Casamento. Um domínio inexplorado em minha vida anterior. A simples perspectiva disso me deixou ansioso. Por mais importante que isso fosse para mim, eu poderia mesmo me casar sem antes resolver as coisas com a minha família? Mas eles provavelmente me perdoariam caso o motivo do meu atraso fosse o casamento. Além disso, eu estava ansioso por tudo em que o casamento implicaria. Só de pensar em afundar minhas presas naquela doce garota me fazia salivar… embora eu fosse deixar Sylphie ditar o ritmo, é claro.
Restava um único problema. Ao pensar nisso, notei que não sabia como funcionava o casamento neste mundo. Eu, até o momento, nunca tinha visto uma cerimônia de casamento. Paul não fez uma quando se casou com Lilia, fez apenas uma festa comemorativa para a qual toda a aldeia foi convidada. Os nobres provavelmente davam festas semelhantes ao fazer um anúncio de noivado, mas eu nunca tinha visto uma cerimônia de casamento de verdade.
O que “casamento” significa? O que um homem casado deveria fazer? Passei dezesseis anos neste mundo e ainda não sabia algo tão básico. Poderia aprender. Se não soubesse as respostas, poderia simplesmente perguntar.
Comecei questionando Zanoba – vinte e seis anos e já divorciado – a respeito disso durante o jantar no refeitório.
— Casamento, hein? Quando me casei, enviei presentes, gado, tropas e comida para a casa de minha parceira — disse Zanoba. No Reino Shirone, o costume era de que o homem enviasse presentes comemorativos para a família da noiva.
— Mas você é um príncipe. Não deveria ser você a receber os presentes?
— Hm? Tanto faz se for ou não da realeza. É óbvio que o homem é que deveria enviar presentes.
Foi então que Cliff se intrometeu.
— Em Millis é o contrário. A mulher recebe um dote para fornecer ao marido.
Nos últimos tempos, ele jantava conosco com bastante frequência. Cliff não tinha muitos amigos, então provavelmente estava sozinho.
— Hmm — falei. — Se é assim, a família da garota não perde muito?
— Em troca, o homem é obrigado a fornecer assistência, caso a família de sua esposa precise.
— É assim que funciona. — Tanto Millis quanto Shirone pareciam enfatizar uma forte conexão entre as famílias.
— Mas os costumes do casamento variam de acordo com a raça — continuou Cliff.
— E quanto aos elfos? — perguntei.
— Ainda não me casei com a Lise, então não sei. Prometi esperar até remover a sua maldição. Mas ela não é como a maioria dos elfos, então duvido que seja muito exigente quanto a manter a tradição. — Ele parecia ter uma longa espera pela frente.
Essa discussão toda, e nenhuma menção a uma cerimônia. Eu estava começando a achar que o conceito não existia neste mundo.
— Então, se eu fosse me casar com alguém, do que eu precisaria?
— Vejamos… Em primeiro lugar, uma casa, certo? — sugeriu Cliff.
— De fato. — Zanoba acenou com a cabeça em concordância.
— O quê? Uma casa, logo de cara? — perguntei, um pouco incrédulo.
— Duh. Por que vai se casar se nem uma casa tem?
Olhei para Zanoba, que concordou com as palavras de Cliff, me disse que ele sentia o mesmo. Pensando bem, Paul havia se mudado para Buena Village quando se casou. Até então, era um aventureiro morando em uma pousada e precisou contar com a ajuda de Philip para conseguir uma casa e trabalho estável.
— Além disso, as garotas não podem entrar no dormitório masculino. Os casais normalmente se casam e deixam os dormitórios, ou aguardam até a formatura para se casar.
Assim que ele mencionou isso, notei que não tinha escutado falar de nenhum casal morando nos dormitórios. Também não havia dormitório especial para casais.
— Mas se a sua parceira for uma garota de alto nível com casa própria, a história é diferente, caso contrário, o fornecimento de moradia depende do homem — acrescentou Cliff. Parecia meio injusto, mas podia ser apenas o que era considerado como norma neste mundo. Nesse caso, era lógico que eu fosse o provedor. Minha parceira, na verdade, poderia ficar desapontada se eu não fosse.
— Entendido. Então, primeiro, uma casa.
Cliff mostrou uma expressão desconfiada no rosto quando eu disse isso.
— Espera um pouco. Rudeus, você vai se casar?
— Bem, sim.
