Depois de vários dias ensinando, Gravis finalmente dispensou a aula quando todos começaram a ficar indisciplinados. Eles provavelmente não estavam acostumados a permanecer em um único lugar por tanto tempo.
Felizmente, a concentração de Gravis era poderosa o suficiente para lidar facilmente com uma sessão de ensino tão longa. Isso não era nada em comparação a compreender Leis ou forjar equipamentos.
Gravis ativou seu Sentido Espiritual e viu Arc sentado em um toco de árvore a alguns quilômetros de distância.
SHING!
Gravis se teleportou até lá.
— Sério? Você se teleporta até para uma distância tão curta? — Arc disse com um sorriso, sem sequer olhar para ele.
— Bem, eu não tenho tanto tempo quanto você — respondeu Gravis.
— Sim, mas quando você se move rápido demais, perde as belezas da vida — disse Arc, sorrindo para Gravis. — Não é exatamente por isso que você está aqui?
Gravis piscou algumas vezes.
Arc estava certo.
Gravis vinha perseguindo poder pelos últimos 2.500 anos, e isso o havia mudado sutilmente. Ele refletiu sobre o motivo de ter se teleportado e percebeu que essa minúscula economia de tempo era realmente insignificante.
Gravis suspirou. — Como você sabia?
— Porque você é uma pessoa inteligente, Gravis — disse Arc. — Você entende os perigos de perseguir poder sem descanso e sabe que isso invalida o próprio motivo pelo qual você quer se tornar poderoso.
Gravis caiu em reflexão.
Então, Arc começou a rir. — Estou só brincando. Todo mundo tira uma pausa de vez em quando — disse Arc com um tom divertido.
Gravis também riu ao ouvir o tom genuíno de Arc.
— Mas falando sério, você precisa se reconectar com seu lado humano entre as sessões — disse Arc. — Você não quer acabar se tornando uma máquina de poder sem emoções.
— Falando em lado humano — disse Gravis, lembrando-se de uma pergunta. — Por que as bestas da aula agem mais como humanos?
— Isso é porque elas são parcialmente humanas — disse Arc, como se não fosse grande coisa.
Gravis ficou chocado ao ouvir isso, mas logo percebeu a resposta. — Então, elas são filhos de bestas e humanos, como os meus? — perguntou Gravis.
Arc assentiu. — Sim. Assim que as bestas conseguem assumir forma humana, o romance entre elas e humanos se torna mais comum. Porém, ainda não é algo predominante.
Gravis franziu o cenho. — Como você sabe, eu tenho um corpo de besta, o que significa que todos os meus filhos se tornaram bestas com traços humanos. O que pode acontecer quando um humano verdadeiro e uma besta têm filhos?
— Existem quatro possibilidades, baseadas em dois critérios — explicou Arc. — O primeiro é se eles têm um corpo humano ou de besta, e o segundo é se possuem uma Aura de Vontade e Espírito ou não.
— Assim, pode haver humanos verdadeiros, bestas verdadeiras, bestas com uma Aura de Vontade e Espírito, mas corpos fracos, e humanos sem Espírito ou Aura de Vontade, mas com corpos poderosos — continuou Arc. — E, claro, há um espectro de quão semelhante à personalidade humana ou besta eles são.
Arc suspirou. — No entanto, apenas duas dessas quatro possibilidades podem existir neste mundo.
— Por quê? — perguntou Gravis.
— Inimizade — disse Arc com uma expressão séria. — Humanos e bestas são inimigos mortais neste mundo, Gravis. Um humano com um corpo poderoso, mas sem Espírito, será morto pelos humanos, pois sabem que um de seus pais é uma besta. O mesmo ocorre com bestas com Espírito.
— Humanos simplesmente matam esses filhos híbridos por seu ódio eterno às bestas, enquanto as bestas os matam por medo de que se aliem aos humanos. Ambos os lados têm razões diferentes, mas as ações são as mesmas — explicou Arc.
Gravis franziu o cenho. — Você não salva esses filhos híbridos?
— Não — disse Arc. — Este é apenas um lar temporário para eles. Assim que eles deixam este lar, ao compreenderem sua primeira Lei, serão mortos de qualquer forma. Além disso, não há espaço suficiente para salvar todos.
Gravis suspirou. Arc era o ser mais poderoso deste mundo, mas ainda tentava ser o mais justo possível. Havia menos de 200 seres no santuário de Arc, o que era praticamente nada.
— Então, suponho que essas bestas sejam filhos híbridos com corpos de bestas verdadeiras, mas com personalidades humanas? — perguntou Gravis.
Arc assentiu. — Eles ainda podem ter um futuro no mundo, mas o mundo emocionalmente vazio das bestas não é um lar para eles. Quero dar-lhes um lugar onde possam viver como humanos até eventualmente morrerem ou ascenderem ao mundo superior, onde a inimizade entre humanos e bestas basicamente não existe.
