Gravis observou as bestas reunidas com interesse. Ele queria entender o que havia mudado durante sua reclusão.
Após cercarem Gravis e Morus, as bestas não atacaram imediatamente, o que foi surpreendente. Normalmente, as bestas marinhas atacariam uma besta terrestre assim que a vissem em seu território.
— Qual é o seu propósito, intruso? — perguntou o líder, um Imperador de nível três, que era um peixe-espada. Obviamente, como o inimigo não sabia da relação entre Morus e Gravis, direcionou a pergunta para Morus, o que parecia ser o mais poderoso dos dois.
Morus permaneceu em silêncio, sem reagir.
— Não invadimos seu território de propósito — disse Gravis, surpreendendo as bestas marinhas presentes. Por que o Rei estava falando? Será que o Imperador achava que eles não eram dignos de uma resposta?
— Estávamos profundamente no subsolo por mais de dois séculos, tentando compreender a Lei da Gravidade. Naquela época, não havia água aqui. Simplesmente retornamos ao lugar de onde saímos, que é aqui — explicou Gravis.
Surpreendentemente, nenhum dos Imperadores presentes repreendeu Gravis, apesar de ele ser apenas um Rei. Normalmente, um Rei abrir a boca diante de tantos Imperadores seria como uma criança tentando participar de uma discussão séria entre adultos.
Um dos Imperadores pareceu perceber algo, pois seus olhos se arregalaram. Ele informou o Imperador de nível três sobre o que havia notado.
Gravis percebeu que a expressão do líder mudou. Ele olhou para Morus e depois voltou o olhar para Gravis.
— Qual é o seu nome? — perguntou o Imperador, agora de forma neutra.
— Eu sou Gravis — respondeu Gravis. — Este é Morus, meu servo — disse, apontando para Morus.
Imediatamente, a atmosfera mudou. Em vez de nervosos, todos os presentes ficaram chocados, exceto o Imperador de nível três, que abriu um grande sorriso, como se tivesse encontrado um tesouro.
— Então você é Gravis — disse o Imperador. — Por favor, ignore nossas hostilidades iniciais. Afinal, temos que proteger nossos territórios.
Gravis ficou um pouco surpreso com a mudança repentina de atitude. Eles não estavam em guerra com as bestas terrestres?
— Sem problemas — respondeu Gravis, fazendo um gesto despreocupado. — Imagino que Orthar tenha dado algumas ordens sobre mim, certo?
Os Imperadores ficaram chocados quando Gravis mencionou o nome de Orthar. Estaria Gravis louco?
Se peixes pudessem suar, o peixe-espada provavelmente estaria transpirando de nervosismo naquele momento. — Como esperado — murmurou ele.
— Sim, o Líder Supremo nos ordenou que, se o encontrássemos, deveríamos levá-lo até ele. O Líder Supremo também ordenou que o tratássemos com respeito — explicou o peixe-espada.
Gravis assentiu. — Certo, me leve até ele.
O peixe-espada assentiu com um sorriso e ordenou que as outras bestas se dispersassem. Depois, gesticulou para que Gravis o seguisse.
Gravis e Morus o seguiram por um curto período. A base central das bestas marinhas ficava dentro do Grande Lago, e Gravis havia entrado no subsolo perto dali. Por isso, a base não estava muito longe.
Surpreendentemente, a base das bestas marinhas não estava no centro do Grande Lago, mas em suas bordas. Gravis logo percebeu o motivo dessa localização peculiar: as bestas marinhas provavelmente não gostavam dos Errantes andando constantemente sobre seu território.
Gravis já sentia a presença de Orthar antes mesmo de entrar no gigantesco Abismo, o núcleo da facção das bestas marinhas. No entanto, não tentou contatá-lo até estar bem diante dele.
Rapidamente, passaram por vários Imperadores de nível três e dois Imperadores de nível quatro. Em seguida, chegaram ao fundo do Abismo, onde residia um gigantesco polvo. Orthar ocupava todo o fundo do Abismo, com muitos de seus tentáculos enterrados no chão.
O peixe-espada curvou-se diante de Orthar e saiu rapidamente sem dizer uma palavra.
Gravis abriu um sorriso ao ver Orthar.
— Isso me lembra da vez em que nos conhecemos — disse Gravis. — Naquela época, você também estava meio enterrado no chão. A única diferença é que estava escondido.
— Meio verdadeiro — respondeu Orthar. — Apenas um décimo do meu corpo está visível. O resto se estende por todo o Grande Lago.
Gravis sorriu. — Então, você me notou antes mesmo das suas forças? — perguntou.
