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Lucia – Capítulo 92

Eu te amo - Parte (III)

Lucia afundou no sofá do quarto e calmamente reconstituiu as memórias de sua infância. Seu coração se aqueceu ao pensar em sua mãe. Antes, quando ela pensava em sua mãe, ela ficava triste, mas agora, ela só ficava com lembranças felizes. Isso foi graças ao fato de que Lucia atualmente era feliz em sua vida.

Sua mãe geralmente colocava o pingente bem fundo em sua gaveta e de vez em quando, ela o tirava para olhar. Às vezes, ela ficava tão encantada com isso que nem notava Lucia chegando ao seu lado. Lucia achou que sua mãe realmente gostava do pingente.

‘Mamãe deve ter sentido falta da família e pensado neles quando olhava para o pingente. E, ao mesmo tempo, ela deve ter ficado triste porque não pôde voltar para casa devido às circunstâncias.’

Sua mãe provavelmente teria voltado para sua cidade natal se ela não tivesse ficado grávida. Mas sua mãe nunca foi pessimista sobre sua vida nem culpou Lucia.

Sua mãe sempre teve que trabalhar para seu bem-estar. Ela geralmente trabalhava no supermercado local e, se tivesse tempo, cuidava de uma pequena horta para cobrir as despesas com alimentação. Apesar de tudo, sua mãe estava sempre sorrindo. Frequentemente, ela abraçava Lucia e a carregava em seu colo macio.

A mãe sempre expressou seu amor com carinho, chamando-a de ‘minha filha amada’ e dizendo ‘Estou feliz porque tenho você’. Quando Lucia perdeu a mãe, o desespero que sentiu foi como se o céu tivesse desabado, mas ela foi capaz de suportar os tempos difíceis, lembrando-se do amor de sua mãe.

‘Achei que mamãe tivesse que penhorado o pingente porque precisava desesperadamente de dinheiro quando me machuquei.’

No entanto, sua mãe nunca havia deixado o pingente na casa de penhores. Se o dono da loja de penhores estava certo, a memória de Lucia estava errada.

‘Digamos que minha memória de infância esteja errada. A razão pela qual pude encontrar meu tio mais tarde foi por causa do pingente. Então, como o pingente chegou à casa de leilões? Foi roubado?’

O pingente tinha um significado importante para Lucia. Foi o que a ajudou a encontrar suas raízes.

‘Acho que tinha oito anos quando aconteceu.’

Lucia relembrou o acidente ocorrido quando ela era jovem. Ela ficou gravemente ferida naquele incidente.

Havia uma árvore grande na entrada do bairro e a jovem Lucia fez uma aposta com as crianças do bairro para subir na árvore. Ela não sabia o que era o medo e subiu até o topo antes de olhar para baixo triunfante. Mas havia um pássaro fazendo ninho no topo da árvore. A mãe pássaro se sentiu ameaçada e atacou Lucia, fazendo-a se desequilibrar de surpresa e cair.

‘O lugar que se machuquei naquele dia foi…’

Os olhos de Lucia tremeram ligeiramente quando ela verificou sob o joelho direito. Não havia cicatriz. A área onde o ferimento deveria estar era muito lisa. A ferida era grande demais para afirmar que havia cicatrizado completamente e desaparecido conforme ela crescia. Mas não importa o quão cuidadosamente ela olhou, ela não conseguiu encontrar um único vestígio.

‘Isso nunca existiu? Ou desapareceu?’

Lucia nunca havia olhado muito de perto a cicatriz em sua perna. Ela teria continuado a ignorá-la se não fosse pelo pingente que a fez pensar no acidente que aconteceu quando ela era criança.

‘Será que a memória de mim mesma me machucando também está errada? Não. De jeito nenhum eu poderia me esquecer de um acidente tão grande com detalhes tão vívidos.’

Ela continuou pensando e pensando até que sua cabeça doesse. Ela tomou remédio para isso, deitou na cama e adormeceu.

