Todos observavam enquanto Gravis era jogado de um lado para o outro no abraço de sua mãe. Ele se sentia bastante envergonhado, mas o que poderia fazer? Ele também sentia saudade de sua mãe e decidiu apenas deixá-la se divertir, mesmo sabendo que ela planejava constrangê-lo diante de seus filhos.
— Você mereceu isso — disse Cera. — Agora sabe como nos sentimos.
Aris e Yersi assentiram solenemente.
— Gravis! — sua mãe exclamou com entusiasmo. — Você ficou tão pesado! Ah, meu menino virou um adulto agora!
Sua mãe o jogava em seu abraço como se ele fosse nada mais que um travesseiro. Era importante lembrar que o corpo de Gravis era incompreensivelmente pesado. Ainda assim, isso não fazia a menor diferença para sua mãe.
Depois de um tempo, ela o colocou no chão, colocou as mãos em seus ombros e o inspecionou. — Azul combina com você — disse ela com um sorriso. — Você ficou realmente bonito! Não comece a trazer uma namorada atrás da outra para casa, ok?
Gravis gemeu. — Mãe, eu tenho coisas melhores para fazer do que entrar em um relacionamento.
Sua mãe lançou um olhar para os três filhos. — Não parece ser o caso — comentou.
Gravis quis explicar, mas ela apenas riu. — Eu já sei — disse. Então, voltou-se para os outros e fez uma reverência educada e graciosa. — Olá a todos. Eu sou a mãe de Gravis. Espero que possam ignorar minha saudação direta ao meu filho. Senti muita saudade dele.
Comparada ao Opositor, sua esposa exalava uma aura naturalmente misteriosa, bela e poderosa. As bestas presentes não duvidaram de seu poder nem por um segundo, especialmente após verem sua habilidade de arremessar o corpo de um Imortal como se fosse um travesseiro.
Os três filhos, assim como Orthar, a cumprimentaram educadamente.
WHOOOP!
De repente, uma mesa apareceu no centro da sala, e todos foram teleportados para cadeiras ao seu redor. As quatro bestas nem sabiam que era possível teleportar alguém contra sua vontade. O Opositor também estava sentado em uma cadeira. Aparentemente, ele não resistiu à força de sua esposa.
Gravis achou engraçado que seu pai tivesse sido movido contra sua vontade. Seu rosto carrancudo e sério ainda era visível para todos, como se nada tivesse acontecido.
— Hora de contar histórias! — exclamou a mãe de Gravis. — Todos devemos nos conhecer contando algo sobre nós mesmos. Eu começo!
As quatro bestas se sentiam um pouco desconfortáveis com a situação. Falar assim, casualmente, em torno de uma mesa parecia estranho para elas. Histórias normalmente eram compartilhadas apenas quando relevantes e apenas com companheiros de confiança. Afinal, se um inimigo descobrisse suas histórias, poderiam estar em perigo.
Gravis decidiu não intervir. Já era difícil para ele quebrar o gelo entre seus amigos, seus filhos e seus pais. Seu pai, obviamente, não era a pessoa mais sociável. A chegada de sua mãe e o fato de ela tomar a iniciativa era, na verdade, o melhor cenário possível.
A mãe de Gravis era absolutamente incrível em contar histórias. Além disso, ela incluía os outros ao perguntar o que eles fariam em sua situação. Em vez de apenas narrar, ela usava suas experiências como ferramentas de ensino.
Orthar aceitou bem a situação. Ele já havia ouvido muito sobre humanos através de Gravis e estava preparado para caminhar e conversar entre eles. Isso significava que ele queria aprender o máximo possível sobre humanos. As grandes histórias da mãe de Gravis eram conhecimentos valiosos sobre os mundos humanos.
Os três filhos de Gravis sentiam algo diferente. Parecia que estavam em um sonho. Não apenas tinham testemunhado poderes inimagináveis naquele dia, mas também personalidades de seres tão poderosos.
A personalidade do Opositor combinava bem com seu poder, mas a personalidade de sua esposa os deixava perplexos. Ela era incrivelmente poderosa, mas agia e falava como uma garota ingênua que só queria se divertir. Não era esperado que seres poderosos fossem orgulhosos de seu poder? Em vez disso, ela agia como se estivesse no mesmo nível deles. Não havia pressão oculta ou algo do tipo quando ela falava.
O fato de um ser tão poderoso querer apenas conversar e conhecê-los, sem considerá-los inferiores, era surpreendente para eles. Isso era como um humano deveria ser?
Claro, isso não era como um humano típico se comportava. Entre mortais, muitas pessoas podiam ser assim, mas quanto mais poderoso alguém se tornava, mais raro era encontrar alguém com uma mentalidade tão pura. Além disso, a mãe de Gravis havia nascido com seu poder. Ela nunca precisou lutar por sua vida, nem uma única vez.
Várias horas se passaram até que a mãe de Gravis terminasse. Agora, todos se sentiam mais confortáveis com a situação. No início, ainda lançavam alguns olhares nervosos para o Opositor, mas sua esposa rapidamente conseguiu dissipar o véu de mistério ao redor dele.
