— Gravis, não me entenda mal, mas eu realmente não vejo o problema — disse Jake. — Não é a felicidade o objetivo de todos nós? E daí se eu precisar seguir as ordens de alguém para ser feliz? Eu vejo isso como uma troca válida. Não considero isso uma forma de supressão, mas sim como a orientação de uma figura parental.
— Seres mais velhos e experientes sabem mais sobre o mundo do que nós, e quando eles nos ajudam a alcançar aquilo que nos faz felizes, qual é o problema nisso? — perguntou Jake.
Yersi estava indecisa sobre a questão. Ambas as perspectivas pareciam ter lados bons e ruins.
Gravis suspirou. — Eu entendo, e essa é uma opinião válida. Isso não é algo preto no branco. Seguir o Céu nem mesmo é um prejuízo para muitas pessoas, enquanto ter uma vida melhor é uma grande recompensa. Como eu disse, é um saldo positivo.
— Então por que você está tão irritado com isso? — perguntou Jake. Ele não queria provocar Gravis, mas estava genuinamente confuso. Em sua mente, não via problema algum. Felicidade era felicidade, não importava de onde ela viesse, certo?
— Porque a felicidade é apenas parte do meu objetivo — disse Gravis. — Meu outro objetivo é a liberdade, porque se eu não puder ter liberdade, não posso garantir a longevidade da minha felicidade. Quero estar no controle da minha vida, e não deixar que outra pessoa controle. Estou perseguindo a liberdade para me livrar da supressão.
— Como você pode ter certeza de que precisa de liberdade? — perguntou Jake. — Não entendo sua busca por liberdade. Se você quer ser livre, precisa ser mais forte que o Céu, e isso é impossível. Além disso, como você sabe que realmente precisa de liberdade para alcançar grande poder? E se seguir o Céu for o único caminho para se tornar poderoso?
Gravis olhou para Jake. — Jake, você é um Imperador Imortal e sabe muito mais sobre Leis do que eu, mas em relação a essas coisas, posso dizer com absoluta certeza que sei algo que você não sabe.
Jake franziu a testa. — O que você quer dizer?
— Você sabe quais Leis são necessárias para se tornar um Magnata Celestial? — perguntou Gravis.
Jake hesitou um pouco. Quase ninguém sabia algo sobre os Magnatas Celestiais. Era até um consenso geral que eles nem existiam de fato. Ninguém jamais os via, e ninguém ouvia falar de encontros com um deles por milhões de anos. É importante lembrar que Jake não havia se envolvido com os poderes do ápice até conhecer Yersi.
— As lendas dizem que você precisa da Lei do Mundo Verdadeiro — disse Jake com um pouco de incerteza.
Gravis assentiu.
— Correto. De quais categorias o Mundo Verdadeiro é composto? — perguntou.
Jake não tinha certeza, pois nunca havia obtido informações conclusivas sobre o assunto. Esses níveis de poder estavam simplesmente muito distantes dele.
— Acho que deve ser o Mundo Morto e a Vida Verdadeira, certo? — arriscou ele.
Gravis assentiu novamente. — Sim, mas você também precisa das Leis Emocionais Puras e das Leis da Realidade Percebida — explicou Gravis.
Jake franziu ainda mais a testa. — Eu entendo as Leis Emocionais, mas o que você quer dizer com Realidade Percebida? — perguntou.
Gravis ficou um pouco surpreso ao ouvir isso. Nem mesmo Jake conhecia a categoria de Realidade Percebida? Gravis tinha certeza de que Jake conhecia algumas Leis dentro dessa categoria. Afinal, eles já haviam falado sobre isso antes.
— Nós já conversamos sobre isso antes. São as Leis Situacionais — disse Gravis.
— Ah, aquelas — disse Jake, ao se lembrar. — Você precisa delas para criar um Mundo Verdadeiro? — perguntou.
Gravis assentiu. — As Leis da Realidade Percebida são, na maioria das vezes, o último passo para se tornar um Magnata Celestial. Pelo que sei, deve haver cinco delas: perigo, segurança, supressão, liberdade e controle. Sem todas as cinco, você não pode criar a Lei do Mundo Verdadeiro.
Jake coçou a lateral da cabeça. — Conheço as de perigo, supressão e controle, mas não conheço as outras duas. Tem certeza de que a Lei da Liberdade existe? Parece um conceito muito abstrato.
Whooom!
Gravis convocou seu Avatar. — Olhe para ele — disse.
Jake nunca tinha visto o Avatar de Gravis antes, e, ao inspecioná-lo, ficou chocado. Ele não reconhecia essa Lei!
— Essa é a Lei da Liberdade? — perguntou Jake.
Gravis assentiu. — Esta é a variante de Alto Nível da Lei da Liberdade. Você também sabe que eu conheço a Lei do Mundo Morto. Mas, não está surpreso pelo fato de que a Lei do Mundo Morto não é meu Avatar? — perguntou Gravis.
Os olhos de Jake se arregalaram. Certo! Gravis conhecia a Lei do Mundo Morto! Por que essa Lei não era seu Avatar!?
— Isso demonstra minha dedicação à liberdade — disse Gravis. — É o quão importante a liberdade é para mim. É tão importante que eu preferiria escolher liberdade em vez de puro poder, e este Avatar também simboliza a primeira vez que consegui escapar das garras do Céu.
