— E foi assim que aconteceu.
Após meu encontro com Ariel, fui imediatamente me encontrar com Orsted e retransmitir o que havia sido discutido. Se Luke era o mensageiro do Deus-Homem, eu era de Orsted. Gostaria de informá-lo sobre cada pequeno detalhe. Em essência, eu era um informante. Rudeus, o Linguarudo, pode-se dizer.
— Hm, então eles já buscaram por informações sobre Gaunis… — murmurou Orsted.
— O que vamos fazer agora? — perguntei, apesar de já esperar que ele me encarasse e dissesse para pensar por mim mesmo de vez em quando.
Só para ficar claro, eu não era do tipo que procurava a aprovação dos outros para cada coisinha que eu fazia, beleza? Minha intenção era ser o mais independente possível, mas tinha acabado de me tornar subordinado de Orsted. Eu ainda não tinha certeza do que precisava ser relatado a ele e do que poderia ser tratado sozinho. Enquanto pensava em qual seria esse limite, eu estava em grande parte submetendo a ele a maioria dos assuntos em nossa missão atual. Não queria que ele brigasse comigo por fazer as coisas sem sua opinião prévia.
Além disso, eu estava pedindo a opinião dele, não uma resposta concreta. Não precisava soletrar tudo para mim, apenas me colocar na direção certa. Dessa forma, eu lentamente aprenderia como ele queria lidar com os assuntos. Além disso, eu tinha uma sugestão à mão se me dissesse para pensar por mim mesmo: Orsted e eu poderíamos usar círculos de teleporte para nos infiltrarmos na biblioteca asurana, onde poderíamos roubar os materiais necessários. Isso era o que eu tinha planejado se ele não tivesse outras sugestões.
— Você deve ir à Biblioteca Labirinto, neste caso.
Sua resposta me pegou desprevenido. Inclinei a cabeça. “Biblioteca Labirinto”? E o que seria isso?
Orsted viu a confusão no meu rosto.
— Um labirinto onde cópias de livros de todo o mundo estão armazenadas — explicou ele.
Nunca pensei que algo assim existisse…
— Como esses livros são copiados? — perguntei.
— Um certo Rei Demônio amante de livros usa o poder de seu olho demoníaco para copiá-los.
Considerando que as primeiras pessoas que me vieram à mente quando ele disse Rei Demônio foram Badigadi e Atofe, imaginei que o indivíduo era semelhante — alguém com uma risada desagradável e oito braços, cada um segurando um volume de mangá. Parte de mim se perguntou a razão de alguém fazer isso com a biblioteca, mas quando Orsted disse que era um rei demônio… De alguma forma, essa era toda a explicação que eu precisava.
— Bem, parece que deve ser muito útil — admiti.
Se a biblioteca tinha todos os livros de todo o mundo, isso significava que continha uma enorme quantidade de informações. Claro, havia informações por aí que nunca se transformaram em livros, mas a grande maioria, sim. Era como a Wikipédia, mas para magia. Pode ser que encontre informações sobre o que quiser lá.
— Não exatamente — disse Orsted. — O lugar não está nem um pouco organizado.
— Ah, beleza…
Ter uma riqueza de informações significava pouco se não pudesse pesquisar sistematicamente o que estava procurando. Os dicionários só funcionam porque são ordenados de maneira alfabética, permitindo que fosse encontrada com rapidez a definição para qualquer palavra que precisasse. A tal biblioteca, por outro lado, tinha um grande número de livros espalhados de forma aleatória. Era difícil supor quantas horas, dias ou até semanas levaria para localizar um volume específico.
— Nesse caso — eu disse — não seria difícil encontrarmos as informações que buscamos?
— A grande maioria da literatura sobre Gaunis Freean Asura é agrupada por data de publicação. Seria difícil reunir tudo o que já foi escrito sobre ele, mas ainda encontraria mais lá do que na biblioteca nacional de Asura.
Huh. Então, pelo que parecia, esse rei demônio não copiou os livros de maneira aleatória, mas em ordem de quando foram escritos, do mais antigo ao mais recente. Se assim fosse, não seria impossível localizar o que precisávamos, especialmente no caso de Gaunis. Ele foi um grande rei e herói de guerra. Tinha que haver uma tonelada de livros sobre ele.
— Beleza, então onde fica esse lugar? — perguntei.
— Continente Demônio. A Região de Hyleth, nas profundezas da Floresta Espectral.
