Gravis e Yersi ainda estavam em choque por algumas horas. Eles definitivamente não esperavam que as coisas tomassem esse rumo. O trio que havia estado junto por cerca de 200 anos se separou repentinamente. Agora, apenas os dois viviam juntos naquele apartamento.
Gravis não sabia exatamente como se sentia em relação à partida de Orthar. Por um lado, Orthar era seu amigo mais próximo e acabara de partir, o que gerava um sentimento de perda e abandono.
Por outro lado, Orthar havia descoberto algo sobre sua essência. Isso não era algo bom para ele? O pai de Gravis dissera que Orthar ainda era ele mesmo e que estava seguro. Isso não era tudo o que Gravis precisava saber?
Isso era realmente diferente de todas as outras vezes em que Gravis se separara de seus amigos?
Quando Orthar partiu, Gravis começou a pensar novamente em seus outros amigos. Ele pensava neles ocasionalmente, mas, como não podia fazer nada a respeito, não perguntava.
“Eu acho que esta é a oportunidade perfeita para perguntar quantos dos meus amigos ainda estão vivos”, pensou Gravis. “Além disso, Aris e Cera já passaram 2.000 anos nos mundos superiores. Provavelmente ainda são Imortais, mas espero que estejam bem.”
— Yersi, vou perguntar ao meu pai sobre Aris, Cera e alguns dos meus antigos amigos — disse Gravis.
Yersi soltou um suspiro. Agora, pela primeira vez, ela sentia o mesmo que Gravis sentia sempre que perguntava ao pai sobre o bem-estar de seus amigos. Ela sentia a incerteza. E se Aris e Cera já estivessem mortos? O que então?
— Quer vir comigo? — perguntou Gravis.
Yersi esperou alguns segundos.
— Não, acho que não quero — respondeu ela. — Só me conte depois.
Gravis entendeu a decisão e acenou com a cabeça.
— Claro.
SHING!
E Gravis se teleportou até seu pai.
Gravis olhou ao redor do quarto de seu pai, mas não viu o Magnata Negro em lugar algum.
— Ele foi embora — disse o Opositor.
— Como assim? — perguntou Gravis.
— Ele não pode ficar sempre aqui comigo e decidiu que queria experimentar o mundo novamente. Muitas coisas mudaram, e ele quer ver se consegue encontrar outros indivíduos com ideias semelhantes — explicou o Opositor.
Gravis assentiu e sentou-se diante de seu pai.
Whoop!
Uma xícara de café apareceu na frente de Gravis, que a pegou rapidamente.
— Isso me lembra… — disse ele. — Você disse que conversaria comigo sobre como cultivar e fazer meu próprio café.
O Opositor também serviu uma xícara para si.
— Sim — respondeu ele. — Normalmente, você só precisaria alugar um jardim e cultivar sua própria planta. Isso envolveria alterar sua Composição para atender perfeitamente às suas necessidades.
Gravis tomou um gole de café, e o sabor imediatamente o envolveu em nostalgia.
— Normalmente? — perguntou Gravis. — Isso provavelmente tem algo a ver com meu corpo único, certo?
O Opositor assentiu.
— Café é uma planta dos atributos terra e madeira. Você precisaria de um café feito com o elemento raio, o que é impossível para você. Desvendar a composição de um ser não é difícil, mas transformá-lo em algo completamente diferente enquanto mantém sua essência invade os territórios da Lei do Mundo Vivo.
— Se quiser fazer seu próprio café, precisará compreender a Lei da Vida primeiro. Depois disso, precisará fundi-la com a Lei do Mundo Morto para criar a Lei do Mundo Vivo — explicou o Opositor.
Gravis bufou.
— Então, em resumo, preciso compreender uma Lei ainda mais poderosa e avançada que a Lei do Mundo Morto só para fazer um pouco de café? — perguntou ele.
O Opositor assentiu.
— Certo, esqueça então — disse Gravis. — Isso é um pouco exagerado só por um café.
O silêncio voltou por alguns instantes.
— Pai — disse Gravis. — Muitos anos se passaram, e eu gostaria de saber como estão meus amigos.
— Quais? Você tem muitos seres que chama de amigos — disse o Opositor.
Era o momento da verdade, mas Gravis decidiu começar pelos relativamente distantes e menos importantes: seus amigos do mundo inferior. Muito tempo havia passado, e eles provavelmente haviam mudado bastante.
Para seus amigos do mundo inferior, já tinham se passado mais de 22.000 anos. Isso era mais do que o dobro da longevidade de alguém no Reino de Compreensão das Leis.
Isso significava que seus amigos ou já estavam no mundo superior, ou mortos.
Não havia meio-termo.
