O silêncio voltou enquanto Gravis permanecia sentado no chão, com a cabeça entre as mãos, enquanto Stella olhava chocada para o Anel da Vida.
SHING!
Liam saiu do Anel da Vida. Ele poderia ter saído a qualquer momento, mas Gravis havia pedido que ele não o fizesse até ver Stella novamente. Liam não tinha conexão com o que acontecia do lado de fora, o que significava que ele não sabia o que havia acontecido entre Gravis e Stella.
Liam olhou para sua irmã enquanto sua mão direita tremia ao se estender para ela. Ele viu duas intensas marcas vermelhas de mãos em suas bochechas e percebeu que o braço direito dela estava quebrado.
Mas o que mais o chocou foi o fato de que metade das vestes de Stella estava rasgada.
Cultivadores constantemente se machucavam em batalhas, mas aquelas não eram feridas de batalha.
Eram feridas de abuso.
A mão de Liam se fechou em um punho e começou a tremer violentamente enquanto sua raiva explodia. Ele havia ouvido de Gravis que seria necessário levar Stella a um ponto sem retorno, mas não sabia exatamente o que ele faria.
Quando Gravis olhou para Liam por vários segundos, os dois se comunicaram por transmissão de voz. Gravis havia explicado que precisava da cooperação de Liam para resolver o problema de Stella, mas que isso exigia que Gravis contasse a Liam o que Stella precisava compreender.
No entanto, explicar isso a Liam significava que seria mais difícil para ele aprender a Lei da Liberdade no futuro.
Liam não hesitou nem por um momento e pediu que Gravis explicasse.
Assim, Gravis explicou a ele o conceito de liberdade e como era possível compreendê-la. Alguém só poderia compreender a liberdade estando no ponto mais baixo de sua vida, mas isso não era tudo. Quando a pessoa estivesse no ponto mais baixo de sua vida, ela precisaria ser colocada diante de uma escolha.
Uma escolha entre o que era certo e o que desejava fazer.
O pai de Samantha havia estado nesse ponto. Ele acabara de perder a filha, e o assassino estava à sua frente, protegido por todos os Mestres de Seita. A decisão racional seria esperar, mas ele queria tanto matar Gravis que seguiu seu desejo.
Gravis explicou a Liam que ele precisaria ‘morrer’ primeiro. Felizmente, Liam tinha algum conhecimento das Leis da Vida, o que facilitava a criação de partes do corpo falsas. Caso contrário, Gravis teria que criá-las, e Liam precisaria infundi-las com sua aura, mas era muito mais convincente se Liam fizesse isso diretamente.
Ambos estavam em Reinos mais altos do que Stella, o que significava que era fácil sair do alcance do Sentido Espiritual dela. Após sair do alcance, Liam preparou as partes do corpo enquanto conversavam. Então, ele jogou quase todos os seus pertences no chão e entrou no Anel da Vida de Gravis.
A última coisa que Gravis precisou fazer foi liberar um Crescente de Relâmpago.
Essa foi a última vez que Liam havia visto sua irmã até agora.
No entanto, ao ver Stella daquele jeito, ele não conseguiu mais controlar sua raiva.
Stella estava ferida, com lágrimas e sangue manchando seu rosto.
Em seu estado mental destruído, ela até havia esquecido da vergonha e olhava para o irmão como se estivesse em um sonho.
— Eu sinto muito — Liam disse baixinho.
PACK!
Stella pulou nos braços do irmão enquanto chorava descontroladamente.
Seu irmão ainda estava vivo!
Liam não conseguiu retribuir o abraço, mas reparou as vestes de Stella. Vê-la daquele jeito o machucava profundamente, e ele sentia uma enorme culpa.
Sim, havia sido necessário submetê-la àquelas coisas, mas, em sua mente, ainda era uma traição.
A vergonha de Liam o impediu de devolver o abraço. Ele se sentia horrível demais. Não merecia abraçar sua irmã naquele momento.
— Você compreendeu a liberdade? — Liam perguntou baixinho.
Stella ainda chorava no abraço de Liam, mas ele sentiu a cabeça dela acenar levemente.
Liam soltou um suspiro de alívio. — Bom — disse ele, em voz baixa.
Então, ele gentilmente empurrou Stella para o lado, rompendo o abraço.
SHING!
E puxou seu fino florete enquanto lançava um olhar mortal a Gravis.
— Então você não precisa mais dele — disse ele friamente.
A mente emocional de Stella congelou ao sentir outro presságio de desgraça.