— E presumo que vamos para lá…
— Usando círculos de teleporte — continuou ele.
As viagens tinham mesmo se tornado mais convenientes ultimamente graças a esses círculos de teleporte. Isso me deixou nostálgico pelo tempo que passei com Ruijerd e Eris, viajando do Continente Demônio até o Continente Central.
— Muito bem. Vou sugerir isso para Ariel e os outros — eu disse.
Seria um pouco antinatural para eu sugerir um local tão obscuro do nada. Talvez fosse melhor dizer que eu tinha cutucado Orsted para obter informações e que foi assim que eu soube sobre o lugar. Já poderia imaginar a oposição à minha menção ao nome dele, mas isso me daria a oportunidade de flexibilizar as minhas proezas persuasivas. Orsted provavelmente me recrutou esperando que eu fosse útil dessa maneira.
Assim que me virei para ir embora, ele me chamou:
— Rudeus.
— Sim?
— Se você não conseguir encontrar sua resposta mesmo depois de vasculhar vários materiais sobre Gaunis, tente isso. — Ele me deu uma gravura que eu só podia assumir ser a capa de um livro. Era lindamente desenhada. Eu me perguntava se foi ele mesmo quem fez.
— E o que seria isso? — perguntei.
— Entenderá assim que ler. Claro, se os livros que você encontrar sobre Gaunis lhe fornecerem a resposta que busca, então não precisará se preocupar com isso.
Suas palavras, embora vagas, pareciam conter algum significado oculto. Por enquanto, guardei a foto que ele me entregou e saí.
Já era tarde da noite quando voltei para a fortaleza flutuante. Não havia toque de recolher lá, então Arumanfi me levou para dentro como de costume. Ele me avisou que Perugius já havia se retirado para dormir, então eu deveria ficar quieto enquanto atravessava os corredores.
Isso significa que Ariel também pode estar dormindo.
Talvez eu devesse ter ido para casa em vez de voltar correndo para cá, mas era tarde demais para me arrepender da minha decisão. Eu poderia passar a noite aqui e falar com Ariel sobre a Biblioteca Labirinto logo pela manhã.
Com isso em mente, fui em direção aos aposentos dos hóspedes, mas notei algo se movendo no canto da minha visão.
Merda, uma barata? Mesmo nesta altitude? Acho que nem mesmo os espíritos de Perugius podem se proteger contra uma infestação. Faz sentido, considerando os ratos que vi no porão.
Mas então percebi que essa coisa, o que quer que fosse, estava do lado de fora da janela próxima. A luz prateada entrou através do vidro, e um belo jardim se expandiu para além dele. A lua não fornecia muita luz, mas semicerrei os olhos e notei alguém sentado à mesa do lado de fora.
Quem estaria lá fora a esta hora?
Talvez Sylvaril estivesse fazendo hora extra. Seja qual for o caso, decidi ir lá e descobrir.
— Huh.
Uma bela visão me cumprimentou quando saí do recinto. Banhada ao luar, a grama brilhava levemente, guiando meu caminho adiante. Levava para um caminho de flores que não eram notáveis durante o dia, mas assumia o brilho do luar e brilhava como uma miragem. Eu podia ver porque Sylvaril se gabava sobre este jardim em todas as oportunidades.
Uma garota estava sentada à mesa onde Perugius e Ariel frequentemente saboreavam chá. Como não usava máscara, havia apenas uma pessoa que poderia ser.
Bem, beleza, Nanahoshi não tem usado tanto assim a sua máscara, por isso pensei que ainda poderia tecnicamente existir duas possibilidades.
No entanto, a pessoa sentada lá era uma beldade inigualável, conhecida localmente por seu charme incomparável. Em outras palavras, Ariel. Ela estava pensando longe, ou, para ser mais preciso, parecia quase imóvel, enquanto olhava para o fantástico jardim.
— Princesa Ariel? — eu disse.
— Hm? — Seus ombros saltaram quando ela se virou para me encarar. — Oh, é você, Lorde Rudeus…
— O que faz aqui, numa hora dessas?
A exaustão rastejava em seu rosto enquanto desviava o olhar.
— Eu não conseguia dormir, então dei uma fugidinha até aqui.
— Sem alertar Sylphie ou Luke?
— Sim, minhas desculpas. Eu só queria aproveitar um pouco o ar noturno sozinha.
Eu não a estava julgando por isso, mas, ao mesmo tempo, ela tinha pessoas para salvar a vida dela. Ela sabia disso melhor do que qualquer outro. Talvez tenha sido isso que a obrigou a se desculpar.
