O Magnata Negro e Gravis conversaram por mais de meia hora, enquanto as ruas da cidade fervilhavam ao redor.
— Diga, você já conversou com minha mãe ou meu pai antes? Quero dizer, mais do que algumas frases simples? — perguntou Gravis, curioso.
— Não — respondeu o Magnata Negro. — Nunca senti necessidade disso. Se eu entrasse em contato com sua mãe, seu pai poderia ficar descontente, o que não é algo que eu queira. Além disso, seu pai está em outro nível. Não sou poderoso o suficiente para estabelecer uma conexão entre nós.
— Então, de acordo com suas palavras, já que mortais geralmente dependem da riqueza em relação ao poder, um mortal rico e um mortal pobre não podem ser amigos? — perguntou Gravis.
— Claro que podem — disse o Magnata Negro — mas no mundo dos Deuses, é diferente. O poder é tudo, e quando alguém é mais poderoso, não fala com seres indignos.
Gravis não pôde evitar uma risada. — Certo. Até mais — disse ele.
O Magnata Negro ficou surpreso pela primeira vez. — O que quer dizer? — perguntou.
— Você está seis grandes Reinos acima de mim — disse Gravis com um sorriso irônico. — Não sou digno de falar com você. Então, até mais.
O Magnata Negro sentiu algo parecido com nervosismo, algo que não experimentava há uma eternidade. Infelizmente, ele mesmo não percebeu. — Isso é diferente — disse defensivamente.
— Como é diferente? — perguntou Gravis.
— Porque você não quer… — mas o Magnata Negro interrompeu a própria frase.
— Oh? — Gravis murmurou com um sorriso. — Vamos, termine a frase. Você parou de falar porque sabe exatamente o que eu responderia, não é?
Pela primeira vez, o Magnata Negro pareceu desconfortável. — Sim, eu sei.
— Então diga — insistiu Gravis.
O Magnata Negro suspirou. — Porque você não está falando comigo por causa do meu poder — disse.
— E minha resposta seria? — perguntou Gravis.
— Então por que seu pai não gostaria de falar comigo, mesmo que eu também não tivesse segundas intenções? — respondeu o Magnata Negro, resignado.
— E sua resposta para essa pergunta? — perguntou Gravis.
— Eu não sei — respondeu ele lentamente, desviando o olhar.
— Apenas aceite que está errado — disse Gravis. — Não é que você não saiba. É que não quer admitir que talvez tenha mantido uma mentalidade pouco propícia à felicidade por milhões de anos.
— E o que isso mudaria? — perguntou o Magnata Negro friamente. — Mesmo que eu pudesse falar com seu pai, como isso mudaria minha situação?
— Acho que ajudaria — disse Gravis. — Não por causa do poder dele, mas por causa de sua mentalidade diferente.
— Você não disse que eu te lembrava do seu pai? — perguntou o Magnata Negro, cético.
— Sim, mas você provavelmente se assemelha ainda mais aos outros Magnatas — respondeu Gravis. — Você disse que todos os outros Magnatas também se sentem assim. Então, quando você conversa com eles, não está entrando em uma espiral de retroalimentação negativa?
— Espiral de retroalimentação negativa? — repetiu o Magnata Negro, olhando para a rua com as sobrancelhas franzidas.
— Todos vocês, seres poderosos, são miseráveis o tempo todo, então compartilham sua miséria uns com os outros, que por sua vez compartilham a miséria de volta. É apenas miséria circulando e se intensificando para todos — disse Gravis.
— Acha que meu pai era diferente? — perguntou Gravis. — Ele enfrentou os mesmos problemas que você. A diferença aqui é que ele enfrentou, no passado.
— O que mudou? — perguntou o Magnata Negro.
— Minha mãe e eu — respondeu Gravis. — Se não fosse por nós, meu pai provavelmente ainda seria exatamente como você. Quando se está em um grande declínio, pode ser difícil encontrar o caminho de volta sozinho. Às vezes, é preciso de outros para mostrar o caminho.
— Pense nisso — continuou Gravis, afastando-se da parede e gesticulando. — Você não consegue ter uma conversa adequada com ninguém mais fraco porque vê todas as Leis que os compõem e sabe o que farão antes mesmo que eles saibam. Então, a única forma de ter uma conversa e conexão reais é falar com alguém do seu nível ou alguém que você não consiga analisar tão facilmente, como eu.
— Mas as únicas pessoas com quem você sempre falou são velhos amargos e miseráveis, constantemente reclamando de tudo no mundo — disse Gravis com um sorriso. — Quando você busca constantemente companhia na escuridão, como encontrará a luz? Sei que parece clichê, mas acho que essa frase é bem precisa.
O Magnata Negro permaneceu em silêncio por um tempo. — O que você sugere que eu faça? — perguntou.
