— Sim, isso é um incentivo bem forte — disse Gravis. — Contudo, regras draconianas frequentemente geram ressentimento.
— Não importa — disse o velho com um sorriso. — Há casos de revolução aqui e ali, mas são apenas exercícios de futilidade quando o outro lado possui um poder esmagador.
Os olhos de Gravis brilharam. — Então, o território da Seita da Vida não é tão unido quanto você quis me fazer acreditar.
O velho franziu a testa. — Fui honesto com você.
— Sim, foi — disse Gravis —, mas é possível ser honesto sem revelar todos os detalhes. Eu também fui honesto, mas ambos sabemos que há mais na minha situação.
— Há? — perguntou o velho, surpreso.
Gravis bufou. — Não se faça de inocente — disse ele. — Você não é estúpido.
— Certo, certo — disse o velho com um sorriso. — Sim, nada é tão simples quanto parece na superfície — admitiu ele. — Contudo, isso não muda a realidade. A Seita da Vida é o único lugar onde você pode viver sem se preocupar que algum Imperador Imortal aleatório descubra seu segredo.
— Hm — murmurou Gravis. — Isso também é verdade.
— De qualquer forma, obrigado pelo mapa. Estou indo agora, e provavelmente visitarei a Seita da Vida no futuro — disse Gravis.
O velho assentiu com um sorriso. — Foi um prazer conversar com você, e estou ansioso para ver do que você é capaz. Pelo que ouvi, sua força de batalha é incrível. Você verá que a Seita da Vida pode lhe oferecer o melhor lar que você pode encontrar neste mundo.
— O melhor que posso encontrar, hein? — comentou Gravis, já de costas. — Isso não promete muito em um mundo onde humanos e bestas estão sempre em conflito.
— Mas ainda assim é o melhor — disse o velho com um sorriso. — Na grande ordem das coisas, um homem pequeno pode parecer pequeno, mas quando está entre anões, ele é um gigante.
— Hmph — resmungou Gravis uma última vez. Em seguida, fez um gesto para Siral, indicando que partiriam.
Quando o velho viu Gravis gesticulando para Siral, um brilho passou por seus olhos. Ele já havia notado esse poderoso Rei Imortal ao entrar na sala, mas, durante a conversa com Gravis, parecia que o Rei Imortal simplesmente deixou de existir. Era como se o velho subconscientemente ignorasse Siral.
O velho percebeu que Siral não era simples. Esconder a própria presença a esse ponto, dentro de uma sala tão pequena, não era uma façanha fácil. Havia algo peculiar nesse Rei Imortal.
— Por que está seguindo nosso pequeno amigo? — perguntou o velho a Siral. Para ele, era estranho que Gravis tivesse liderado a conversa, quando normalmente seria papel do mais poderoso dos dois.
— Ele salvou minha vida uma vez, e o fará novamente no futuro. Estou apenas retribuindo — disse Siral, lançando um breve olhar ao velho.
Siral obviamente se referia ao momento em que Gravis decidiu poupá-lo. Siral havia atacado Gravis pelas costas com a intenção de matá-lo. Poupar sua vida em uma situação assim não era algo esperado. Por isso, Siral contava isso como uma vez que Gravis havia salvo sua vida.
A segunda vez, obviamente, seria sua tribulação.
O velho franziu a testa. Gravis havia salvado a vida de Siral antes? Como isso era possível? Esse Rei Imortal já não deveria ser bastante poderoso naquela época? Afinal, Gravis estava neste mundo há apenas cerca de 40.000 anos.
Gravis e Siral deixaram a casa com o novo mapa e teleportaram-se.
O velho na casa apenas acariciou a barba com um sorriso.
Depois de alguns teletransportes, Gravis parou e olhou para Siral.
— Então, agora você sabe que eu tenho um corpo de besta — comentou Gravis. — O que pensa sobre isso?
— Mestre é Mestre. Isso é tudo — disse Siral deferente.
Gravis não ficou satisfeito com a resposta. — Certo — disse Gravis. — Então, me diga, o que o velho Siral teria pensado? Aquele Siral de pouco antes de eu usar meu Anel da Vida.
