Já fazia quase dois anos desde que reencarnei. Minhas pernas finalmente se desenvolveram o bastante para que eu pudesse andar.
Além do mais, finalmente consegui falar na língua deste mundo.
Tendo decidido dar uma chance de ser decente dessa vez, primeiro precisei elaborar um plano.
O que me faltou na vida anterior? Estudo, exercícios e técnica, era isso.
Quando bebê, entretanto, não havia muito que pudesse fazer. Nada além de enterrar o rosto no peito de alguém sempre que me pegavam no colo. Sempre que fazia isso com a empregada, ela nem tentava mascarar o descontentamento em seu rosto; claramente não era uma fã de crianças.
Achando que os exercícios eram algo que poderia esperar, comecei a ler os livros da casa. O estudo da linguagem é algo crucial; quase cem por cento dos japoneses são alfabetizados em seu próprio idioma, mas muitos negligenciam o aprendizado de inglês ou hesitam em interagir com pessoas do exterior, tanto que a capacidade de falar uma língua estrangeira é uma habilidade valiosa. Com isso em mente, decidi que dominar o sistema de escrita deste mundo seria minha primeira meta.
Havia apenas cinco livros em nossa casa. Eu não sabia se era porque os livros eram caros neste mundo ou porque Paul e Zenith não eram leitores assíduos. Provavelmente era um pouco de cada coisa. Como alguém que tinha uma coleção de vários milhares de livros – mesmo sendo todos light novels –, a situação seria difícil de lidar.
Ainda assim, cinco livros já eram o suficiente para aprender a ler. O idioma deste mundo parecia muito com japonês, então pude entender com facilidade. Os caracteres escritos eram completamente diferentes, mas a gramática era semelhante à que eu conhecia, o que felizmente indicava que só precisava focar no vocabulário, ao qual por sorte já tinha sido bastante exposto. Meu pai lia para mim, o que me permitia aprender palavras rapidamente. Meu novo eu, sendo melhor na aprendizagem, provavelmente também tinha algo a ver com isso.
Uma vez que pude ler, achei o conteúdo dos livros bastante interessante. Nunca me diverti estudando, em momento nenhum da minha vida anterior, mas depois de pensar um pouco, notei que não era tão diferente de buscar por informações sobre jogos online. E isso não era tão ruim.
De qualquer forma, perguntava-me se meu pai sabia que seu filho, um bebê, entendia as coisas que ele estava lendo. Digo, eu sempre me comportava, mas acho que um garoto normal com a minha idade faria birras ou algo assim, então às vezes também fazia isso.
E estes eram os cinco livros de nossa casa:
Vagando Pelo Mundo, um guia de referência para os vários países do mundo e suas características distintas.
A Ecologia e as Fraquezas dos Monstros Fittoenses, que detalhava as várias criaturas monstruosas da Região de Fittoa, onde viviam e como lidar com elas.
Um Livro de Magia, o manual do feiticeiro para ataques mágicos, que vai desde o nível Iniciante ao Avançado.
A Lenda de Perugius, um conto de fadas sobre um invocador chamado Perugius e seus companheiros, que lutam contra um demônio e salvam o mundo em um clássico épico do bem contra o mal.
Os Três Espadachins e o Labirinto, um conto de ação e aventura em que três espadachins de diferentes estilos se encontram e vão até as profundezas de um labirinto.
Os dois últimos eram essencialmente fantasias, mas os outros três eram um bom material para estudo. Foi Um Livro de Magia o que mais me chamou a atenção. Como alguém proveniente de um mundo sem magia, a chance de ler um documento real foi uma verdadeira tentação aos meus interesses. A leitura do livro me instruiu em algumas coisas fundamentais.
Primeiro, existiam três tipos de magia: Ataque mágico, para lutar contra os outros; Cura mágica, para tratar ferimentos; e Invocação mágica, para invocar coisas. E era isso. Parecia haver muitas outras coisas que poderiam ser feitas com magia, mas, de acordo com o livro, ela era algo que nasceu e se desenvolveu em batalhas e, portanto, não era muito usada fora de combate ou caça.
Segundo, seria necessário poder mágico para usar magia – ou seja, qualquer um poderia usar desde que tivesse poder mágico. Havia basicamente duas maneiras de fazer isso: usando poder mágico inato ou recorrer ao poder mágico imbuído a objetos. Qualquer das opções funcionaria. Não havia exemplos específicos, mas tive a impressão de que as pessoas da primeira opção eram como geradores de energia, enquanto os do segundo tipo dependiam de baterias externas.