— Com quem? — Estava tudo bem se eu dissesse o nome de Sylphie? Sua identidade, naturalmente, seria em algum momento descoberta, mas decidi continuar mantendo isso em segredo por enquanto.
— Com a pessoa que curou a minha doença.
— Ah, entendi… E o nome?
— Um, por enquanto preciso manter isso em segredo.
— Certo. Bem, se acontecer de essa pessoa for seguidora de Millis, me avise. Conheço o bispo da cidade, então poderíamos fazer uma cerimônia, desde que você esteja de acordo com o fato de ser algo informal.
Portanto, a crença Millis tinha algo como uma cerimônia de casamento! Mas eu não era seguidor de Millis e tinha certeza de que Sylphie também não.
— Mestre, se você não tiver fundos, devo ajudar? — ofereceu Zanoba.
— Não, não. Eu me sentiria muito mal em confiar isso a você. — Embora tivesse feito uma cara de coragem ao dizer isso, não fazia ideia de como era o mercado imobiliário local. Esperava que minhas economias fossem suficientes. — De qualquer forma, amanhã vou dar uma olhada nas casas da cidade. Se parecer que não posso fazer isso sozinho, devo acabar pedindo ajuda.
— É claro. Posso comprar até mesmo a maior casa desta cidade, então não precisa se preocupar — disse Zanoba com um sorriso.
Realeza, mesmo em países pequenos, estava em um nível completamente diferente de nós, comuns.
No dia seguinte, fui à imobiliária. No geral, era o lorde feudal da região que oferecia empréstimos imobiliários aos residentes, mas não havia nenhum lorde claramente estabelecido em Sharia. Em vez disso, as Três Nações Mágicas e a Guilda dos Magos administravam o território em conjunto, por meio do estabelecimento de uma agência imobiliária que resolveria quaisquer problemas ocasionais. Quanto a quais seriam esses “problemas”, eu não fazia ideia.
Me referi a isso como agência imobiliária por uma questão de conveniência, mas seu nome oficial era Escritório de Administração de Terras. Tratavam da compra e venda de casas disponíveis, bem como da concessão de licenças para as pessoas construírem nos terrenos vazios. Quando disse à recepcionista que estava em busca de uma casa, recebi uma lista. As informações sobre as residências disponíveis estavam catalogadas nas páginas: endereços, tamanhos de lotes, tamanhos de casas, números de cômodos e valor. Havia uma enorme variedade – desde apartamentos conjugados até verdadeiras mansões.
— Hmm…
Para ser sincero, eu não fazia ideia a respeito do tamanho da casa que deveria comprar. Algo com um jardim e espaço para um cachorro grande podia ser o melhor… ou será que uma casa geminada seria melhor? Eu não me importava de morar em um lugar pequeno, mas Sylphie era a guarda-costas da Princesa, assim como uma de suas amigas. Isso significava que a Princesa poderia aparecer para visitas ocasionais, e não poderíamos morar em um apartamento miserável, já que a realeza poderia nos fazer visitas. Dito isso, minhas economias não cobriam o custo de uma residência chique do tipo projetado para a nobreza. Será que devo aceitar a ajuda de Zanoba? Não, me sentiria estranho ao usá-lo como se fosse a minha carteira. Afinal, poderia comprar uma casa decente com o que eu tinha.
Talvez devesse ter trazido Sylphie comigo. Grandes aquisições como essa não deveriam ser discutidas com a parceira? Mas, neste mundo, parecia ser o homem que comprava a casa e acolhia a mulher nela. Sylphie poderia me achar patético caso eu não pudesse fazer isso sozinho. Precisava mostrar que era ao menos confiável.
— Então, uma casa grande e barata com muitos quartos. — Procurei por uma que correspondesse com a necessidade pela lista. — Hm?
Uma bem no final das indicações chamou a minha atenção. Havia uma página velha e desbotada que anunciava o que parecia ser algum tipo de mansão. Estava localizada em um canto do Distrito Residencial, então não ficava muito longe da universidade. Pelo preço que estavam pedindo, eu poderia comprá-la e ainda sobraria algum dinheiro. A única desvantagem era a sua idade.
— E quanto a esta? Por que está tão barata?
O funcionário a quem perguntei me revelou um sorriso preocupado.
— Para ser honesto, esta mansão está amaldiçoada.
— Você disse amaldiçoada?
