O discurso do Magnata Negro deixou uma forte impressão em Gravis. O objetivo que ele perseguia só resultaria em vazio? Se uma pessoa aleatória tivesse dito isso, Gravis não acreditaria, mas este era um dos seres mais poderosos do Cosmos. Seu poder só era inferior ao do Opositor e ao do Céu.
No entanto, ao contrário do esperado, Gravis não sentiu a atmosfera opressiva ao seu redor. As palavras do Magnata Negro trouxeram uma aura de melancolia e desamparo à cidade, mas, por algum motivo, Gravis não sentia que essa sensação de impotência tinha algo a ver com ele.
Gravis ficou surpreso consigo mesmo. Ele esperava se abalar e cair em uma crise emocional, mas, surpreendentemente, isso não aconteceu.
Em vez de sentir a pressão do vazio, Gravis sentiu que, na verdade, aquilo não era tão importante assim.
— Eu acredito em você — disse Gravis, após suspirar. — Realmente acredito que seja assim quando alguém alcança o Reino dos Magnatas Celestiais.
O jovem franziu as sobrancelhas enquanto olhava para Gravis. Devido ao Espírito de Gravis ser o único que não estava sintonizado com a Energia, ele era a única pessoa que o Magnata Negro não conseguia decifrar. Ele tinha o poder de enxergar todos, já que todos eram compostos pelas mesmas Leis. No entanto, Gravis era diferente. Essa era também a principal razão para o Magnata Negro se interessar tanto por ele. Ele era algo completamente novo.
— Parece que há um ‘mas’ nessa frase — disse o Magnata Negro.
— Mas — disse Gravis — não acho que isso seja verdade para todos.
— E o que faz você pensar assim? — perguntou o Magnata Negro.
— Você mesmo disse — respondeu Gravis. — Disse que há um ser no mesmo Reino que você, mas que não sente essa opressão — disse Gravis enquanto olhava para o Magnata Negro. — Você está falando da minha mãe, certo?
O Magnata Negro suspirou enquanto desviava o olhar. — Sim. Ela é o único ser no meu Reino que parece estar feliz. Todos os outros Magnatas Celestiais sentem o mesmo que eu. Assim que você entende tudo, nada mais é interessante, nem mesmo outros seres.
— Contudo, sua mãe consegue permanecer feliz e alegre, mesmo tendo o mesmo conhecimento que nós. Honestamente, não consigo entender como isso é possível. Estou na mesma posição que ela, mas meus sentimentos são tão diferentes.
— Como pode ser tão diferente? Sabemos as mesmas coisas e temos o mesmo poder, mas o que me causa tanta angústia não afeta sua mãe — disse o Magnata Negro com nostalgia. — Tentei encontrar a razão por milhões de anos, pensando que poderia me recuperar. Mas nunca consegui. Simplesmente não sei como é possível.
Gravis olhou para o horizonte enquanto a cidade se acalmava novamente. — Não quero desrespeitar, mas acho que ninguém pode ajudar você com isso.
— O que você quer dizer? — perguntou o Magnata Negro, franzindo as sobrancelhas. — Está dizendo que é impossível eu voltar a encontrar cor na vida?
Gravis balançou a cabeça. O sentimento de calma que ele sentia o surpreendia. Por todos os motivos, Gravis deveria estar devastado ao ouvir que o poder trazia vazio, mas, por alguma razão, ele não estava. — Acho que isso é só você — disse Gravis lentamente. — Na verdade, vejo muitas semelhanças entre você e meu pai.
— Todos nós, seres poderosos, somos muito parecidos — disse o Magnata Negro.
— E talvez esse seja o problema — disse Gravis. — Todos vocês alcançaram o poder supremo da mesma forma, tirando tudo do mundo e dos outros. Meu pai não fala muito sobre si mesmo, mas sinto que ele tem esses mesmos sentimentos há muito tempo.
— Isso me faz pensar que não é o poder em si que causa o vazio interior, mas a forma como ele foi conquistado — disse Gravis. — O único ser supremo feliz é minha mãe. E será apenas uma coincidência que ela também seja a única que recebeu seu poder, em vez de conquistá-lo por si mesma?
— Também já pensei nisso — disse o Magnata Negro — mas não consigo chegar a uma conclusão definitiva.
— Porque você não pode — disse Gravis.
O Magnata Negro lançou um olhar penetrante para Gravis. — Explique — ordenou.
Qualquer pessoa se sentiria ameaçada ao ser encarada por um hegemon tão poderoso, mas Gravis não sentiu medo. Na verdade, a única coisa que ele sentiu foi pena. O Magnata Negro era tão poderoso, mas se sentia tão horrível e vazio.
— Porque você foca demais no poder — disse Gravis. — Você me explicou com firme convicção como o poder é tudo, e acho que essa convicção é o seu problema.