Nos dias de outrora, dizia o livro, as pessoas usavam amplamente o poder de seus próprios corpos para fazer magia. Mas à medida que a pesquisa referente a ela progredia, as coisas ficaram cada vez menos complexas. Consequentemente, fontes dispensáveis de magia foram desenvolvidas em um ritmo frenético. Pessoas com poderosas reservas mágicas conseguiram se manter, mas as que tinham pouco poder tornaram-se incapazes de lançar qualquer feitiço básico, e assim os mestres mais antigos desenvolveram maneiras de extrair poderes de outras coisas além de si mesmos e canalizar isso para o uso de magia.
Terceiro, havia duas maneiras de realizar magia: com encantamentos ou círculos mágicos. Isso não exigia muita explicação: referia-se simplesmente a recitar palavras ou inscrever padrões místicos para lançar feitiços, respectivamente. Antigamente, os círculos mágicos eram a principal fonte de poder mágico, mas nos tempos modernos, os encantamentos eram muito mais comuns. Nos tempos antigos, mesmo os mais simples dos encantamentos mágicos tomavam um ou dois minutos – não era algo que poderia ser usado no calor de uma batalha. Mas depois de inscrever um círculo mágico, poderia usar isso várias vezes.
Os encantamentos começaram a se popularizar quando um mago conseguiu encurtá-los pela primeira vez. O mais simples deles foi reduzido para cerca de cinco segundos e, consequentemente, tornou-se a única maneira de as pessoas usarem magia de ataque. Para os rituais mais complexos, envolvidos com convocação, onde não era possível melhorar a eficiência, os círculos mágicos continuaram sendo o meio principal.
Quarto, a quantidade de poder mágico que alguém possuía era praticamente determinada logo no nascimento. Em um RPG típico, seria adquirido mais PM1. conforme o nível aumenta, mas as coisas são diferentes neste mundo. Quase todo mundo ficava atado pelo nascimento.
Quase todo mundo, o que implicava que algumas pessoas passavam por mudanças ao longo do tempo. Eu me perguntava em qual dos grupos estava encaixado.
O livro também dizia que o nível de poder mágico era hereditário. Já sabia que minha mãe era capaz de usar magia de cura, então talvez não faria mal manter algumas expectativas. Ainda assim, eu estava desconfortável. Mesmo se meus pais se destacassem nesse tipo de coisa, não tinha certeza de que meus próprios genes seriam adequados para tal.
No momento, decidi tentar dar uma chance para a magia mais simples que encontrei. O livro incluía tanto encantamentos quanto feitiços de círculos mágicos. Como a primeira opção era a mais popular, e não tinha nada com o que desenhar um círculo mágico, optei por começar pelo estudo de encantamentos. Pelo que entendi, à medida que o alcance de um feitiço aumentava, as invocações envolvidas ficariam mais longas, até que surgisse a necessidade de usar um círculo mágico junto. Mas se fosse para começar com coisas simples, eu deveria conseguir me virar.
O mais experiente dos feiticeiros, dizia o livro, poderia lançar feitiços sem qualquer encantamento – ou, no mínimo, reduzir drasticamente o tempo de encantamento. Não sabia ao certo ainda como treinar para evitar eles. Afinal, a quantidade de poder mágico da pessoa não mudava, não havia nem mesmo um aumento no PM máximo. Talvez, com treinamento, a quantidade de PM gasto no feitiço diminuísse? Mas gastar menos não tornaria o processo mais fraco?
Bem, tanto faz. Seja qual fosse o caso, eu só precisava tentar.
Com Um Livro de Magia na mão esquerda, estendi a direita e comecei a recitar as palavras.
— Que as vastas e abençoadas águas convirjam para onde queres e emita uma única corrente pura de si — Bola de Água!
Senti como se o sangue estivesse sendo acumulado em minha mão direita e, em seguida, como se todo ele tivesse vazado pela minha palma, uma esfera de água do tamanho do meu punho apareceu.
— Gah! — A sensação foi tão estranha que cheguei a gritar, e um momento depois, a bola de água caiu e se esparramou pelo chão.
Parecia que seria necessária mais concentração para manter o feitiço.
