Gravis olhou para Stella e notou a expressão melancólica em seu rosto.
A professora dela já havia morrido, obviamente.
Perder alguém querido era sempre difícil. Gravis sabia muito bem disso. No entanto, todos ali já eram Imortais, e ninguém cairia em um redemoinho inescapável de desespero. A morte de um ente querido era normal para qualquer Imortal.
— Pelo que vale — disse Gravis. — O breve momento em que falei com sua professora me deu a impressão de que ela era uma boa pessoa, muito melhor do que a maioria dos humanos.
Stella respirou fundo. Suas emoções ainda não estavam calmas e queriam explodir contra qualquer coisa que se aproximasse dela. Um humano mortal poderia perder o controle e gritar com Gravis, dizendo que ele não sabia do que estava falando, mas Stella tinha controle suficiente sobre si mesma para compreender o sentimento de Gravis.
— Sim, ela era — disse Stella lentamente, com um olhar distante. — Ela era como uma mãe para mim e para meu irmão.
Gravis assentiu. — Sabe, antes de você aparecer, eu já estava perdendo a fé na humanidade. Ver você me lembrou de sua professora, o que me lembrou de que nem todos os humanos poderosos são hipócritas desprezíveis.
Stella, querendo se distrair, olhou para Gravis com as sobrancelhas franzidas. — Isso é um julgamento severo — disse ela.
— É, mas isso significa que não é verdade? — Gravis perguntou.
Stella ficou em silêncio por alguns segundos.
— Conte-me o que aconteceu — disse Stella.
Gravis assentiu e contou a ela sobre sua última luta com Samantha, a Seita Irrestrita e como os outros Mestres de Seita agiram.
Quando Gravis terminou de relatar sua história, Stella bufou em desgosto. — Sim, concordo que a conduta deles é falsa e repugnante, mas só porque você vê isso acontecer desenfreadamente aqui não significa que outros lugares sejam iguais.
Gravis esperou por uma explicação.
— As Seitas daqui contam como Seitas de Alto Nível, mas apenas por pouco — explicou Stella. — Elas têm seus Reis Imortais, o que lhes dá uma grande ilusão de serem muito poderosas, mesmo que não possam nem entrar nos territórios centrais do mundo.
— Elas acreditam que são poderosas o suficiente para fazer parte da liderança do mundo, mas sentem-se injustiçadas por não serem permitidas nos territórios centrais. Isso cria uma necessidade de se provar a tudo e a todos.
Gravis assentiu. — Faz sentido. Elas buscam poder de curto prazo com tudo o que têm para provar aos outros — e a si mesmas — que são poderosas. No entanto, toda essa hipocrisia dificulta que os discípulos gostem da liderança. Quando um discípulo talentoso deixa a área, é menos provável que ajude sua antiga casa devido aos sentimentos ruins em relação a ela.
Stella ficou um pouco surpresa com as palavras de Gravis. — Tem certeza de que você tem apenas quatro milênios? — perguntou. — Você fala como um especialista antigo e experiente.
Em vez de responder à pergunta de Stella, Gravis fez uma pergunta. — Você nasceu neste mundo ou veio de um mundo inferior? Tenho certeza de que nasceu neste mundo.
Stella franziu as sobrancelhas. — Isso não é difícil de adivinhar — disse ela. — Obviamente fui treinada por muito tempo com métodos que não existem em mundos inferiores.
— Não estou falando de suas habilidades, mas de sua mentalidade e surpresa diante do meu conhecimento sobre a conduta humana — disse Gravis.
— Explique — pediu Stella, ligeiramente indignada.
— Eu comecei minha jornada em um mundo inferior, o que significa que passei de fraco para o mais poderoso em dois mundos diferentes. Nessa jornada, você vê todas as facetas da conduta humana e das bestas. Qualquer Ascendente pode ver os Mestres de Seita pelo que são, o que silenciosamente cria desgosto pelos Mestres de Seita.
— Além disso, tenho certeza de que quase nenhum Mestre de Seita desta Aliança das Seitas é um Ascendente. Pode haver um ou outro caso excepcional, mas todos os outros nasceram neste mundo.
Stella franziu as sobrancelhas enquanto ponderava sobre as palavras de Gravis. — O que faz você pensar isso? — perguntou.
— Porque ser um Mestre de Seita nesta Aliança é um beco sem saída — disse Gravis. — Pessoas que nunca estiveram nessa posição podem não perceber isso, mas os Ascendentes já estiveram nessa posição antes. Afinal, todo Ascendente já foi a pessoa mais poderosa em seu mundo.
