— Matei algumas bestas — respondeu Mortis.
Gravis estreitou os olhos enquanto estava na clareira de Arc.
— Quantas?
— …Algumas — respondeu Mortis após uma pausa.
— Quantas!? — Gravis insistiu.
— Não sei. Não contei — respondeu Mortis com irritação. — Talvez umas 40 ou algo assim.
Gravis franziu a testa. — E provavelmente todas eram Reis Imortais, certo? — perguntou Gravis.
— A maioria, sim — respondeu Mortis.
— Por quê?
— Porque interromperam minha Compreensão da Lei ou não permitiram que eu negociasse pelos recursos deles — explicou Mortis. — Você sabe que precisamos ir a vários lugares diferentes para compreender a Lei do Puro Suave, e a maioria deles simplesmente me parou e disse que aquele era o território deles.
— Então, eu os matei — completou Mortis.
Gravis bufou. — O quê? Você é o Opositor agora? Sua solução para tudo é simplesmente matar?
— O que há de errado nisso? — perguntou Mortis, irritado. — Seu pai conseguiu ficar poderoso dessa forma. É um método comprovado.
— Sim, mas naquela época, o conceito de Sorte Cármica ou não existia ou meu pai tinha uma quantidade normal de Sorte Cármica. No seu caso, se você conseguir irritar até mesmo uma pessoa poderosa, as chances são altas de que essa pessoa queira te matar — explicou Gravis.
— E daí? Então eu simplesmente não fui poderoso o suficiente — respondeu Mortis friamente. — Se eu morrer, eu morro.
— Você precisa se dar tempo para se tornar poderoso! — Gravis gritou, irritado. — Você não pode esperar que um coelho entre na boca de um crocodilo e depois dizer que não era poderoso o suficiente. Não, o problema não era que o coelho não fosse poderoso o suficiente, mas que ele não era esperto o suficiente!
— Está me chamando de estúpido? — perguntou Mortis em um tom frio e ameaçador.
— Não, mas você está agindo como um idiota! — gritou Gravis. — Você é parte de mim, e eu sei que definitivamente você não é estúpido, mas seu orgulho idiota que diz que ceder até mesmo um centímetro significa ser inferior faz você fazer coisas estúpidas!
— Quantas vezes isso já aconteceu porque eu subestimei os outros? Lembra-se de Byron? De Morus? De Narciso? Você é parte de mim, e eu sou muito suscetível a superestimar meu próprio poder.
— Isso foi você, não eu — disse Mortis.
— Sim, foi eu, não você! — gritou Gravis de volta. — Então, aprenda com meus erros para que você não os cometa!
Mortis, na verdade, concordava com Gravis. Ele sabia que tinha cometido um grande erro, mas não queria admitir isso na frente da versão que ele considerava mais fraca de si mesmo.
Mortis queria mostrar a Gravis que seu caminho era melhor para se tornar poderoso, mas agora estava preso nessa prisão miserável enquanto Gravis nunca havia sido preso em toda a sua vida.
Mortis não podia matar bestas. Não podia sair desse lugar. Não podia invocar nenhuma Lei para compreendê-las.
Mortis estava apenas sentado ali, sem fazer absolutamente nada.
Tinha valido a pena?
Não.
Se Mortis tivesse simplesmente decidido ignorar algumas bestas, já teria terminado a Lei do Puro Suave.
O aprisionamento era um castigo terrível para os Cultivadores. Afinal, eles estavam condenados a ficar presos em seu Reino atual e em sua compreensão enquanto viam sua longevidade diminuir cada vez mais. Basicamente, era danificar o potencial futuro ao tirar-lhes tempo.
Gravis e Mortis discutiram por mais dez minutos. Gravis estava sempre no lado agressivo, enquanto Mortis se defendia. Ele sabia que havia cometido um erro, mas simplesmente não conseguia admiti-lo para a versão mais fraca de si mesmo.
Gravis sabia muito bem o que Mortis estava pensando. Afinal, Gravis era o modelo de Mortis.
— Você é tão fraco que não consegue nem admitir que cometeu um erro? — perguntou Gravis.
— Não ouse me chamar de fraco! — gritou Mortis.
— Sua Força de Combate é poderosa, mas e sua personalidade? Você ficará preso para sempre no seu caminho sem questionar a si mesmo? Você acredita que convicção em sua crença é uma força em vez de uma fraqueza? — perguntou Gravis.
