— De qualquer forma — disse Gravis. — Isso conclui a demonstração das Leis Situacionais. Como o nome sugere, é necessário ter conhecimento sobre situações específicas e compreendê-las. O perigo não existe na realidade física, mas na sua percepção. É também por isso que essas Leis são tão difíceis de entender.
Stella ainda estava atônita com o estilo de luta de Gravis. Agora que pensava nisso, ela deveria ter vencido a luta com facilidade. Gravis nunca deveria ter conseguido se aproximar dela, e ela deveria ter sido capaz de se defender melhor.
Era como se a realidade física lhe dissesse que Gravis não tinha chance contra ela, mas, como ambos acreditavam que ele estava perto de matá-la, sua percepção combinada mudou a realidade física.
Era como se Gravis estivesse destruindo a experiência de combate de seu oponente com suas Leis.
Depois de um tempo, Stella assentiu. — E sobre aquela outra coisa? — ela perguntou.
— A outra coisa que você precisa é de uma mudança de mentalidade — disse Gravis. — Estou falando sobre a ilusão de um caminho puro para o poder.
As sobrancelhas de Stella se franziram. — Pode elaborar?
— Não permitir que outros interfiram tem muito a ver com a ilusão de querer alcançar o poder supremo apenas com a própria força — disse Gravis. — Queremos dizer que o poder que temos foi conquistado exclusivamente por nossos próprios esforços. Queremos afirmar que foi somente nosso trabalho duro que nos permitiu nos tornar tão poderosos.
— Mas isso não é verdade — interrompeu Stella.
Gravis ergueu uma sobrancelha. Isso não parecia uma pergunta, mas uma afirmação. Stella parecia já ter tido pensamentos semelhantes no passado.
Gravis gesticulou para que ela continuasse.
Stella passou os dedos pelos cabelos enquanto mantinha as sobrancelhas franzidas. — Já tive esses pensamentos antes — disse ela lentamente. — É óbvio que sou muito talentosa. Caso contrário, minha professora não teria escolhido Liam e eu. —
— No entanto, minha professora e muitos anciões me mostraram o caminho correto. É verdade que tive que construir minha força sozinha, mas eles me mostraram a direção. Se eu não soubesse qual direção seguir, já estaria morta há muito tempo.
— Além disso, dentro da Seita, nunca tive que lutar contra alguém que fosse impossível de vencer. Sempre havia uma chance de vitória, mesmo que meu oponente fosse muito mais poderoso do que eu. Claro, quando saí da Seita, isso não era mais verdade. Tive que fugir por minha vida mais de uma vez. Também precisei encontrar abrigo e me esconder.
Gravis não a interrompeu, permitindo que ela continuasse explicando.
Stella olhou para o céu com uma expressão melancólica. — Como posso chamar esse poder de meu, se todos os meus próximos me mostraram o caminho a seguir? Sem a ajuda deles, eu já teria morrido há muito tempo.
— Porém — disse Stella, olhando novamente para o chão — sempre que expressei minhas dúvidas, as pessoas me disseram que eu estava falando besteira. Disseram que, sem meu próprio esforço e talento, eu já teria morrido há muito tempo. Disseram que ninguém mais teria conseguido sobreviver às situações que enfrentei.
— Até minha professora disse que minhas palavras eram tolices e que eu não deveria menosprezar minhas próprias conquistas — disse Stella, olhando para Gravis. — Mas eu não estou! Sim, sou muito talentosa, mas isso não significa que não recebi muita ajuda no meu passado.
— Como posso chamar meu caminho de puro quando me foi concedido acesso a várias Áreas de Compreensão de Leis, recursos, segurança e técnicas? Muitas pessoas não têm acesso a essas coisas. Elas não pensariam que meu caminho não é puro?
Gravis olhou para Stella com surpresa.
Compreender esse conceito tinha sido incrivelmente difícil para Gravis. Primeiro, o Céu intermediário precisou derrotá-lo a ponto de ele se sentir como uma criança pequena. No entanto, nem isso foi suficiente! Depois disso, o Magnata Negro lhe contou a verdade: o poder é absoluto. Não importa de onde venha, poder é poder.
E ainda assim, Stella foi capaz de descobrir isso por conta própria?
Pela primeira vez em muito tempo, Gravis sentiu que alguém era superior a ele em algo. Normalmente, ele era sempre o melhor em seu Reino de Cultivo. Ele sempre tinha a maior força de batalha, conhecia mais Leis, tinha o horizonte mais amplo, as melhores estratégias, mas não dessa vez.
Stella havia conseguido perceber algo que Gravis não havia sido capaz de enxergar sozinho. Ele precisou de outros para lhe mostrar o caminho em relação a essa mentalidade, mas Stella encontrou a solução por conta própria.