Concentre-se… Concentre-se…
Eu podia sentir o sangue se acumulando na minha mão mais uma vez. Isso aí. E lá vamos nós. Sim, parece que está melhor. Mais uma vez, estendi a mão direita, formando uma imagem na minha cabeça enquanto lembrava de como as coisas tinham acontecido da última vez. Não tinha certeza de quanto poder mágico possuía, mas achei que não poderia continuar fazendo isso muitas vezes.
Meu plano era praticar uma coisa de cada vez até que alcançasse o sucesso. Formava uma imagem em minha mente e focava, de novo e de novo, e então tentava trazer isso para a realidade. Se ficasse cansado, ficaria pensando na imagem e melhorando ela até que estivesse perfeitamente estampada na minha cabeça.
Era assim que eu praticava os combos em jogos de luta na minha vida anterior. Graças a isso, quase nunca errava no combo durante uma partida real. Espero que isso signifique que minha metodologia de treino vá funcionar aqui também.
Respirei fundo. Meu sangue correu pelo corpo, das pontas dos dedos até ao topo da minha cabeça, concentrando-se em minha mão direita, enchendo-a de poder. Então, senti esse poder surgindo na minha palma. Agora, pouco a pouco, com muito, muito cuidado, meus pensamentos começaram a se alinhar com as batidas do meu coração.
Bola de Água, Bola de Água, água, úmida, molhada… calcinha molhada…
Opa. Escorreguei. Voltando ao assunto, então…
Me concentrei e foquei minha mente nisso: água, água água, águaáguaágua…
— Hah! — Soltei um grito por puro reflexo quando minha mão disparou na minha frente, com meus dedos abrindo. Nesse instante, surgiu uma Bola de Água. — Uau, o quê?
Splish.
Com o choque do momento, a Bola de Água caiu no chão.
— Espera. — Eu não tinha recitado um encantamento ainda, tinha? Mas então… por quê? Tudo o que fiz foi pensar no que tinha feito da última vez que tentei o feitiço. O encantamento não importava ao reproduzir o fluxo de poder mágico?
Usar magia sem encantamentos era realmente tão fácil assim? Isso tinha que ser uma habilidade de alto nível, não?
— Se é tão fácil assim, qual é o sentido de entoar um encantamento? — pensei em voz alta. Aqui estava eu, um completo iniciante, e tive sucesso ao realizar um feitiço sem dizer nenhuma palavra. Simplesmente concentrei a energia mágica do meu corpo e adicionei a minha imagem mental, e depois desejei que isso ganhasse forma.
Isso foi tudo. O que implicava que o encantamento não era algo realmente necessário, no final das contas. Qualquer um poderia fazer o que acabei de fazer.
Hmm. Talvez o encantamento fosse um gatilho de ativação para o feitiço, onde pronunciar as palavras criaria o efeito sem a necessidade de se concentrar em toda a energia circulando pelo corpo. Tinha que ser isso. Era mais ou menos parecido com o câmbio manual ou automático de um carro, onde você ainda pode assumir o controle manual, caso queira.
— O uso de um encantamento permite o acionamento automático dos feitiços.
Existiam enormes vantagens nisso. Primeiro, facilitava o ensino. No lugar de precisar de uma explicação complicada sobre sentir o sangue correndo pelas veias e tudo o mais, lançar um feitiço falado era mais fácil de se fazer e de entender. Então, à medida que os estudos avançaram, a ideia de o encantamento ser uma parte indispensável do processo acabou sendo enraizada.
A segunda vantagem era que os encantamentos eram algo fácil de se usar. A magia de ataque, por si só, era algo que precisava ser usada no calor da batalha. Era muito mais fácil recitar um encantamento do que fechar os olhos e ficar lá tentando se concentrar. Além disso, no calor do momento, seria muito mais fácil esquecer de algo, já que não teria tempo para uma série de detalhes minuciosos.
— Mas talvez algumas pessoas tenham mais facilidade ao entoar um encantamento…
Folheei o livro, mas não tinha nada sobre lançar feitiços sem encantamento. Isso foi estranho. Não achei o que tinha acabado de fazer tão difícil.
Talvez tivesse algum tipo de talento especial, mas duvidava que fosse algo que outros não pudessem fazer. Um mago normalmente usava encantamentos desde quando iniciante até se tornar um mestre. Depois de lançar milhares ou até dezenas de milhares de feitiços, o corpo se acostumaria com isso; mesmo se tentassem lançar um feitiço sem palavras, não saberiam como. Portanto, não era algo tão normal e, assim sendo, o livro não abordava o assunto.