Contudo, Liam foi rápido demais e imediatamente lançou seu ataque mais poderoso.
SHING!
Liam desferiu um golpe, e uma mistura de Inferno, Raio de Punição e Gelo disparou contra Gravis, que ainda estava sentado no chão.
Stella sentiu como se tivesse acordado de um pesadelo apenas para cair em outro.
Não, de novo não!
BOOOOOM!
O ataque explodiu, mas a explosão não foi nem de longe tão grande quanto deveria. Na verdade, mal atingiu o poder de uma Lei de nível três.
Os olhos de Liam se estreitaram ao perceber que Gravis não poderia ter morrido com aquilo.
— PARE! — Stella gritou enquanto se jogava sobre Liam, segurando-o com toda sua força.
— Me solte! — Liam gritou para Stella, apenas para ser tomado por mais culpa ao perceber que havia gritado agressivamente com sua irmã. Seus olhos ficaram frios enquanto ele olhava para o local da explosão. — Ele deve pagar!
SLAP!
Stella deu um tapa em Liam, virando sua cabeça para o lado e fazendo sua mente parar de funcionar.
— Cala a boca! — Stella gritou com lágrimas nos olhos. — Eu não passei por um mundo de sofrimento só para te perder de novo! Eu não quero que você jogue sua vida fora!
A mente de Liam ficou chocada ao sentir sua bochecha ardendo. Stella nunca havia batido nele antes.
No entanto, as palavras de Stella continuavam ecoando em seus ouvidos. Ela não queria que ele morresse.
A mão de Liam apertou o cabo de seu florete com raiva e frustração. Ele queria matar Gravis desesperadamente naquele momento, mas sabia que não podia vencer. Além disso, ele não queria que sua irmã passasse por mais turbulências. Ela já havia sofrido o suficiente por um dia.
Liam guardou o florete. — Me desculpe. Perdi o controle — disse ele em voz baixa.
Stella pulou em seus braços novamente. — Está tudo bem, desde que você esteja bem — respondeu ela.
Assim, os dois permaneceram abraçados.
Enquanto isso, a fumaça da explosão desaparecia, revelando Gravis sentado no chão. No entanto, sua cabeça já não estava mais entre as mãos. Em vez disso, ele massageava a ponte do nariz, estressado.
Tudo aquilo também não tinha sido fácil para ele. Contudo, Gravis já havia passado por problemas suficientes em sua vida para que algo assim não o quebrasse.
O motivo pelo qual Gravis estava tentando se acalmar naquele momento não era por causa da situação com Stella.
Agora, Gravis estava fazendo o máximo para resistir à vontade de seu raio.
Liam o havia atacado, e seu raio queria matá-lo.
O raio de Gravis estava gritando para ele matar Liam, fazendo Gravis sentir raiva e ódio de Liam. No entanto, Gravis não cedeu.
Liam tinha estado em uma posição horrível e estava muito emocional. Gravis havia feito tudo isso por um bom motivo, mas isso não significava que Stella não tivesse acabado de passar por um trauma pesado.
Gravis provavelmente teria agido de maneira muito semelhante a Liam, e foi por isso que ele não queria matá-lo naquele momento.
Gravis estava disposto a relevar aquele ataque, mas não um segundo.
“Preciso de um tempo para mim mesmo, e eles provavelmente também querem ficar sozinhos”, pensou Gravis.
Gravis criou um token de jade e o colocou diante de si. Depois disso, ele se teleportou.
O token de jade dizia que ele estaria esperando a cerca de um milhão de quilômetros ao norte. Se quisessem falar com ele, ele permaneceria lá por mais uma semana. Caso não viessem, ele interpretaria isso como um sinal de que queriam cortar todo o contato com ele.
A missão de Gravis estava concluída.
Stella havia seguido Gravis porque ele concordou em ajudá-la com o problema de sua Aura de Vontade. Com a nova mentalidade de Stella e a Lei da Liberdade, tais interferências não seriam mais um problema. Isso significava que não havia mais razão para manter contato com ele.
Além disso, depois de tudo o que acabara de acontecer, mesmo que tivesse sido por um bom motivo, Gravis podia entender se eles não quisessem vê-lo novamente. Ele não se importava com Liam, mas sentiria falta de Stella.
“Fiz a coisa errada pelos motivos certos”, pensou Gravis com um suspiro.
“Eles podem decidir o que quiserem.”
“O que for acontecer, acontecerá.”