— Dizem que é possível ouvir um rangido no meio da noite, mas, se procurar a fonte, não encontrará nada. O proprietário anterior achou que o barulho era por causa do vento… e no dia seguinte, foi brutalmente assassinado.
Sério? Então, mais uma vez, contos sobre mansões amaldiçoadas e assombradas por espíritos malignos existiam em todos os cantos.
— Vocês não fizeram um exorcismo?
— Fizemos um pedido à Guilda dos Aventureiros, mas… as primeiras pessoas que aceitaram também foram brutalmente assassinadas. Desde então, ninguém mais pegou a missão.
Ele continuou mencionando que o pedido que enviaram era classificado como E. Queriam subir isso de posição, mas não tinham recebido os fundos necessários. Adicione a existência de alguma discórdia entre eles e a Guilda dos Aventureiros, e parecia que havia muitos fatores complicados em jogo.
— E quanto à Guilda dos Magos?
— Disseram que os imóveis não estão sob sua jurisdição, então devemos nos virar por conta própria.
— E se eu conseguisse dar um jeito no lugar? Vocês me dariam de graça?
O funcionário me lançou um olhar como se perguntasse: Que merda você anda fumando?
— Foi mal — falei. — Então, que tal um contrato provisório? Nos próximos dias vou verificar o lugar, sozinho. Se eu decidir que gosto, oficializamos a venda. O que acha?
— Por favor, então escreva o seu nome aqui.
Falhei miseravelmente em minha tentativa de pechinchar, mas mesmo assim continuei, assinalando o meu nome no local indicado. Havia um lugar onde poderia indicar um fiador, e fui em frente e anotei os nomes da Princesa Ariel e de Badigadi. Depois entreguei.
Após dar uma olhada, o funcionário ficou pálido e foi para os fundos. Quase na mesma hora, alguém que parecia ser o gerente apareceu, esfregando as mãos. Eu devia ser muito famoso para receber esse tipo de tratamento só por assinar o meu nome. Espera, será que não tinha sido o efeito por usar os nomes da Princesa Ariel e de Badigadi? Ou será que era uma combinação entre todos os fatores?
Depois de alguma discussão, consegui reduzir o preço pedido pela metade. Pelo visto, me tornei um cliente VIP exigente, apesar de não ter a intenção de que isso acontecesse.
Poucos dias depois, fui à mansão em questão. Tinha sido construída há mais de um século, mas o edifício em si parecia bem sólido. A mana era infundida em todos os tipos de coisas neste mundo, então será que havia algo na estrutura que a protegesse da deterioração?
A estrutura do local era construída em barro e pedra, com piso de madeira. Musgo e hera cresciam ao longo das paredes, mas, fora isso, era linda. Imaginei algo que estaria em pior estado.
— Podemos entrar, Senhor Zanoba? Senhor Cliff?”
Eu podia até ser um aventureiro de rank A, mas não era presunçoso o bastante para valsar sozinho para dentro de um lugar desconhecido e possivelmente assombrado. Pedi que Zanoba me acompanhasse e agisse como meu confiante escudeiro. Se um boneco ruivo empunhando uma faca aparecesse do nada para nos atacar, ele colocaria um rápido fim a isso. Cliff tinha uma expressão em seu olhar que parecia indicar que queria ir junto, então o convidei para que também se juntasse a nós. Ele era um gênio em magia divina de nível Avançado, então se realmente fôssemos enfrentar monstros do tipo espírito maligno, com certeza seria útil.
— Uma casa respeitável. Parece um pouco pequena, mas acho que o tamanho é apropriado — comentou Zanoba.
Cliff discordou.
— Não acha que isso é grande demais para só duas pessoas? Você sabe que pode comprar algo pequeno e economizar, e depois se mudar, caso fique muito apertado, não?
Se eu fosse somar as opiniões e subtrair a diferença, então significava que o lugar tinha o tamanho perfeito.
— Graças às circunstâncias especiais, este lugar não estava tão caro. Agora, vamos entrar.
— Se você está de acordo com este lugar, Mestre, então não tenho nada a dizer a respeito — disse Zanoba enquanto bravamente liderava o caminho. Ele estava segurando uma clava, uma arma que eu mesmo preparei. Achei que não deveríamos entrar desarmados, mas como o próprio Zanoba admitiu, sua força sobre-humana indicava que quebraria qualquer arma que fosse colocada em suas mãos. Então, usei minha magia e lhe fiz uma clava. Se ela quebrasse, pelo menos tinha sido de graça.
