Morus sorriu. — Ótimo — disse ele. — Agora você pode visitar sua prole. Não consigo entender por que você se apega tanto a eles, mas essa é sua escolha. Pode me contatar quando for a hora de partir.
Gravis sentiu-se desconfortável com a situação. Morus claramente o odiava profundamente. Contudo, Morus havia colocado os benefícios acima de suas emoções, chegando até a chamá-las de fraqueza. Infelizmente, essa era uma mentalidade com a qual Gravis conseguia se identificar.
No passado, quando estava no mundo inferior e ainda não havia confrontado seus sentimentos, ele pensava da mesma forma. Decisões emocionais geralmente levavam a resultados ruins, o que o fazia odiar e suprimir suas emoções.
No entanto, após conversar com sua mãe, ele percebeu que suprimir suas emoções para alcançar seu objetivo acabaria invalidando o próprio objetivo. Claro, ele seria livre no final, mas e depois? Tudo após isso seria vazio.
Gravis ainda não tomava decisões com base em emoções, mas também não precisava mais suprimi-las completamente. Ele via o perigo que essa mentalidade poderia trazer, mas não compartilhou isso com Morus.
Afinal, os dois definitivamente não eram companheiros. Apontar os defeitos de alguém era ajudá-los, e Gravis não queria ajudar Morus mais do que o necessário. Quando retornassem ao Mundo Mais Alto, seus caminhos se separariam. Era bem provável que Morus estivesse fora de seu elemento no Mundo Mais Alto e encontrasse uma morte rápida.
— Quando chegar a hora, entrarei em contato — disse Gravis com neutralidade. Então, virou-se e disparou em direção ao sul. Fazia mais de 700 anos desde que ele vira seus filhos, e queria saber como eles estavam.
Morus apenas sorriu. — Boa sorte — disse ele com um tom estranho.
Gravis franziu a testa ao ouvir Morus. “Tenho quase certeza de que ele não sabe de nada sobre meus filhos que eu não saiba, mas sua maneira de falar soa sinistra. Será que isso é outra tentativa de me desestabilizar emocionalmente?” pensou Gravis.
Ironicamente, Morus havia aprendido muito sobre controle enquanto era servo de Gravis. Por isso, quando Gravis falava com Morus, sentia dificuldade em controlar a conversa. Gravis gostava de estar no controle e era muito bom nisso, mas era difícil quando lidava com Morus.
“Uma coisa é certa”, pensou Gravis com os olhos semicerrados. “Morus não é estúpido, e ele é muito perigoso. A maioria dos meus problemas ao lidar com ele vem do fato de que Morus sabe muito sobre mim, enquanto eu quase nada sei sobre ele. Nossos poderes são comparáveis, mas Morus consegue assumir o controle da situação com mais facilidade.”
“Mas será que minha sensação de controle é realmente factual, ou meus oponentes apenas não mostram todas as suas cartas? Morus demonstra abertamente seu controle da situação, enquanto outros podem mantê-lo em segredo.”
Gravis zombou. “Morus pode não ter percebido, mas sua conduta é muito humana. Não devo esquecer que estou em um mundo cheio de bestas, que normalmente não são grandes fãs de intrigas. Quando eu voltar para casa ou for ao próximo mundo, entrarei em contato com humanos novamente, e humanos gostam de intrigas. Não posso relaxar e me considerar intelectualmente superior. Caso contrário, posso morrer por causa da minha própria arrogância.”
Enquanto voava para o sul, Gravis pensava mais sobre sua mentalidade e como ela poderia afetá-lo em um ambiente cheio de humanos. Ele não queria admitir, mas a lição de Morus havia sido incrivelmente útil e poderia até salvar sua vida no futuro.
“Você me odeia e provavelmente não deseja nada além da minha morte. No entanto, me ensinou uma lição valiosa, sabendo que isso poderia garantir minha sobrevivência no futuro. Não faço ideia se devo ser grato ou não. É como se eu fosse um mendigo, e você jogasse uma fortuna em mim com desdém. Devo ser grato ou não?” pensou Gravis.
Gravis alcançou os territórios do sul rapidamente. Surpreendentemente, nenhuma besta o parou ao vê-lo entrar. Normalmente, em tempos de crise, qualquer um que entrasse na região deveria ser questionado. Afinal, e se fosse um espião?
Gravis esperava ser questionado, mas, ao ver que ninguém o abordava, parou por conta própria. Com seu Sentido Espiritual, encontrou rapidamente um Imperador de nível dois.
— Olá, sou Gravis. Você sabe o paradeiro dos meus três filhos, Aris, Cera e Yersi? — perguntou Gravis.
A princípio, o Imperador de nível dois sentiu raiva e desdém por um mero Rei ousar falar com ele, mas ao ouvir o nome de Gravis, lembrou-se dele. No passado, Gravis era conhecido por todos os poderosos. Afinal, ele era, de longe, o Rei mais poderoso do mundo.
