Surem estava frustrado, mas não havia nada que ele pudesse fazer além de aceitar sua circunstância. No entanto, ele tinha amigos dentro da Seita Irrestrita e não os deixaria morrer assim tão facilmente! Ele queria dar a eles a chance de escolher entre lutar ou não.
Surem rapidamente procurou todos que conhecia, mas a maioria apenas o ignorou. Por que alguém atacaria a Seita deles? Eles faziam parte da Aliança das Seitas! Se fosse possível atacá-los tão facilmente, a Aliança das Seitas já teria desmoronado há muito tempo. Afinal, por que qualquer Seita iria querer fazer parte de uma aliança tão inútil?
Além disso, criticaram Surem por suas palavras. Era do pai dele e Mestre da Seita que ele estava falando! Eles acreditavam que Surem era um grande Cultivador, mas, aparentemente, ele era apenas um filhinho mimado que perdia a cabeça assim que o pai ficava fora por um dia.
O principal motivo pelo qual tão poucos acreditaram em Surem era que ele nunca havia falado mal de seu pai antes. Ele sempre dizia que seu pai era poderoso e que aspirava ser como ele. E agora, de repente, seu pai abandonou a Seita para morrer? Parecia mais provável que Surem simplesmente tivesse algum desentendimento com o pai e quisesse se vingar ao difamá-lo diante da Seita.
Surem fez o seu melhor, implorando e falando com desespero em sua voz para que acreditassem nele, mas isso só deixou os outros mais irritados. Na mente deles, a imagem de Surem caiu vários níveis, até ele não ser mais do que uma criança mimada.
Gravis observou a cena, e Surem chegou a implorar por sua ajuda.
— Se eles nem acreditam em você, o que te faz pensar que acreditarão em mim? — respondeu Gravis, simplesmente.
Isso só aumentou a frustração de Surem, mas não havia nada mais que ele pudesse fazer. Com o coração e o espírito quebrados, Surem decidiu desistir. Ele conseguiu convencer apenas três de seus amigos a saírem imediatamente, e isso foi tudo. Havia tantos outros amigos que Surem não conseguiu convencer.
Gravis e Surem esperaram sozinhos na borda da Seita Irrestrita, dentro de uma floresta. Gravis se encostou em uma árvore de olhos fechados enquanto aguardava o ataque inevitável, enquanto Surem andava de um lado para o outro, nervoso.
Surem continuava murmurando perguntas sobre por que ninguém acreditava nele. Mesmo que Surem estivesse errado, não seria melhor errar por excesso de cautela?
— As emoções humanas não são tão simples, Surem — disse Gravis. — Você queria dar sua vida em uma luta perdida enquanto eles estão dispostos a arriscar suas vidas em uma luta que parece vencível para eles. Na mente deles, você é o louco.
As palavras de Gravis só aumentaram a ansiedade de Surem. Por um lado, Gravis estava absolutamente certo, mas, por outro, essas pessoas não percebiam que estavam prestes a morrer!?
Em uma situação tão estressante, era difícil formular pensamentos racionais. As emoções se transformavam em redemoinhos confusos, dificultando o raciocínio. Gravis também não era imune a situações assim. Às vezes, as emoções simplesmente dominavam, e erros eram cometidos.
As horas se arrastaram, e a noite chegou. Os discípulos da Seita faziam um grande churrasco no campo de treinamento, rindo juntos. Eles conversavam, dançavam, faziam música e, no geral, se divertiam.
Sem pânico.
Sem medo.
Sem nervosismo.
Surem olhou para a festa com dor, raiva e frustração.
— Grave esta cena na sua mente — disse Gravis. — Você a reviverá muitas vezes no futuro.
Surem mal ouviu as palavras de Gravis enquanto olhava para o alegre encontro. Tudo parecia tão calmo, como se fosse qualquer outro dia. Nada parecia diferente. Será que tudo realmente desmoronaria em breve?
— É por isso que você precisa de uma liderança forte — disse Gravis ao se aproximar de Surem. — Os discípulos não têm as informações relevantes. Eles não podem descobrir o que vai acontecer porque não têm nem mesmo pistas contextuais para tomar decisões corretas.