Enquanto dormia, Lucia sonhava com sua infância. Os tempos inocentes em que ela apenas pensava no que iria comer no dia seguinte passaram rapidamente. Logo, ela estava chorando com todo o coração ao lado do corpo frio de sua mãe. As pessoas da vizinhança deram tapinhas nas costas dela na tentativa de consolá-la. Eles ficaram tristes com a morte de sua mãe e deixando uma criança como ela sozinha no mundo. Uma tia que era amiga íntima de sua mãe enxugou as lágrimas de Lucia. Enquanto Lucia chorava, dominada pela tristeza, ela apertou o pingente da mãe com força, como se fosse a própria mãe.

De repente, um Guarda Real invadiu e virou o bairro de cabeça para baixo. Ninguém foi capaz de impedir a Guarda Real de levar Lucia e eles só podiam assistir de longe. A jovem de olhos vazios não se rebelou e simplesmente o seguiu obedientemente.

Ela estava cega para o luxo do palácio. Ela não conseguia sentir nenhuma emoção ao olhar para o homem chamado pai que ela estava vendo pela primeira vez. O palácio isolado em que ela ficaria era frio e sombrio. Em um quarto desolado, deitada, soluçando e repetidamente chamando sua mãe, estava uma jovem com um pingente na mão.

Lucia acordou assustada. Parecia que ela estava dormindo há muito tempo porque havia escurecido lá fora. Ela se sentou na cama com uma expressão vaga.

‘Não foi um sonho…’

O sonho que ela acabou de ter não era uma fantasia, mas um pedaço de sua memória.

‘Por que eu esqueci isso?’

A memória que parecia ter sido coberta por uma fina película foi lentamente sendo revelada.

“Eu estava com o pingente.”

Após a morte de sua mãe, Lucia continuamente pendurou o pingente em seu pescoço. Ele também estava com ela quando entrou no palácio. Mesmo quando as servas tiraram suas roupas velhas e trocaram seus trajes, ela se recusou a largar o pingente porque temia que alguém tentasse tirar o único tesouro que estava em memória de sua mãe.

Mais e mais novas memórias começaram a ganhar vida em sua mente. Em suas memórias de infância, havia uma contradição. Essa contradição foi o grande acidente em que ela caiu de uma árvore em seu pequeno bairro e se machucou. Naquela época, Lucia não foi a única que se machucou. Quando Lucia caiu, ela quebrou um galho e outra criança caiu junto com ela. Essa criança machucou a cabeça e, posteriormente, morreu.

“… Rossa.”

Esse era o nome da criança. Ela era amiga de infância de Lucia. A família de Rossa mudou-se algum tempo depois da morte de Rossa. A tia, ou seja, amiga íntima da mãe de Lucia, era mãe de Rossa. A mãe de Rossa estava no quarto com Lucia quando sua mãe faleceu. Será que ela ouviu a notícia de longe e voltou? Porém, na mesma sala, havia uma menina da idade de Lucia chorando ao lado de Lucia ao lado da tia. Essa garota era Rossa.

[Lucia. Você tem que comer, ok? Se você ficar doente, a tia ficará triste no céu.]

Quando Lucia se recusou a comer por dois dias ou mais após a morte da mãe, Rossa colocou uma colher em sua mão e a consolou.

‘Rossa morreu quando ela era jovem, não foi?’

Lucia percebeu que tinha duas memórias de sua infância e essas memórias estavam confusas.

‘Vamos supor que o dono da loja de penhores esteja dizendo a verdade. Não sofri um acidente quando era jovem e Rossa não morreu. Minha mãe não deixou o pingente na loja de penhores e eu entrei no palácio com o pingente.’

A última lembrança de Lucia do pingente foi no dia em que ela entrou no palácio pela primeira vez. Quando ela chorou até dormir e acordou no dia seguinte, o pingente havia desaparecido e ela viu o futuro. E suas memórias se confundiram. Talvez a confusão tenha acontecido porque ela ainda era uma criança ou talvez fosse por causa da habilidade do pingente.