— Se os Ascendentes fossem suscetíveis a assumir uma posição assim, eles não seriam Ascendentes. Eles já teriam assumido posições semelhantes nos mundos intermediário ou inferior. Portanto, a maioria dos Ascendentes conhece essas posições e sabe evitá-las.
Stella passou os dedos pelo cabelo enquanto refletia. As palavras de Gravis realmente faziam sentido. Por que ela não tinha pensado nisso antes?
Stella logo encontrou uma resposta para essa pergunta.
Porque ela não tinha conhecimento suficiente sobre diferentes posições de poder. Ela havia ingressado na Seita dos Nove Elementos, e seu talento fora rapidamente notado pelos escalões superiores. Como uma Discípula Central, ela teve que enfrentar muitos esquemas sutis e diretos, mas nunca esteve em uma posição diferente antes.
A vida de uma Discípula Central definitivamente não era fácil. As grandes seitas sabiam que não podiam criar um especialista poderoso em segurança, por isso a competição entre Discípulos Centrais era feroz e fatal.
Se os Discípulos Centrais fossem protegidos contra esquemas ocultos e tentativas de assassinato, não teriam experiência nessas questões. Investir recursos sem fim em um Discípulo Central apenas para que morresse em uma tentativa de assassinato evitável seria um desperdício de dinheiro e tempo.
Por isso, apenas algumas regras superficiais existiam para estimular a criatividade dos Cultivadores sutis e estrategistas. Depois disso, tudo recaía sobre os Discípulos Centrais para lidar com esses esquemas. Se morressem, morriam.
A razão pela qual Stella não conseguia enxergar as coisas que Gravis enxergava era porque ela só havia estado na posição de Discípula Central. Ela nunca fora Mestre de Seita, nem anciã, nem Cultivadora independente, nem membro de uma Seita duvidosa.
O fato de Stella ter conseguido perceber isso era impressionante. Ser capaz de analisar a si mesma de forma tão objetiva e encontrar as razões e origens de suas falhas em um determinado aspecto era algo extremamente difícil.
Somente com essa mentalidade era possível crescer indefinidamente.
Essa provavelmente também era uma das razões essenciais pelas quais Stella havia alcançado sua posição atual.
Gravis olhou para a expressão de Stella e se perguntou no que ela estava pensando. Ele precisava entender melhor a mentalidade dela para poder ajudá-la a compreender a Lei da Liberdade, algo crucial para restaurar o crescimento de sua Aura de Vontade.
— No que você está pensando? — Gravis perguntou.
— Apenas em pessoas, de modo geral — respondeu ela, distraída.
— Poderia elaborar sobre o que está pensando? — perguntou Gravis. — Conhecê-la melhor facilita ajudar com o problema da sua Aura de Vontade. É para isso que você está aqui, certo?
Stella olhou para Gravis com uma expressão complexa. Ela não sabia o porquê, mas, de alguma forma, não gostou que Gravis dissesse que ela estava ali apenas por causa de sua Aura de Vontade, mesmo que essa fosse a verdade.
Ainda assim, Stella narrou seus pensamentos para Gravis durante a próxima meia hora.
Gravis simplesmente ficou ali, ouvindo seu processo de pensamento e, para ser honesto, estava bastante impressionado.
Os pensamentos de Stella não eram iguais aos de Gravis, mas eram semelhantes.
Após algum tempo, Gravis quis adicionar sua visão aos pensamentos dela. Stella aparentemente aceitou suas colocações sem distorcer o significado, mesmo quando Gravis acidentalmente generalizava algo. Ela entendia o que ele queria dizer e não se prendia a tecnicalidades.
À medida que as horas passaram, eles falaram sobre um tópico após o outro. A conversa fluía livremente, sem um objetivo específico, enquanto simplesmente trocavam opiniões.
Antes que percebessem, o sol havia se posto e nascido novamente. Eles estavam conversando há mais de meio dia.
Quando um dos raios de sol atingiu os olhos de Gravis, ele notou quanto tempo havia se passado.
— Certo, pare — disse Gravis, levantando a mão.
Stella franziu a testa. — Por quê?
— Já estamos nisso há bastante tempo — disse Gravis. — Não me entenda mal. Eu realmente aprecio nossa conversa, mas há algo que preciso fazer.
— O quê? — perguntou Stella diretamente, sem nenhuma formalidade distante.
Whoop!
Gravis tirou um Emblema e o olhou com os olhos semicerrados.
— Preciso conversar com alguém.