Cliff ficou no meio do grupo. Ele tinha um cajado, que parecia caro, firmemente seguro em suas mãos enquanto virava a cabeça de um lado para o outro, examinando a área. Devia estar tentando ficar vigilante, mas, para mim, parecia mais é que estava apavorado.
Por fim, assumi a retaguarda, fornecendo habilidades ofensivas na parte de trás. Neste grupo, o mais importante era a proteção de Cliff, pois ele era o nosso curandeiro e também alguém que poderia fornecer algum poder de fogo. Como o membro mais experiente do nosso time, era mais seguro que eu vigiasse a parte de trás.
Trilhamos o caminho de pedras fendidas e chegamos à entrada. As portas de madeira estavam rachadas e a dobradiça de um dos lados tinha quebrado. Isso precisaria de conserto.
— Não acho que corremos o risco de cair em alguma armadilha, mas, mesmo assim, tenha muito cuidado — pedi, ativando o meu Olho da Previsão.
— Sim, Mestre.
Zanoba colocou a mão na maçaneta e a arrancou da porta. Sem qualquer hesitação.
— Certo, também não comece a quebrar as coisas — repreendi.
— Minhas desculpas. A porta estava emperrada e não abria. Tenho certeza de que você precisaria consertá-la, de qualquer forma.
— Bem, da próxima vez avise-me, certo?
— Sim, Mestre — respondeu Zanoba. Ele ao menos tinha boas maneiras a seu favor.
Finalmente entramos na casa. O primeiro cômodo era o saguão. Diante de nós, uma escada conduzia ao próximo andar, com portas à direita e à esquerda. Corredores conduziam mais para dentro da casa, um de cada lado da escada. Não havia muita poeira, então a imobiliária devia periodicamente fazer a limpeza do local. Por fora podia até parecer uma casa mal-assombrada, mas agora que estávamos dentro, pude ver que possuía uma excelente iluminação natural. Era um bom lugar.
— Mestre, como vamos fazer isso?
— Começaremos com o lado direito do primeiro andar. Examinaremos cada um dos cômodos. Não acho que existam armadilhas, mas é possível que o chão ou o teto estejam podres, então tome cuidado com a cabeça e com os pés.
— Entendido. — Zanoba acenou com a cabeça.
Cliff olhou para mim por cima do ombro.
— V-você com certeza está pensando em tudo.
— Bem, sou um aventureiro de rank A — falei.
— S-sim, isso mesmo, não é? — Ele parecia nervoso com alguma coisa. Pensando bem, o garoto havia partido em uma agradável aventura com Elinalise no outro dia, não? Me pergunto como foi.
— Ah, é mesmo, então, como foi aquela aventura que você fez no outro dia?
— Criticaram tudo o que eu fiz…
— Bem, no final das contas, eles eram de rank S.
Os membros do Líder Escalonado provavelmente não foram tão duros assim com ele. Afinal, sabiam que estavam lidando com um novato. Como a pessoa que foi alvo da crítica interpretou, já era outra questão. Cliff era um autoproclamado gênio. Provavelmente, até então, nunca teve suas falhas apontadas pelos outros.
— O que eu deveria fazer?
— Se encontrarmos um inimigo, use magia divina de nível básico para atacar.
— E-entendido. Mas e se não for um espírito? — perguntou ele.
— Nesse caso, só fique atrás. Eu ou Zanoba cuidaremos de tudo. — No momento em que falei isso, Cliff pareceu um pouco indignado, então eu soube que era melhor dizer algo mais. — Sua magia é tão poderosa que pode acabar danificando a casa.
Ele, felizmente, pareceu satisfeito com a explicação. Era melhor ter um iniciante como ele se concentrando em fazer apenas uma coisa de cada vez.
— Zanoba, existe uma possibilidade, mesmo que pequena, de que tenha um monstro que pode usar magia escondido por aqui. Mantenha a guarda alta.
— Deixe comigo. — Para a minha surpresa, Zanoba não mostrou medo algum. Ele tinha um espírito de guerreiro, o que era encorajador.
A porta à direita levava a uma espaçosa sala com uma área de mais de vinte tatames de largura. Havia muita luz solar e uma enorme lareira. Podia ser uma sala de jantar ou de estar.
A lareira foi o que mais chamou a minha atenção.
— Mestre Cliff, esta lareira é um instrumento mágico?