‘Uma ferramenta mágica…’

Havia muitas coisas no mundo que causavam fenômenos estranhos e bizarros. Lucia tinha visto uma ferramenta mágica uma vez e foi no dia em que foi levada ao Palácio Real. A ferramenta mágica para determinar a linha de sangue parecia ser um dispositivo com dois copos de vidro colocados lado a lado. Água limpa e pura foi colocada nos dois copos de vidro e as duas pessoas que queriam provar sua relação com sangue deveriam derramar seu sangue dentro. Se eles não fossem parentes de sangue, não haveria mudança na água, mas se fossem parentes de sangue, a água ficaria vermelha como sangue.

‘O pingente pode ser uma ferramenta mágica?’

Seu tio disse que o pingente era uma herança transmitida pela família do Conde Baden por gerações. Uma ferramenta mágica era um tesouro de primeira classe, então a maioria das ferramentas mágicas eram tesouros nacionais. Não era um item que uma família decadente como a família do Conde Baden pudesse ter. Uma ferramenta mágica poderia ser vendida por uma enorme quantidade de dinheiro, então se seu tio soubesse, ele a teria vendido para promover a família.

‘O tio não sabia disso. O avô também não parece saber.’

Presumindo que o pingente fosse uma ferramenta mágica, Lucia iniciou uma nova linha de raciocínio.

‘O que o pingente me mostrou… não era o futuro, mas outra vida minha.’

Em outra vida, Lucia foi gravemente ferida quando era jovem, sua mãe penhorou o pingente e, mais tarde, ela conheceu seu tio através da aparição do pingente no leilão. Mesmo que fosse em outra vida, não era diferente de ver o futuro. Se Lucia tivesse permanecido docilmente no palácio, ela teria se casado com o conde Matin e o futuro teria sido da mesma forma.

‘As coisas começam a se separar do ponto em que me machuquei quando criança. Esse incidente criou outro futuro para mim.’

Na verdade, Lucia não se machucou. Sua mãe não penhorou o pingente. O motivo era desconhecido, mas a ferramenta mágica ativou para Lucia e mostrou a ela um longo sonho.

‘Preciso descobrir se Rossa está viva.’

Provavelmente, Rossa estava viva.

‘Se o pingente é uma ferramenta mágica, por que não foi despertado pela minha mãe? Existem certos requisitos que precisam ser cumpridos?’

“Vivian.”

Lucia foi arrancada de seus pensamentos. Ela estava sentada na cama com os braços em volta dos joelhos e seu corpo encolhido como uma bola. Ouvindo sua voz, ela ergueu a cabeça. O quarto estava muito mais escuro agora do que quando ela acordou. Ela não soube quando ele entrou no quarto, mas ele estava sentado ao lado dela.

“Hugh. Quando você entrou?”

Hugo alisou suavemente o cabelo dela com a mão.

“Agora. Ouvi dizer que você está dormindo desde que voltou.”

Quando Hugo abriu a porta silenciosamente e entrou no quarto escuro, ele se assustou ao encontrá-la sentada na cama. Ele não sabia no que ela estava pensando tanto, então fez algum som para não assustá-la, mas ela nem percebeu.

“Aconteceu alguma coisa na festa?”

“… Não.”

“Ouvi dizer que você estava com dor de cabeça. Esta é a segunda vez neste mês. Por que você fica doente se não há nada de errado com seu corpo?”

Hugo mal podia acreditar nas palavras do charlatão que dizia que enxaqueca não era um grande problema. Era chamado de doença porque algo estava errado.

“Estou bem agora. Eu estava pensando em algo.”

No que exatamente ela estava pensando tanto em um quarto escuro que nem percebeu alguém entrando? Hugo queria saber seus pensamentos. Ele queria ter tudo dela, tanto quanto possível. Ele hesitou por um momento antes de perguntar com cuidado.

“O que você está pensando é algo que eu não deveria saber?”

“Não, é só… um pouco absurdo. Você não pode rir quando ouvir.”

“Eu não vou rir.”

“Você se lembra do pingente sobre o qual falei ao meu avô?”

“Eu lembro.”

“Eu estava pensando que o pingente poderia ser uma ferramenta mágica.”

“Por que?”

