Agora eu tinha cinco anos. Tivemos uma breve festa para comemorar o meu aniversário.
Aniversários não eram uma celebração anual nessas terras. Aos cinco, dez e quinze anos, era costume que a família entregasse alguns presentes. Os quinze anos já eram considerados idade adulta, e isso fazia bastante sentido.
Paul me presenteou com um par de espadas no meu aniversário. Uma delas era uma espada de verdade, longa e pesada demais para ser usada por uma criança de cinco anos de idade; a outra era uma curta adequada para a prática. A espada real tinha sido devidamente temperada e tinha uma ponta fina. Definitivamente não era algo adequado para uma criança.
— Filho, um homem deve sempre portar a espada em seu coração. Para proteger o que te é importante, você… — Meu pai começou com um discurso longo e desmedido, e eu apenas sorri e concordei. Seu discurso tinha um tom amistoso e energético, mas no final, até Zenith o repreendeu por demorar demais. Admoestado, sorriu e concluiu: — Lembre-se de mantê-la guardada quando não precisar dela.
O homem claramente queria que eu tivesse autoconsciência e estivesse preparado para portar uma espada.
Zenith me deu um livro.
— Isso é por você gostar tanto de livros — disse enquanto me entregava.
Era uma enciclopédia botânica.
— Ah, uau — murmurei instintivamente. Os livros neste mundo eram muito caros. Eles tinham seus meios para fazer papel, mas ainda não tinham meios de impressão, então tinha que ser tudo manuscrito.
A enciclopédia era espessa, completa e com ilustrações, cheia de descrições úteis e fáceis de entender. Eu só podia imaginar o quanto devia ter custado.
— Obrigado, Mãe. Eu sempre quis algo assim!
Com isso, Zenith me puxou para um abraço apertado.
Roxy me presenteou com uma varinha. Era uma bem pequena, com aproximadamente trinta centímetros de comprimento, com uma pequena pedra vermelha cravada na ponta.
— Criei ela ontem — disse Roxy. — Tinha esquecido por completo, já que você usa magia o tempo todo. Um mestre deve criar a vara ou varinha para que seu aprendiz possa usar magia elementar. Peço desculpas por esquecer.
Por mais que ela não gostasse de ser chamada de “Mestra”, Roxy parecia relutante em não seguir as tradições.
— Obrigado, mestra — falei. — Vou cuidar bem disso. — E Roxy fez uma careta.
No dia seguinte, comecei a de fato treinar com as espadas. O foco estava na prática do balanço e nas posições fundamentais.Tínhamos em nosso quintal um boneco de madeira para praticar minhas posições e estocadas. Meu pai me ajudava com meu trabalho de pés, equilíbrio e coisas do tipo. Foi muito bom de fato começar a aprender o manuseio da espada.
Habilidades com espadas eram algo crucial neste mundo. Até os heróis que apareciam em livros costumavam usar elas. Às vezes usavam machados ou martelos, mas esses eram a minoria. Ninguém usava lanças, já que os Superd, os desprezados, faziam uso de tridentes; era comum pensar que uma lança era algo maligno. Quando uma aparecia em alguma história, normalmente era usada pelos piores vilões possíveis, do tipo que devorava tanto amigos quanto inimigos, que abatiam todos sem discriminação.
Assim sendo, a arte da espada era muito mais avançada neste mundo do que no meu antigo. Um mestre espadachim poderia cortar uma pedra com um único golpe ou arremessar sua espada em alta velocidade buscando atingir um inimigo distante.
Paul possuía habilidade suficiente para os cortes. Eu queria aprender os princípios por trás de tudo isso, então ele demonstrou várias vezes enquanto me elogiava e incentivava. Provavelmente se sentiu bem ao ter seu jovem filho, que já era capaz de usar magia Avançada, aplaudindo e torcendo enquanto o admirava.
Ainda assim, não importa quantas vezes me mostrasse o truque, eu não sabia como ele fazia. Então pedi por explicações.
— Dê um passo à frente, com um hngh, e depois, fwam!
— Tipo assim?
— Não, seu estúpido! Esse aí foi um passo à frente com um hmph e depois um wham! Eu disse hng e depois fwam! Suas pisadas precisam ser mais leves!
E foi isso.
Era apenas conjectura da minha parte, mas me parecia que, neste mundo, a magia estava entrelaçada com a arte da espada. Era visivelmente diferente dos efeitos mágicos chamativos criados pelos feitiços e, no lugar disso, estava interligada à melhoria de capacidade física e ao fortalecimento da própria espada. De que outra forma seria possível se mover em velocidades tão incríveis ou dividir uma enorme pedra em duas partes perfeitas?