— É, isso faz sentido! — No final das contas, eu também não era comum. Isso era legal, não? Seria como sempre ter um truque na manga. Acabou de ativar um Catalisador sem uma Oratória? Mas isso só devia ser possível com uma Oratória!
Oh, agora eu com certeza estava interessado!
Certo, certo, uma coisa de cada vez. Eu precisava me acalmar e tomar um ar. Meu velho eu também se apegara a esse sentimento, e sabemos muito bem como ele se saiu: alguém que se empolgou porque era um pouco melhor do que uma pessoa comum com os computadores, depois ficou muito cheio de si e fracassou em tudo na vida.
Precisava manter os pés nos chãos. Me conter. O importante era não me achar melhor do que os outros. Eu só era um iniciante. Um noob. Era como um jogador novato que, por acaso, acertou um strike no seu primeiro arremesso.
Sorte de iniciante – isso foi tudo. Eu precisava me concentrar e estudar mais, em vez de confundir isso com algum tipo de talento inato.
Muito bem. Eu faria isso: primeiro tentaria o feitiço entoando o encantamento e depois praticaria com uma imagem mental imitando o que sentia, mas sem qualquer encantamento.
— Certo, vamos tentar de novo — disse, segurando a mão direita na minha frente. Meu braço estava ligeiramente pesado, e parecia que tinha algo enorme sobre o meu ombro. Isso era a exaustão. Estava me esforçando demais?
Não, não podia ser isso. Eu era um (autodenominado) mestre do MMO2 que podia ficar sem dormir por seis dias seguidos grindando3. De jeito nenhum que esse esforço mental insignificante teria me drenado tanto.
— Então acabou o meu PM? — Mas que diabos? Se o poder mágico de alguém fosse determinado ao nascimento, isso significava que eu só tinha o suficiente para lançar duas Bolas de Água? Isso parecia muito pouco. Ou talvez, por ser a minha primeira tentativa, estivesse com menos poder mágico do que o normal? Não, isso não fazia sentido.
Tentei mais uma vez, só para ter certeza, e acabei desmaiando.
— Honestamente, Rudy — disse minha mãe —, quando você fica cansado, primeiro precisa ir ao banheiro e depois dormir.
Acordei e descobri que tinha adormecido com o livro ainda na mão, e me molhei enquanto isso. Merda. Não podia acreditar que ainda me molhei nessa idade. Era humilhante. Droga. Como eu poderia…
Espera. Eu só tinha dois anos, não é? Me molhar nessa idade ainda seria aceitável, não?
Então, parecia que meu poder mágico era muito baixo, afinal. Isso afetou um pouco o meu humor. Ainda assim, mesmo que tudo que pudesse fazer fossem duas Bolas de Água, o que importava era como as usaria. Talvez devesse me concentrar e conjurá-las mais rápido?
Ugh.
No dia seguinte, ainda me senti bem mesmo após conjurar a quarta Bola de Água. Foi depois da quinta que comecei a me sentir cansado.
— Mas que diabos?
Dada a minha experiência do dia anterior, eu sabia que lançar mais um feitiço me faria desmaiar, então decidi parar.
E então percebi: isso estabelecia o meu limite em cinco bolas de água — duas vezes mais do que conseguira no dia anterior. Olhei para o balde que continha a água de cinco feitiços e me perguntei por que tinha conseguido fazer o dobro do dia anterior. Cansei mais por ser a minha primeira vez? Os feitiços consumiram mais PM por ser a primeira vez os conjurando?
Lancei todos os feitiços sem qualquer encantamento, então duvidei que tivesse algo a ver com isso. Não fazia ideia. Talvez minhas habilidades melhorassem ainda mais no dia seguinte.
No dia seguinte, o meu número de Bolas de Água aumentou significativamente. Agora eram onze.
Qual era o ponto da coisa? Parecia que quanto mais usava o feitiço, mais seria capaz de usá-lo. Se estivesse certo, seria capaz de chegar aos vinte e um no dia seguinte.
E no dia seguinte, apenas por segurança, resolvi lançar apenas cinco feitiços antes de parar.
