— Você consegue ver? — Arc perguntou.
Gravis apenas olhava, hipnotizado, para algo no centro da caverna. Era como se aquilo o estivesse chamando.
Ele sentiu o impulso de entrar.
Sentiu que receberia um poder imensurável ao atravessá-lo.
— Gravis! — Arc gritou.
Gravis balançou a cabeça por um instante. — Sim?
— Você consegue ver? — Arc perguntou novamente. Seu tom brincalhão habitual havia desaparecido completamente.
Gravis olhou novamente para o centro da caverna. — Sim, eu consigo ver — Gravis respondeu.
— É um portal? — Arc perguntou.
— Sim, é — Gravis confirmou.
Bem no meio da caverna, havia um portal circular de três metros de altura. Ele era feito de materiais dourados e negros, mas Gravis não tinha ideia de que tipo de materiais eram aqueles. Nunca havia visto nada parecido.
— Qual é a cor? — Arc perguntou.
— O portal em si é dourado e negro, e seu centro é completamente negro — Gravis respondeu.
No meio do portal havia… nada.
Era como uma tela preta.
Arc franziu o cenho. — Qual a sensação que você tem ao olhar para o portal? — Arc perguntou.
Gravis focou novamente no portal, e sua mente vagou.
— Gravis!
Gravis balançou a cabeça de novo. O portal o havia encantado mais uma vez!
— Quando eu olho para o portal, sinto como se simplesmente não houvesse nada. É como se o mundo acabasse ali. É como se o centro do portal não existisse de forma alguma — Gravis explicou. — Também sinto um impulso de atravessá-lo. Parece que aprenderia algo importante.
Ao ouvir isso, Arc suspirou.
— Então, é exatamente como eu pensei — Arc disse. Por algum motivo, ele parecia triste, mas também aliviado.
Ao perceber as ações de Arc, Gravis franziu o cenho. “O que pode ser esse portal para que até Arc se preocupe com ele dentro de seu próprio mundo?”
Gravis tentou recriar a imagem do portal e a enviou para as mentes de Arc e Stella.
Os dois receberam a imagem e reagiram de maneiras diferentes.
Stella ficou confusa.
Parecia apenas um portal normal. Ela não viu nada de especial nele.
Em comparação, Arc assentiu.
Era exatamente como ele pensava.
— O que é esse portal? — Gravis perguntou.
— Como eu disse antes — Arc respondeu. — As Leis do Cosmos do meu criador penetram em meu mundo, e as Leis do Caos Primordial penetram no Cosmos do meu criador e, por extensão, no meu mundo.
— Este portal que você vê agora é uma manifestação de uma das Leis do Caos Primordial.
— Eu não consigo vê-lo porque não sou poderoso o suficiente para competir com o Caos Primordial. Pelo que sei, apenas seu pai e o meu criador podem competir com o Caos Primordial. Assim, essencialmente, apenas quatro seres em todo o Cosmos podem ver essa coisa: você, Mortis, seu pai e o meu criador. Ninguém mais pode ver, sentir ou interagir com ela.
— Olhe — Arc disse enquanto dava um passo à frente.
Os olhos de Gravis se arregalaram quando Arc entrou no centro da caverna e, ao tocar no portal, nada aconteceu.
Arc simplesmente atravessou o vazio no centro do portal como se ele nem estivesse lá. Nem mesmo as colunas do portal interagiram com seu corpo.
— Nós existimos em realidades separadas — Arc explicou. — Apenas aqueles que o Caos Primordial considera dignos e aqueles que podem competir com ele podem interagir com o portal.
Arc suspirou novamente. — Felizmente, você me contatou diretamente.
Gravis franziu o cenho. — Por quê? Algo ruim teria acontecido se eu não tivesse contatado você?
Arc assentiu. — Sim, duas coisas ruins, na verdade.