— Nenhum deles viu a luta entre Arthur e Liran. Ninguém viu como Liran age sob pressão. Ninguém teve contato com outros Mestres de Seita. Eles não sabem mais porque nunca tiveram a chance de ver a Aliança das Seitas pelo que realmente é.
— Eles confiam suas vidas aos Anciões e ao Mestre da Seita. O escalão superior é mais poderoso que eles e está nessas posições há milhares de anos. Certamente, eles saberiam o que fazer melhor do que os discípulos, certo?
— Essa é uma boa mentalidade se você está em uma Seita realmente poderosa. Com essa mentalidade, você não desconfia de seus líderes. Quando eles são verdadeiramente bons líderes, não há problema nessa mentalidade.
— No entanto, essa mentalidade também é o que permite que Seitas morram. Todo discípulo confia a responsabilidade de suas vidas e da Seita ao Mestre da Seita. Porém, se esse Mestre da Seita não assume nenhuma responsabilidade, as consequências virão.
— Se ninguém vigiar o bebê, mais cedo ou mais tarde ele sairá de casa e será devorado por um cão selvagem. A culpa foi do bebê? — disse Gravis lentamente.
Surem não respondeu.
Gravis olhou para a reunião e estreitou os olhos.
— Notou isso? — Gravis perguntou.
Surem olhou para o encontro com os olhos semicerrados, mas não sabia do que Gravis estava falando. — O que quer dizer? — ele perguntou.
— Nos últimos dois minutos, quatro Imortais de Circulação Maior deixaram a festa. Além disso, nem um único Imortal no Pináculo ou Vice-Mestre da Seita está lá.
Surem respirou fundo. — Quer dizer que eles sabem? — ele perguntou.
Gravis assentiu. — Tenho quase certeza de que todos sabem. No entanto, também tenho certeza de que pelo menos dois deles não apenas sabem, mas também ajudaram o atacante. Os atacantes não podem espionar facilmente a Seita, o que significa que precisam de inteligência interna. Algumas pessoas deram essa inteligência a eles e provavelmente já recuaram.
Surem rangeu os dentes. — Traidores!? Na minha Seita!? — perguntou com raiva.
— Especialmente nesta Seita — disse Gravis. — A Seita Irrestrita é mais propensa a ter traidores do que qualquer outra. Vocês dizem a todos os discípulos que são livres para fazer o que quiserem. Além disso, muitos discípulos provavelmente ainda guardam rancores de seu tempo na parte de Supressão da Seita. Algumas pessoas estão dispostas a esperar anos por vingança.
Surem não respondeu enquanto seu rosto ficava vermelho de raiva e frustração.
Gravis respirou fundo e fechou os olhos.
— Eu sinto — ele disse.
— A sensação de segurança está desaparecendo lentamente. O sentimento de perigo ainda não chegou, mas a sensação de segurança está se esvaindo. A Seita está se transformando lentamente de um refúgio seguro para um ambiente selvagem, onde qualquer coisa pode acontecer.
Surem ficou mais ansioso ao ouvir as palavras de Gravis, mas, por mais que tentasse, não conseguia sentir nenhum perigo se aproximando. Será que Gravis estava interpretando mal seus próprios sentimentos?
— A realidade percebida ainda não mudou para a Seita — disse Gravis. — Todos acreditam que estão seguros, mas a realidade física está mudando lentamente. Infelizmente, para que a realidade percebida afete a realidade física, ambas as partes de um conflito precisam percebê-la como verdadeira.
— Quando os dois lados têm realidades percebidas diferentes, a realidade física será o fator decisivo. Realidade percebida que não se conforma à realidade física é conhecida por outra palavra — disse Gravis, enquanto toda a sensação de segurança desaparecia.
Surem esperou com a respiração presa pela destruição inevitável de sua Seita.
Assim que toda a sensação de segurança desapareceu, Gravis sentiu o perigo se aproximando com velocidade esmagadora. Em apenas um segundo, um ambiente neutro se transformou em um vale de morte certa.
— Chama-se ilusão — disse Gravis com os olhos estreitos.
WHOOOOM!
Gravis puxou Surem para dentro de seu Anel da Vida e saltou para o céu.
BOOOOOOOOOOM!
BOOOOOOOOOOM!
BOOOOOOOOOOM!
O apocalipse havia chegado.