E depois, no outro dia, consegui chegar aos vinte e seis. Parecia que estava certo – quanto mais usasse o feitiço, mais conseguiria usar.
Fui enganado! O que era toda aquela coisa sobre as reservas mágicas de uma pessoa sendo estabelecidas ao nascimento? As pessoas estavam atribuindo limitações aos talentos que não tinham. Como os adultos se atreviam a dizer às crianças onde estavam os seus limites?!
— Acho que não posso tomar tudo o que este livro diz como verdade — murmurei. As coisas escritas nele pareciam sugerir a perspectiva de que existiam limites para as pessoas.
Ou talvez estivesse falando sobre como funcionavam as coisas após o treinamento das habilidades? Talvez o livro estivesse dizendo que havia um limite superior no poder mágico, que nenhuma quantidade adicional de esforço ou treinamento poderia ultrapassar.
Não. Ainda era cedo demais para chegar a essa conclusão. Por enquanto, isso era apenas uma hipótese. Talvez fosse como… talvez o poder aumentasse conforme a pessoa crescesse, ou coisa assim. E usar a magia enquanto criança poderia fazer com que esse limite superior aumentasse rapidamente.
O que significava que eu só tinha uma qualidade especial que… não. Eu já disse que não iria me considerar especial.
No meu mundo anterior, diziam que se exercitar enquanto crescia ajudava a desenvolver suas habilidades mais rapidamente; por outro lado, depois que parasse de crescer, as melhorias não seriam mais tão boas, independente do esforço. Podíamos estar falando de magia neste mundo, mas as realidades de como o corpo humano funcionava não poderiam ser tão diferentes. O princípio ainda seria o mesmo.
Isso significava que havia apenas uma coisa a fazer: continuar aprimorando minhas habilidades o melhor possível enquanto ainda estava crescendo.
No dia seguinte, decidi que continuaria diariamente levando minha magia ao limite, a qual aumentaria cada vez mais conforme eu usasse. Como pude recriar a sensação certa, lançar um feitiço sem encantamento virou algo fácil. Esperava dominar os feitiços para Iniciantes de cada ramo de magia em pouco tempo.
Por “feitiços para Iniciantes”, quis dizer os feitiços mais básicos que poderiam ser usados para o ataque. Isso inclui feitiços como a Bola de Água e a Bola de Fogo, além de outros ainda mais básicos.
Os feitiços estavam divididos em sete níveis de dificuldade: Iniciante, Intermediário, Avançado, Santo, Real, Imperial e Divino. Normalmente, magos treinados poderiam usar os feitiços Avançados no ramo da magia que focassem, mas só poderiam usar feitiços Iniciantes ou Intermediários das demais escolas. Uma vez que alguém fosse capaz de lançar feitiços com uma classificação superior a Avançado, era reconhecido como um Santo do Fogo ou Santo da Água ou qualquer outra coisa, dependendo do ramo escolhido.
Mago Santo. Eu meio que esperava chegar a esse nível algum dia. Entretanto, meu livro de magia incluía apenas feitiços de fogo, água, vento e terra, e apenas até o nível Avançado. Então, como aprenderia magia Santa?
Não – ainda não devia pensar nisso, decidi. Em um RPG Maker4, se você começar criando os monstros mais fortes, as chances de isso acabar dando errado são enormes. Primeiro é preciso começar com as coisas de baixo nível, como os slimes.
Mas eu pessoalmente nunca tinha conseguido fazer nada naquele jogo, mesmo quando comecei pelos slimes.
Os feitiços de água no nível Iniciante listados no livro eram os seguintes:
Bola de Água: Lança um projétil esférico de água.
Escudo de Água: Faz com que um pouco de água jorre, formando uma parede.
Flecha de Água: lança uma flecha de água com cerca de vinte centímetros de comprimento em um alvo.
Esmagamento de Gelo: ataca um oponente com um monte de gelo.
Lâmina de Gelo: cria uma espada feita de gelo.
Eram todos feitiços para iniciantes, mas a quantidade de poder mágico que exigiam era bem diferente, exigindo algo entre duas e vinte vezes mais esforço que o feitiço básico de Bola de Água. Para o meu básico, resolvi investir na magia de água; se tentasse a magia de fogo poderia acidentalmente queimar a casa.
