia. Ele a mencionara no contexto do funcionamento das Seitas no mundo inferior, mostrando como não gostava dessa mentalidade.
Claro, isso era do ponto de vista do cultivo. Em termos de economia ou política, talvez esse ditado representasse a mentalidade mais prática. Talvez houvesse espaço para ela no mundo.
— Palavras sábias, de fato — disse o Supremo do Metal. — Seguirei essa mentalidade e agirei de acordo. Também espero seu sucesso.
Com isso, Orthar e os dois Supremos do mar retornaram ao Grande Lago. Gravis e Orthar não se despediram, pois não havia necessidade. Seus caminhos já estavam entrelaçados, e Orthar retornaria ao mundo mais alto com Gravis. Isso era apenas temporário.
Orthar se tornaria mais poderoso liderando as bestas marinhas, enquanto Gravis ficaria mais forte como uma parte neutra.
Sim, era isso. Gravis já havia decidido deixar o campo das bestas terrestres.
Gravis ainda tinha lealdade aos seus filhos, Azure e Styr, mas só isso. A companhia deles não mudaria só porque ele estava deixando a facção.
No momento, Gravis era forte o suficiente para matar um Imperador de nível dois com facilidade. Apenas Imperadores de nível três poderiam matá-lo. Esse poder era mais do que suficiente para vagar como uma parte neutra.
Quando Orthar e os Supremos do mar partiram, Gravis olhou para Azure, que permanecia em silêncio. Ela não dizia nada há algum tempo, apenas observando os Supremos decidirem o destino do mundo.
Gravis estava acostumado a ver o mundo mudar drasticamente, mas isso era algo novo para Azure.
Para Azure, ela acabara de testemunhar como o destino do mundo foi radicalmente alterado. O status quo mudaria violentamente, e a guerra eclodiria com mais ferocidade do que nunca.
Os Imperadores de nível quatro raramente lutavam, temendo que um Supremo aparecesse e os atacasse. Com os Supremos proibidas de interferir nas lutas, esses Imperadores de nível quatro não tinham mais nada os segurando.
Logo, esses Imperadores atacariam os territórios mais valiosos do inimigo, e um mar de sangue seria derramado. O interior de Azure tremia, e ela sentia como se estivesse sonhando. Tudo isso parecia surreal para ela.
Não houve grandes debates ou discussões. Não houve pompa. Tudo foi dito calmamente com algumas bestas presentes. Com poucas palavras, milhões e bilhões de bestas morreriam rapidamente.
Tudo foi casual e direto. Apenas porque Meadow não queria lidar com a situação política, o mundo inteiro seria lançado no caos. Uma simples decisão, tomada por preguiça, mudou o mundo inteiro.
Isso era poder? Era isso que significava ser poderoso? Qualquer ação de alguém poderoso, fosse deliberada ou acidental, mudaria o destino de tantos seres?
— Ei, Azure — disse Gravis ao lado.
Azure saiu de seus pensamentos e olhou para Gravis. Certo, não foi Gravis quem começou tudo? As palavras descuidadas de um Rei resultaram na redução do número de Supremos de dez para apenas três. Como algo assim foi possível?
— Sim? — perguntou Azure, ainda perdida em seus pensamentos, tentando entender as mudanças profundas.
— Você acha que o Grande Ancião já se tornou um Imperador de nível três? — perguntou Gravis.
Azure ficou surpresa com a pergunta de Gravis. Algo tão grandioso acabara de acontecer, mas Gravis só estava interessado no poder do Grande Ancião? Ele não via as mudanças profundas que resultariam dessa reunião de Supremos?
Mesmo assim, Azure respondeu. — Esse era o plano. Tornar-se um Imperador de nível três é necessário para ter influência suficiente sobre as bestas terrestres. Ele já deve ter alcançado esse nível.
Gravis sorriu. — Ótimo! Então, eu vou voltar com você ao Império Orgulho Gélido e pedir outra sessão de refinamento de vontade a ele. Depois disso, voltarei aqui e compreenderei tantas Leis quanto puder.
Azure ainda estava chocada com a reação despreocupada de Gravis a essa situação. O mundo inteiro havia mudado, mas Gravis aparentemente nem havia notado.
— Você não percebe o que vai resultar deste Encontro de Supremos? — perguntou Azure.
— E daí? — Gravis respondeu. — Isso não tem nada a ver comigo. Estou aqui para me tornar poderoso, não para moldar o mundo ao meu gosto. Imagino que você nunca tenha visto algo assim antes? — perguntou Gravis.
Azure suspirou. — Não.
— Você nasceu neste mundo ou ascendeu de um mundo inferior? — perguntou Gravis.
Azure não sabia o que Gravis queria com essa pergunta. — Nunca estive em outro mundo.
Gravis assentiu. — Foi o que pensei. Quando você vê seres mais poderosos, percebe as consequências devastadoras que até decisões casuais podem ter no mundo. Isso cria um sentimento de reverência pelo poder.
Então, Gravis olhou para o céu com um sorriso. — Mas, assim que você alcança esse poder, percebe o quão insignificantes essas decisões realmente são. Aprendi que, quando você é verdadeiramente poderoso, cada ação sua influencia o mundo inteiro.
— Toda ação traz consequências positivas e negativas para uma enorme quantidade de seres. Contudo, se você quiser moldar o mundo de acordo com o que deseja, precisa monitorá-lo constantemente. Caso contrário, o mundo retornará à sua antiga situação.
— E assim que você fizer isso, seu caminho para o poder terminará — disse Gravis. — Você é mais velha que eu e tem mais experiência, mas já estive nessa situação antes, e você não. Não tente pensar sobre o que acontecerá com o mundo, mas sobre o que você quer conquistar.
Gravis sorriu. — Você verá! Mais cedo ou mais tarde, também será tão poderosa quanto Meadow. Não fique presa à situação atual e olhe para frente. De que adianta o mundo mudar? Seu objetivo, alcançar o poder supremo, não mudou. Portanto, seu mundo não mudou.
Azure permaneceu em silêncio, ouvindo as palavras de Gravis. — Meu mundo não mudou, hein? — repetiu ela em voz baixa.
— Cara, você parece uma besta velha — Meadow disse de repente ao lado. — Virando um eremita? Sabe que assim não pode transar, né?
Gravis apenas riu.