Pela primeira vez, Gravis conseguiu apreciar o verdadeiro tamanho da cidade. Era absolutamente colossal.
Ele voltou seu olhar para a Comunidade do Céu, e o que sentiu o chocou ainda mais.
Seu Espírito não conseguia alcançar o ponto mais alto!
No Mundo intermediário, o Alcance Espiritual de Gravis era incrivelmente vasto, mas no Mundo mais alto, ele era suprimido. Mesmo assim, ainda podia alcançar cerca de 150.000 quilômetros de distância. Contudo, mesmo a essa altura, havia uma enorme quantidade de pessoas se movendo erraticamente. A Comunidade do Céu estava absolutamente lotada.
Yersi e Orthar também estavam impressionados com o número de prédios e pessoas voando por aí. Nunca tinham visto tantos seres vivos reunidos em um único lugar.
A mãe de Gravis percebeu as expressões de choque deles e riu um pouco. — Querem saber a parte realmente surpreendente? — perguntou.
— Diga — Orthar respondeu, mas logo se corrigiu. — Por favor. — Ele estava tentando se adaptar aos costumes humanos, como usar ‘por favor’ e ‘obrigado’, mesmo que ainda parecesse estranho para ele.
— Quase todas as pessoas que vocês podem ver nas ruas estão abaixo do Reino Imortal ou são mendigos — disse ela. — Vocês na verdade não estão vendo os verdadeiros habitantes.
Os três olharam para as ruas abarrotadas. Ainda assim, mais da metade das pessoas estava se teleportando. Além disso, ao observarem com mais atenção, viram que a mãe de Gravis estava certa. Havia uma enorme quantidade de pessoas abaixo do Reino Imortal.
Como isso era possível? Todos esses que se teleportavam eram mendigos? Então, onde estavam os verdadeiros habitantes?
Todos olharam para a mãe de Gravis com olhos curiosos, e ela aproveitou o momento para compartilhar seu conhecimento sobre sua cidade natal.
— Os verdadeiros habitantes se teleportam de prédio em prédio — explicou. — Eles nem sequer vão às ruas. Contanto que você tenha uma residência registrada na cidade, pode se teleportar diretamente para prédios públicos e voltar para sua casa.
— Na verdade, a proporção de mendigos para habitantes é de um para 10.000 — disse ela.
Os três olharam chocados para as ruas. Nem mesmo Gravis sabia disso. Já podiam ver dezenas de milhões de mendigos. Isso significava que a cidade tinha mais de cem bilhões de habitantes!?
Onde todos caberiam? Imortais precisavam de espaço e não se contentariam com apenas alguns metros quadrados de área.
— Já sei qual é a próxima pergunta de vocês — disse a mãe de Gravis. — Olhem para lá — disse ela, guiando seus sentidos para um prédio discreto. Era uma casa de um andar com aparência comum.
— Essa casa abriga cerca de 1.000 pessoas — explicou.
— Como!? — Yersi exclamou.
Gravis estreitou os olhos. — A Lei do Espaço — comentou.
— Correto — confirmou sua mãe. — O espaço dentro da casa é comprimido para permitir que mais pessoas morem nela. Cada casa precisa de uma Formação de Matrizes que comprime o espaço. Criar e manter essa Matriz é muito caro, especialmente porque exige um Grande Mestre de Formação que tenha compreendido a Grande Lei do Espaço para configurá-la. Geralmente, apenas Deuses Estelares ou mais fortes conseguem fazer isso.
— Mas os donos provavelmente ainda lucram muito, presumo? — Gravis perguntou.
A mãe de Gravis assentiu. — Os donos geralmente configuram essas Matrizes por conta própria. Assim, mesmo que Imortais, Reis Imortais e Imperadores Imortais possam morar na cidade, os prédios em si geralmente pertencem a Deuses. É raro que um Imortal consiga possuir um prédio na cidade.
— Claro, as coisas mudaram drasticamente recentemente. No passado, a maioria dos Deuses possuía apenas um prédio, mas agora, a maioria dos prédios pertence a poucas pessoas mais poderosas que os Deuses Estelares — disse sua mãe.
Gravis estreitou os olhos. — O que aconteceu? — perguntou. O que poderia ter abalado a cidade com tanta intensidade?
— Gravis — disse sua mãe com uma risada. — Você esqueceu a dilatação do tempo. Agora você tem cerca de 2.000 anos, mas desde que começou a cultivar, apenas cerca de 25 anos se passaram neste mundo. Para o Mundo mais alto, 25 anos são como ontem para nós, pessoas mais velhas.
Agora, Gravis entendeu.
O que havia acontecido?
Seu pai tinha acontecido!
Seu pai havia matado todos os Deuses Estelares do mundo. Por causa disso, a maioria dos donos dos prédios na cidade morreu ao mesmo tempo. Após esse evento, os Deuses ainda mais poderosos provavelmente dividiram todos os prédios entre si, aumentando sua receita de forma absurda.