Paul não usava a magia conscientemente. Era por isso que não conseguia explicar como fez o que fez. Isso significava que, uma vez que eu conseguisse reproduzir suas ações, seria capaz de usar a magia para me dar impulsos físicos.
Teria que me satisfazer com isso.
Neste mundo, existiam três escolas de espadachins.
O primeiro era o Estilo Deus da Espada. Esse estilo mantinha a ideia de que a melhor defesa era um bom ataque e focava em golpes de alta velocidade, com o objetivo de ser o primeiro a acertar o adversário – a maneira ideal de acabar uma luta séria com um golpe único. Se o oponente continuasse de pé, o praticante continuaria atacando ao lançar fintas novamente até que saísse vitorioso. Se eu tivesse que comparar a algo do meu velho mundo, o mais semelhante seria o Satsuma Jigen-ryu1.
O segundo era o Estilo Deus da Água, o extremo oposto ao Deus da Espada: era uma forma defensiva, focada em impedir ataques e depois no combate. Seu princípio central era na defesa e não agressão, o que não permitia muitas aberturas para o praticante atacar, mas um verdadeiro mestre seria capaz de desencadear um contra-ataque em qualquer oportunidade que aparecesse – e realmente quero dizer qualquer oportunidade, incluindo se fossem disparos ou ataques mágicos. Dado seu foco na defesa, esse era o estilo preferido pelos guardas reais e pelos nobres.
O último era o Estilo Deus do Norte. Era mais uma estratégia de batalha do que uma posição de luta. Não se concentrava em movimentos específicos, mas permitia que o usuário se adaptasse a diferentes situações em tempo real. Segundo Paul, essa abordagem envolvia vários truques baratos e manobras inteligentes, mas o domínio do estilo produzia resultados verdadeiramente fantásticos. A sensação que eu tinha era de ser uma versão de espadas manuseadas pelo Jackie Chan. Como esse estilo instruía a cuidar dos ferimentos e permitia a lutar mesmo com uma postura imperfeita, era a escola preferida dos mercenários e aventureiros.
Juntos, eram conhecidos como os Três Grandes Estilos, e cada um tinha adeptos espalhados pelo mundo. Era dito que um espadachim que desejasse levar suas habilidades ao limite máximo em todas as escolas treinaria até morrer – mas poucos faziam isso. A maneira mais “rápida” de obter força marcial era escolher um desses estilos e treinar até ficar proficiente.
Na realidade, enquanto Paul praticava principalmente o Estilo Deus da Espada, incluía um bocado dos elementos do Deus da Água e do Deus do Norte. Parecia que a maioria das pessoas não se dedicava a aderir um ou outro estilo exclusivo.
Assim como com a magia, a arte da espada estava dividida nos seguintes níveis de habilidade: Iniciante, Intermediário, Avançado, Santo, Real, Imperial e Divino. A parte do “Deus” no nome de cada um dos estilos era proveniente dos epítetos2 dados aos fundadores de cada escola; o primeiro espadachim da escola Deus da Água, por exemplo, conseguia usar feitiços de água do nível Divino. Ter um nível Divino tanto na perícia com espadas quanto na competência mágica resultou em um guerreiro obscenamente poderoso.
Além disso, era normal se referir aos espadachins como “Deus da Água” ou “Santo da Água”, de acordo com seu nível de proficiência. Para os magos, era tradição adicionar o “nível” a essa descrição. Roxy, por exemplo, era uma “Maga de Água de nível Santo”.
Paul decidiu que eu aprenderia o Estilo Deus da Espada e o Estilo Deus da Água: o primeiro seria para ter uma boa ofensiva e o segundo para uma boa defesa.
— Mas, pai — falei —, com base no que você me disse, parece que o Estilo Deus do Norte é o mais equilibrado dos três.
— Não seja ridículo. Isso não é nem um estilo… na verdade, não passa de lutar balançando uma espada.
— Ah, entendi. — O Estilo Deus do Norte era claramente o mais estranho dentre os Três Grandes Estilos. Ou era por isso, ou Paul simplesmente não gostava dele. Embora fosse bastante bom nisso, para alguém que não gostava.
— Você tem um talento especial em magia, Rudy, mas não faz mal também aprender a usar uma espada. Você irá querer ser um mago capaz de evitar um ataque de alguém usando o Estilo Deus da Espada.
— Então, você está dizendo que eu serei um espadachim mago?
— Hum? Não, um espadachim mago é um espadachim capaz de usar magia. Você será o oposto disso.
Eu não tinha certeza de qual era a diferença. Quer fosse começando como um guerreiro que aprendeu magia ou como um mago que aprendeu a batalhar, um espadachim mago ainda sabia usar os dois estilos, não? De qualquer forma, se eu trabalhasse no meu manuseio da espada, poderia adaptá-lo ao meu uso de magia.
