O silêncio retornou às crateras devastadas que haviam sido seu campo de batalha.
Magma jorrava do solo, alcançando os céus. As crateras haviam atingido uma profundidade de várias dezenas de milhares de quilômetros, criando enormes caldeiras.
Quem sabe, talvez no futuro, este lugar se tornasse outra Área de Compreensão da Lei do Magma.
— Você sente isso, Mortis? — perguntou Gravis com um sorriso.
Mortis não tinha certeza do que Gravis queria dizer.
— O que você quer dizer? — ele perguntou.
— Agora conhecemos a Lei Maior das Emoções, nossa primeira Lei de nível sete — respondeu Gravis.
Os olhos de Mortis perderam o foco por um instante.
A Lei Maior das Emoções.
Essa não havia sido a meta deles por uma eternidade?
Mortis pensou em todas as Emoções, e parecia que ele conseguia ver através do véu da vida.
Quando Mortis olhou para Gravis, ele não viu Gravis, mas todas as Leis Emocionais que definiam sua personalidade.
Contudo, ainda havia coisas faltando.
Mortis não conseguia enxergar completamente através de Gravis por três razões.
Primeiro, Gravis era feito de Raio Vazio. A Lei das Emoções apenas explicava como seres feitos de Energia funcionavam. Como Gravis era feito de Raio Vazio, Mortis não conseguia entender completamente as emoções de Gravis.
Essa também era a razão pela qual Arc e o Magnata Negro não conseguiam ver através de Gravis.
Segundo, os dois conheciam apenas a Lei Maior das Emoções, não a Verdadeira Lei das Emoções. Ainda faltava muito.
Terceiro, eles não conheciam a Lei Maior da Realidade Percebida. A Lei de nível cinco da Realidade Percebida não chegava nem perto do nível da Lei de nível sete das Emoções.
A Lei das Emoções ditava a personalidade de formas de vida complexas.
Por outro lado, a Lei da Realidade Percebida ditava a personalidade mais detalhada de um ser senciente.
Uma definia um animal; a outra, um humano ou besta.
Para compreender todos os aspectos de uma forma de vida tão complexa e inteligente quanto um humano, era necessário compreender a Lei da Senciência, a combinação da Lei das Emoções e da Lei da Realidade Percebida.
Após alguns segundos, Mortis concentrou-se em alguns Cultivadores a alguns milhões de quilômetros de distância.
Nesse momento, os Cultivadores estavam escondidos.
As explosões e ondas de choque de sua luta anterior haviam assustado todos os seres vivos num raio de milhões de quilômetros.
Mortis viu um Cultivador de Nutrição Nascente e ficou olhando por vários segundos.
A Lei Maior das Emoções e a Lei de nível cinco da Realidade Percebida eram poderosas o suficiente para ver através de quase todos os seres abaixo do Reino Imortal.
Quando Mortis olhou para o Cultivador, ele não viu o Cultivador.
Era como se o Cultivador tivesse se tornado um ser… algo.
Qual seria a palavra certa?
Mecanismo?
Equação?
Conjunto de regras?
Algoritmo?
Máquina?
Formação de Matrizes?
Nenhuma dessas palavras parecia se encaixar.
Mas uma coisa era clara.
Mortis via o que o Cultivador pensava.
Mortis até sabia o que o Cultivador faria.
Se o Cultivador não deixasse a área do Sentido Espiritual de Mortis, ele seria capaz de calcular exatamente o que o Cultivador faria, mesmo anos no futuro.
Contudo, isso exigia que Mortis também calculasse o que todos os seres vivos, todos os Elementos e todas as matérias inertes fariam. Afinal, seres vivos não são estáticos. Eles reagem ao ambiente.
Mas quem era Mortis?
Mortis era um Imperador Imortal!
Calcular as ações de alguns milhares de Cultivadores de mundos intermediários não era nem de longe tão exaustivo quanto compreender uma Lei poderosa.
A interação completa de tantas variáveis não chegava nem perto da complexidade das Leis de nível cinco.
— Você consegue ver, Gravis? — Mortis perguntou de volta.
— O que você quer dizer? — Gravis perguntou.