Lucia explicou o que aconteceu na loja de penhores, a lembrança que tinha de trazer o pingente com ela para o palácio depois que sua mãe morreu e o sonho que ela teve ao voltar para casa. No entanto, ela não revelou que tinha visto outro futuro em um sonho. Ela ainda não tinha certeza disso, e mesmo que fosse em um sonho, ela não queria explicar as coisas dolorosas que ela passou ali.

‘Mas acho que posso te contar algum dia.’

Lucia achava que sua experiência no sonho de ver o futuro era um segredo que ela levaria para o túmulo. No entanto, mesmo sem perceber, sua mente mudou.

“Minha mãe nunca vendeu o pingente. Acho que o pingente distorceu algo na minha memória e desapareceu. No entanto, pessoalmente não o vi desaparecer.”

Hugo pensou um pouco e percebeu que eles conversariam um pouco, então acendeu as luzes do quarto.

“A distorção da memória é séria?”

“Na verdade. É só que, se é realmente uma ferramenta mágica, por que minha família materna não sabe?”

“Eles podem não saber. Não se sabe muito sobre ferramentas mágicas.”

Hugo sabia pelos registros secretos de sua família que ferramentas mágicas eram itens comuns durante a época do Império Madoh. Porém, depois de muito tempo, os equipamentos mágicos foram destruídos e tornou-se impossível saber a função original da maioria das ferramentas mágicas.

“Eles podem desaparecer de repente?”

“Algumas ferramentas mágicas têm habilidades extraordinárias e podem ser destruídas ou quebradas. Eles também podem desaparecer.”

“A maioria das ferramentas mágicas são tesouros nacionais, não são? Uma família nobre pode ter uma?”

“Existem muitas famílias que possuem ferramentas mágicas, só que as ferramentas mágicas designadas como tesouros nacionais são mais amplamente conhecidas. Que tipo de ferramenta mágica uma família possui e que tipo de função ela possui, geralmente é um segredo de família. Algumas das ferramentas mágicas que as famílias nobres possuem são conhecidas por estarem escondidas.”

As ferramentas mágicas eram vendidas por preços extremamente altos, independentemente de sua função. Isso porque havia muitos colecionadores morbidamente obcecados por ferramentas mágicas. O preço de uma ferramenta mágica com uma função clara e útil dependia dos caprichos do vendedor.

“Então, a família Taran também tem uma ferramenta mágica?”

“Temos muitas.”

Havia muitas coisas diversas no quarto secreto da família Taran. Algum tempo depois de se tornar duque, Hugo quis saber o que havia na sala secreta, então olhou as coisas lá. A maior parte era lixo. A ferramenta mágica de comunicação que permitia que as pessoas conversassem entre si enquanto estavam separadas era algo útil.

A distância da conversa era apenas até o quão longe eles conseguiam se ver em um campo aberto. Era usado para proteger Damian e também estava sendo usado agora. As demais ferramentas mágicas do mesmo tipo foram trazidas para a capital. O valor de uma ferramenta mágica tão útil quanto uma ferramenta mágica de comunicação era enorme.

No entanto, Hugo organizou um grupo para proteger sua esposa e entregou-lhes as ferramentas mágicas como se fossem nada. Tão pouco dinheiro não era problema quando se tratava da segurança de sua esposa. Ele preferia que os cavaleiros a protegessem preciosamente como se ela fosse sua própria vida.

“Vou mostrá-las a você quando voltarmos para Roam.”

“As ferramentas mágicas realmente têm um poder tão grande? Ouvi dizer que existe uma ferramenta mágica que pode fazer chover.”

Hugo deu uma risadinha.

“Isso é uma mentira. A maioria das ferramentas mágicas são inúteis. Eles são simplesmente novos itens. A razão pela qual a ferramenta mágica de identificação de linhagem da Família Real Xenon é tão conhecida é porque uma ferramenta mágica com uma função tão boa é extremamente rara. O tesouro nacional de alguns países tem a forma de uma vara, mas simplesmente brilha no escuro. Pode ser usado para alguma coisa, mas não é bom o suficiente para chamá-lo de tesouro nacional.”