— Correto — disse Orthar. — Mas a lealdade das forças precisa ser testada regularmente. Inimigos internos são uma ameaça maior do que inimigos externos.
Gravis assentiu. Enquanto as forças de Orthar não soubessem que ele via tudo dentro do Grande Lago, elas mostrariam suas verdadeiras intenções.
No entanto, Gravis achava que essa estratégia era desnecessária. Quem poderia representar uma ameaça para Orthar?
Afinal, ele agora era um Imperador de nível cinco.
Sim, nos últimos 650 anos, Orthar havia se tornado um Imperador de nível cinco. Gravis sabia que Orthar não teria dado esse passo sem antes compreender uma Lei de nível três. Orthar provavelmente podia ascender quando quisesse.
— Imagino que você já tenha compreendido uma Lei de nível três e se tornado um Ascendente? — perguntou Gravis.
— Obviamente — respondeu Orthar. — Eu seria um tolo se ascendesse a este nível sem compreender uma.
Gravis assentiu.
— Então, as bestas marinhas ainda têm dois Supremos, ou há um novo? — Gravis perguntou.
— As bestas marinhas não têm mais Supremos — respondeu Orthar.
As sobrancelhas de Gravis se levantaram em surpresa, mas ele logo deduziu o motivo.
— Imagino que você tenha matado os outros dois para se tornar um Imperador de nível cinco? — perguntou Gravis.
— Correto — confirmou Orthar. — Eles cumpriram seus propósitos e se tornaram meus degraus para compreender uma Lei de nível três.
Gravis suspirou ao ouvir isso. Os dois Supremos haviam ajudado e protegido Orthar. No entanto, Orthar os matou e consumiu sem hesitar. Sua natureza fria e lógica era perigosa, não apenas para seus inimigos, mas também para seus aliados. Às vezes, Gravis até duvidava se Orthar o via como um amigo ou apenas uma ferramenta.
Se alguém oferecesse uma recompensa massiva pela morte de Gravis, Orthar tentaria matá-lo por ganho pessoal? Gravis não sabia.
“Bem, se não sei, vou simplesmente perguntar”, pensou Gravis.
— Diga, Orthar — começou Gravis. — Vejo como você matou quase todos os seus companheiros ao longo do caminho. Então, minha pergunta é: se minha morte te beneficiasse, você me mataria?
— Arriscado demais — respondeu Orthar imediatamente. — Seu cultivo, poderes, talento, mentalidade e tudo mais sobre você são indecifráveis. Não tenho confiança em conhecer tudo sobre sua força, e também não tenho confiança em arquitetar algo contra você. A chance de morte é muito alta para que eu planeje algo contra você, mesmo agora, estando um Reino inteiro acima.
Gravis achou que a resposta de Orthar fazia muito sentido.
— E se isso não fosse um problema? — perguntou Gravis.
— Então você não seria meu amigo — respondeu Orthar diretamente. — Alguém com poder ou mente mais fracos é uma ferramenta. Apenas alguém que pode me rivalizar nesses aspectos pode ser considerado um companheiro.
Gravis coçou o queixo. Isso também fazia sentido. Afinal, Gravis também não se importava muito com seres mais fracos. Todos os seus amigos haviam provado ser excepcionais, e era por isso que eram seus amigos.
— E se eu me tornasse inútil? — perguntou Gravis, curioso.
— Nada mudaria — respondeu Orthar. — O Reino é apenas momentâneo. Ir contra você por causa de uma fase momentânea de fraqueza poderia ser minha ruína no futuro. Ou eu precisaria matá-lo ou não ofendê-lo de forma alguma.
— Se eu tivesse poder suficiente para garantir sua morte, não precisaria da recompensa que alguém daria por matar alguém tão mais fraco. Em vez disso, aposto no nosso sentimento de companheirismo. Matá-lo não tem resultados positivos, enquanto permanecer seu companheiro tem muitos potenciais benefícios.
Gravis sorriu ao ouvir isso.
— Obrigado por responder às minhas perguntas, Orthar — disse Gravis.
— Lógico — respondeu Orthar. — Minha conduta lógica intrinsecamente cultiva sentimentos de dúvida e suspeita. Eliminar esses sentimentos é importante para uma cooperação bem-sucedida.
Gravis assentiu.
— Então, imagino que você esteja pronto para ascender agora? — perguntou.
Surpreendentemente, Orthar não respondeu imediatamente, o que fez Gravis levantar uma sobrancelha.
— Procurei por você por mais de um século, mas não consegui encontrá-lo. Por isso, tinha certeza de sua morte. Já tentei ascender, mas algo aconteceu depois que matei meu sétimo Errante — disse Orthar.
Gravis ficou interessado.
— Oh? — perguntou.