— Bem — eu disse. — Todo mundo tem momentos assim.
— Até mesmo um rei? — perguntou Ariel.
— Um rei ainda é um ser humano. Então é claro.
Ela ficou em silêncio.
Eu ouvi dizer que os reis nunca deveriam mostrar fraqueza, mas isso apenas significava que eles não poderiam expor, não que não tivessem. Todos tinham momentos de vulnerabilidade, quando precisavam parar para pensar.
— E no que você estava pensando? — Sentei-me ao lado dela à mesa. Talvez ela não quisesse ser perturbada, mas eu precisava conversar com ela de qualquer maneira. Embora pudesse esperar até amanhã, parecia melhor contar a ela assim que eu pudesse.
— Eu estava pensando se realmente estou apta para ser rainha ou não — respondeu ela.
Com certeza não eram as palavras que eu esperava ouvir.
— Então, você me parece que seria uma rainha esplêndida — eu disse.
— A realeza é boa em colocar uma fachada para enganar outras pessoas. Não passa de ilusão.
— Ah, então é algo interno que está te consumindo?
Ela ficou quieta por um momento antes de dizer:
— No fim das contas, só estou indo por esse caminho porque não poderia encarar ninguém de outra forma. Talvez nunca tenha sido adequada para ser rainha. Talvez fosse melhor aceitar um casamento arranjado com qualquer nobre que fosse considerado melhor para mim e ficar de brincadeira com Luke como igual, assim como era no passado. — Sua voz foi ficando mais silenciosa. Eu nunca tinha visto tanta fragilidade dela antes.
— B-Bem… — gaguejei.
Merda. Merda, merda, merda! Ela está tão para baixo que está seguindo em uma direção terrível. Se começar a pensar seriamente em desistir da candidatura ao trono, estarei em maus lençóis.
Especialmente porque Orsted já estava planejando ajudar a torná-la rainha. Essas circunstâncias únicas à parte, eu ainda tinha uma opinião bastante alta de Ariel. Ela pode ter sido expulsa de Asura depois de perder o jogo político, mas ela não desistiu. Estava lutando com unhas e dentes para fortalecer sua posição e criar uma base sólida para perseguir seus objetivos. Levou cinco ou seis anos para chegar até aqui; para ser sincero, eu teria desistido no meio do caminho. Não, eu teria jogado as mãos para o alto em derrota no momento em que fui expulso do país, assim como fiz quando pensei que Eris havia me rejeitado.
Não queria que Ariel desistisse agora. Eu sabia que, mesmo que ela quebrasse por dentro, provavelmente colocaria uma frente corajosa e iria para o Reino Asura de qualquer maneira. Mas como ela ganharia se não tivesse ambição por trás disso? Quem iria querer apoiar uma pessoa que não tinha vida em seus olhos? A Ariel sobre a qual o meu eu do futuro escreveu deve ter sido assim. Ela não conseguiu ganhar o apoio de Perugius e partiu para Asura de qualquer maneira, apenas para ser traída e morta.
Isso foi tudo especulação, é claro, mas quando vinha o momento decisivo, seu estado mental pode ser o fator decisivo. Não que a força de vontade fosse tudo, mas quando uma pessoa era levada ao seu ponto de ruptura, sua mentalidade poderia fazer a diferença entre a vitória e a derrota.
— Princesa Ariel…
Eu disse o nome dela, embora não tivesse palavras reais para lhe oferecer. Eu não estava planejando ser rei, e também não conhecia muitos reis, nem poderia simpatizar com o que ela havia passado. Tudo o que eu tinha visto era a máscara que ela mostrou para o mundo exterior. O que quer que eu dissesse acabaria entrando por um ouvido e saindo pelo outro.
— Lorde Orsted tem uma ideia de onde podemos encontrar uma infinidade de livros sobre Gaunis Freean Asura — eu disse.
— Hã?
— Antes de decidir se você é realmente apta para o trono ou não, por que não tenta dar uma olhada nesses materiais para ver o que encontra?
Os olhos de Ariel se arregalaram. Ela olhou para mim e murmurou:
— Lorde Orsted…? — Ela engoliu em seco. — E onde encontraríamos esses livros?
— Em um lugar chamado Biblioteca Labirinto…
— Vamos. — Ariel decidiu antes que eu pudesse terminar minha frase. Nem um segundo de hesitação.