Lucia pensou no significado de seu pingente desaparecido. Se o pingente tivesse a capacidade de mostrar outra vida, seria um tesouro colossal que não poderia ser encontrado em nenhum lugar do mundo.

“Você está interessada em ferramentas mágicas? Quer alguma coisa?”

A operação para coletar as ferramentas mágicas espalhadas pelo mundo pode começar a qualquer momento. Dependia inteiramente da resposta de Lucia.

“Não. Eu estava apenas um pouco confusa.”

Se era o pingente que mostrava o futuro a Lucia, Lucia agradecia o pingente desaparecido. Foi graças ao seu sonho que ela estava aqui agora. E ela percebeu que mesmo um incidente trivial poderia dividir o futuro, e o futuro poderia mudar dependendo de suas escolhas.

‘Minha escolha é você. E gostaria que sua escolha fosse eu também.’

Hugo ficou bastante desapontado ao saber que seu plano de encontrar secretamente o pingente e surpreendê-la com ele não seria realizado.

“Simplesmente desapareceu? Você disse que distorceu sua memória, essa parte está bem?”

“Fiquei confusa porque tinha duas lembranças da minha infância, mas depois de refletir sobre isso, resolvi.”

“Se você estiver realmente preocupada com o pingente, podemos trazer seu avô aqui e fazer com que ele ouça você. É uma herança de sua família, então ele pode saber de algo.”

Lucia ia dizer que estava bem, mas mudou de ideia. De qualquer forma, o tempo que passou com o avô foi curto e ela ficou triste. Além disso, ela também estava curiosa sobre o fenômeno causado pelo pingente. De acordo com seu marido, seu avô pode saber de algo.

“Está bem. Eu adoraria fazer isso.”

“Vou providenciar para que ele seja escoltado.”

Sua mão acariciou suavemente a bochecha de Lucia. Lucia de alguma forma se emocionou com seu toque afetuoso.

‘Ele foi pego pela minha escolha?’

Lucia o escolheu e criou um novo futuro para ela. Mas isso era péssimo. Ninguém poderia ter a chance de fazer uma escolha a ser evitada, sabendo do futuro infeliz pela frente.

Lucia temia que seu futuro muito mais feliz pudesse estar fora do curso por causa dela. Foi tão cruel para ele que foi arrastado sem saber de nada.

‘Tudo bem mesmo que o mundo inteiro me condene e me chame de egoísta. Eu o amo. Eu quero que ele me ame também. O que ele pensa de mim? O quanto ele gosta de mim? Se eu disser que o amo, ele vai fugir?’

“Você já se perguntou o seguinte: ‘se eu fizesse uma escolha diferente naquela época, algo teria mudado’?”

“Qual é a utilidade de ter tais pensamentos? De qualquer forma, está no passado.”

[Não tenho apego às coisas do passado. É inútil se agarrar a algo que é impossível mudar.]

Não foi muito diferente da resposta que ele deu quando Lucia lhe perguntou: ‘Você já se arrependeu de uma decisão que tomou?’ no dia seguinte ao do casamento. Lucia deu um sorriso irônico. Esse era o tipo de homem que ele era. Alguém que não olha para o passado.

Ela pensava que ele era um homem sem coração. Sua visão da vida não mudou. Mas a visão de Lucia sobre ele havia mudado. Agora, ela não achava que ele era uma pessoa sem coração. Em vez disso, ele era excessivamente afetuoso.

Seu afeto sempre causou tempestades no coração de Lucia. À medida que sua felicidade aumentava, também aumentava sua angústia. Ela não podia desistir dele. Suas expectativas continuavam crescendo e ela temia que, nesse ritmo, acabasse ficando ressentida com ele.

“Eu tenho esse pensamento. E se eu não tivesse me casado com você. Eu ainda estaria no palácio separado. E depois de um tempo, eu teria me casado com alguém que pagou o dote à família real.”

Hugo olhou para ela e tentou descobrir o significado por trás de suas palavras.