No entanto, ouvir algo e sentir algo eram conceitos completamente diferentes. O Imperador de nível dois era muito experiente em sentir perigo. Afinal, era necessário ter experiência para se tornar tão poderoso em um ambiente tão hostil.
Por isso, o Imperador usou seus instintos para avaliar o poder de Gravis, e o que sentiu foi aterrorizante.
Por fora, ele não demonstrou nenhuma mudança de expressão, mas, por dentro, estava chocado. Sentiu uma sensação de perigo extremamente intensa emanando de Gravis. Essa sensação dizia que, se ele irritasse Gravis, apenas a morte o aguardaria.
Essa sensação não vinha de uma Lei. Afinal, a Lei do Perigo só era ativada quando alguém tinha o poder de ameaçar o usuário e intenção maliciosa. Gravis não tinha intenção maliciosa, por isso a Lei do Perigo do Imperador de nível dois não foi ativada.
O que ele usava era simplesmente um instinto que havia desenvolvido após inúmeras batalhas de vida ou morte. Afinal, havia uma razão para ele ser o líder de uma das linhas defensivas mais importantes da região.
— Saudações, Gravis — respondeu o Imperador de nível dois. — Eu sei onde estão as três bestas que você procura. Vou mostrar onde estão.
Gravis sorriu e acenou para o Imperador de nível dois. Normalmente, ele teria agradecido, mas não queria deixá-lo desconfortável.
Uma imagem surgiu na mente de Gravis, mostrando a disposição geral da região sul e onde encontrar seus filhos. No entanto, Gravis arqueou uma sobrancelha ao ver a imagem. Seus três filhos estavam bem distantes uns dos outros.
“Quer dizer, eles não podem estar sempre juntos, presumo”, pensou Gravis coçando o queixo. “Afinal, são três indivíduos diferentes com suas próprias crenças. O mais próximo é Aris. Vamos começar por ele.”
Com isso, Gravis voou mais ao sul. Contudo, surpreendentemente, após poucos minutos, alguém o parou.
— Aris, você está louco!? — uma voz nervosa e assustada contatou Gravis. — Se o Imperador Tornado descobrir que você deixou seu confinamento, ele vai matá-lo!
A mente de Gravis ficou em frenesi. Confinamento? O que estava acontecendo?
Gravis olhou para a origem da transmissão de voz e viu uma cobra preta, um Imperador de nível um. Pelo aspecto da cobra, ela parecia muito preocupada e nervosa.
Quando a cobra viu os olhos de Gravis, ficou surpresa. — Oh, você não é Aris — disse a cobra com um suspiro.
Gravis se aproximou rapidamente. — Não, eu não sou Aris — respondeu Gravis de forma neutra. — Sou Gravis, e Aris é meu filho.
Agora, a cobra ficou novamente surpresa. — Você é Gravis? — perguntou chocada.
— Sou — confirmou Gravis. — Então, o que é isso sobre confinamento? — perguntou em tom frio.
A cobra preta suspirou novamente. — Sua prole não tem permissão para se comunicar entre si ou sair. Se tentarem fazer qualquer uma dessas coisas, serão mortos.
Os olhos de Gravis se estreitaram. — Oh? Como isso aconteceu? — perguntou ele. — Pelo que sei, confinar alguém é algo muito raro entre as bestas. Normalmente, apenas matamos quem age contra nosso acampamento. Então, de onde veio essa história de confinamento?
A cobra preta parecia querer dizer algo, mas permaneceu em silêncio. — Falar com você já é um risco. Se descobrirem que estou lhe passando informações internas, serei morto sem piedade. Não me coloque em uma posição perigosa — respondeu.
As emoções de Gravis estavam à flor da pele, mas ele não queria dificultar a vida da cobra. Em vez disso, fez uma pergunta simples. — Quão poderoso é o Imperador Tornado? Isso você deveria ser capaz de me dizer, pelo menos.
— Imperador de nível três — respondeu a cobra.
Gravis estreitou os olhos. — Isso já é suficiente para mim — disse ele.
BANG!
Então, Gravis disparou para o sul com ainda mais velocidade. Algo parecia muito estranho nessa situação. Se um de seus três filhos tivesse traído o acampamento das bestas terrestres, teria sido morto, e se tivesse feito algo menos devastador, teria sido enviado para as linhas de frente. Mantê-los confinados dessa forma não ajudaria em nada o acampamento das bestas terrestres.
Isso significava que esse confinamento não poderia ser pelo bem maior do acampamento.
A única outra explicação seria ganho pessoal. Esse Imperador Tornado queria ganhar algo ao manter os filhos de Gravis confinados.
No entanto, Gravis não tiraria conclusões precipitadas. Ele acabara de aprender com Morus que suas expectativas e conhecimento sobre a mentalidade dos outros poderiam não ser tão precisos quanto acreditava. Por isso, a primeira coisa que faria seria descobrir a razão por trás de tudo isso.
Depois, agiria de acordo.