— Não se preocupem! Ele sempre parece mal-humorado. Talvez vocês já tenham visto a cara de concentração do Gravis. Deve ser muito parecida com a expressão padrão do meu marido. Se não tiverem perguntas para ele, apenas ajam como se ele não estivesse aqui. Pensem nele como um busto horrivelmente esculpido que olha de cara feia para o meio da mesa — disse ela com uma risada.
Todos olharam para ele e, com certeza, ele parecia um busto irritado.
O Opositor virou a cabeça e olhou para sua esposa, que apenas sorriu para ele, triunfante. Após alguns segundos, ele voltou a olhar para o centro da mesa, o que apenas fez o sorriso de sua esposa se alargar.
Gravis teve que rir ao ver isso.
Graças a essas palavras, a atmosfera ficou muito mais descontraída.
Quando a mãe de Gravis terminou, foi a vez dele. Todos já conheciam sua história, então Gravis decidiu que aquela era uma boa oportunidade para contar a seus filhos e a Orthar o que havia acontecido enquanto eles estavam no Anel da Vida.
Quando ouviram sobre o poder do Céu, ficaram boquiabertos. Uma Lei de nível cinco? Como seu pai havia sobrevivido!?
Conforme Gravis continuava seu relato, eles finalmente entenderam como tinham sobrevivido.
Gravis os havia entregado ao Céu.
Mas, em vez de se sentirem traídos ou com raiva, perceberam o significado mais profundo por trás disso. Se Gravis tivesse recusado, todos seriam forçados a permanecer no Anel da Vida por centenas de anos. Apenas esses 57 anos já haviam sido longos demais.
Dentro do Anel da Vida, eles só haviam conseguido olhar para o OMC. Qualquer outra Lei estava inacessível. Não podiam progredir em seus Reinos, nem compreender novas Leis. Permanecer no Anel da Vida havia sido como uma prisão para eles.
Entregá-los ao Céu havia sido a melhor opção, devido à dilatação temporal entre os mundos. No entanto, quem mais sofreu com essa decisão foi Gravis. Ser forçado a entregar o destino de seus entes queridos nas mãos de seu inimigo mais odiado devia ter sido horrível.
Gravis poderia ter recusado, acreditando que apenas ele tinha o direito de proteger seus filhos. Contudo, isso os teria forçado a um confinamento terrível por centenas de anos. Tudo por causa de sua relutância em sacrificar seu orgulho e sua ilusão de controle pelo bem-estar deles.
Felizmente, Gravis tomou a decisão correta, mesmo que isso o tenha ferido profundamente. Esse momento breve foi, provavelmente, o mais doloroso de toda a sua vida.
Por causa dessa ação, Aris e Yersi passaram a ver Gravis de forma diferente. Ensinar algo era uma coisa, mas sacrificar algo por eles era outra completamente diferente. Parecia surreal para os dois que alguém estivesse disposto a ir tão longe apenas por seus filhos, mas Gravis havia demonstrado isso. Não havia nenhum ganho a ser obtido com tal atitude.
Enquanto isso, Cera não sabia exatamente como se sentir sobre isso. Por um lado, ver alguém se sacrificar a esse nível por ela parecia um insulto ao seu orgulho. Mas, por outro lado, seu pai ainda assim a havia ajudado imensamente com isso.
Ela deveria retribuí-lo por isso?
Orthar conhecia Gravis melhor do que seus três filhos. Ainda assim, ficou impressionado com suas decisões. Ele, por si próprio, definitivamente não teria feito o mesmo. Por que deveria sacrificar-se por outra pessoa?
No entanto, Gravis conseguiu compreender a Lei de Supressão de nível quatro e a Lei de Liberdade de nível quatro por causa dessas ações. Essa decisão aparentemente tola lhe proporcionou um aumento de poder incrível.
Todos tinham suas próprias opiniões sobre as ações de Gravis, mas, no geral, as opiniões eram positivas.
Quando Gravis contou sobre sua luta de 700 anos contra o Céu, quase não puderam acreditar. Para eles, haviam se passado apenas 57 anos, mas, para Gravis, 750 anos? Como era possível que tanto mais tempo tivesse passado para uma pessoa?
O tempo sempre fora uma constante em suas vidas, e nunca haviam lidado com essas dilatações absurdas. Aceitar tal situação era difícil.
Quando Gravis contou sobre sua vitória contra o Céu e sobre suas decisões, as reações foram mistas. Por um lado, Gravis havia conseguido vencer o Céu mais elevado, mas, por outro lado, ele havia descartado a melhor oportunidade de refinamento possível.
Receber Leis de forma rápida e contínua sob constante ameaça de morte era o refinamento supremo. Será que desperdiçar essa oportunidade valia a pena apenas para que Gravis pudesse fazer o que queria?
As opiniões ficaram bastante divididas.
Depois que Gravis terminou sua narrativa, chegou a vez de sua família contar suas histórias.
Bem, não imediatamente.
Primeiro, seria a vez de Orthar.