Isso exigia uma tremenda habilidade de introspecção e humildade. Negar a pureza do próprio caminho era como dizer que tudo pelo que alguém lutou e se esforçou foi dado por outros. Descartar o trabalho de uma vida dessa forma era algo extremamente difícil.
Além disso, considerando que um dos aspectos importantes para compreender essa verdade era a humildade, será que Stella conhecia a Lei da Humildade, a antítese da Lei do Orgulho? Se fosse o caso, ela conheceria duas Leis Emocionais, o que seria incrível.
Enquanto Gravis absorvia essas revelações, ele sentiu um pouco da magia do mundo retornar.
Gravis sempre pensou que era o melhor?
Não.
Orthar era um bom exemplo. Gravis via Orthar como alguém que estava no mesmo nível que ele. Orthar era incrivelmente inteligente, calculista, e Gravis podia conversar com ele sobre quase tudo. Era como se ambos estivessem na mesma sintonia.
Esse também era o principal motivo pelo qual Gravis via Orthar como seu amigo mais próximo. Ele podia falar livremente com Orthar e compartilhar seus pensamentos. Orthar quase sempre dava bons conselhos e opiniões lógicas que ajudavam Gravis.
Essa conexão era muito poderosa. Afinal, em termos de personalidade, Orthar e Gravis eram como fogo e água. Orthar suprimia e manipulava todos para seu próprio ganho, enquanto Gravis usava supressão e manipulação apenas contra seus inimigos.
A personalidade de Orthar era como a de um vilão que buscava poder e recursos acima de tudo, não importando o custo, enquanto Gravis fazia o que queria. Desde que ninguém o incomodasse, ele não incomodaria ninguém.
Ainda assim, apesar de todas essas diferenças, Orthar e Gravis eram bons amigos.
No entanto, a dinâmica entre Gravis e Stella era diferente.
Enquanto Gravis via Orthar como um igual em praticamente tudo, com Stella, ele se sentia inferior em um aspecto.
Por outro lado, Gravis também era superior em outros aspectos.
Então, em vez de dois iguais se encontrando, era como dois opostos extremos se encontrando. Ambos eram excelentes em praticamente tudo, mas tinham atributos diferentes nos quais se destacavam.
Gravis sabia muito sobre Leis e Cultivo.
Stella tinha uma habilidade superior de refletir sobre si mesma.
Ambos conheciam muitas Leis da Matéria e da Vida.
Gravis sabia mais sobre as Leis da Realidade Percebida, mas Stella sabia mais sobre as Leis Emocionais.
Pela primeira vez, Gravis encontrou admiração na personalidade de outra pessoa. Quando alguém era superior em algo, seu modo de pensar era diferente. Isso significava que uma parte da mente de Stella era superior à de Gravis, e ele achava isso intrigante.
Alguém que sabia algo melhor do que ele.
Alguém que conseguia fazer conexões que ele não conseguia.
Por algum motivo, Gravis achava a mente e as palavras de Stella fascinantes. Ele acreditava que precisava ensiná-la sobre a ilusão de pureza, mas Stella já sabia disso.
Gravis pensava que teria que falar muito com Stella e convencê-la de que suas crenças estavam erradas. Achava que precisaria destruir essa ilusão dela, assim como o Céu intermediário havia destruído a dele.
No entanto, nada disso era necessário.
Stella já tinha a mentalidade perfeita.
— Gravis — chamou Stella com um pouco de nervosismo. — Você pode parar de me olhar assim? — perguntou, ficando um pouco envergonhada.
Gravis rapidamente balançou a cabeça e desviou o olhar. — Desculpe, fiquei tão surpreso com suas palavras que me perdi em pensamentos.
Stella suspirou por algum motivo. — Ah, entendi — disse.
Gravis permaneceu em silêncio por um momento enquanto continuava amaldiçoando Arc. Por que Arc tinha contado a ele sobre Stella!? Agora que Gravis sabia tudo sobre a conexão entre eles, conversar com ela se tornava difícil. Gravis odiava situações constrangedoras!
Normalmente, ele enfrentava seus problemas diretamente. Sentia atração por alguém? Certo, ele simplesmente diria. Se desse certo, ótimo. Se não, paciência. E isso era tudo.
Mas ele não podia resolver essa questão no momento. Sua atração por Stella era real, mas ele não podia agir sobre esses sentimentos até resolver o problema com sua afinidade com o raio.
Gravis suspirou. “Eu odeio isso!”
Stella olhou para Gravis com preocupação, enquanto ele encarava o lado oposto.
Conforme os segundos se passaram em silêncio, o constrangimento dominou o ambiente.