— E os humanos com personalidades de bestas? — perguntou Gravis.
— Eles não são apenas mais humanos? — Arc disse com um sorriso. — Os humanos são tão diversos que um humano que age como uma besta é simplesmente outro humano. Além disso, sua lealdade e mentalidade focada em poder lhes darão muitos aliados.
— Certo, foi uma pergunta idiota — admitiu Gravis. — Mas havia outra coisa que eu queria perguntar.
— Pergunte.
— Encontrei uma pessoa com quase nenhuma Sorte Cármica. Foi você que fez isso? — perguntou Gravis.
— É um sistema automático, implementado por meu criador — disse Arc. — Eu posso odiar meu criador, mas ele é muito bom em manter um mundo saudável. Eu não interfiro na Sorte Cármica. O sistema apenas verifica as ações e a intenção por trás delas. Se julgar que o Cultivador causa mais danos do que benefícios para a coleta de Energia, reduz a Sorte Cármica dele.
— Acho que você pode chamar isso de Lei — Arc disse, coçando o queixo. — Mas não é uma Lei no sentido usual, e sim no sentido de uma regra da natureza. Como a água fluir para baixo.
— E não, você não pode compreendê-la — acrescentou Arc com um sorriso.
Gravis assentiu. Então, nem tudo era controlado pelo Céu. Algumas coisas aconteciam automaticamente.
— A propósito, o que você faz o tempo todo? — perguntou Gravis.
— Bem, agora mesmo, há quatro Cultivadores passando por suas tribulações. Preciso monitorar essas lutas para decidir se a longevidade deles deve ser estendida ou não. Ao mesmo tempo, estou manipulando as circunstâncias de outros 4.781 Cultivadores para movê-los em direção a pessoas que logo alcançarão o fim de suas longevidades — disse Arc em menos de um segundo.
— Isso soa como muito trabalho — suspirou Gravis.
— Ah, você se acostuma depois de um ou dois milhões de anos — disse Arc com um aceno despreocupado. — Por agora, tudo acontece automaticamente.
Por mais que Gravis tentasse, ele simplesmente não conseguia imaginar acostumar-se a algo assim. Parecia complicado e estressante demais.
— Você tem Provações dos Céus? — perguntou Gravis.
— Várias — respondeu Arc com um sorriso. — Afinal, este é o mundo superior mais poderoso, não é? Preciso continuamente refinar todos os Cultivadores. Só queremos os melhores dos melhores, certo?
Gravis assentiu. No passado, o Céu inferior também usara uma Provação dos Céus, mas usá-la em um mundo inferior fazia mais mal do que bem.
A diferença entre o Céu inferior e Arc era inimaginavelmente vasta. Um era um dos Céus mais fracos e arrogantes, enquanto o outro era o segundo mais forte e provavelmente o mais humilde.
— A propósito, pode me fazer um favor? — perguntou Arc.
— Qual? — respondeu Gravis. O que Arc poderia pedir a ele?
— Poderia tentar não destruir este mundo como fez com os dois anteriores? Gosto muito do meu mundo, sabe? — pediu Arc.
Gravis riu amargamente. — Vou fazer o meu melhor — disse ele.
Arc assentiu. — Sua próxima aula chegou — disse Arc.
— Já!? — Gravis exclamou, surpreso.
— Sim, você ultrapassou muito o tempo da última sessão, e a próxima turma não ficará satisfeita até receber o mesmo tempo que eles — disse Arc com um sorriso.
Gravis suspirou.
No entanto, ele sabia que precisava ter mais contato com os outros. Ensinar algumas ‘crianças’ seria a melhor maneira de voltar a ser quem ele era antes.
No momento, tudo o que Gravis queria era compreender mais Leis, mas ele sabia que precisava esperar.
Como Arc havia dito, se alguém se movesse rápido demais, acabaria perdendo as belezas do mundo.
Gravis preferia uma vida colorida a uma vida cinzenta.
— Quanto tempo devo pausar? — Gravis perguntou.
— Ah, a turma não precisa de pausa. Eles estão no Reino da Formação Espiritual, afinal — respondeu Arc.
— Não, não é isso que eu quis dizer… — Gravis começou, mas parou ao ver o sorriso de Arc.
Arc riu novamente.
— Algo entre 50 e 100 anos. Eu sugeriria 100 anos, só para garantir — disse Arc com um sorriso.
Gravis também sorriu. — Obrigado.
— Não há nada para agradecer — disse Arc. — Você está dando lições diferentes aos alunos, o que é bom. Além disso, é positivo que eles tenham mais contato com alguém de fora deste lugar.
Gravis assentiu.
Depois disso, ele voltou para sua aula, mas, desta vez, ele não se teleportou.
Em vez disso, ele caminhou.
Caminhou rápido, mas caminhou.