Falando em magia de fogo, a quantidade de energia mágica que colocasse em um feitiço afetaria na temperatura dele, por isso é lógico que os feitiços de gelo Avançados também funcionariam assim. Mas, apesar de o livro alegar que a Bola de Água e a Flecha de Água deveriam voar pelo ar, por algum motivo não consegui fazer isso. Eu não tinha certeza do porquê. Estava fazendo algo de errado? Realmente não sabia.
Um Livro de Magia dizia algo sobre o tamanho e a velocidade dos feitiços. Será que, depois de conjurar meu projétil, precisava imbuí-lo com energia mágica adicional para controlar seu movimento?
Decidi tentar.
— Hã? — murmurei enquanto minha esfera de água se expandia. — Uau!
E então… Splash!
— Ah…
Mais uma vez caiu no chão.
Depois disso, experimentei fazer uma Bola de Água maior e outra menor. Tentei criar duas ao mesmo tempo, cada uma com um tamanho diferente.
Descobri algumas coisas, mas ainda não tinha conseguido fazer nenhum de meus feitiços voar.
Os feitiços de fogo e de vento flutuavam no ar, já que não estavam sujeitos à gravidade, mas depois de algum tempo se dissipavam. Tentei usar o vento para mover os orbes de fogo flutuantes, mas tive a impressão de que algo estava errado.
Hmm…
Dois meses depois, graças a um erro nos meus estudos, consegui fazer uma Bola de Água voar. Como resultado, finalmente ficou claro o motivo pelo qual os encantamentos eram uma parte essencial do processo.
Todos seguiam um processo semelhante: Criação do feitiço, determinação do tamanho, de velocidade e ativação. Era o lançador quem regulava as etapas intermediárias antes de completar o feitiço.
Primeiro, o lançador invocava a forma do feitiço que desejava usar. Em seguida, havia um espaço de tempo em que poderia adicionar poder mágico adicional para afetar seu tamanho. Terceiro, após o tamanho ser determinado, havia outro espaço de tempo para ajustar a velocidade. E, por fim, lançava o feitiço pronto de suas mãos.
Era assim que funcionava… ou pelo menos foi como entendi, de qualquer forma. O truque era adicionar poder mágico em dois momentos distintos após o início. Havia uma ordem para isso. A menos que algo fosse feito para ajustar o tamanho do feitiço, não seria possível ajustar a sua velocidade. Fazia sentido que, se tentasse fazer algo a respeito da velocidade em primeiro lugar, apenas ficaria maior e maior.
Nesse sentido, ao usar um feitiço sem encantamento, o lançador tinha que ter todo o processo em sua cabeça. Isso pareceu um pouco inconveniente, mas diminuiu o tempo necessário para infundir o feitiço com o poder para afetar sua forma e velocidade. Isso permitia que um feitiço fosse lançado alguns segundos mais rápido.
Também fui capaz de ajustar o processo inicial de criação do feitiço. Por exemplo, isso não estava listado no livro, mas era possível congelar uma Bola de Água e transformá-la em uma Bola de Gelo. Se eu continuasse com meus estudos, talvez pudesse invocar o Imperador Fênix (heh!), ou alguma coisa do tipo.
Muitas coisas poderiam funcionar; tudo dependia apenas de quais ideias viriam à mente. Isso estava começando a ficar divertido!
Ainda assim, os fundamentos eram importantes. Eu precisava desenvolver meu potencial mágico antes de começar com os testes.
Então, sim, agora eu tinha duas coisas no meu cronograma: aumentar minhas reservas mágicas e tornar a magia silenciosa em algo natural. Estabelecer metas muito elevadas só levariam à decepção. O truque era começar por baixo.
Tudo bem então. Era hora de apertar o cinto e seguir em frente. Todos os dias, a partir desse momento, passei a praticar meus feitiços de nível Iniciante até ficar prestes a desmaiar de tanta exaustão.
[1] Poder Mágico
[2] Massively Multiplayer Online Game, que em tradução literal quer dizer Jogo Multijogador Online em Massa.
[3] Grindar é o ato de fazer grind, que por sua vez é basicamente buscar itens para criar outro item mais forte.
[4] RPG Maker é uma série de motores de jogo para desenvolvimento de RPGs eletrônicos.
Acontece. Nossa dei uma olhadonha em outr site a diferença de tradução é muito grande. Eu fui olhar por causa do “magia silenciosa q provavelmente tá falando de invocar magia sem encantamento
Até q evolução gradual dele é bacana