A questão era que Paul não podia me ensinar como ampliar minhas proezas físicas com magia, já que não estava consciente de como o fazia. Eu precisava adquirir a capacidade pessoalmente ou conquistá-la através do treinamento físico correto. Precisava descobrir os princípios disso na prática.
Por um momento, Paul ficou perdido em pensamentos, com uma expressão desconfortável no rosto.
— Você não gostou da arte da espada, não é? — perguntou depois de algum tempo.
Ele só estava dizendo isso por eu ter aptidão com magia? Devia estar preocupado com a possibilidade de eu não querer treinar o manuseio da espada. Não me entenda mal: não tinha problemas em praticar isso. É só que preferia ficar sozinho com Roxy estudando magia, ao lugar de ficar todo sujo e suado enquanto praticava com outro cara no quintal.
Eu era o tipo de cara que gosta de ficar dentro de casa.
Mas, vamos lá, preferências pessoais não podem interferir em certas coisas. Decidi me esforçar na minha segunda oportunidade de viver, e isso significava que iria tentar o meu melhor tanto com a magia quanto com a espada.
— Não — falei —, quero ser tão bom no manuseio de espada quanto na magia.
Paul ficou exuberante de tanto orgulho e balançou a cabeça alegremente enquanto levantava sua espada de madeira, adequada para as práticas.
— Muito bem então. Vamos lá. Venha até mim!
Ele era um homem bem simples.
Espadas e feitiçaria. Eu não tinha certeza sobre em que confiaria mais. Honestamente, ficaria bem com qualquer uma das opções. Mas também era meu dever estabelecer um bom vínculo com meus pais enquanto ainda era jovem.
— Certo, Pai! — gritei.
Na minha vida anterior, fui um fardo para os meus pais até o dia em que morreram. Se tivesse sido mais gentil com eles, talvez meus irmãos não teriam me expulsado de casa.
Eu precisava ser melhor com os meus pais desta vez.
Enquanto estava dando meus primeiros passos no treino com espadas, meus estudos no campo da magia estavam chegando a um ponto mais técnico e prático.
— O que aconteceria se você lançasse Cachoeira, Ilha de Calor e Campo de Sincelo, nessa ordem? — perguntou Roxy.
— Criaria névoa.
— Correto. E como se livraria da névoa?
— Umm… jogando Ilha de Calor de novo e esquentando o chão?
— Exatamente. Agora, por favor, faça uma demonstração, se puder.
Usando feitiços de diferentes escolas um atrás do outro, era possível criar vários fenômenos. Isso era conhecido como Magia Combinada. Um Livro de Magia falava sobre um feitiço para fazer chuva, mas não tinha nada a ver com névoa. Assim sendo, os magos tinham que usar feitiços de várias escolas um atrás do outro. Isso permitia a reprodução de vários fenômenos naturais.
Este era um mundo sem nenhum microscópio. Provavelmente ainda não tinham descoberto os princípios que regem o mundo natural. Magia Combinada continha todo o gênio criativo dos grandes bruxos da antiguidade.
Bem, eu não precisava me preocupar com esse tipo de bobagem. Se quisesse criar uma nuvem, poderia usar um feitiço para fazer a chuva cair e o lançaria bem perto do chão. A ideia de intencionalmente criar um fenômeno natural era simples o bastante para compreender. Pensando um pouco fora da caixa, poderia fazer todo tipo de coisa.
Para mim, pessoalmente, isso era um pouco mais fácil falar do que fazer.
— Magia pode fazer qualquer coisa, certo? — perguntei para Roxy.
— Isso não pode fazer qualquer coisa — advertiu Roxy. — Você não deve confiar tanto nisso. Apenas mantenha a cabeça calma e aprimore suas habilidades para fazer o que é capaz e o que deve fazer. — Apesar de suas palavras, minha cabeça estava cheia com imagens de coisas como armas de fogo e itens de camuflagem. — Além disso, se você proclamar isso como algo que pode fazer qualquer coisa, uma hora vai se deparar com algo impossível.
— Está falando baseada nas suas experiências, Senhorita Roxy?
— Sim, estou.
Bem, então essa era uma lição que eu precisava levar a sério. Não queria que problemas com os quais não conseguiria lidar caíssem em minhas mãos.
— Os magos sempre se deparam com muitos problemas complicados enquanto trabalham? — perguntei.
— Ah, sim. Afinal, não existem muitos usuários de magia Avançada por aí.
Era dito que apenas uma em cada vinte pessoas poderia aprender a lutar. E encontrar um mago entre essas pessoas tinha a mesma probabilidade de um em vinte. Então, a chance de encontrar um mago capaz, era de uma em quatrocentas.
Os magos por si sós já eram particularmente raros.