— Você com certeza não perdeu tempo discutindo se deveria ir ou não.
Ela começou a se virar, mas seu olhar voltou imediatamente para mim. Havia poder lá — paixão.
— Posso estar me sentindo fraca agora…, mas ainda não desisti.
— Bom saber.
Ela parecia frágil como vidro no momento, mas ainda era uma mulher com os olhos na coroa. Se não tivesse coragem, não teria chegado tão longe.
— Tudo bem então. Vamos pegar a estrada — eu disse, assentindo com tanta determinação quanto ela acabara de me mostrar.
Três dias depois, eu me encontrei em uma casa nos arredores de Sharia. Era uma cabana diferente daquela onde Orsted havia se estabelecido, e dentro havia um círculo de teleporte emitindo uma luz deslumbrante e pálida.
— Então este é o círculo de teleporte que vamos usar — comentou Ariel ao meu lado.
Depois que conversamos, ela imediatamente saiu para despertar Sylphie e Luke e começar os preparativos para partir. Eu corri de volta até Orsted para atualizá-lo. Ele então limpou o porão deste lugar e colocou o círculo de teleporte necessário. Este era um tipo inerte que exigia que minha mana trabalhasse, como o tipo que Perugius costumava usar.
— Não é a primeira vez que vejo um — disse a princesa. — Mas admito, estou um pouco nervosa com a ideia de pisar nele. — Ela olhou com curiosidade. De repente, seu olhar se afastou enquanto examinava graciosamente a área, como se tivesse percebido algo de repente. Então, virou-se para mim. — A propósito, notei que Lorde Orsted está ausente.
— É sua maneira de mostrar consideração, já que sua maldição seria apenas uma distração desnecessária.
— Ah, entendo. Eu esperava pelo menos me apresentar a ele — disse Ariel.
Se Orsted aparecesse, os três provavelmente se recusariam a usar o círculo mágico que ele criou. Embora sua maldição parecesse não afetar Ariel inteiramente, não havia como saber que efeito teria se ela a enfrentasse de cara.
— É uma pena. — Ariel franziu a testa, desapontada. Ela era apenas destemida ou gostava de ficar cara a cara com coisas aterrorizantes?
De qualquer forma, não podia deixá-la se encontrar com Orsted. A pior parte de sua maldição fazia com que aqueles que o olhavam perdessem toda a racionalidade. Mesmo Sylphie e Roxy, com sua sensibilidade e conhecimento da referida maldição, não conseguiam confiar em Orsted. Era impossível saber que efeito isso poderia ter em Ariel. Ela estava bem no momento, mas se fosse confrontada com ele de perto, provavelmente ficaria tão aterrorizada que manteria distância, mesmo de mim.
Seria incrível se Ariel pudesse falar com Orsted tão abertamente quanto eu, mas o risco significava que manter distância era a melhor opção. Ela ainda o achava intimidador, mas também entendia que poderia usá-lo. Na verdade, quando mencionei que foi Orsted quem sugeriu visitar a Biblioteca Labirinto, ela embarcou nessa sem pensar em quais seriam as intenções dele. Talvez fosse natural — utilizar-se de qualquer meio possível —, mas a maldição de Orsted era na maioria das vezes tão poderosa que boa parte das pessoas não aceitaria sua ajuda, mesmo quando encurralada.
— Mas este círculo foi feito por Orsted, certo? — perguntou Sylphie.
— Tem certeza de que é seguro usar isso? Não quero ser jogado em um poço de bestas — resmungou Luke.
Nenhum dos dois confiava em Orsted. Se Ariel lidasse com ele diretamente, poderia ficar igual a eles. Precisava evitar isso a todo custo.
— Não falem desse jeito, pessoal. Lorde Rudeus nunca colocaria Sylphie em perigo, não é? — Ariel olhou para mim.
— Claro — respondi. — Eu já usei uma vez, só para me certificar.
Não havia nada de incomum em nosso destino, além de cheirar a mofo e estar coberto de poeira. Claro, eu não me aventurei muito longe, já que o lugar deveria ser um labirinto.
— Então vamos seguir nosso caminho… ou assim eu gostaria de dizer, mas primeiro… — Ariel ficou na frente do círculo mágico, seu olhar focado em mim, ou, para ser mais preciso, nas duas mulheres atrás de mim. — Gostaria de apresentá-las?