Mortis não respondeu imediatamente.
— Qual é o problema? — perguntou Gravis, agora mais calmo. — Você não será ferido ao admitir um erro. Sua Força de Combate não diminuirá. A única coisa que acontecerá é que você terá admitido um erro. A dor de superar seu orgulho estúpido se transformará em motivação para nunca mais cometer um erro tão idiota.
— Admitir um erro é crescimento, não regressão — disse Gravis com convicção.
Mortis permaneceu em silêncio por um tempo. Ele sabia que Gravis estava certo, mas era muito difícil admitir seus erros. Se fosse qualquer outra pessoa, Mortis não teria dificuldade. Ele simplesmente diria com indiferença que havia cometido um erro.
Mas na frente de Gravis?
Na frente da versão de si mesmo que deveria ser mais fraca, sem coragem para enfrentar o perigo?
Não seria como admitir que o outro Gravis era superior?
Gravis notou que Mortis ainda não respondia e suspirou.
— Vantagens e desvantagens, Mortis — disse Gravis.
Então, os olhos de Mortis brilharam.
Sim, e daí se ele fosse mais fraco nessa categoria em comparação a Gravis? Especificamente essa fraqueza o tornava superior a Gravis em outros aspectos.
Mortis ainda era mais poderoso que Gravis em Força de Combate, e não era a Força de Combate o mais importante? Poder era tudo, afinal.
Mortis ainda era a versão mais poderosa de Gravis. Apenas em algumas situações muito específicas, sua mentalidade não era tão eficaz.
— Certo — disse Mortis finalmente. — Cometi um erro. Eu não deveria ter matado tantas bestas.
Gravis sorriu brilhantemente. — Sem problema. Agora, precisa de ajuda?
— Não — respondeu Mortis, fazendo Gravis franzir a testa novamente. — Minha sentença é de 5.000 anos, e já completei 3.500 deles. Faltam apenas 1.500 anos, e talvez seja melhor simplesmente terminar isso em vez de tentar qualquer coisa.
No início, Gravis pensou que Mortis havia se tornado teimoso novamente, mas percebeu que Mortis estava, na verdade, agindo de forma inteligente. O antigo Mortis não teria aceitado tal humilhação, mas o novo Mortis estava pensando no longo prazo.
É claro que uma única conversa não mudaria fundamentalmente Mortis, mas permitiria que ele mudasse aos poucos com o tempo.
— Certo — disse Gravis. — Terminei minhas Técnicas de Arma. Quer que eu finalize a Lei do Puro Suave?
— Não, eu quero terminá-la — respondeu Mortis. — Que tal você visitar Stella enquanto isso? Assim, não precisarei esperar por você.
Gravis coçou o queixo em pensamento e deu de ombros. — Certo, por que não?
Com isso, a conversa entre Mortis e Gravis terminou. Gravis foi rapidamente até Arc e conversou com ele por um tempo.
Contudo, pouco antes de Gravis sair da clareira de Arc, ele se lembrou de algo.
— O problema com meu raio está resolvido agora que Mortis está aqui, certo? — perguntou Gravis.
Arc assentiu.
— Então, posso tentar as Leis Emocionais, certo?
Arc assentiu novamente. — Pode, mas será difícil para você encontrar as Áreas de Compreensão de Leis necessárias — disse Arc.
— Elas são tão importantes assim? — perguntou Gravis com as sobrancelhas franzidas.
Arc assentiu mais uma vez. — Há apenas uma Área de Compreensão de Lei para cada Lei — explicou Arc. — Isso significa que elas não apenas são raras, mas únicas em todo o mundo. Isso as torna incrivelmente valiosas.
Gravis suspirou. — Isso significa que devo esperar. Se eu quiser chegar a elas mais cedo, precisarei pagar uma quantia ridícula ou me juntar a uma das Seitas mais poderosas. Seria melhor apenas esperar até me tornar inigualável neste mundo.
— Isso seria mais fácil — disse Arc.
— Certo — respondeu Gravis. — Não é como se eu fosse ficar sem Leis para compreender tão cedo. Não faz realmente diferença se eu as compreendo agora ou depois.
Com isso dito, Gravis deixou a clareira de Arc e viajou em direção à Seita dos Nove Elementos.
Era hora de encontrar Stella novamente.
“Já faz mais de 40.000 anos.”