— Primeiro, como não consigo sentir ou perceber o portal, eu não saberia que um desses portais apareceu no meu mundo. Você pode pensar que não haveria problema em ter um portal assim. Afinal, apenas alguns escolhidos podem interagir com ele, certo?
— Errado — Arc disse. — Embora apenas os escolhidos possam interagir com tal portal, seu impacto no meu mundo e até em todo o Cosmos não é insignificante. Na verdade, se não for gerenciado corretamente, essa coisa poderia engolir o Cosmos inteiro, deixando apenas você, Mortis, seu pai e o meu criador para trás.
Gravis respirou fundo enquanto olhava para o portal.
“Este portal insignificante pode acabar com todo o Cosmos? Como isso é possível?”, Gravis pensou.
— Esse tipo de portal já apareceu antes? — Gravis perguntou.
Arc assentiu. — Algumas vezes — Arc respondeu. — Isso acontece uma vez a cada cem milhões de anos ou algo assim.
“Cem milhões de anos”, Gravis pensou. “Isso é o dobro do tempo que os Magnatas Celestiais podem viver! Esses portais parecem surgir muito raramente.”
— O que ele faz? — Gravis perguntou.
Arc apontou para o chão no centro da caverna. — Vocês vêm o chão abaixo do portal? — Arc perguntou.
— Eu consigo ver! — Stella gritou. — O chão no centro está mais escuro que o resto.
Arc assentiu. — A Lei do portal se espalha lentamente enquanto ele continua existindo. Além disso, quanto maior ele fica, mais rápido cresce. Pode levar mil anos para a mancha dobrar de tamanho, mas em outros mil anos, ela pode já ter engolido o mundo.
— Além disso, o portal em si leva ao Caos Primordial. Como você sabe, o Cosmos do meu criador é como uma pequena esfera cheia de água dentro de um balde de líquidos misturados. A camada externa da esfera é uma barreira unidirecional e um filtro. A barreira mantém os líquidos misturados fora enquanto retém a água dentro da esfera. Enquanto isso, o filtro filtra a água dos líquidos misturados, e a água é empurrada para dentro da esfera.
— A esfera é o Cosmos. A água é a Energia. Os líquidos misturados são o Caos Primordial.
— Com essa analogia, você pode ver esse portal como um pequeno buraco no filtro e na barreira.
Os olhos de Gravis se arregalaram.
Agora ele entendia por que Arc estava tão sério.
— Então, em essência, a água vai escapar, e os líquidos misturados vão entrar, certo? — Gravis perguntou.
Arc assentiu. — Sim, o portal absorve Energia e despeja o Caos Primordial. Como você sabe, apenas alguém no nível do meu criador pode sobreviver ao entrar em contato com o Caos Primordial. Qualquer outra coisa que entrar em contato com ele morrerá.
— É por isso que disse que fico feliz por você ter me contatado imediatamente — Arc continuou. — Meu mundo tem uma quantidade imensa de Energia, e eu não perceberia a diminuta queda de Energia que o portal consome. O Caos Primordial formaria rapidamente uma terra desolada de morte na superfície, que então se expandiria.
— Claro, terras desoladas aparecem e desaparecem o tempo todo em um mundo tão grande. Eu nem perceberia essa anomalia até que a terra desolada tivesse uns 500 milhões de quilômetros de largura. E isso seria por volta da época em que eu notaria a queda na Energia.
Gravis ouviu Arc com interesse e um pouco de horror. — E como você se livra de um portal assim? — ele perguntou.
— Primeiro, preciso cortar essa parte do mundo — Arc respondeu. — Não consigo banir o portal do meu mundo, e não consigo destruí-lo. No entanto, posso destruir a parte do meu mundo onde o portal está. Você pode pensar nisso como cortar uma mancha de um tapete.
— Depois disso, preciso contatar o meu criador, já que o portal ainda estaria dentro do Cosmos dele. Ele então faz o mesmo que eu. Ele corta a parte do Cosmos onde o portal está localizado.