Gravis ainda se lembrava que Lasar já havia morrido. Isso deixava Nero, Joyce, Manuel, Velho Relâmpago, Skye e Aion.
— E Nero? — perguntou Gravis.
— Quem era esse mesmo? — perguntou o Opositor.
— O Cultivador de escuridão que conheci no Julgamento do Céu, aquele que dizia que a escuridão também pode proteger os outros — explicou Gravis.
O Opositor pensou e lembrou-se do garoto quieto. Mesmo sem prestar atenção em Nero, a memória e a percepção do Opositor eram quase inigualáveis. Por isso, ele se lembrou do discípulo insignificante de escuridão.
Ele rapidamente verificou através do espaço e do tempo e assistiu a toda a vida de Nero em um único segundo.
— Ele encontrou um lar em uma Seita mista de elementos. Após quase morrer em uma experiência de refino, decidiu compreender as Leis lentamente e elevar seu Reino. Ele alcançou o estágio avançado do Reino de Nutrição Nascente e percebeu que sua Aura de Vontade era fraca demais. Por isso, abandonou o cultivo e assumiu uma posição de ancião na Seita.
— Ele permaneceu nessa posição até que seus 3.000 anos de longevidade se esgotassem. Isso aconteceu há cerca de 20.000 anos — disse o Opositor.
Gravis já havia aceitado que seus velhos amigos se distanciariam dele, mas ainda assim sentiu um vazio no estômago ao ouvir que Nero morreu. Gravis não lamentou pelo Nero morto, mas pela morte de uma velha lembrança. Lamentou pela memória de Nero. Eles nunca se reconectariam.
No fim, Gravis desejou ter passado um pouco mais de tempo com ele. Nunca chegaram a se conhecer de verdade.
Gravis suspirou e assentiu.
— E Aion? — perguntou Gravis.
O Opositor olhou diretamente para Gravis.
— Você sabe — disse Gravis. — Aquele Nascido do Céu que me ajudou, o preguiçoso.
O Opositor inspecionou novamente o fluxo do tempo no mundo intermediário.
— Ele estava contente por ter alcançado o Reino Unidade, algo que nunca pensou ser possível. No mundo intermediário, ele não era mais caçado por todos e se estabeleceu. No fim, tornou-se um comerciante, teve muitos filhos e morreu como um homem rico.
Gravis suspirou novamente.
Outro de seus amigos havia morrido. Ele ainda se lembrava de quando poupou a vida de Aion e de como seu relacionamento com o Céu havia mudado.
Nunca mais veria o preguiçoso Aion, simplesmente tomando um suco enquanto tomava sol.
Até agora, o histórico de seus amigos era bastante devastador. Lasar, Aion e Nero estavam mortos.
— E Manuel? — perguntou Gravis.
— Eu me lembro daquele garoto — disse o Opositor, enquanto verificava novamente o mundo intermediário.
Gravis esperou até que seu pai falasse novamente.
— Ele conseguiu alcançar o mundo superior, mas parou de cultivar. Encontrou uma esposa e atualmente vive com sua família. Ele ainda tem cerca de 45.000 anos de longevidade branda restante — disse o Opositor.
Gravis suspirou aliviado. Pelo menos um deles ainda estava vivo. Além disso, Manuel ainda tinha uma grande longevidade restante, o que significava que provavelmente alcançara o mundo superior após apenas 2.000 anos ou algo assim.
— Ele parou de cultivar, e seu Reino não está mais aumentando, assim como Orpheus? — perguntou Gravis.
O Opositor assentiu.
— Isso significa que ele provavelmente morrerá em menos de 5.000 anos no tempo do mundo superior, certo? — perguntou Gravis.
— Não — respondeu o Opositor.
— Não? — perguntou Gravis.
— A partir do Reino Imortal, você tem longevidade branda. A Força de Batalha de Manuel é poderosa o suficiente para enfrentar sua primeira tribulação. Ele só começará a ter problemas na segunda. O mais cedo que ele pode morrer seria em cerca de 9.500 anos — disse o Opositor.
— Isso é bem impressionante — disse Gravis. — As tribulações provavelmente não são triviais, certo?
O Opositor assentiu.
— A primeira tribulação é sempre contra alguém um nível acima de você. Seu amigo não terá problemas contra esse tipo de oponente.
Gravis sorriu ao ouvir isso. Mesmo depois de tanto tempo, Manuel ainda era impressionante. Pelo menos ele teria uma vida longa e feliz. Gravis estava feliz por ele e desejava tudo de melhor.
— E o Velho Relâmpago? — perguntou Gravis.
Isso marcou o ponto de corte. A partir daqui, Gravis perguntaria sobre os seres que realmente importavam para ele.