Antes deste dia, o Magnata Negro jamais acreditaria que buscaria orientação de um mero Imortal. Imortais eram nada mais que formigas para ele. Como alguém tão fraco poderia saber algo que ele não sabia?
— Busque ajuda — disse Gravis.
O Magnata Negro bufou. — Isso soa patético.
— Você não disse que o poder é tudo? — perguntou Gravis. — Eu disse que não gosto de ter recebido tanta ajuda em meu cultivo, e você disse que isso não importa. O poder é tudo. Portanto, a fonte do meu poder não importa.
— Mas agora você está dizendo que buscar ajuda é patético? — perguntou Gravis. — Usando suas próprias palavras: e daí se alguém acha que você é patético? No fim, eles serão os infelizes enquanto você será feliz.
— Uma pessoa infeliz e amarga não tem uma opinião confiável sobre felicidade — disse Gravis com um largo sorriso.
O Magnata Negro ficou em silêncio por alguns segundos e suspirou. — Você sempre precisa jogar minhas próprias palavras contra mim? — perguntou.
Gravis riu com isso. — Estou apenas mostrando que você já tem todas as respostas. Você fala a verdade sem perceber a verdade, pelo menos não de forma consciente. Você é tão poderoso e sabe tanto. Deveria ser capaz de encontrar a felicidade facilmente.
— Às vezes, só é preciso um empurrãozinho — disse Gravis. — Nós, Cultivadores, buscamos refino quando não conseguimos compreender uma Lei por conta própria. Já sabemos basicamente tudo sobre a Lei, mas simplesmente não conseguimos fazer a conexão.
— Então — disse Gravis com um sorriso brilhante — você já sabe tudo sobre a felicidade. No entanto, não consegue fazer a conexão sozinho, e se não pode fazer isso sozinho, deve buscar algo que possa ajudá-lo. A única diferença entre isso e o refino é que a ajuda que você precisa não é uma luta, mas um contato com alguém que saiba a resposta.
O Magnata Negro fechou os olhos e respirou fundo. Um turbilhão de emoções o tomou, algo que não acontecia havia milhões de anos. Por tanto tempo, tudo ao seu redor era cinzento, mas hoje ele estava realmente sentindo algo. Talvez ainda não fosse felicidade, mas ele apreciou esse misto de emoções. Para ele, parecia um pouco como lutar com alguém de seu nível.
O perigo, a excitação, a incerteza, todas as emoções que uma luta trazia consigo. O Magnata Negro sentia falta de todas essas coisas. Contudo, naquele dia, diante de um mero Imortal, o Magnata Negro experimentou emoções muito semelhantes.
Ele sentia falta dessas sensações.
— Preciso pensar — disse o Magnata Negro.
— Não — Gravis o interrompeu.
O Magnata Negro franziu as sobrancelhas para Gravis. — Isso não é algo que eu possa simplesmente fazer assim. Preciso refletir sobre isso.
— Você não está feliz e está preso aos seus próprios hábitos — disse Gravis. — Você não faz ideia do que deveria fazer, porque, se tivesse, não se sentiria uma merda agora.
O Magnata Negro estreitou os olhos.
— Se remoer em sua caverna escura fosse útil, não estaríamos tendo essa conversa agora — continuou Gravis. — Em vez de confiar apenas em si mesmo, ouça o que estou dizendo, só desta vez. Qual é o pior que pode acontecer? O pior seria meu pai dizer que não está interessado. E qual seria o prejuízo disso? Nenhum.
Gravis se aproximou e colocou a mão no ombro do Magnata Negro, algo que ninguém ousava fazer há séculos. O Magnata Negro apenas olhou nos olhos de Gravis, que o encarou com determinação.
— Cara — disse Gravis. — Apenas confie em mim desta vez.
O Magnata Negro fechou os olhos e respirou fundo. Após alguns segundos, ele os abriu com convicção.
Enquanto isso, na sala do Opositor, ele e sua esposa observavam a conversa. Um Magnata Celestial entrando na cidade e conversando com seu filho era algo grandioso. Eles precisavam acompanhar tudo de perto.
PACK!
A mãe de Gravis deu um tapa no ombro do marido. — Você vai fazer um amigo hoje! — exclamou ela, empolgada.
O Opositor estreitou os olhos. Aparentemente, ele não era o maior entusiasta da ideia.
PACK!
Outro tapa. — Ei! — gritou a mãe de Gravis, firme. — Você vai fazer um amigo hoje! Vocês estão no mesmo barco! Você também não tem amigos, e isso não é bom para você!
— VOCÊ vai fazer um amigo hoje — declarou ela, encarando-o.
O Opositor exibiu uma expressão desconfortável.
No entanto, depois de um tempo, ele suspirou.
— Certo — disse ele, fazendo sua esposa bater palmas alegremente.
— Já que é assim, vale tentar.