— Podemos ver tudo o que qualquer um fará por vários anos — disse Mortis, com a voz séria. — As formas de vida mais fracas se tornaram nada além de equações em nossa mente.
— Quando podemos prever tudo o que qualquer um fará por anos, a liberdade realmente existe?
Mortis respirou fundo.
— Talvez o Magnata Negro estivesse certo.
Pack!
Gravis empurrou levemente o ombro de Mortis com um sorriso.
— O que há com você? Você conhece a Lei da Liberdade. Então, por que está fazendo uma pergunta tão estúpida?
Mortis franziu o cenho. — Eu conheço a Lei da Liberdade, mas não vejo como essa Lei pode garantir liberdade quando todos os nossos caminhos estão predestinados.
Gravis riu um pouco, irritando Mortis.
Mortis não estava com humor para rir naquele momento.
— Mortis — disse Gravis com um sorriso. — Você não percebe? Não é que você não consegue ver a liberdade deles. Na verdade, é o oposto.
— O oposto? — perguntou Mortis, confuso.
— Sim — respondeu Gravis com um sorriso. — Você está vendo a liberdade deles.
Isso surpreendeu Mortis.
— O que você quer dizer?
— O que é liberdade? — perguntou Gravis. — Não é fazer o que queremos? Então, quando aquele Cultivador faz o que quer, ele não está livre?
— Quando sabemos o que eles querem, não é natural que também saibamos o que farão?
— Ser livre não significa agir de forma incompreensível ou imprevisível. Emoções são o que nos impulsionam. Emoções são a fonte de nossa felicidade, tristeza, raiva, ódio, amor, e assim por diante. Liberdade significa fazer o que queremos.
— Você os observa e pensa que não são livres só porque sabe o que farão. No entanto, todos eles fazem o que querem. Em comparação, se fossem contra sua própria personalidade para não serem previsíveis, não estariam indo contra suas emoções? Por definição, isso significaria que não são livres.
Mortis ouviu atentamente, mas ainda estava um pouco incerto.
— O que você está dizendo faz muito sentido. Na verdade, nem consigo argumentar contra você.
— Mas? — perguntou Gravis, com um sorriso.
— Mas o Magnata Negro sabe muito mais sobre Emoções e Liberdade do que nós. Então, ou isso não é a resposta correta, ou o Magnata Negro não a encontrou. Sei que somos poderosos, mas não podemos nos comparar à compreensão do Magnata Negro. Por isso, estou quase certo de que a resposta não pode ser tão simples.
— Por que não? — perguntou Gravis com um sorriso.
Mortis franziu o cenho. — Você ouviu alguma coisa do que acabei de dizer?
— Claro que sim — respondeu Gravis. — No entanto, isso não tem nada a ver com compreensão ou Leis. Isso é simplesmente uma perspectiva de vida. Entender que estamos testemunhando a liberdade das formas de vida mais fracas não me ensina mais Leis, e, além disso, saber mais sobre as Leis da Emoção e da Realidade Percebida não necessariamente tornará mais fácil encontrar a resposta.
— Afinal, surpreendentemente, não me incomoda ser capaz de ver o que todos farão no futuro, enquanto isso tem sido uma fonte de tormento emocional para o Magnata Negro.
Gravis olhou para o Cultivador que os dois observavam.
— Não consegue apreciar algo que já conhece? Apenas olhe para a beleza das Leis. Há tantas combinações únicas que basicamente nenhum humano existe duas vezes. Todos eles têm seus próprios números, regras, Leis, Emoções e muitas outras coisas.
— Não é impossível apreciar algo que já conhecemos. Afinal, muitos humanos gostam de ouvir ou ler a mesma história novamente, mesmo sabendo como ela termina.
Mortis não conseguiu encontrar um contra-argumento.
Ainda assim, ele estava um pouco incerto.
Tudo o que Gravis havia dito parecia tão simples, mas seria realmente verdade?
— Não consigo encontrar contra-argumentos contra seu raciocínio agora, mas ainda não tenho certeza se é a verdade — respondeu Mortis.
— Claro — disse Gravis com um dar de ombros. — É sua decisão o que você quer acreditar. Se não tem certeza, vá buscar a resposta.
— De qualquer forma — disse Gravis.
— Quer que eu corte nossa conexão emocional?