Siral franziu a testa enquanto tentava emular sua mentalidade antiga. Era difícil, já que o Anel da Vida havia alterado severamente sua personalidade. — Acho que ele teria perguntado primeiro se você é humano ou não.
— Eu sou humano — disse Gravis. — Nasci humano e continuo humano, mesmo que tenha um corpo de besta.
Siral assentiu. — Então, acho que o velho Siral não teria se importado. Desde que você genuinamente se considere humano, você é humano.
Gravis também assentiu. Ele não tinha certeza se podia confiar na resposta de Siral, já que ele ainda estava sob influência do Anel da Vida, mas era melhor do que nada.
Gravis pensou em contar a Siral alguns de seus segredos, mas decidiu não fazê-lo. Claro, Siral não podia traí-lo, mas isso era temporário. Gravis planejava libertar Siral em cerca de 20.000 anos. Se Siral guardasse algum ressentimento, ele poderia revelar todos os segredos de Gravis.
Gravis já cometera esse erro antes com Morus, que depois o ameaçou com seus três filhos. Gravis não cometeria esse erro novamente. Quanto menos Siral soubesse sobre ele, melhor. Se Siral decidisse ficar com Gravis após ser libertado da influência do Anel da Vida, Gravis poderia decidir revelar alguns de seus segredos.
Gravis e Siral continuaram sua jornada seguindo a seta vermelha que o velho lhes havia mostrado.
Dias depois, ainda estavam teleportando. Era insano o quão enorme o mundo era. Gravis não precisava de mais que alguns minutos para atravessar o território da Aliança das Seitas, mas já estavam teleportando por dias. E o pior: ainda não haviam chegado ao perímetro da Seita dos Nove Elementos.
Gravis e Siral haviam parado de usar as Leis da Sutileza da Sombra.
Por quê?
Porque, se acidentalmente entrassem em algum território importante de uma Seita, não seriam vistos como invasores dessa forma.
Se alguém parasse diante de uma mansão fortificada enquanto caminhava normalmente, os guardas provavelmente o mandariam embora com um aviso. Mas, se essas mesmas pessoas estivessem se esgueirando pela noite tentando se esconder, seriam vistas como invasores.
Isso não terminaria com um simples aviso.
Gravis não confiava o suficiente em sua habilidade de se esconder para entrar nessas áreas críticas.
Além disso, agora, não havia motivo para isso.
SHING! SHING! SHING! SHING! SHING!
De repente, cinco pessoas apareceram diante de Gravis e Siral enquanto o espaço ao redor congelava.
— Parem! — gritou o líder. Todos usavam capas pretas que escondiam completamente suas características. Essas capas também tinham a habilidade de ocultar seus corpos de Sentidos Espirituais.
Gravis olhou para eles com os olhos semicerrados.
Ele tinha absoluta certeza de que não vinham com boas intenções.
Por quê?
Porque duas pessoas ao fundo carregavam torsos sangrentos com cabeças. Cada uma delas segurava cinco correntes que passavam sobre seus ombros e terminavam em ganchos de carne cravados nos torsos.
Os torsos não tinham flutuações espirituais, mas Gravis percebeu que ainda respiravam.
Eram dez pessoas vivas sendo carregadas por esses cinco indivíduos.
Seus Espíritos haviam sido desativados temporariamente, provavelmente com o uso de pílulas. Além disso, seus olhos, ouvidos e bocas estavam queimados e selados.
Por todos os efeitos, essas pobres pessoas não podiam sentir, ver ou ouvir nada. Apenas estavam sob dor severa enquanto os ganchos de carne rasgavam seus corpos sempre que os captores se moviam.
Gravis nunca tinha visto algo assim antes, e isso parecia desnecessariamente cruel.
Muitas vezes, os piores seres não eram as bestas, mas os humanos.
Gravis se perguntava por que essas cinco pessoas faziam isso. O que ganhavam com isso? Ele tinha quase certeza de que não era apenas desejo por crueldade. Coisas assim não importavam muito para Imortais poderosos. Afinal, todos eram experientes o suficiente para saber que algo assim não os ajudava.
Havia um motivo para suas ações.
— O que vocês querem? — Gravis perguntou com os olhos semicerrados.
A figura líder apenas sorriu sob o capuz negro.