Olhei para trás, onde Eris e Ghislaine estavam. Quando eu contei para Eris que iria para a Biblioteca Labirinto, ela se animou ao ouvir labirinto e pediu para vir junto. Eu não imaginava que seria de muita utilidade caçando livros. E Orsted me garantiu que o lugar não era muito perigoso, mas vai saber. Não faria mal ter poder de luta extra. Então, sem uma boa razão para recusar Eris, eu a deixei vir junto.
Eu tinha um motivo oculto para arrastar Ghislaine junto. Esta era a oportunidade perfeita para apresentá-la a Ariel. Embora eu pudesse ter esperado até me aproximar de Sua Alteza, Ariel já me considerava mais do que o esperado, então não achei que seria um problema acelerar as coisas. Além disso, ela teria mais dificuldade em confiar em Ghislaine se eu esperasse para apresentá-la quando estivéssemos prestes a partir para Asura. Acredito que esta aventura labiríntica seja uma boa oportunidade para já ir preparando o terreno.
Quando falei sobre Ariel conhecer Ghislaine e Eris há alguns dias, Ghislaine disse que não sabia nada sobre etiqueta, por isso não tinha certeza de como se apresentar. Eris, da mesma forma, estava ansiosa se seu guarda-roupa seria aceitável para encontrar a realeza. Irônico, já que elas normalmente nunca diziam essas coisas.
Sylphie interveio para tranquilizá-las. Enquanto suspirava para si mesma, ela explicou que a Princesa Ariel não era exigente com os modos dos outros. Ela também disse que as roupas de Eris estavam perfeitamente bem. Mas se as duas estivessem preocupadas, ela ficaria feliz em ensiná-las. Nos três dias que se seguiram à nossa partida, elas trabalharam duro para se prepararem.
Eris deu um passo à frente, como se estivesse esperando o tempo todo até que Ariel notasse as duas. Estendi a mão para impedi-la.
— Quê? — gritou ela para mim.
Espera um pouco. Vou te apresentar, prometo!
— Princesa Ariel, esta é Eris. Como deve saber, ela ganhou o apelido de Rei da Espada Furioso. Ela está nos acompanhando hoje como minha guarda-costas. — Eu olhei para ela e sussurrei: — Beleza, agora é a sua vez.
Ela começou a cruzar os braços antes de se segurar e colocar a mão no peito, curvando a cabeça.
— Meu nome é Eris Greyrat.
Sua atitude não era a mais educada, mas Ariel sorriu calorosamente para ela mesmo assim.
— É um prazer conhecê-la, Lady Eris. Sou a Segunda Princesa Ariel Anemoi Asura. Ouvi muitos rumores sobre você desde de quando eu era mais jovem.
— Hmph. Nada de bom, aposto.
Ariel riu.
— É verdade, os que chegaram à capital não foram os mais lisonjeiros. No entanto, não julgo as pessoas com base nos sussurros que ouço dos outros. Afinal, é tudo boato.
Eris não respondeu.
— O fato de você estar ao lado de Lorde Rudeus é a prova de que não se pode acreditar em todos eles — disse Ariel. — As pessoas que ele mantém em sua companhia podem ter suas peculiaridades, mas nenhuma delas é má.
Satisfeita, Eris assentiu e cruzou os braços. Ela estava com as pernas levemente abertas, completamente esquecendo da etiqueta da nobreza que deveria seguir.
— Isso mesmo — disse Eris. — Rudeus é incrível. Bom saber que entende isso.
— De fato. Dito isso, embora possamos não estar na companhia uma da outra por muito tempo, estou ansiosa pelo nosso tempo juntas. — Ariel fez uma reverência graciosa.
Eris apenas olhou para a princesa e bufou, embora tenha baixado um pouco a cabeça.
— Ahem. — pigarreou Sylphie, coçando a parte de trás da orelha.
— Ah! — Eris ofegou baixinho, baixando os braços. Ela fez uma careta enquanto recuava alguns passos.
Forcei um sorriso desajeitado enquanto me movia na direção de Ghislaine em seguida.
— E esta é a Loba Negra Ghislaine Dedoldia. Eu a trouxe para apresentá-la na esperança de que ela possa se tornar um de seus guarda-costas, Sua Alteza.
Ghislaine deu um passo à frente e se ajoelhou. Ela estreitou o olho descoberto, encarando a princesa.
— Ghislaine — grunhiu ela.