“Às vezes… acho que estou em uma posição que é muito mais do que mereço.”

“Por que você pensa isso?”

“Você nunca achou que foi uma decisão precipitada? Casar comigo, quero dizer.”

Hugo olhou para Lucia sem dizer uma palavra e então suspirou.

“O que eu fiz de errado de novo?”

“… Huh?”

“Apenas me diga, em vez de andar em círculos assim.”

Os olhos de Lucia se arregalaram e ela olhou para ele. O homem que sempre foi confiante e orgulhoso, a qualquer hora, em qualquer lugar, estava com uma expressão assustada no rosto. Ele estava preocupado porque pensou que poderia ter feito algo errado sem perceber.

Ele agia como se fosse entregar tudo a ela e fazer o que ela quisesse. Sempre que ela ficava encharcada com o amor dele, Lucia sentia como se alguém tivesse agarrado seu coração e o apertado com força. O homem bestial de quem os outros temiam era tão adorável e ela não conseguia suportar. O nariz de Lucia estava dolorido e ela cerrou os punhos.

“Você não fez nada de errado. É minha consciência culpada.”

“O que você quer dizer com consciência culpada?”

“Nosso casamento tinha uma disparidade bastante significativa. Eu era uma princesa desconhecida que não era diferente de uma filha ilegítima. Você era o duque renomado, famoso aqui e em outros países. Você teve um casamento perdido.”

Hugo franziu a testa ligeiramente. Ele não gostava quando ela se chamava de filha ilegítima. Casamento perdido. Ele não sabia que ela estava pensando assim.

Hugo odiava qualquer motivo que a deixasse relutante, mesmo que um pouquinho, em estar ao seu lado, não importa o que fosse. Como ele poderia explicar que o conceito de perda e ganho não poderia ser trazido para seu relacionamento com ela?

Ele deslizou a mão em volta da cintura dela, gentilmente deitando-a e elevando-se sobre ela.

“Nada realmente aconteceu na festa?”

“Nada mesmo.”

“Então o que há de errado?”

“Eu pareço um pouco tolo, não é?”

Hugo observou seu sorriso tímido e beijou o canto dos olhos.

“Não fale assim, Vivian. Você não é uma tola e eu não tive um casamento perdido.”

Lucia respirou fundo. Parecia que suas palavras estavam envolvendo suavemente seu coração.

“Eu já disse isso antes. Se for difícil, não segure. Não há necessidade de se preocupar. Faça apenas o que você quer fazer.”

Lucia ergueu a mão e segurou seu rosto. Enquanto ela acariciava sua bochecha, ela foi cativada pela sensação que ameaçava reduzi-la a uma poça. Ele não sussurrou palavras de amor em seu ouvido, mas suas palavras foram terrivelmente doces.

“Acho que não sou tão confiável para você.”

“Não é que eu não ache você confiável, estou dizendo para não se machucar.”

“Quem vai me machucar?”

“O corpo não é a única coisa que pode se machucar.”

O círculo social era um lugar onde as pessoas eram mortas com palavras. Sempre havia pessoas que diziam coisas agressivas. Ele não podia garantir que o apoio da família Taran pudesse proteger completamente sua esposa. Hugo poderia ignorar completamente o que as pessoas diziam sobre ele. No entanto, sua esposa era pequena e fraca. Então ele sempre estava preocupado com ela.

Os olhos de Lucia se arregalaram. Ele estava dizendo a ela para não machucar seu coração. A delicadeza que ela sentia por ele às vezes era realmente surpreendente. Ela já tinha recebido tal afeto desde que sua mãe morreu? Isso ultrapassou os cuidados obrigatórios de um marido para com sua esposa.

‘Talvez ele também… me…’

Seu coração palpitava e muito com a hipótese. Parecia que ela havia se agarrado a algo por pouco, mas estava escorregando por entre seus dedos. Lucia conseguiu controlar suas emoções que pareciam que iriam se derramar a qualquer momento e estendeu os braços para ele.

Ele a abraçou de volta e ela enterrou a cabeça em seu peito.

“Vou tomar cuidado para não me machucar.”

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