— Ao abandonar o caminho que o Céu havia escolhido para mim, mesmo que fosse o melhor caminho, consegui provar a liberdade. É por isso que não consigo ignorar os esquemas do Céu.
Yersi observava tudo do lado, deixando Jake e Gravis conversarem. Ela estava feliz que os dois pudessem discutir algo sério juntos.
Jake permaneceu em silêncio por um tempo e suspirou. — Então você é simplesmente diferente de mim — disse. — Não dou tanto valor à liberdade quanto você, e, mesmo que tudo isso seja orquestrado pelo Céu, não me importo.
Jake puxou Yersi para mais perto de si. — Se isso foi orquestrado pelo Céu, devo agradecê-lo, porque foi ele que me apresentou ao meu único e verdadeiro amor — disse, olhando para Yersi com um sorriso caloroso.
Yersi corou um pouco e se encostou no ombro de Jake. Ela também estava feliz por estar com ele.
— Tudo bem — disse Gravis. — Meu pai me disse que a luta dele não era a minha luta, e agora eu digo que minha luta não é a sua. Mesmo que decidam se tornar adoradores fiéis do Céu, nosso relacionamento não mudará.
Yersi sentiu uma leve pontada de culpa. Era como se estivesse traindo os sentimentos de Gravis ao considerar seguir o caminho do Céu. Ainda assim, ela sabia que essa era sua decisão e que não deveria se sentir culpada.
Essa não era sua luta.
Jake olhou Gravis nos olhos e fez um gesto profundo de respeito. — Obrigado, Gravis — disse. — Isso significa muito para nós.
Gravis sorriu fracamente para eles. — Liberdade é liberdade, mesmo que signifique que todos ao meu redor façam coisas de que eu não goste. Quero liberdade, então é justo que eu dê a todos a escolha de fazer o que quiserem.
Ainda assim, ao dizer isso, Gravis se lembrou de seu raio. Ele acabara de dizer essas grandes palavras, mas estava suprimindo seu raio naquele exato momento. Por causa disso, Gravis sentiu que suas palavras eram vazias, sem significado real.
Gravis manteve seu problema com o raio em segredo, pois não queria preocupar nenhum dos dois. Isso não era algo com o qual eles pudessem ajudar, e saber disso não mudaria nada, exceto deixá-los mais preocupados com ele.
Alguns segundos de silêncio se passaram.
— Cara — disse Jake. — É realmente chocante saber que os Magnatas Celestiais existem de verdade. Isso significa que seu pai é um Magnata Celestial, Gravis?
Gravis franziu as sobrancelhas e olhou para Jake, confuso. — Como você chegou a essa conclusão? — perguntou.
Jake coçou a nuca, igualmente confuso. — Bem, nós só ouvimos falar sobre Deuses Divinos. Até os Líderes das Seitas mais fortes são Deuses Divinos. Como ninguém ouve falar de Magnatas Celestiais há milhões de anos, a maioria das pessoas nem acredita que eles existam. Por isso, o mundo pensa que o Opositor é um poderoso Deus Divino.
— Um poderoso Deus Divino? — repetiu Gravis, franzindo ainda mais a testa. — Isso significa que as pessoas também acham que os Líderes das Seitas podem lutar contra ele?
Jake coçou o queixo enquanto ponderava a pergunta. — Provavelmente apenas os mais poderosos, mas, se vários deles se unissem, a maioria das pessoas acreditaria que seu pai morreria.
Gravis ficou cada vez mais cético. — E por que ele sairia impune de matar todos os Deuses Estelares, então? — perguntou.
— Porque os Deuses Divinos poderosos não querem arriscar suas vidas — disse Jake. — Pelo menos, esse é o consenso geral.
— Huh — murmurou Gravis enquanto olhava novamente para o lago. — Então, mesmo o mundo mais alto tem um horizonte limitado. Nem todos conhecem o verdadeiro poder do mundo.
— Então, seu pai é um Magnata Celestial? — perguntou Jake.
— Existem vários Magnatas Celestiais — respondeu Gravis, surpreendendo Jake bastante. — Eu até encontrei um pouco mais de mil anos atrás. De acordo com a forma como ele falou, acho que existem pelo menos sete, talvez até dez, mas eles se mantêm fora de tudo por um motivo que não quero compartilhar agora. Não me sentiria confortável em falar sobre essas coisas sem permissão. Afinal, é informação pessoal.
Jake coçou o queixo. — Mas, se existem vários, por que eles ainda não pararam seu pai? Sem querer ofender — disse.
— Porque meu pai não é um Magnata Celestial — respondeu Gravis. — Pelo que sei, meu pai é o único ser em existência que pode lutar contra o Céu, e o Céu é definitivamente, no mínimo, um Reino acima de um Magnata Celestial.
— Diante do meu pai e do Céu, não há diferença entre um Imortal e um Magnata Celestial — continuou Gravis. — Ambos podem ser esmagados como insetos.
Jake quase não conseguia acreditar nessas coisas. — Então, por que existe apenas um Opositor? — perguntou.
Gravis deu uma risada curta. — Não é óbvio? — retrucou. — Porque, se houvesse um segundo Opositor, o Céu já estaria morto.
— E o Céu não permitirá que surja um segundo Opositor a menos que tenha absoluta certeza de que ele não se voltará contra ele no futuro.
Gravis franziu as sobrancelhas e olhou para o chão.
— E essa provavelmente é também a razão pela qual ele está tentando me agradar tanto quanto possível.