— É um prazer conhecê-la também, Lady Ghislaine. Sou a Segunda Princesa Ariel Anemoi Asura. Quando você ainda morava na região de Fittoa, eu…
— Eu tenho uma pergunta — disse Ghislaine, interrompendo-a. — Disseram-me que se eu servisse sob seu comando, seria capaz de me vingar por Lorde Sauros. Isso é verdade?
Foi tão rude e abrupto que me perguntei a razão de ela ter se incomodado em praticar etiqueta com Sylphie nos últimos três dias. Então, pude ver que era a cara dela; isso não era uma questão em que Ghislaine pudesse se comprometer.
— É verdade — disse Ariel, sem perder tempo.
Para dizer a verdade, eu já havia preparado as bases para garantir que suas demandas fossem atendidas; eu disse a Sylphie que seu objetivo era vingar Sauros.
— Se você me acompanhar até o palácio asurano, descobriremos juntas quem foi realmente responsável, quem puxou os fios para derrubar Lorde Sauros. Não, não nós… Eu é que vou descobrir para você. E, quando o fizer, por favor, use essa sua lâmina para fazer justiça.
Por algum motivo, ela lançou um olhar significativo para Eris quando falou.
O que isso deveria significar? Ela está de olho em Eris? Está mesmo interessada nela? Quero dizer, sim, Eris parece muito juvenil e durona, mas… sério?
Não, não tinha como ser possível. Ghislaine era quem queria se vingar de Sauros, mas Eris tinha razões ainda maiores para querer sua morte vingada. Ariel provavelmente pensou que Eris estava atrás da mesma coisa e estava agindo como meu guarda-costas apenas em nome.
Eu não sabia o que Eris pensava sobre isso, mas se ela tivesse a oportunidade de acabar com os assassinos de Sauros, ela provavelmente faria isso. E eu também. Eu não sairia para caçá-los e matá-los, mas se houvesse um cérebro por trás de tudo e eles aparecessem na minha frente, eu os traria à justiça.
A morte de Sauros foi um resultado da conspiração para reduzir o poder da família Boreas, uma vez que eram uma das quatro famílias que supervisionavam uma vasta extensão de terras do reino, ao mesmo tempo em que enfraqueceram a influência do primeiro príncipe. Havia tantos possíveis culpados que era difícil filtrá-los.
— Eu vou — disse Ghislaine a Ariel, curvando a cabeça. Sua cauda se movia enquanto ela virava o olhar para Sylphie. — Bem, o que eu deveria fazer, então?
— Hm, por enquanto, você virá como guarda-costas da Princesa Ariel. Por favor, proteja-a das cinzas da batalha.
— Cinzas? — Ghislaine franziu a testa. — Estamos enfrentando um monstro que cospe fogo?
— Hã? Não, é… É para acabar com qualquer um que tente atacá-la, foi isso o que eu quis dizer.
— Ah, então era isso. Entendi. Além disso, não há necessidade de títulos extravagantes a partir de agora. Apenas me chame de Ghislaine. — Ao dizer sua parte, Ghislaine voltou para seu lugar atrás de mim.
— Bem, foi uma honra conhecer vocês duas — disse Ariel, fazendo reverência diante de nós mais uma vez.
Eu instintivamente me curvei em resposta, o que levou uma Eris confusa a seguir o exemplo. Ghislaine, por outro lado, apenas balançou a cabeça em reconhecimento. As duas eram apenas conhecidas até o dado momento, mas não havia dúvidas de que seria formada uma confiança entre elas conforme o tempo que trabalhassem juntas.
Da mesma forma, eu precisava me certificar de que o primeiro trabalho fosse tranquilo, a fim de aprofundar a confiança entre mim e Orsted.
— Beleza — eu disse. — Vamos começar.
Era hora de entrar na Biblioteca Labirinto.
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Até hoje to tentando entender pq fizeram a Ariel uma personagem feminina, acho que é só pra adicionar mas mulher na obra (pros nerdola). Pq não faz semtido nenhum uma mulher disputar o trono de um reino.
esse volume é inteiro sobre esse labirinto?
parece um pouco chato…
O nome labirinto nunca indica coisa boa. Espero que dê tudo certo pra Ariel se manter motivada. Parece ser importante que ela se torne rainha. Além de que fica claro que ela possui a melhor personalidade dos candidatos ao trono e o melhor senso de justiça. Ah, tô me preocupando atoa. Na última vez o labirinto era difícil demais também e conseguiram apesar dos pesares e, dessa vez tem a Eris e a Ghislaine junto, não tem como alguém enfrentar… Ler mais »