— N-não tenho certeza. Vou dar uma olhada. — Cliff tentou dar uma olhada por dentro.
— Espera. Pode haver algo aí. — Eu o parei, examinando a lareira pessoalmente. Havia algo de errado, mas eu não conseguia descobrir o que era. — Hm.
Os invernos frios da região tornavam uma lareira essencial. Se esta fosse mágica, poderia aquecer a casa inteira. Se não fosse, eu consideraria uma troca. Embora tivesse dificuldade de resistir à ideia de eu e Sylphie mantendo nossos corpos nuns juntos um do outro para produzir calor…
— Vou soprar um pouco de ar por isso. Se houver algum monstro aí dentro, ele pode voar para cima de nós, então fiquem atentos. — Tendo colocado os dois em guarda, conjurei magia na chaminé da lareira, limpando-a com uma forte rajada de vento.
Não aconteceu nada. Apurei os meus ouvidos, mas não pude detectar nenhum movimento. Caiu um pouco de fuligem, mas isso foi tudo. Eu também poderia colocar fogo na chaminé, mas se ela estivesse de alguma forma danificada, a casa toda poderia pegar fogo. No momento, coloquei minha cabeça para dentro da abertura e dei uma olhada para cima. Pude ver o céu, embora distante.
Só por segurança, usei fogo para iluminar os cantos de dentro. Não senti que havia algo escondido ali. Estava provavelmente seguro.
— Então deixo isso para você, Mestre Cliff.
— Entendido. — Ele procurou dentro da lareira e quase na mesma hora encontrou um círculo mágico. Nenhuma surpresa, dado que recentemente esteve ocupado pesquisando implementos mágicos e maldições.
— Isso parece utilizável? — perguntei.
— Não posso afirmar até que você acenda o fogo, mas parece intacto — avaliou Cliff.
Ótimo.
— Muito bem, obrigado.
Balancei a cabeça e fomos para o próximo cômodo, o mais interno à direita da entrada. O piso era de pedra e havia algo parecido a um forno, então devia ser a cozinha. Havia um pedaço de pano rasgado no chão, ao lado do dito forno. Quando o peguei, descobri que era um avental esfarrapado. Sylphie talvez fosse cozinhar para mim ali, nua, exceto por um avental a cobrindo. Isso me deu algo para ficar animado.
Não, esqueça isso, disse a mim mesmo. Estávamos no local para eliminar o espírito maligno – ou o quer que fosse que estivesse assombrando o lugar. Não era hora para armar uma barraca nas minhas calças.
Procurei no forno e em todos os outros lugares por algo vivo que pudesse estar escondido.
— Certo, nada de errado por aqui. Próximo.
Encontramos uma porta que levava ao porão, atrás da escada, mas decidimos deixar isso para depois. Nos movemos no sentido anti-horário, de cômodo em cômodo por todo o primeiro andar, ainda assim não encontramos qualquer anormalidade. Havia um ou outro lugar com acúmulo de poeira, mas a casa estava em condições tão boas que ninguém imaginaria que tinha sido construída há mais de um século. O proprietário anterior talvez tivesse feito alguns reparos ou algo assim.
— Então só restou este, hein?
Tínhamos terminado de investigar todo o primeiro andar. Pela disposição, eu sabia que os dois lados da mansão se espelhavam de forma idêntica, exceto pelo fato de que o cômodo correspondente à cozinha na ala esquerda não tinha um forno. Talvez fosse usado para algum propósito diferente de cozinhar, como lavar roupas. De qualquer forma, por enquanto chamaríamos de cozinha.
Duas cozinhas, dois quartos amplos, quatro quartos pequenos, dois banheiros. Era quase como se duas casas tivessem sido feitas em um só prédio. A única escada ficava no saguão.
— Qual parece o local mais adequado para espíritos malignos? O porão ou o segundo andar?
— O porão, eu acho — disse Zanoba.
— Eu apostaria no porão — disse Cliff.
Já que estávamos todos de acordo, decidi ir primeiro ao porão. A porta, localizada atrás da escada que conduz ao segundo andar, dava para outro lance de escada que descia. Acendi as lanternas que tínhamos e as passei para Cliff e Zanoba.
— Vou ficar no meio e analisar tudo com meu olho demoníaco. Não deixem suas lanternas caírem, mesmo se acharem que estão em perigo. Não posso fornecer reforços no escuro.