Gravis assentiu. Ir contra o Caos Primordial era basicamente impossível, mas o portal havia surgido no terreno do Céu mais elevado. O Céu mais elevado não precisava vencer contra o Caos Primordial. Ele só não podia perder.
— E se eu entrar nele? — Gravis perguntou.
— Lembra-se de quando eu disse que duas coisas ruins aconteceriam? — Arc respondeu. — A primeira coisa foi o que acabei de descrever. A segunda coisa ruim envolve você.
— Depois de ouvir minhas descrições sobre os efeitos do portal, você deveria ser capaz de extrapolar que tipo de Lei do Caos Primordial esse portal representa — Arc disse.
Gravis assentiu.
— A Lei da Morte — Gravis respondeu.
— Correto — Arc confirmou. — Você conhece a Lei Menor da Morte, uma Lei ainda mais rara e misteriosa do que a Lei da Realidade Percebida. Para compreender essa Lei, você basicamente precisa testemunhar o fim do mundo enquanto é o único ser sobrevivente. Obviamente, poucos seres já estiveram em uma situação dessas.
As sobrancelhas de Gravis se ergueram. — A Lei Menor da Morte é tão rara assim? — ele perguntou.
Gravis havia descoberto que a Lei Menor da Morte era útil quando combinada com sua Aura de Vontade, mas seu efeito não chegava nem perto do efeito da Lei Maior da Supressão. Era apenas uma adição interessante de poder, mas não muito significativa.
Arc assentiu. — A Lei Menor da Morte é ainda mais rara do que a Lei do Verdadeiro Mundo, e estou me referindo à versão mais elevada da Lei do Verdadeiro Mundo.
Os olhos de Gravis se arregalaram ainda mais. — É tão rara assim? Então isso significa que há mais Magnatas Celestiais do que pessoas que conhecem a Lei Menor da Morte?
Arc assentiu. — Sim.
Gravis estava genuinamente surpreso que essa Lei, interessante mas não tão útil, fosse incrivelmente rara.
— De qualquer forma — Arc continuou. — Já que você sabe qual Lei é essa, o que acha que aconteceria se entrasse no portal?
Gravis olhou para o portal com nervosismo.
— Eu morreria.
— Exatamente!
Silêncio.
Depois de um tempo, Gravis franziu o cenho. — Mas isso não faz muito sentido — ele disse. — Sinto que posso compreender algo importante entrando ali. Além disso, parece um pouco simples demais que esse portal exista apenas para me consumir.
— Isso também é verdade — Arc respondeu. — Ao entrar no portal, você pode compreender a Lei Maior da Morte, que, a propósito, é uma Lei de nível sete. Assim que você compreender a Lei Maior da Morte, ficará imune aos seus efeitos. Nesse caso, você seria capaz de sobreviver.
Gravis coçou o queixo enquanto olhava para o portal.
— Porém! — Arc gritou alto para chamar a atenção de Gravis. — Como você compreende a Lei Maior da Morte? O que precisa acontecer para você aprender tal conceito? A Lei Menor da Morte já exigiu a morte de um mundo. O que a Lei Maior da Morte exigiria?
Os olhos de Gravis se arregalaram ao perceber de onde Arc estava vindo.
— Minha morte — Gravis disse.
Arc assentiu. — Eu não conheço a Lei Maior da Morte. Conheço a Lei Menor da Morte porque já vi meu mundo morrer algumas vezes. Eu também já invoquei esse portal uma vez antes. No entanto, nunca entrei nele.
— Meu criador disse que eu morreria se entrasse, e, por uma vez, eu acreditei nele. Não acho que ele tenha mentido para mim nesse caso. Eu nem sabia que a Lei Maior da Morte existia ou em que nível ela estava até que meu criador me informou na época.
— Ele também me disse que, ao longo dos anos, milhares de seres entraram nesses portais, mas apenas dois saíram vivos.
— Você pode adivinhar quem são esses dois.