— Apenas 25 anos desde aquele evento, hein — comentou Gravis, perdido em pensamentos. — Para mim, parece que foi há tanto tempo.
Stella.
Esse era um nome que Gravis não pensava havia muito tempo. Naquela época, ele estava devastado, mas também era apenas um jovem adolescente. Após 2.000 anos, até mesmo um evento tão emocional havia se desvanecido na obscuridade.
Era como se sua amiga de infância morta nunca tivesse existido.
Esse era um dos efeitos do tempo. Tudo se desvanecia.
Gravis também se lembrou de outra coisa enquanto refletia.
— Quão poderosa era Stella antes de morrer? — Gravis perguntou.
— Ela era uma Estrela Cadente — respondeu sua mãe solenemente. — Seu cultivo foi artificialmente elevado pelo Céu, mas isso custou muita Energia ao Céu. No final, ela estava apenas um Reino abaixo de mim, e eu estou no mesmo Reino que os seres mais poderosos do mundo, exceto seu pai.
— O Reino dela é chamado de Deus Divino — disse ela. — Após o Reino do Deus Estelar vem o Reino do Deus Ancestral, e somente então vem o Reino do Deus Divino. O Reino mais alto normalmente alcançável é chamado de Magnata Celestial.
Os três fizeram alguns cálculos rápidos e finalmente compreenderam quão poderosos o Opositor e sua esposa realmente eram. Se o Reino Refinamento Corporal ou o Reino Bestas Demoníacas fossem considerados o primeiro, um Magnata Celestial seria o décimo terceiro Reino!
Gravis conseguiu resistir ao impacto, mas os outros dois sentiram um profundo sentimento de impotência. Eles estavam apenas no Reino da Compreensão das Leis, o sexto. No entanto, ao lado deles estava alguém no décimo terceiro Reino. A diferença entre eles e a mãe de Gravis era ainda maior do que a diferença entre eles e um mortal!
Eles já tinham vivido mais de mil anos, mas ainda havia tanto para alcançar?
Enquanto isso, Gravis tentava aceitar o fato de que sua amiga de infância era um Deus Divino. Ele sempre soubera que ela era poderosa, mas só agora conseguia entender a verdadeira extensão de seu poder.
A única demonstração de poder que ela havia mostrado para Gravis fora aquela estrela que criara no final. Fora isso, ela nunca havia demonstrado sua força para ele. Era como se ela fosse uma mortal, assim como ele.
Gravis abriu a mão direita e olhou para ela.
WHOOOM!
Gravis usou a Lei de Nível Três dos Elementos para criar fogo e a fundiu com as Leis da Gravidade, Espaço e Tempo. Em pouco tempo, uma pequena estrela flutuava acima de suas mãos.
Isso não era difícil para ele.
Gravis olhou para a estrela por vários segundos, sem saber exatamente no que estava pensando.
PACK!
Gravis sentiu o dedo de sua mãe batendo em sua testa. — Ei, pare de imitar seu pai — disse ela. — Não quero que você se torne alguém que fica em casa o tempo todo, encarando o nada.
Gravis rapidamente recuperou o foco. — Eu estava encarando? — perguntou.
Todos presentes assentiram.
Gravis suspirou e sacudiu a cabeça para afastar os pensamentos melancólicos. Ele tinha coisas melhores para fazer.
De repente, dois anéis apareceram à frente de Yersi e Orthar.
— Seres abaixo do Reino Imortal só podem entrar na cidade se tiverem um Rei Imortal como patrocinador. Gravis ainda não é um Rei Imortal, então eu serei sua patrocinadora por enquanto. Coloquem esses anéis em qualquer lugar do corpo. Eles emitem automaticamente uma aura que os guardas e todos os outros podem sentir.
Yersi abriu uma de suas escamas e colocou o anel por baixo, enquanto Orthar o guardou perto de seu bico oculto de polvo. Depois que colocaram os anéis, Gravis sentiu algo peculiar vindo deles. Não conseguia identificar exatamente o que era, mas de alguma forma pareciam diferentes. Provavelmente era a aura de que sua mãe estava falando.
— Gravis, pegue seu anel — disse sua mãe. — Imortais sem residência ou patrocinador não têm permissão para entrar na maioria das lojas.
Gravis se lembrou do seu Anel de Obsidiana, que ainda guardava em seu Espaço Espiritual. Ele o havia usado brevemente em uma luta, mas fazia muito tempo que não o usava como acessório.
Gravis o convocou e colocou no corpo. Depois disso, olhou para ele.
De fato, não era diferente dos outros dois anéis, exceto pelo design e pela aura, que eram ligeiramente diferentes.
Logo depois, a mãe de Gravis, Orthar e Yersi se despediram de Gravis. Sua mãe os levaria para um tour, enquanto Gravis precisava vender alguns materiais.