— Ha ha ha, eu sou uma Criança Abençoada! Não há nada a temer — declarou Zanoba enquanto descíamos as escadas. Que enorme garantia de bandeira da morte.
Seja mais cauteloso, o repreendi por mim mesmo. Nunca se sabe quando uma flecha pode ou não aparecer voando quando você abrir uma porta. Embora, conhecendo Zanoba, elas provavelmente ricocheteariam em seu corpo com um clink audível.
Chegamos a uma porta que dava para o porão.
— Hm. Nada aqui.
Havia várias prateleiras de madeira vazias, parecia uma área de armazenamento não utilizada. Iluminei um pouco com a minha luz, mas não notei nada se escondendo. Havia uma espécie de mancha na parede, mas não possuía forma humana. As bordas da decoração estavam um pouco apodrecidas, mas isso era tudo. Depois seria preciso substituir.
Sem monstros. Foi um pouco anticlimático.
— Certo, então para o segundo andar.
Saímos do porão e voltamos para a entrada. De lá, subimos o lance de escadas para o segundo andar. A madeira sob nossos pés sequer rangeu.
O segundo andar também era completamente simétrico. Em cada extremidade das duas alas havia um cômodo conectado a um quarto interno. Além disso, havia também vários quartos extras, cada um medindo cerca de seis tatames. Isso somava um total de seis cômodos: quatro deles eram menores e dois de tamanho médio, medindo cerca de doze tatames. Os dois últimos eram conectados aos quartos internos. Por fim, havia também uma sacada.
— Hmm…
Vamos colocar uma cama grande neste quarto, decidi. Uma com espaço mais do que suficiente para três pessoas se deitarem. Duas camas normais juntas também poderia ser uma boa ideia. Não, espera – se a cama fosse pequena, teríamos que nos aconchegar para dormir, e isso não seria algo ruim. Então, quando eu acordasse, seria recepcionado pelo seu calor, e seus pequenos seios estariam sempre ao alcance. Nada mal mesmo.
De qualquer forma, a cama era importante. Afinal, a usaríamos todos os dias – e não, eu não quis dizer só para sexo. As pessoas precisam dormir, sabe.
— Mestre Cliff.
— O-o que? Descobriu alguma coisa?
— Acha que uma cama grande seria melhor para um casal recém-casado?
— Hein? — Cliff ficou em silêncio por alguns segundos enquanto pensava no assunto. Então ele respirou fundo. Por fim, suspirou. — Ah, bom. Sim, esse é um aspecto importante em um relacionamento. Mas você não estará fazendo justiça ao seu parceiro se essa for a única coisa em que se concentrar.
— Ah. Sim, suponho que você esteja certo.
Suas palavras, por alguma razão, foram convincentes – provavelmente porque falava por experiência própria. Eu poderia facilmente imaginar Elinalise se jogando nele, seus olhos cheios de luxúria, no momento em que ficassem sozinhos.
Então levaria o que tinha dito a sério. Acho que vou ficar com uma cama maior mesmo.
— Nossa, nada aqui, hein? — falei, respirando fundo depois de examinarmos o último cômodo.
— Suponho que então devemos passar a noite aqui. Exatamente como planejado — disse Zanoba.
— Sim. Conto com vocês.
Eu queria vasculhar toda a casa com antecedência só para ter certeza, mas na verdade não esperava que nada acontecesse. Segundo as histórias, o espírito só se manifestava à noite, acompanhado por um rangido. Assustador. Provavelmente era um monstro que estava ocupando a residência, embora não fazia ideia de que tipo era. Não achei que pudesse ser lá muito poderoso, considerando que estávamos em uma cidade. Mas, relembrando, aventureiros de rank baixo foram enviados para resolver os problemas e foram brutalmente assassinados. Não podíamos baixar a guarda.
A verdade talvez fosse realmente simples: bandidos, por exemplo, podiam estar usando a casa como esconderijo. O rangido podia ser causado pelo arrombamento da fechadura da porta da frente. Não – a porta da frente estava quebrada. Então, talvez a porta dos fundos? Mas não havia sinal de ninguém morando no local.
Sim, fiquei perplexo. Talvez devesse ter chamado Elinalise e os outros também. Ela já tinha visto muitas coisas em sua longa vida; poderia ser capaz de nos ajudar. Porém, agora que meu garotinho tinha retornado à vida, eu não tinha certeza de que ficar perto dela não me excitaria. Eu podia até imaginar – estaria em vigia no meio da noite, e uma sombra rastejaria em minha direção, sussurrando tentações ao meu ouvido. Mas Cliff está dormindo bem aqui do lado, eu diria. E ela responderia: E daí?