— Isso não é verdade? — perguntou o Magnata Negro, com um tom uniforme. — Há alguma falha na minha explicação?
Gravis balançou a cabeça lentamente. — Não, não há. Sua conclusão e seu raciocínio são perfeitos — disse Gravis devagar. — Seu discurso sobre o poder me afetou muito mais do que suas palavras sobre o vazio do poder. O poder realmente é tudo.
— Mas? — perguntou o Magnata Negro.
— Mas — continuou Gravis — isso só é verdade se o seu objetivo for sobreviver.
O Magnata Negro franziu as sobrancelhas. — A sobrevivência não é o objetivo principal da nossa existência? Não é o Céu que deseja que nos tornemos poderosos?
— Esse é o objetivo do Céu, mas é o seu objetivo? — perguntou Gravis. — Se você pudesse sacrificar seu poder agora para se tornar feliz, faria isso?
O Magnata Negro franziu o cenho, refletindo pela primeira vez em muito tempo. Ele faria isso? Estaria disposto a perder seu poder para ser feliz?
Após alguns segundos, o Magnata Negro olhou novamente para Gravis. — Acho que faria — disse.
— Então, seu objetivo não é sobrevivência ou poder, mas felicidade — disse Gravis com um sorriso — e o poder não é o caminho para a felicidade.
— Como chegou a essa conclusão? — perguntou o Magnata Negro, arqueando uma sobrancelha.
Gravis chegou a rir, e o Magnata Negro franziu o cenho. — Não é interessante? — perguntou Gravis. — Às vezes, não conseguimos ver a floresta por causa das árvores. Você disse que o poder leva ao vazio. Portanto, a conclusão lógica é que o poder não leva à felicidade. Você mesmo disse isso.
O Magnata Negro franziu o cenho enquanto olhava para o céu. — Eu disse isso, sim.
— Você disse que o poder é tudo, e depois disse que o poder é vazio. Então, enquanto você perseguir e depender do poder, não estará sempre perseguindo e dependendo do vazio? — perguntou Gravis.
— Está sugerindo que a única maneira de eu sentir algo novamente é sacrificando meu poder? — perguntou o Magnata Negro.
— Não — disse Gravis com um sorriso. — O que estou dizendo é que o poder não é nem amigo nem inimigo da felicidade. Acho que o poder não tem relação alguma com a felicidade. Um mortal impotente pode ter uma vida feliz. No entanto, minha mãe também pode ter uma vida feliz com seu poder. Acho que o poder não tem nada a ver com a felicidade.
— Isso é diferente — disse o Magnata Negro. — Sua mãe não conquistou seu poder por conta própria, o que a torna independente dele.
CLAP!
Gravis bateu palmas, o som ecoando de forma abrupta. — Exatamente! Você disse! — exclamou. — Ela não depende disso. Não importa se ela é a pessoa mais poderosa ou a mais fraca que existe. Ela simplesmente é feliz. E ela não é o único exemplo.
— Quem mais existe? — perguntou o Magnata Negro, cético.
Gravis riu um pouco mais uma vez. — Você está realmente perdido na floresta — disse Gravis. — Olhe ao seu redor! Olhe para a cidade! A maioria dos cultivadores que vivem aqui desistiram do caminho para o poder.
— Olhe para eles — disse Gravis, apontando para a cidade. — Esses seres, comparativamente fracos, são mais felizes ou mais tristes que você? — perguntou.
— Mais felizes — respondeu o Magnata Negro sem emoção. — Mas isso é lógico. Vejo todas as Leis trabalhando em harmonia em seus seres. Sei o que os fará sentir felizes e o que os fará sentir tristes. Em geral, eles sentem mais felicidade do que eu.
— Então — disse Gravis. — Quando você sabe o que faz as pessoas se sentirem felizes, por que você não sabe como se sentir feliz?
— Já pensei muito sobre isso e não consigo chegar a uma conclusão — disse o Magnata Negro.
— É o mesmo — respondeu Gravis. — Você disse que todos são compostos de Energia e Leis, inclusive você. Então, não seriam as mesmas Leis que governam a felicidade que também deveriam fazê-lo sentir felicidade?
Nesse momento, ambos deram alguns passos para o lado. Gravis se apoiou em uma parede enquanto o Magnata Negro permanecia de pé à sua frente. No início, era Gravis quem se sentia incomodado com o Magnata Negro. Depois, foi o Magnata Negro quem ficou irritado, enquanto toda a frustração em seu ser emergia.
No entanto, assim que Gravis começou a falar, a melancolia foi lentamente diminuindo.
O Magnata Negro não percebeu, mas, naquele momento, ele estava tendo uma conversa sincera com alguém muitas e muitas vezes mais fraco e jovem que ele.
Eram apenas duas pessoas conversando.
Nada mais, nada menos.