— Apenas um em cada cem magos é capaz de aprender direito a arte e se formar na escola de magia, tornando-se um mago de nível Avançado — disse Roxy.
Isso significava que os magos de nível Avançado eram cerca de um em quarenta mil. Se fossem incluídas as magias de nível Iniciante e Intermediário na conta, o número de coisas que a Magia Combinada poderia fazer aumentaria drasticamente – o que, por sua vez, a tornava popular. Para ser um tutor de magia era necessário ser de nível Avançado ou superior. Requisitos altíssimos, mas produziam excelentes resultados.
— Então existem escolas de magia? — perguntei.
— Sim. Existem escolas de magia em todos os lugares dos reinos maiores.
Eu já tinha presumido isso, mas ainda assim – uma escola de magia? Hm. Deveria tentar? Pular direto para o meu arco de estudante?
— Porém, a maior — continuou Roxy —, é a Universidade de Magia de Ranoa.
Uau, eles tinham até universidades para essas coisas?
— Essa universidade é diferente das outras escolas de magia? — perguntei.
— Eles têm excelentes instalações e um corpo docente à altura. Lá fornecem o acesso aos mais modernos e avançados cursos, estão à frente de todas as outras escolas, imagino.
— Você também foi para a Universidade de Magia, Senhorita Roxy?
— Fui. As escolas de magia têm regras e regulamentos bem restritos, então a Universidade de Magia era a única que me aceitaria.
Parecia que essas outras escolas de magia de Ranoa permitiriam a matrícula de uma criança de nascimento nobre, assim como eu, mas negariam a entrada de alguém não-humano. A discriminação contra demônios andou diminuindo nos tempos modernos, mas os preconceitos continuavam fortes.
— A Universidade de Magia de Ranoa não se apoia a regulamentos estranhos ou algum orgulho desnecessário. Desde que você siga a teoria adequada, eles não o expulsarão por ser meio excêntrico e aceitarão até mesmo estudantes de raças diferentes. As diferentes raças ainda podem realizar pesquisas individuais no tipo de magia de sua preferência. Se estiver interessado em levar sua educação mágica mais longe, Rudy, recomendo fortemente a Universidade de Magia.
Bem, ela estava falando sobre sua alma mater3. Já esperava que fosse algo assim. Se eu me matriculasse na universidade aos cinco anos de idade, provavelmente seria vítima de uma enorme opressão.
— Acho que ainda está um pouco cedo para isso — murmurei.
— De fato. Você também pode seguir as esperanças do Senhor Paul e se tornar um espadachim ou cavaleiro. E há muita gente que frequentou a Universidade de Magia e depois conseguiu um título de cavalheiro. Não pense que sua escolha está dividia apenas entre espadas ou feitiçaria. Você sempre pode se tornar um cavaleiro mago ou coisa do tipo.
— Tudo bem.
Então está bem. Parecia que Roxy sentia o contrário de Paul e estava preocupada por eu não gostar o suficiente de magia. Ultimamente minhas reservas mágicas estavam aumentando sem parar, e eu passei a entender bastante sobre a teoria por trás dessa arte. Como resultado, muitas vezes fiquei inquieto e distraído durante as aulas. Além do mais, fui forçado a começar a estudar aos três anos de idade. Ela provavelmente imaginou que tinha enjoado um pouco em dois anos.
Paul via em mim o talento para a magia; Roxy só conseguia enxergar a paixão pela espada. Com essas ideias opostas, estavam me apontando para um caminho no meio das duas coisas.
— Estamos falando de coisas do futuro, não? — falei.
— Para você, Rudy, sim. — Roxy revelou um sorriso desamparado. — Em breve, porém, ficarei sem nada para te ensinar. Sua graduação vai chegar muito em breve, então esse tipo de conversa não é exatamente prematuro.
Espera… graduação?
[1] É uma modalidade tradicional das artes marciais japonesas.
[2] Palavra ou expressão que se associa a um nome ou pronome para qualificá-lo.
[3] Alma mater é uma frase alegórica em latim usada por estudantes que frequentaram uma determinada instituição de ensino, que pode ser traduzida como a mãe que alimenta ou nutre. Usada especialmente nos Estados Unidos, também indica a instituição onde a pessoa se graduou.
falta muito pro rudy comer a roxy?
Por volta do volume 11
Não me canso de reparar em quão rico em detalhes de informações está obra é, sim, um verdadeiro MASTER PIECE!
nah, muitas novels são bem detalhadas, as vezes até dmais
É complicado eu to lendo em pouco e pouco ai n sei pq é cap passado e o atual jkkkkkk. Faz sentido oq ele quis dizer, o espadachin sempre acabará usando magia msm inconcientemente por isso a força sobre-humana.