— Fiquem alertas — declarei enquanto ficávamos na área do quarto do segundo andar. — O espírito pode não aparecer de imediato, então vamos passar a noite.
— Hm. Estou preocupado com Julie.
— Estou preocupado com Elinalise.
Julie era uma criança inteligente. Ela conhecia a sua condição de escrava e não iria precipitadamente provocar alguém – não enquanto morava em uma seção do dormitório ocupada apenas por nobres. Zanoba não tinha motivos para se preocupar. Elinalise, por outro lado, era popular e caprichosa. Poderia muito bem usar a ausência de Cliff para ter um caso.
Meus pensamentos vagaram para Sylphie, que provavelmente estava servindo como guarda-costas da Princesa de novo, igual sempre fazia. Não havia nada com o que se preocupar. Espera, eu disse para ela que sairia, mas não mencionei que passaria a noite fora. E se ela fosse até o meu quarto para falar comigo antes de dormir e eu não estivesse lá? Poderia ficar naquele corredor frio, esperando por mim, resmungando para si mesma: “O Rudy está atrasado.”
— O sol está prestes a se pôr — interveio Zanoba.
Eu podia ver o sol da tarde refletindo na janela do quarto. Se saísse nesse momento, já estaria de noite quando chegasse no campus. Sylphie provavelmente já estaria de volta ao dormitório feminino. Mesmo que eu não dissesse nada a ela, deveria ao menos deixar um bilhete na minha porta, dizendo que não estaria lá à noite. Não é?
Certo, vamos lá. Vamos lá agora mesmo.
Não, espera. E se esses dois se matassem enquanto eu estivesse fora? Isso não iria ser bom. Afinal, o líder do grupo era eu.
Acalme-se, apenas acalme-se, disse a mim mesmo. Isso não era nada de mais. Contanto que depois eu explicasse tudo, Sylphie compreenderia. Mas… espera. Eu já tinha ouvido algo sobre isso há muito tempo. Todas as coisas que acontecem em um relacionamento enquanto você fala que “Será só dessa vez” tendem a se acumular, levando a um término com o parceiro. Merda. Tive um mau pressentimento quanto a isso tudo.
A solução era óbvia: propositalmente içar a minha própria bandeira da morte.
— Zanoba.
— Sim? Pois não?
— Vou me casar assim que terminarmos esta missão.
— De fato. Vamos terminar logo para que possamos ter uma grande celebração aqui — disse ele, sua cabeça ligeiramente inclinada enquanto a balançava.
Espera. Agora que eu realmente disse isso, minha sensação de desconforto ficou ainda pior. Se eu dissesse algo como “Uma celebração, sim! É exatamente do que a gente precisa!” em resposta, tive a sensação de que não sobreviveria o suficiente para me casar. Talvez fosse bom colocar algo duro no bolso do peito por algum tempo. O problema era que eu não tinha nenhum bolso no peito. Se uma bala de uma .357 Magnum de repente voasse em minha direção, eu não teria como pará-la.
Cliff mais uma vez se meteu no meio da conversa.
— Certifique-se de convidar Lise e eu.
— É claro. Por que vocês não seriam convidados?
— Apenas me certificando. Uma coisa é se eu ficar de fora, mas ficaria triste se isso acontecesse com ela.
Cliff realmente não conseguia ler o clima… e devia ser por isso que sempre ficava de fora desse tipo de reunião. Eu com certeza o convidaria, e Elinalise também, é claro. Enfim, já estava cansado dessa enrolação. Queria me apressar, terminar isso e ir para casa, para Sylphie e seus seios – Não, foco. Depois eu poderia tocá-la tanto quanto quisesse.
Enquanto eu me ocupava com esses pensamentos, o dia virou noite.
Meio a isso, lá no dormitório feminino, Sylphie já havia percebido que Rudeus tinha ido comprar uma casa. Ela estava atualmente em sua cama, os braços aconchegados ao redor do travesseiro, rolando enquanto fantasiava com as possibilidades.
cara esse Rudeus vai casar logo logo e já ta pensando em pegar outra mina que é comprometida que cara canalha wtf
Pra mim os volumes 9 e 10 são os melhores slk